A Cinemateca Brasileira é a mais antiga instituição de cinema do País, responsável pela preservação do maior acervo audiovisual da América Latina. Exerce também atividades de restauro e preservação da produção cinematográfica nacional, cujo acervo conta com cerca de 245 mil rolos de filmes, entre longas, curtas e cinejornais.
Ainda compõe o patrimônio da entidade cerca de 1 milhão de documentos relacionados à área do audiovisual, como livros, roteiros, periódicos, recortes de imprensa, documentos pessoais doados, cartazes, fotografias e desenhos.
A instituição é desde 2018 gerida pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), embora os contratos do governo federal com a Acerp estejam suspensos ou em estado de indefinição, num processo que também envolve o Ministério da Educação.
A Cinemateca possui registros raríssimos, como a coleção de imagens da extinta TV Tupi, primeira emissora brasileira, inaugurada em 1950, que a instituição herdou em 1985 – são nada menos que 180 mil rolos de filmes em 16 milímetros com reportagens históricas dos telejornais da época.
A trajetória da Cinemateca Brasileira confunde-se com a história da cultura cinematográfica brasileira. Surge em 1940 como Clube de Cinema de São Paulo, tem como fundadores jovens estudantes da USP, que se tornariam marcos da cultura do País: Paulo Emilio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado e Antonio Candido.
Durante algum tempo, a Cinemateca funcionou como anexo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), formando a Filmoteca do Museu. Filiada à Fiaf (Fédération Internationale des Archives du Film), a instituição lutava com dificuldades para se manter. Em 1984 foi incorporada ao Ministério da Cultura. A atual sede, no antigo matadouro da cidade, foi cedida pela Prefeitura de São Paulo em 1992, e a Cinemateca começou a mudar-se para lá durante a gestão de Thomaz Farkas.
Desde 1978, quando foi instalado um laboratório de restauração reconhecido como um modelo pela Féderation Internationale des Archives du Film, a instituição vem realizando um trabalho de recuperação de obras-primas do cinema brasileiro, como os filmes de Glauber Rocha.
Que filmes estão na Cinemateca Brasileira?
A Filmografia Brasileira (FB), um dos setores da Cinemateca, reúne, organiza e disponibiliza informações sobre toda a produção audiovisual produzida no país desde 1897. O acervo da instituição pode ser acessado online. A presença de registros não pressupõe, necessariamente, a existência de materiais na Cinemateca Brasileira.
As informações reunidas e sistematizadas em registros são baseadas em materiais audiovisuais disponíveis e na pesquisa em documentação. Entre as fontes de dados, estão anotações de letreiros dos materiais salvaguardados no acervo, arquivos de obras digitalizadas na própria instituição e recortes de jornais, roteiros e releases de filmes, textos de locução para cinejornais, fichas de depósito legal, livros e periódicos, pesquisas acadêmicas, sites institucionais, além de documentos dos fundos pessoais e institucionais.
O setor contém informações de aproximadamente 42 mil títulos de todos os períodos da cinematografia nacional e da produção audiovisual mais ampla e recente, sejam curtas, médias ou longas-metragens, cinejornais, filmes publicitários, institucionais ou domésticos e obras seriadas (para internet e televisão), com links para registros da base de dados de cartazes e referências de fontes utilizadas e consultadas.
Onde fica a Cinemateca Brasileira?
A sede da Cinemateca Brasileira está localizada no Largo Senador Raul Cardoso, 207, em São Paulo. O local foi o último matadouro da cidade. O projeto é de autoria do arquiteto alemão Alberto Kuhlmann.
O Matadouro da Vila Clementino encerra suas atividades em 1927. Nos sessenta anos subsequentes, as edificações em área de 24 mil m² abrigam outras instituições municipais que, tentando adequar os espaços disponíveis aos usos pretendidos, descaracterizam o conjunto. Devido ao histórico de abandono e de mau uso das instalações, os galpões encontram-se em estado precário de conservação.
O complexo é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade (Conpresp).
Em setembro de 1988, a Prefeitura cede a área para a Cinemateca Brasileira. O projeto inicial de restauração dos antigos galpões é idealizado pelos arquitetos Lúcio Gomes Machado e Eduardo de Jesus Rodrigues. Nos edíficios antigos são abrigadas as áreas do Centro de Documentação e Pesquisa, Administração e as salas de exibição. Os depósitos climatizados e o Laboratório de Imagem e Som são implantados em novos edíficios, de forma a permitir o isolamento necessário das áreas técnicas.
Em fevereiro de 2009, a Cinemateca Brasileira recebe da União um imóvel de 8,4 mil m², situado à Rua Othão, 290, no bairro da Vila Leopoldina. Em 2011 tem ali início o trabalho de implantação das reservas específicas de guarda de acervos, áreas de processamento de acervos fílmicos e documentais, laboratório de impressão fotográfica digital, bem como demais instalações administrativas, de apoio e serviços.
