Análise: Por que 'Parasita', de Bong Joon-Ho, levou as principais estatuetas do Oscar 2020?


Com quatro prêmios, incluindo melhor filme, o longa fez história e abriu espaço para o cinema internacional na premiação

Por Luiz Carlos Merten

Parasita venceu quatro prêmios no Oscar 2020: melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro. 

Glenn Close já havia sentido no ano passado como o Oscar pode ser uma caixinha de surpresas. Este ano, foi Sam Mendes. Melhor diretor do presumível melhor filme, 1917, ele viu os prêmios migrarem para o sul-coreano Bong Joon-ho, que fez história ao vencer como melhor filme e melhor filme internacional, e ainda levou o Oscar de roteiro original.

Cena do filme 'Parasita', de Bong Joon-ho Foto: Pandora Filmes
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Todos esses prêmios contemplam uma obra que, desde a vitória com a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, tem sido tema de admiração e polêmica. Realizado com precisão absoluta – a ponto de a Academia ter ignorado o portentoso plano-sequência, mesmo que não seja um só, de 1917 –, o filme também segue uma tendência expressa no brasileiro Bacurau, no francês Les Misérables e no norte-americano Coringa – a revolta dos excluídos face às desigualdades do mundo.

Rememorando – uma família de baixo (é pobre, habita um porão) ocupa os espaços na casa de uma família rica. Obviamente, dirá o leitor, os parasitas são os pobres, mas na visão do diretor, conforme entrevista ao Estado, são os ricos que dependem deles, totalmente.

O processo dessa ocupação é narrado de forma tão sucinta como brilhante e a primeira parte de Parasita equivale a uma aula de cinema – direção, roteiro, interpretação, filmagem. Os problemas, se forem considerados como tal, estão no desfecho. Face aos conflitos armados por Joon-ho – na verdade, são três famílias, porque há uma surpresa no porão da mansão –, a questão, para quem assiste ao filme, é como ele vai terminar.

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O diretor, para expor sua tese, não deixa de recorrer a um final de disaster movie, valendo lembrar que já frequentou o gênero com Expresso do Amanhã. Mas nada diminui o impacto de Parasita e o significado dessa vitória. Depois dos Oscars para autores mexicanos, a Academia elege os sul-coreanos. Hollywood deve estar em pânico. Só resta Quentin Tarantino, como disse Brad Pitt ao agradecer seu Oscar de coadjuvante (por Era Uma Vez... em Hollywood).’

Bong Joon-Ho, diretor de 'Parasita' Foto: Eric Gaillard/Reuters

Ao receber a estatueta de melhor diretor, Bong Joon-Ho disse, visivelmente emocionado: "Estava pronto para relaxar. Obrigado tanto. Quando era jovem, existia um ditado: 'o mais pessoal é o mais criativo'. Quando eu estava na escola de cinema, estudava os filmes de Martin Scorsese. Nunca achei que ganharia. Quando as pessoas não conheciam meus filmes em Hollywood, Quentin (Tarantino) sempre os colocava em suas listas. Todd Phillips e Sam Mendes, também grandes diretores. Se a Academia permitir, quero fazer um massacre da serra elétrica e dividir essa estatueta em cinco".

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Bong Joon-Ho também dirigiu filmes como Okja (2017), sobre uma garota que parte em uma jornada para resgatar seu animal de estimação e Expresso do Amanhã (2013), distopia sobre uma sociedade dividida em classes que vive dentro de um trem, além de O Hospedeiro (2006), Mother (2009) e Barking Dogs Never Bite (2000).

"Bom, isto aqui é uma bomba pela qual pouca gente esperava", opinou o crítico Luiz Zanin Oricchio, do Estadão. "O que se pode dizer? Que é merecidíssima a escolha pelo rigor com que o filme é dirigido. Mas ninguém esperava por isso. E esta premiação abre outras possibilidades para o filme e para o cinema coreano. Bong foi elegante ao cumprimentar Martin Scorsese, que está, até agora, sendo solenemente ignorado. Bong está emocionado e agradecido. É um grande momento do Oscar, histórico mesmo como abertura para o exterior."

