"O Invasor" desfaz favoritismos no Festival de Brasília


Por Agencia Estado

A melhor situação de um festival acontece quando um filme inédito bate na tela e arrebata a todos. Foi o que se deu na quinta noite de competição do Festival de Brasília com O Invasor, longa-metragem que o diretor Beto Brant escondeu da imprensa, não mostrou a ninguém fora do seu círculo íntimo e ainda evitou comentar em entrevistas. Partindo de uma história também inédita de Marçal Aquino, O Invasor encena, mais um vez, e agora pelo caminho do crime, o encontro problemático de classes sociais no País. Releva ainda um extraordinário ator estreante, Paulo Miklos, do grupo Titãs, no papel dessa interseção radical entre emergentes e desvalidos que compõem o esgarçado tecido social de São Paulo. Miklos é Anísio, matador de aluguel contratado por dois engenheiros, Ivan e Gilberto (Marco Ricca e Alexandre Borges), para dar um jeito no sócio majoritário da construtora onde trabalham. Negócio terminado, Anísio resolve imiscuir-se na vida dos dois mandantes. Torna-se uma presença incômoda a princípio, e depois francamente ameaçadora. Mais ainda, Anísio termina por envolver-se com a filha do homem que matou, a louquinha interpretada por Mariana Ximenes. Malu Mader completa o elenco, como a garota pouco confiável, que namora um dos sócios, mas tem algo a ver com o outro. Essa é a história, ou pelo menos o princípio dela. Mas o que impressiona, em O Invasor, é a maneira como ela é contada. Brant opta por uma câmera lisérgica, que atravessa alucinada o labirinto social de São Paulo, deslocando-se agilmente entre a emergência falsa dos edifícios da Berrini até a mais ameaçadora das periferias. Esses pólos de contradição colocam-se em contato de maneira orgânica pela linguagem adotada pelo filme. Então, o boteco num bairro do fim do mundo aproxima-se extraordinariamente do clube de garotas de programa freqüentado pelos engenheiros. Tudo é transição e ambigüidade. Os setores "confiáveis" da sociedade parecem tão contaminados quanto a periferia, que se considera o habitat natural do mundo do crime nas metrópoles. O mal está em toda parte e não há um único herói positivo nessa história, como comentou um espectador, um tanto desalentado pelo que vira na tela. Cinematograficamente, o filme é brilhante e só não conseguiu mais aplausos porque seu final desconcertante deixou perplexa mesmo a platéia jovem do Cine Brasília. As apresentações de O Invasor e Dias de Nietzsche em Turim completam o desenho desta 34ª edição do Festival de Brasília, o mais tradicional do País. Acabou sendo uma disputa de alto nível, em que pese a qualidade apenas mediana do cinema brasileiro da atualidade. Mas festival é assim mesmo, tem de selecionar os melhores e colocá-los em contato durante uma disputa. Por ser uma amostragem da excelência oferece uma radiografia às vezes distorcida do estado das coisas de um cinema. Assim, tivemos em Brasília a profundidade de Lavoura Arcaica, a competência do épico gaúcho Netto Perde Sua Alma, a música de câmera de Uma Vida em Segredo, a alegria de Samba Riachão, o radicalismo estético de O Invasor e o cerebralismo modernista de Dias de Nietzsche em Turim. Um belo e variado painel. E quem ganha os candangos, os troféus do festival que serão anunciados amanhã à noite no Teatro Nacional de Brasília? Ficou mais difícil dizer. Lavoura chegou como favorito e continua nessa condição, mas alguma zebra pode pintar e não seria nenhum absurdo se O Invasor corresse por fora e atropelasse. Ou mesmo se esses dois concorrentes dividissem de tal forma o júri que um tertius acabasse por se impor. Nesse caso a solução poderia ser premiar Uma Vida em Segredo, ou mesmo Samba Riachão, o preferido do público, pelo menos no quesito entusiasmo. De qualquer forma, o que não deve acontecer é a concentração muito grande de troféus no mesmo filme. Dada a qualidade dos concorrentes, os prêmios deverão ser bem divididos. Enfim, não será nada fácil a tarefa do júri, composto pelo exibidor Adhemar Oliveira, pela atriz Cristina Aché, pelos pesquisadores de cinema Ivana Bentes e João Luiz Vieira, e pelos cineastas Carlos Reichenbach, André Luiz da Cunha e Orlando Senna.

