‘Os Rejeitados’: conheça o drama simples e sensível que pode ser o azarão do Oscar 2024


Paul Giamatti fala ao Estadão sobre professor rabugento e apaixonante que interpreta no longa de Alexander Payne: ‘Esses personagens são interessantes: dizem e fazem coisas que jamais teríamos coragem’

Por Mariane Morisawa
Atualização:

Faz 20 anos que Paul Giamatti ficou conhecido no mundo todo por causa do filme Sideways – Entre Umas e Outras, dirigido por Alexander Payne. O ator repete a parceria com o cineasta em Os Rejeitados, que estreia nesta quinta-feira, 11, no Brasil depois de levar dois Globos de Ouro: melhor ator de comédia ou musical para Giamatti e melhor atriz coadjuvante para Da’Vine Joy Randolph.

O personagem Paul Hunham, de Os Rejeitados, guarda algumas semelhanças com o Miles de Sideways. Para começar, ambos são professores com a ambição de tornarem-se escritores. Mas não só: os dois têm temperamentos difíceis, são rabugentos, depressivos e exageram na bebida.

“É interessante essa relação entre as duas obras”, disse Paul Giamatti. “Eu e o Alexander nunca falamos diretamente sobre isso, realmente há simetrias entre os dois. Mas, para mim, Paul é diferente. Eu gosto mais dele. Paul tem mais coragem, não se vitimiza como Miles”, completou o ator em uma coletiva de imprensa, por videoconferência, que contou com a participação do Estadão.

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Enquanto Miles sai com seu amigo Jack (Thomas Haden Church), que está prestes a se casar, pelas vinícolas da Califórnia, Paul é um professor de história obrigado a passar o Natal cercado de neve no colégio interno para meninos ricos onde dá aulas de história.

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Ele fica responsável por cuidar do adolescente Angus Tully (o estreante Dominic Sessa, descoberto em um colégio interno), que não foi para casa no feriado, pois sua mãe viajou com o marido. Junto com a cozinheira Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), Paul e Angus são os rejeitados do título, aqueles que foram abandonados, que não fazem falta para ninguém.

O professor, que tem um olho de vidro, é odiado pelos alunos por ser rígido e exigente. Mas o personagem tem carisma. “Eu acho que os espectadores gostam dele porque Paul está certo grande parte das vezes. Quem não gostaria de falar umas verdades para esses babaquinhas elitistas e racistas?”, disse Giamatti.

Dá um certo prazer ver um cara que não liga se gostam dele ou não. E, no fundo, Paul é uma boa pessoa que se importa com seus alunos. Ele pode não ser legal, mas é generoso.

Paul Giamatti sobre Paul Hunham, seu personagem em 'Os Rejeitados'

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Paul e Angus vivem às turras, o que é um prenúncio de desastre para a temporada de convivência forçada. Mas, aos poucos, Os Rejeitados, inspirado pelo filme francês Merlusse (1935), de Marcel Pagnol, mostra que mestre e estudante têm mais em comum do que parece. Os dois são mais inteligentes do que a maioria, sabem disso e não fazem questão de esconder sob uma falsa humildade.

Apesar de suas origens diferentes – Paul vem de uma família trabalhadora –, eles sentem-se incompreendidos e mal-amados. Têm dificuldades de se encaixar no modelo de masculinidade dos Estados Unidos de 1970 e sofrem por isso.

Dominic Sessa (Angus Tully), Da’Vine Joy Randolph (Mary Lamb) e Paul Giamatti (Paul Hunham) em cena de 'Os Rejeitados'. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação
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As farpas trocadas por Paul e Angus são aparadas por Mary, que está vivendo o luto pela perda do filho. Ela tentou fazer tudo certo. Sem condições de dar uma educação em um colégio como aquele, empregou-se como cozinheira para que o rapaz pudesse estudar ali, junto com a elite. Mas a divisão racial e de classe permanece: seu menino foi convocado para a Guerra do Vietnã, ao contrário de seus colegas de escola, e acabou morto em combate.

“A empatia é uma parte fundamental para um artista”, disse Randolph também em entrevista com a participação do Estadão. “É preciso estar aberto para se render àquele personagem. Mas tentei não ficar presa à tristeza de Mary quando não estava em cena. Tentei ser alegre, brincalhona, jovial.”