É possível consultar o acervo da Cinemateca Brasileira?
Segundo a própria instituição, a "Cinemateca facilita o acesso ao acervo de filmes e documentos não fílmicos para consultas, pesquisas e difusão, seja na biblioteca, no Banco de Conteúdos Culturais ou nas mostras e exibições em nossas salas de cinema".
O acervo online pode ser consultado aqui.
Cronologia da Cinemateca Brasileira
- 1940
Origem da Cinemateca quando Paulo Emílio Sales Gomes, Décio de Almeida Prado, Antonio Candido de Mello e Souza, entre outros, fundam o Primeiro Clube de Cinema de São Paulo, que se propõe a estudar o cinema como arte independente por meio de projeções, conferências, debates e publicações.
- 1941
O Primeiro Clube é fechado pelos órgãos de repressão da ditadura do Estado Novo.
- 1946
O Segundo Clube de Cinema de São Paulo é criado por Francisco Luiz de Almeida Salles, Rubem Biáfora, Múcio Porphyrio Ferreira, Benedito Junqueira Duarte, João de Araújo Nabuco, Lourival Gomes Machado e Tito Batini, buscando estimular o estudo, a defesa, a divulgação e o desenvolvimento da arte cinematográfica no Brasil.
- 1949
É aprovado um acordo entre o recém-criado Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP e o Clube, para a criação da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
- 1951
Paulo Emílio é nomeado vice-presidente da FIAF – Federação Internacional de Arquivos de Filmes.
- 1954
Paulo Emílio assume a direção da Filmoteca, como conservador-chefe, contando com a ajuda de Rudá de Andrade e Caio Scheiby.
- 1956
A Filmoteca se desliga do Museu de Arte Moderna, transformando-se em Cinemateca Brasileira, uma sociedade civil sem fins lucrativos.
- 1957
Em 28 de janeiro, um incêndio causado pela autocombustão sofrida pelos filmes em suporte de nitrato de celulose destrói suas instalações na Rua Sete de Abril.
- 1961
A Cinemateca torna-se uma fundação, personalidade jurídica que lhe permite estabelecer convênios com o poder público estadual.
- 1962
Criação da Sociedade Amigos da Cinemateca – SAC, sociedade civil cuja finalidade é auxiliar financeiramente a Fundação Cinemateca Brasileira.
- 1969
Em 18 de fevereiro, acontece o segundo incêndio, na instalação no portão 9 do Parque do Ibirapuera com perda de diversos materiais documentais em suporte de nitrato.
- 1976
A Fundação Cinemateca Brasileira tem o reconhecimento de seu caráter de utilidade pública pelo município de São Paulo.
- 1982
No dia 6 de novembro, ocorre o terceiro incêndio, que agrava as dificuldades financeiras da instituição e levam à defesa de sua incorporação ao poder público.
- 1984
A Fundação Cinemateca Brasileira é extinta e incorporada, como órgão autônomo, à Fundação Nacional Pró-Memória.
- 1988
O prefeito Jânio Quadros cede à instituição o espaço do antigo matadouro da cidade. Após nove anos de reformas, a sede da Cinemateca Brasileira é definitivamente instalada na Vila Clementino.
- 2003
A Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura incorpora a Cinemateca Brasileira.
- 2008 a 2013
A Cinemateca Brasileira dá um grande impulso nas suas atividades de preservação e difusão de acervos, bem como na infraestrutura, graças a recursos investidos pelo antigo Ministério da Cultura, em parceria com a Sociedade Amigos da Cinemateca.
- 2013
Sob gestão de Marta Suplicy, a Cinemateca passa por uma auditoria do Ministério, tem seu diretor exonerado e vê a suspensão no repasse de verbas do Ministério da Cultura para a entidade, causando a demissão de 43% do corpo de funcionários. É o início da crise que dura até os dias atuais.
- 2016
Em 3 de fevereiro, ocorre o quarto incêndio, resultando na perda de 731 títulos, em mil rolos rolos de filmes em nitrato de celulose. Do total, 461 obras tinham cópias; o restante se perdeu
- 2016 a 2017
O antigo Ministério da Cultura, através de sua Secretaria do Audiovisual, assina contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), organização social qualificada pelo Ministério da Educação, para execução de um projeto de preservação e acesso de acervos audiovisuais, da Cinemateca Brasileira.
- 2018
Em março é assinado Contrato de Gestão, parceria entre o antigo Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, em que a Cinemateca passa a ser administrada integralmente pela Acerp por um período de 3 anos.
- Maio de 2020
A Cinemateca divulga documento pedindo socorro. Leia mais sobre a situação atual.