A melhor situação de um festival acontece quando um filme inédito bate na tela e arrebata a todos. Foi o que se deu na quinta noite de competição do Festival de Brasília com O Invasor, longa-metragem que o diretor Beto Brant escondeu da imprensa, não mostrou a ninguém fora do seu círculo íntimo e ainda evitou comentar em entrevistas. Partindo de uma história também inédita de Marçal Aquino, O Invasor encena, mais um vez, e agora pelo caminho do crime, o encontro problemático de classes sociais no País. Releva ainda um extraordinário ator estreante, Paulo Miklos, do grupo Titãs, no papel dessa interseção radical entre emergentes e desvalidos que compõem o esgarçado tecido social de São Paulo. Miklos é Anísio, matador de aluguel contratado por dois engenheiros, Ivan e Gilberto (Marco Ricca e Alexandre Borges), para dar um jeito no sócio majoritário da construtora onde trabalham. Negócio terminado, Anísio resolve imiscuir-se na vida dos dois mandantes. Torna-se uma presença incômoda a princípio, e depois francamente ameaçadora. Mais ainda, Anísio termina por envolver-se com a filha do homem que matou, a louquinha interpretada por Mariana Ximenes. Malu Mader completa o elenco, como a garota pouco confiável, que namora um dos sócios, mas tem algo a ver com o outro. Essa é a história, ou pelo menos o princípio dela. Mas o que impressiona, em O Invasor, é a maneira como ela é contada. Brant opta por uma câmera lisérgica, que atravessa alucinada o labirinto social de São Paulo, deslocando-se agilmente entre a emergência falsa dos edifícios da Berrini até a mais ameaçadora das periferias. Esses pólos de contradição colocam-se em contato de maneira orgânica pela linguagem adotada pelo filme. Então, o boteco num bairro do fim do mundo aproxima-se extraordinariamente do clube de garotas de programa freqüentado pelos engenheiros. Tudo é transição e ambigüidade. Os setores "confiáveis" da sociedade parecem tão contaminados quanto a periferia, que se considera o habitat natural do mundo do crime nas metrópoles. O mal está em toda parte e não há um único herói positivo nessa história, como comentou um espectador, um tanto desalentado pelo que vira na tela. Cinematograficamente, o filme é brilhante e só não conseguiu mais aplausos porque seu final desconcertante deixou perplexa mesmo a platéia jovem do Cine Brasília. As apresentações de O Invasor e Dias de Nietzsche em Turim completam o desenho desta 34ª edição do Festival de Brasília, o mais tradicional do País. Acabou sendo uma disputa de alto nível, em que pese a qualidade apenas mediana do cinema brasileiro da atualidade. Mas festival é assim mesmo, tem de selecionar os melhores e colocá-los em contato durante uma disputa. Por ser uma amostragem da excelência oferece uma radiografia às vezes distorcida do estado das coisas de um cinema. Assim, tivemos em Brasília a profundidade de Lavoura Arcaica, a competência do épico gaúcho Netto Perde Sua Alma, a música de câmera de Uma Vida em Segredo, a alegria de Samba Riachão, o radicalismo estético de O Invasor e o cerebralismo modernista de Dias de Nietzsche em Turim. Um belo e variado painel. E quem ganha os candangos, os troféus do festival que serão anunciados amanhã à noite no Teatro Nacional de Brasília? Ficou mais difícil dizer. Lavoura chegou como favorito e continua nessa condição, mas alguma zebra pode pintar e não seria nenhum absurdo se O Invasor corresse por fora e atropelasse. Ou mesmo se esses dois concorrentes dividissem de tal forma o júri que um tertius acabasse por se impor. Nesse caso a solução poderia ser premiar Uma Vida em Segredo, ou mesmo Samba Riachão, o preferido do público, pelo menos no quesito entusiasmo. De qualquer forma, o que não deve acontecer é a concentração muito grande de troféus no mesmo filme. Dada a qualidade dos concorrentes, os prêmios deverão ser bem divididos. Enfim, não será nada fácil a tarefa do júri, composto pelo exibidor Adhemar Oliveira, pela atriz Cristina Aché, pelos pesquisadores de cinema Ivana Bentes e João Luiz Vieira, e pelos cineastas Carlos Reichenbach, André Luiz da Cunha e Orlando Senna.