A atriz disse que é muito diferente de Mary. Por isso, procurou trabalhar nos detalhes de sua postura, gestos, modo de falar. Trabalhando com um treinador de sotaques, pesquisou especificamente o dialeto de pessoas negras da cidade de Boston nos anos 1960 e 1970. Sua maior fonte de inspiração foi a cantora Donna Summer, a rainha da disco, com sua voz anasalada. A maneira de Mary fumar, ela emprestou da atriz Bette Davis. Os cabelos, da personagem Weezy, interpretada por Isabel Sanford na série Os Jeffersons, e da cantora, compositora e atriz Phillis Hyman.

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'Os Rejeitados', vencedor de dois Globos de Ouro, chega ao cinemas nacionais em 11 de janeiro. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

Mary Lamb pode ser firme, mas também amorosa com Paul e Angus. Pode sofrer, como na dilacerante cena da festa de Natal, e ser debochada. Tantas nuances renderam a Da’Vine Joy Randolph, 37 - que recentemente fez as séries Only Murders in the Building e The Idol e o filme Rustin - o Globo de Ouro de atriz coadjuvante por Os Rejeitados e a maior parte dos prêmios da crítica americana até agora. Ela é a favorita absoluta ao Oscar da categoria.

Já Paul Giamatti, apesar do Globo de Ouro, tem um páreo mais duro pela frente, com competição de Cillian Murphy (Oppenheimer) e Bradley Cooper (Maestro). Mas um Oscar seria uma reparação para um ator sempre sólido que só foi indicado uma vez, como coadjuvante em A Luta pela Esperança (2005), de Ron Howard.

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Mas não só: Giamatti é capaz de encontrar nesses rabugentos arrogantes e depressivos nuances de sua humanidade. Por que ele acaba sendo escalado para esses papéis, sendo um sujeito amável e querido por todos, é algo que não sabe explicar.

“Esses personagens são interessantes de interpretar. E eles dizem e fazem coisas que jamais teríamos coragem. Mas não sou como eles, graças a Deus, ou ninguém me daria emprego”, disse o ator, rindo. “Sempre questiono se eu procuro esse tipo de papel inconscientemente, ou se eu trago algo específico a esses personagens de que os diretores gostam.”

É possível que Miles, Paul e outros ofereçam a Paul Giamatti a chance de exorcizar raiva e ódio. “Será que eu tenho tanta raiva dentro de mim que preciso colocar para fora? Pode ser. Só sei que não sou uma pessoa raivosa. É difícil me tirar do sério.”

Cena de 'Os Rejeitados'. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

Os Rejeitados é uma espécie de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, com cada um dos personagens tendo um pouco de Scrooge dentro deles. Mas a transformação de Paul e Angus acontece de maneira sutil, realista. “Temas como altruísmo, redenção e renascimento são importantes na história”, disse Giamatti.

Talvez por isso o filme toque tanto as pessoas, por mostrar pessoas reais com quem conseguimos nos identificar. Que, apesar de tudo, conseguem se conectar, ter empatia uns pelos outros, formar uma família. “Há muita perversidade no mundo agora e ver um drama simples sobre três pessoas comuns que se descobrem umas às outras é bonito”, disse Giamatti. Os Rejeitados chega aos cinemas brasileiros em tempo para começar 2024 com alguma esperança.

Faz 20 anos que Paul Giamatti ficou conhecido no mundo todo por causa do filme Sideways – Entre Umas e Outras, dirigido por Alexander Payne. O ator repete a parceria com o cineasta em Os Rejeitados, que estreia nesta quinta-feira, 11, no Brasil depois de levar dois Globos de Ouro: melhor ator de comédia ou musical para Giamatti e melhor atriz coadjuvante para Da’Vine Joy Randolph.

O personagem Paul Hunham, de Os Rejeitados, guarda algumas semelhanças com o Miles de Sideways. Para começar, ambos são professores com a ambição de tornarem-se escritores. Mas não só: os dois têm temperamentos difíceis, são rabugentos, depressivos e exageram na bebida.

“É interessante essa relação entre as duas obras”, disse Paul Giamatti. “Eu e o Alexander nunca falamos diretamente sobre isso, realmente há simetrias entre os dois. Mas, para mim, Paul é diferente. Eu gosto mais dele. Paul tem mais coragem, não se vitimiza como Miles”, completou o ator em uma coletiva de imprensa, por videoconferência, que contou com a participação do Estadão.