A produtora do filme, Kwak Sin Ae, em seu discurso ao receber a estatueta, afirmou: "Estou sem palavras. Estou tão feliz, nunca acreditei que isso aconteceria. Eu sinto como um momento oportuno conforme a história está acontecendo. Expresso minha gratidão profunda e respeito a todos os membros da Academia por tomarem essa decisão".

Parasita venceu quatro prêmios no Oscar 2020: melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro. 

Glenn Close já havia sentido no ano passado como o Oscar pode ser uma caixinha de surpresas. Este ano, foi Sam Mendes. Melhor diretor do presumível melhor filme, 1917, ele viu os prêmios migrarem para o sul-coreano Bong Joon-ho, que fez história ao vencer como melhor filme e melhor filme internacional, e ainda levou o Oscar de roteiro original.

Cena do filme 'Parasita', de Bong Joon-ho Foto: Pandora Filmes

Todos esses prêmios contemplam uma obra que, desde a vitória com a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, tem sido tema de admiração e polêmica. Realizado com precisão absoluta – a ponto de a Academia ter ignorado o portentoso plano-sequência, mesmo que não seja um só, de 1917 –, o filme também segue uma tendência expressa no brasileiro Bacurau, no francês Les Misérables e no norte-americano Coringa – a revolta dos excluídos face às desigualdades do mundo.

Rememorando – uma família de baixo (é pobre, habita um porão) ocupa os espaços na casa de uma família rica. Obviamente, dirá o leitor, os parasitas são os pobres, mas na visão do diretor, conforme entrevista ao Estado, são os ricos que dependem deles, totalmente.

O processo dessa ocupação é narrado de forma tão sucinta como brilhante e a primeira parte de Parasita equivale a uma aula de cinema – direção, roteiro, interpretação, filmagem. Os problemas, se forem considerados como tal, estão no desfecho. Face aos conflitos armados por Joon-ho – na verdade, são três famílias, porque há uma surpresa no porão da mansão –, a questão, para quem assiste ao filme, é como ele vai terminar.

O diretor, para expor sua tese, não deixa de recorrer a um final de disaster movie, valendo lembrar que já frequentou o gênero com Expresso do Amanhã. Mas nada diminui o impacto de Parasita e o significado dessa vitória. Depois dos Oscars para autores mexicanos, a Academia elege os sul-coreanos. Hollywood deve estar em pânico. Só resta Quentin Tarantino, como disse Brad Pitt ao agradecer seu Oscar de coadjuvante (por Era Uma Vez... em Hollywood).’

Bong Joon-Ho, diretor de 'Parasita' Foto: Eric Gaillard/Reuters

Ao receber a estatueta de melhor diretor, Bong Joon-Ho disse, visivelmente emocionado: "Estava pronto para relaxar. Obrigado tanto. Quando era jovem, existia um ditado: 'o mais pessoal é o mais criativo'. Quando eu estava na escola de cinema, estudava os filmes de Martin Scorsese. Nunca achei que ganharia. Quando as pessoas não conheciam meus filmes em Hollywood, Quentin (Tarantino) sempre os colocava em suas listas. Todd Phillips e Sam Mendes, também grandes diretores. Se a Academia permitir, quero fazer um massacre da serra elétrica e dividir essa estatueta em cinco".

Bong Joon-Ho também dirigiu filmes como Okja (2017), sobre uma garota que parte em uma jornada para resgatar seu animal de estimação e Expresso do Amanhã (2013), distopia sobre uma sociedade dividida em classes que vive dentro de um trem, além de O Hospedeiro (2006), Mother (2009) e Barking Dogs Never Bite (2000).

"Bom, isto aqui é uma bomba pela qual pouca gente esperava", opinou o crítico Luiz Zanin Oricchio, do Estadão. "O que se pode dizer? Que é merecidíssima a escolha pelo rigor com que o filme é dirigido. Mas ninguém esperava por isso. E esta premiação abre outras possibilidades para o filme e para o cinema coreano. Bong foi elegante ao cumprimentar Martin Scorsese, que está, até agora, sendo solenemente ignorado. Bong está emocionado e agradecido. É um grande momento do Oscar, histórico mesmo como abertura para o exterior."

A produtora do filme, Kwak Sin Ae, em seu discurso ao receber a estatueta, afirmou: "Estou sem palavras. Estou tão feliz, nunca acreditei que isso aconteceria. Eu sinto como um momento oportuno conforme a história está acontecendo. Expresso minha gratidão profunda e respeito a todos os membros da Academia por tomarem essa decisão".

