São muitos os motivos para acreditar que Oppenheimer é o filme do ano, mas a disputa para o Oscar 2024 está acirradíssima. Principalmente na categoria de Melhor Filme, a mais importante e esperada da premiação.
Dos dez indicados, o mais cotado é mesmo o longa de Christopher Nolan sobre o criador da bomba atômica, mas há concorrentes de peso no páreo. O veterano Martin Scorsese, com Assassinos da Lua das Flores, Justine Triet, com Anatomia de Uma Queda, e Zona de Interesse, de Jonathan Glazer, são alguns dos destaques que não deixam a vida de Nolan tão fácil.
Para abastecer a discussão ao redor dos indicados e dos méritos de Oppenheimer no prêmio, cuja cerimônia ocorre neste domingo, 10, o Estadão buscou a opinião de repórteres, cinéfilos e críticos. A meta era responder: Oppenheimer é o melhor filme do Oscar 2024? Veja o que eles dizem.
João Abel
Oppenheimer tinha todos os elementos para dar errado. Um personagem controverso, que poderia fazer o filme cair no cancelamento. Uma edição ‘a la Nolan’: detalhadíssima, com um vai-e-vem temporal, que poderia ser cansativa durante as três horas de filme. Um roteiro complexo, com mais de 100 personagens com fala. Tudo isso sem efeitos especiais, o famoso “CGI” (imagens geradas por computador) que o diretor, se recusa a usar.
Mesmo com muitos fatores jogando contra, o filme é brilhante. A experiência sonora e fotográfica é impecável e até os personagens mais secundários têm momentos formidáveis. Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Emily Blunt e grande elenco tornaram uma linda obra técnica num drama histórico que merece o Oscar de melhor filme.
Luiz Carlos Merten
É, sim. Mas, embora favorito, não tenho mais tanta certeza de que será o vencedor. Tenho sentido um crescimento da candidatura de Martin Scorsese, com Assassinos da Lua das Flores. Aliás, esse está sendo o ano do renascimento, no Oscar, de autores que, para mim, andavam à deriva. Scorsese, Wim Wenders, com o magnífico Dias Perfeitos. Se Scorsese ganhar, será merecido, muito mais do que quando recebeu a estatueta por Os Infiltrados, em 2007. Mas sigo devoto de Nolan, e Oppenheimer
No atual estágio do mundo, com as guerras em curso, é preciso voltar ao tema do perigo atômico. O próprio Oppenheimer dizia que, ao liderar aquela equipe para criar a bomba em Los Alamos, tornou-se o destruidor de mundos. Para falar a linguagem da Marvel, um Thanos real. Oppenheimer ressuscita o fantasma do macarthismo, e nesse quadro de ascensão planetária da extrema-direita. É um prodígio de cinema falado, mais até do que Anatomia de Uma Queda, com todos aqueles diálogos. Custou US$ 100 milhões e rendeu mais de US$ 1 bilhão, 10 por um na relação benefício/custo. Nem James Cameron rende tanto, porque gasta mais.
Nolan virou um fenômeno. ‘Vende’ temas complexos, difíceis – física quântica! -, para audiências massivas. Sua autoralidade é inegável, mas ainda há um aspecto que me interessa muito. Nessa era de efeitos digitais, Nolan insiste nos efeitos fotomecânicos. Permanece, sob certos aspectos, analógico no mundo digital. É um resistente. Duvidam? Foi ele, com a mulher produtora – Emma –, que liderou a campanha para que a Kodak não parasse de produzir película. Salve, guerreiro!
Luiz Zanin
Se fosse no ano passado, a resposta seria “sim”, disparado, sem pestanejar. Oppenheimer mereceria os prêmios principais, como merece este ano, por sua solidez técnica e conceitual. Por sorte, o Oscar 2024 não repetiu a mediocridade do Oscar 2023. Assim, na minha opinião, Oppenheimer é mesmo um dos melhores, mas concorre com outros filmes extraordinários. Um deles é Assassinos da Lua das Flores, um Martin Scorsese de excelente cepa e que põe em evidência o genocídio dos povos originários nos Estados Unidos.
O outro é Anatomia de uma Queda, da francesa Justine Triet, puro exercício cinematográfico, num misto de filme de tribunal e reflexão filosófica sobre a talvez insolúvel questão da verdade. Ainda por cima, com a atuação magistral de Sandra Hüller no papel principal. Ganhando qualquer um dos três, eu fico contente. Mas, para não ficar em cima do muro, o meu preferido mesmo é Assassinos da Lua das Flores, assinatura de um grande mestre do cinema, no auge da sua capacidade artística aos 81 anos.
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Mariane Morisawa
Não. É um ano especialmente forte, e por milagre a Academia indicou muitos dos melhores de 2023. Apesar de ser um bom filme, Oppenheimer não é melhor do que Assassinos da Lua das Flores, Anatomia de uma Queda, Zona de Interesse. Dito isso, Oscar nunca diz respeito apenas à qualidade – se fosse assim, CODA – No Ritmo do Coração e Green Book – O Guia jamais teriam sido premiados.
A narrativa é fundamental. Oppenheimer é considerado uma obra séria e importante de Christopher Nolan, um diretor que, críticas à parte, é um dos grandes defensores do cinema na tela grande, especialmente no contexto de recuperação pós-pandemia e greves. Ele conseguiu faturar quase US$ 1 bilhão de bilheteria com a cinebiografia de um físico. Não é pouca coisa.
Matheus Mans
Acredito que são três grandes filmes concorrendo ao Oscar: Zona de Interesse, Assassinos da Lua das Flores e Oppenheimer. Difícil decidir qual é o melhor, mas acredito que o filme de Christopher Nolan consegue estar um passo à frente dos demais. Afinal, é o mais completo de todos: a narrativa traz uma situação de complexidade interessante, na estranheza da criação da bomba atômica por um judeu; as atuações acompanham a força da história, principalmente a de Cillian Murphy e de Robert Downey Jr.; e a direção de Nolan coloca atualidade nas discussões enquanto discute o papel de Oppenheimer em nossas vidas até hoje, colocando-o como uma espécie de fantasma pairando um medo coletivo sobre o fim atômico do mundo. É um filme maduro, complexo e, para mim, o melhor da safra do Oscar 2024.
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