Enquanto Miles sai com seu amigo Jack (Thomas Haden Church), que está prestes a se casar, pelas vinícolas da Califórnia, Paul é um professor de história obrigado a passar o Natal cercado de neve no colégio interno para meninos ricos onde dá aulas de história.

Ele fica responsável por cuidar do adolescente Angus Tully (o estreante Dominic Sessa, descoberto em um colégio interno), que não foi para casa no feriado, pois sua mãe viajou com o marido. Junto com a cozinheira Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), Paul e Angus são os rejeitados do título, aqueles que foram abandonados, que não fazem falta para ninguém.

O professor, que tem um olho de vidro, é odiado pelos alunos por ser rígido e exigente. Mas o personagem tem carisma. “Eu acho que os espectadores gostam dele porque Paul está certo grande parte das vezes. Quem não gostaria de falar umas verdades para esses babaquinhas elitistas e racistas?”, disse Giamatti.

Dá um certo prazer ver um cara que não liga se gostam dele ou não. E, no fundo, Paul é uma boa pessoa que se importa com seus alunos. Ele pode não ser legal, mas é generoso.

Paul Giamatti sobre Paul Hunham, seu personagem em 'Os Rejeitados'

Paul e Angus vivem às turras, o que é um prenúncio de desastre para a temporada de convivência forçada. Mas, aos poucos, Os Rejeitados, inspirado pelo filme francês Merlusse (1935), de Marcel Pagnol, mostra que mestre e estudante têm mais em comum do que parece. Os dois são mais inteligentes do que a maioria, sabem disso e não fazem questão de esconder sob uma falsa humildade.

Apesar de suas origens diferentes – Paul vem de uma família trabalhadora –, eles sentem-se incompreendidos e mal-amados. Têm dificuldades de se encaixar no modelo de masculinidade dos Estados Unidos de 1970 e sofrem por isso.

Dominic Sessa (Angus Tully), Da’Vine Joy Randolph (Mary Lamb) e Paul Giamatti (Paul Hunham) em cena de 'Os Rejeitados'. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

As farpas trocadas por Paul e Angus são aparadas por Mary, que está vivendo o luto pela perda do filho. Ela tentou fazer tudo certo. Sem condições de dar uma educação em um colégio como aquele, empregou-se como cozinheira para que o rapaz pudesse estudar ali, junto com a elite. Mas a divisão racial e de classe permanece: seu menino foi convocado para a Guerra do Vietnã, ao contrário de seus colegas de escola, e acabou morto em combate.

“A empatia é uma parte fundamental para um artista”, disse Randolph também em entrevista com a participação do Estadão. “É preciso estar aberto para se render àquele personagem. Mas tentei não ficar presa à tristeza de Mary quando não estava em cena. Tentei ser alegre, brincalhona, jovial.”

A atriz disse que é muito diferente de Mary. Por isso, procurou trabalhar nos detalhes de sua postura, gestos, modo de falar. Trabalhando com um treinador de sotaques, pesquisou especificamente o dialeto de pessoas negras da cidade de Boston nos anos 1960 e 1970. Sua maior fonte de inspiração foi a cantora Donna Summer, a rainha da disco, com sua voz anasalada. A maneira de Mary fumar, ela emprestou da atriz Bette Davis. Os cabelos, da personagem Weezy, interpretada por Isabel Sanford na série Os Jeffersons, e da cantora, compositora e atriz Phillis Hyman.

'Os Rejeitados', vencedor de dois Globos de Ouro, chega ao cinemas nacionais em 11 de janeiro. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

Mary Lamb pode ser firme, mas também amorosa com Paul e Angus. Pode sofrer, como na dilacerante cena da festa de Natal, e ser debochada. Tantas nuances renderam a Da’Vine Joy Randolph, 37 - que recentemente fez as séries Only Murders in the Building e The Idol e o filme Rustin - o Globo de Ouro de atriz coadjuvante por Os Rejeitados e a maior parte dos prêmios da crítica americana até agora. Ela é a favorita absoluta ao Oscar da categoria.

Já Paul Giamatti, apesar do Globo de Ouro, tem um páreo mais duro pela frente, com competição de Cillian Murphy (Oppenheimer) e Bradley Cooper (Maestro). Mas um Oscar seria uma reparação para um ator sempre sólido que só foi indicado uma vez, como coadjuvante em A Luta pela Esperança (2005), de Ron Howard.

Mas não só: Giamatti é capaz de encontrar nesses rabugentos arrogantes e depressivos nuances de sua humanidade. Por que ele acaba sendo escalado para esses papéis, sendo um sujeito amável e querido por todos, é algo que não sabe explicar.