Parasita venceu quatro prêmios no Oscar 2020: melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro. 

Glenn Close já havia sentido no ano passado como o Oscar pode ser uma caixinha de surpresas. Este ano, foi Sam Mendes. Melhor diretor do presumível melhor filme, 1917, ele viu os prêmios migrarem para o sul-coreano Bong Joon-ho, que fez história ao vencer como melhor filme e melhor filme internacional, e ainda levou o Oscar de roteiro original.

Cena do filme 'Parasita', de Bong Joon-ho Foto: Pandora Filmes

Todos esses prêmios contemplam uma obra que, desde a vitória com a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, tem sido tema de admiração e polêmica. Realizado com precisão absoluta – a ponto de a Academia ter ignorado o portentoso plano-sequência, mesmo que não seja um só, de 1917 –, o filme também segue uma tendência expressa no brasileiro Bacurau, no francês Les Misérables e no norte-americano Coringa – a revolta dos excluídos face às desigualdades do mundo.

Rememorando – uma família de baixo (é pobre, habita um porão) ocupa os espaços na casa de uma família rica. Obviamente, dirá o leitor, os parasitas são os pobres, mas na visão do diretor, conforme entrevista ao Estado, são os ricos que dependem deles, totalmente.

O processo dessa ocupação é narrado de forma tão sucinta como brilhante e a primeira parte de Parasita equivale a uma aula de cinema – direção, roteiro, interpretação, filmagem. Os problemas, se forem considerados como tal, estão no desfecho. Face aos conflitos armados por Joon-ho – na verdade, são três famílias, porque há uma surpresa no porão da mansão –, a questão, para quem assiste ao filme, é como ele vai terminar.

O diretor, para expor sua tese, não deixa de recorrer a um final de disaster movie, valendo lembrar que já frequentou o gênero com Expresso do Amanhã. Mas nada diminui o impacto de Parasita e o significado dessa vitória. Depois dos Oscars para autores mexicanos, a Academia elege os sul-coreanos. Hollywood deve estar em pânico. Só resta Quentin Tarantino, como disse Brad Pitt ao agradecer seu Oscar de coadjuvante (por Era Uma Vez... em Hollywood).’

Bong Joon-Ho, diretor de 'Parasita' Foto: Eric Gaillard/Reuters

Ao receber a estatueta de melhor diretor, Bong Joon-Ho disse, visivelmente emocionado: "Estava pronto para relaxar. Obrigado tanto. Quando era jovem, existia um ditado: 'o mais pessoal é o mais criativo'. Quando eu estava na escola de cinema, estudava os filmes de Martin Scorsese. Nunca achei que ganharia. Quando as pessoas não conheciam meus filmes em Hollywood, Quentin (Tarantino) sempre os colocava em suas listas. Todd Phillips e Sam Mendes, também grandes diretores. Se a Academia permitir, quero fazer um massacre da serra elétrica e dividir essa estatueta em cinco".

Bong Joon-Ho também dirigiu filmes como Okja (2017), sobre uma garota que parte em uma jornada para resgatar seu animal de estimação e Expresso do Amanhã (2013), distopia sobre uma sociedade dividida em classes que vive dentro de um trem, além de O Hospedeiro (2006), Mother (2009) e Barking Dogs Never Bite (2000).

"Bom, isto aqui é uma bomba pela qual pouca gente esperava", opinou o crítico Luiz Zanin Oricchio, do Estadão. "O que se pode dizer? Que é merecidíssima a escolha pelo rigor com que o filme é dirigido. Mas ninguém esperava por isso. E esta premiação abre outras possibilidades para o filme e para o cinema coreano. Bong foi elegante ao cumprimentar Martin Scorsese, que está, até agora, sendo solenemente ignorado. Bong está emocionado e agradecido. É um grande momento do Oscar, histórico mesmo como abertura para o exterior."

A produtora do filme, Kwak Sin Ae, em seu discurso ao receber a estatueta, afirmou: "Estou sem palavras. Estou tão feliz, nunca acreditei que isso aconteceria. Eu sinto como um momento oportuno conforme a história está acontecendo. Expresso minha gratidão profunda e respeito a todos os membros da Academia por tomarem essa decisão".

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