A melhor situação de um festival acontece quando um filme inédito bate na tela e arrebata a todos. Foi o que se deu na quinta noite de competição do Festival de Brasília com O Invasor, longa-metragem que o diretor Beto Brant escondeu da imprensa, não mostrou a ninguém fora do seu círculo íntimo e ainda evitou comentar em entrevistas. Partindo de uma história também inédita de Marçal Aquino, O Invasor encena, mais um vez, e agora pelo caminho do crime, o encontro problemático de classes sociais no País. Releva ainda um extraordinário ator estreante, Paulo Miklos, do grupo Titãs, no papel dessa interseção radical entre emergentes e desvalidos que compõem o esgarçado tecido social de São Paulo. Miklos é Anísio, matador de aluguel contratado por dois engenheiros, Ivan e Gilberto (Marco Ricca e Alexandre Borges), para dar um jeito no sócio majoritário da construtora onde trabalham. Negócio terminado, Anísio resolve imiscuir-se na vida dos dois mandantes. Torna-se uma presença incômoda a princípio, e depois francamente ameaçadora. Mais ainda, Anísio termina por envolver-se com a filha do homem que matou, a louquinha interpretada por Mariana Ximenes. Malu Mader completa o elenco, como a garota pouco confiável, que namora um dos sócios, mas tem algo a ver com o outro. Essa é a história, ou pelo menos o princípio dela. Mas o que impressiona, em O Invasor, é a maneira como ela é contada. Brant opta por uma câmera lisérgica, que atravessa alucinada o labirinto social de São Paulo, deslocando-se agilmente entre a emergência falsa dos edifícios da Berrini até a mais ameaçadora das periferias. Esses pólos de contradição colocam-se em contato de maneira orgânica pela linguagem adotada pelo filme. Então, o boteco num bairro do fim do mundo aproxima-se extraordinariamente do clube de garotas de programa freqüentado pelos engenheiros. Tudo é transição e ambigüidade. Os setores "confiáveis" da sociedade parecem tão contaminados quanto a periferia, que se considera o habitat natural do mundo do crime nas metrópoles. O mal está em toda parte e não há um único herói positivo nessa história, como comentou um espectador, um tanto desalentado pelo que vira na tela. Cinematograficamente, o filme é brilhante e só não conseguiu mais aplausos porque seu final desconcertante deixou perplexa mesmo a platéia jovem do Cine Brasília. As apresentações de O Invasor e Dias de Nietzsche em Turim completam o desenho desta 34ª edição do Festival de Brasília, o mais tradicional do País. Acabou sendo uma disputa de alto nível, em que pese a qualidade apenas mediana do cinema brasileiro da atualidade. Mas festival é assim mesmo, tem de selecionar os melhores e colocá-los em contato durante uma disputa. Por ser uma amostragem da excelência oferece uma radiografia às vezes distorcida do estado das coisas de um cinema. Assim, tivemos em Brasília a profundidade de Lavoura Arcaica, a competência do épico gaúcho Netto Perde Sua Alma, a música de câmera de Uma Vida em Segredo, a alegria de Samba Riachão, o radicalismo estético de O Invasor e o cerebralismo modernista de Dias de Nietzsche em Turim. Um belo e variado painel. E quem ganha os candangos, os troféus do festival que serão anunciados amanhã à noite no Teatro Nacional de Brasília? Ficou mais difícil dizer. Lavoura chegou como favorito e continua nessa condição, mas alguma zebra pode pintar e não seria nenhum absurdo se O Invasor corresse por fora e atropelasse. Ou mesmo se esses dois concorrentes dividissem de tal forma o júri que um tertius acabasse por se impor. Nesse caso a solução poderia ser premiar Uma Vida em Segredo, ou mesmo Samba Riachão, o preferido do público, pelo menos no quesito entusiasmo. De qualquer forma, o que não deve acontecer é a concentração muito grande de troféus no mesmo filme. Dada a qualidade dos concorrentes, os prêmios deverão ser bem divididos. Enfim, não será nada fácil a tarefa do júri, composto pelo exibidor Adhemar Oliveira, pela atriz Cristina Aché, pelos pesquisadores de cinema Ivana Bentes e João Luiz Vieira, e pelos cineastas Carlos Reichenbach, André Luiz da Cunha e Orlando Senna.

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