“Esses personagens são interessantes de interpretar. E eles dizem e fazem coisas que jamais teríamos coragem. Mas não sou como eles, graças a Deus, ou ninguém me daria emprego”, disse o ator, rindo. “Sempre questiono se eu procuro esse tipo de papel inconscientemente, ou se eu trago algo específico a esses personagens de que os diretores gostam.”

É possível que Miles, Paul e outros ofereçam a Paul Giamatti a chance de exorcizar raiva e ódio. “Será que eu tenho tanta raiva dentro de mim que preciso colocar para fora? Pode ser. Só sei que não sou uma pessoa raivosa. É difícil me tirar do sério.”

Cena de 'Os Rejeitados'. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

Os Rejeitados é uma espécie de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, com cada um dos personagens tendo um pouco de Scrooge dentro deles. Mas a transformação de Paul e Angus acontece de maneira sutil, realista. “Temas como altruísmo, redenção e renascimento são importantes na história”, disse Giamatti.

Talvez por isso o filme toque tanto as pessoas, por mostrar pessoas reais com quem conseguimos nos identificar. Que, apesar de tudo, conseguem se conectar, ter empatia uns pelos outros, formar uma família. “Há muita perversidade no mundo agora e ver um drama simples sobre três pessoas comuns que se descobrem umas às outras é bonito”, disse Giamatti. Os Rejeitados chega aos cinemas brasileiros em tempo para começar 2024 com alguma esperança.

Faz 20 anos que Paul Giamatti ficou conhecido no mundo todo por causa do filme Sideways – Entre Umas e Outras, dirigido por Alexander Payne. O ator repete a parceria com o cineasta em Os Rejeitados, que estreia nesta quinta-feira, 11, no Brasil depois de levar dois Globos de Ouro: melhor ator de comédia ou musical para Giamatti e melhor atriz coadjuvante para Da’Vine Joy Randolph.

O personagem Paul Hunham, de Os Rejeitados, guarda algumas semelhanças com o Miles de Sideways. Para começar, ambos são professores com a ambição de tornarem-se escritores. Mas não só: os dois têm temperamentos difíceis, são rabugentos, depressivos e exageram na bebida.

“É interessante essa relação entre as duas obras”, disse Paul Giamatti. “Eu e o Alexander nunca falamos diretamente sobre isso, realmente há simetrias entre os dois. Mas, para mim, Paul é diferente. Eu gosto mais dele. Paul tem mais coragem, não se vitimiza como Miles”, completou o ator em uma coletiva de imprensa, por videoconferência, que contou com a participação do Estadão.

Enquanto Miles sai com seu amigo Jack (Thomas Haden Church), que está prestes a se casar, pelas vinícolas da Califórnia, Paul é um professor de história obrigado a passar o Natal cercado de neve no colégio interno para meninos ricos onde dá aulas de história.

Ele fica responsável por cuidar do adolescente Angus Tully (o estreante Dominic Sessa, descoberto em um colégio interno), que não foi para casa no feriado, pois sua mãe viajou com o marido. Junto com a cozinheira Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), Paul e Angus são os rejeitados do título, aqueles que foram abandonados, que não fazem falta para ninguém.

O professor, que tem um olho de vidro, é odiado pelos alunos por ser rígido e exigente. Mas o personagem tem carisma. “Eu acho que os espectadores gostam dele porque Paul está certo grande parte das vezes. Quem não gostaria de falar umas verdades para esses babaquinhas elitistas e racistas?”, disse Giamatti.

Dá um certo prazer ver um cara que não liga se gostam dele ou não. E, no fundo, Paul é uma boa pessoa que se importa com seus alunos. Ele pode não ser legal, mas é generoso.

Paul Giamatti sobre Paul Hunham, seu personagem em 'Os Rejeitados'

Paul e Angus vivem às turras, o que é um prenúncio de desastre para a temporada de convivência forçada. Mas, aos poucos, Os Rejeitados, inspirado pelo filme francês Merlusse (1935), de Marcel Pagnol, mostra que mestre e estudante têm mais em comum do que parece. Os dois são mais inteligentes do que a maioria, sabem disso e não fazem questão de esconder sob uma falsa humildade.

Apesar de suas origens diferentes – Paul vem de uma família trabalhadora –, eles sentem-se incompreendidos e mal-amados. Têm dificuldades de se encaixar no modelo de masculinidade dos Estados Unidos de 1970 e sofrem por isso.

Dominic Sessa (Angus Tully), Da’Vine Joy Randolph (Mary Lamb) e Paul Giamatti (Paul Hunham) em cena de 'Os Rejeitados'. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

As farpas trocadas por Paul e Angus são aparadas por Mary, que está vivendo o luto pela perda do filho. Ela tentou fazer tudo certo. Sem condições de dar uma educação em um colégio como aquele, empregou-se como cozinheira para que o rapaz pudesse estudar ali, junto com a elite. Mas a divisão racial e de classe permanece: seu menino foi convocado para a Guerra do Vietnã, ao contrário de seus colegas de escola, e acabou morto em combate.

“A empatia é uma parte fundamental para um artista”, disse Randolph também em entrevista com a participação do Estadão. “É preciso estar aberto para se render àquele personagem. Mas tentei não ficar presa à tristeza de Mary quando não estava em cena. Tentei ser alegre, brincalhona, jovial.”

A atriz disse que é muito diferente de Mary. Por isso, procurou trabalhar nos detalhes de sua postura, gestos, modo de falar. Trabalhando com um treinador de sotaques, pesquisou especificamente o dialeto de pessoas negras da cidade de Boston nos anos 1960 e 1970. Sua maior fonte de inspiração foi a cantora Donna Summer, a rainha da disco, com sua voz anasalada. A maneira de Mary fumar, ela emprestou da atriz Bette Davis. Os cabelos, da personagem Weezy, interpretada por Isabel Sanford na série Os Jeffersons, e da cantora, compositora e atriz Phillis Hyman.

'Os Rejeitados', vencedor de dois Globos de Ouro, chega ao cinemas nacionais em 11 de janeiro. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

Mary Lamb pode ser firme, mas também amorosa com Paul e Angus. Pode sofrer, como na dilacerante cena da festa de Natal, e ser debochada. Tantas nuances renderam a Da’Vine Joy Randolph, 37 - que recentemente fez as séries Only Murders in the Building e The Idol e o filme Rustin - o Globo de Ouro de atriz coadjuvante por Os Rejeitados e a maior parte dos prêmios da crítica americana até agora. Ela é a favorita absoluta ao Oscar da categoria.

Já Paul Giamatti, apesar do Globo de Ouro, tem um páreo mais duro pela frente, com competição de Cillian Murphy (Oppenheimer) e Bradley Cooper (Maestro). Mas um Oscar seria uma reparação para um ator sempre sólido que só foi indicado uma vez, como coadjuvante em A Luta pela Esperança (2005), de Ron Howard.

Mas não só: Giamatti é capaz de encontrar nesses rabugentos arrogantes e depressivos nuances de sua humanidade. Por que ele acaba sendo escalado para esses papéis, sendo um sujeito amável e querido por todos, é algo que não sabe explicar.

“Esses personagens são interessantes de interpretar. E eles dizem e fazem coisas que jamais teríamos coragem. Mas não sou como eles, graças a Deus, ou ninguém me daria emprego”, disse o ator, rindo. “Sempre questiono se eu procuro esse tipo de papel inconscientemente, ou se eu trago algo específico a esses personagens de que os diretores gostam.”

É possível que Miles, Paul e outros ofereçam a Paul Giamatti a chance de exorcizar raiva e ódio. “Será que eu tenho tanta raiva dentro de mim que preciso colocar para fora? Pode ser. Só sei que não sou uma pessoa raivosa. É difícil me tirar do sério.”

Cena de 'Os Rejeitados'. Foto: Seacia Pavao/Focus Features/Divulgação

Os Rejeitados é uma espécie de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, com cada um dos personagens tendo um pouco de Scrooge dentro deles. Mas a transformação de Paul e Angus acontece de maneira sutil, realista. “Temas como altruísmo, redenção e renascimento são importantes na história”, disse Giamatti.

Talvez por isso o filme toque tanto as pessoas, por mostrar pessoas reais com quem conseguimos nos identificar. Que, apesar de tudo, conseguem se conectar, ter empatia uns pelos outros, formar uma família. “Há muita perversidade no mundo agora e ver um drama simples sobre três pessoas comuns que se descobrem umas às outras é bonito”, disse Giamatti. Os Rejeitados chega aos cinemas brasileiros em tempo para começar 2024 com alguma esperança.

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