Oscar 2023: 11 indicações a ‘Tudo em Todo Lugar’ expressam crise de criatividade do cinema atual


Obra mais parece videogame que filme de cinema e passa longe de clássicos do gênero que reinventaram nossa maneira de ver o mundo

Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo sai na frente na corrida do Oscar, ao menos em número de indicações - 11, incluindo as de melhor filme e direção. Os Banshees de Inisherin e Nada de Novo no Front ficaram com nove indicações, e Elvis, com oito.

O que pode significar tantas indicações para uma “obra” que mais parece videogame que filme de cinema para valer? Para uma ficção científica que dialoga com o metaverso, mas que nem de longe passa perto de clássicos do gênero que reinventaram nossa maneira de ver o mundo baseando-se em especulações científicas, como são os casos de 2001 - Uma Odisseia no Espaço ou Solaris, para ficar nos clássicos. Bem, pode expressar a crise de criatividade do cinema atual, ainda mais quando pensamos que ganha a companhia da continuação de Avatar: O Caminho da Água entre seus concorrentes a melhor filme.

Riz Ahmed e Allison Williams anunciam os dez finalistas ao Oscar de melhor filme Foto: CAROLINE BREHMAN
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Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (que alguém já rebatizou de Nada em Nenhum Lugar em Tempo Algum) tem concorrentes sólidos para sua, digamos, “estética” delirante. A começar por Nada de Novo no Front, densa adaptação da obra de Erich Maria Remarque sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial. Ou o memorialístico Os Fabelmans, sobre a infância de Spielberg e a descoberta de seu amor pelo cinema. Convencional mas bonito. Ou mesmo a cinebiografia inventiva de Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann.

O irlandês Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh, é um filme estranho, porém tem seduzido parte da crítica. Fala do súbito rompimento de uma amizade, tendo por pano de fundo uma guerra da qual se ouvem apenas alguns rumores distantes. Num tempo explícito, sabe ser alusivo.

Tár, de Todd Field, é uma presença marcante, em especial por Cate Blanchett que faz uma maestrina durona e que entra em crise por suas próprias contradições. Discute música, política, gênero, numa trama tensa puxada por sua extraordinária protagonista, favorita para o prêmio de melhor atriz. Entre Mulheres, um filme correto, entra na cota #Metoo. E, por contraste, Top Gun: Maverick, na do saudosismo machista.

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Tirando essa enganação de sucesso que é Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o mais destoante dos dez indicados a melhor filme é o sueco Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund, Palma de Ouro em Cannes. Östulund é um diretor que tem ideias, o que já joga contra ele. Imagina um casal de modelos que embarca num cruzeiro de luxo, sofre um naufrágio e sobrevive em uma ilha com outros passageiros. A recriação de uma espécie de sociedade primitiva serve como crítica à hipocrisia da nossa. Um tanto de escatologia se soma a uma crítica social que se torna bastante rudimentar, se vista com certo rigor.

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Por fim, algumas palavras sobre a categoria filme internacional, esse sonho de consumo brasileiro, sempre distante de nós. Categoria difícil, com filmes fortes como Nada de Novo no Front, que está também na disputa principal, a de melhor filme. E também com o singelo e maravilhoso Eo, do veterano polonês Jerzy Skolimowski, releitura do clássico Au Hasard, Balthazar, de Robert Bresson, o nosso mundo impiedoso visto pelo olhar de um burrico.

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No entanto, entre os filmes de língua não inglesa surge com força Argentina, 1985, de Santiago Mitre, sobre o julgamento dos militares argentinos por crimes cometidos durante a ditadura. Num momento em que a democracia parece em xeque em várias partes do mundo, essa produção sólida e politicamente madura, protagonizada por Ricardo Darín, pode dar mais uma estatueta de Hollywood ao cinema dos nossos hermanos.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo sai na frente na corrida do Oscar, ao menos em número de indicações - 11, incluindo as de melhor filme e direção. Os Banshees de Inisherin e Nada de Novo no Front ficaram com nove indicações, e Elvis, com oito.

O que pode significar tantas indicações para uma “obra” que mais parece videogame que filme de cinema para valer? Para uma ficção científica que dialoga com o metaverso, mas que nem de longe passa perto de clássicos do gênero que reinventaram nossa maneira de ver o mundo baseando-se em especulações científicas, como são os casos de 2001 - Uma Odisseia no Espaço ou Solaris, para ficar nos clássicos. Bem, pode expressar a crise de criatividade do cinema atual, ainda mais quando pensamos que ganha a companhia da continuação de Avatar: O Caminho da Água entre seus concorrentes a melhor filme.

Riz Ahmed e Allison Williams anunciam os dez finalistas ao Oscar de melhor filme Foto: CAROLINE BREHMAN

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (que alguém já rebatizou de Nada em Nenhum Lugar em Tempo Algum) tem concorrentes sólidos para sua, digamos, “estética” delirante. A começar por Nada de Novo no Front, densa adaptação da obra de Erich Maria Remarque sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial. Ou o memorialístico Os Fabelmans, sobre a infância de Spielberg e a descoberta de seu amor pelo cinema. Convencional mas bonito. Ou mesmo a cinebiografia inventiva de Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann.

O irlandês Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh, é um filme estranho, porém tem seduzido parte da crítica. Fala do súbito rompimento de uma amizade, tendo por pano de fundo uma guerra da qual se ouvem apenas alguns rumores distantes. Num tempo explícito, sabe ser alusivo.

Tár, de Todd Field, é uma presença marcante, em especial por Cate Blanchett que faz uma maestrina durona e que entra em crise por suas próprias contradições. Discute música, política, gênero, numa trama tensa puxada por sua extraordinária protagonista, favorita para o prêmio de melhor atriz. Entre Mulheres, um filme correto, entra na cota #Metoo. E, por contraste, Top Gun: Maverick, na do saudosismo machista.

Tirando essa enganação de sucesso que é Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o mais destoante dos dez indicados a melhor filme é o sueco Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund, Palma de Ouro em Cannes. Östulund é um diretor que tem ideias, o que já joga contra ele. Imagina um casal de modelos que embarca num cruzeiro de luxo, sofre um naufrágio e sobrevive em uma ilha com outros passageiros. A recriação de uma espécie de sociedade primitiva serve como crítica à hipocrisia da nossa. Um tanto de escatologia se soma a uma crítica social que se torna bastante rudimentar, se vista com certo rigor.

Por fim, algumas palavras sobre a categoria filme internacional, esse sonho de consumo brasileiro, sempre distante de nós. Categoria difícil, com filmes fortes como Nada de Novo no Front, que está também na disputa principal, a de melhor filme. E também com o singelo e maravilhoso Eo, do veterano polonês Jerzy Skolimowski, releitura do clássico Au Hasard, Balthazar, de Robert Bresson, o nosso mundo impiedoso visto pelo olhar de um burrico.

No entanto, entre os filmes de língua não inglesa surge com força Argentina, 1985, de Santiago Mitre, sobre o julgamento dos militares argentinos por crimes cometidos durante a ditadura. Num momento em que a democracia parece em xeque em várias partes do mundo, essa produção sólida e politicamente madura, protagonizada por Ricardo Darín, pode dar mais uma estatueta de Hollywood ao cinema dos nossos hermanos.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo sai na frente na corrida do Oscar, ao menos em número de indicações - 11, incluindo as de melhor filme e direção. Os Banshees de Inisherin e Nada de Novo no Front ficaram com nove indicações, e Elvis, com oito.

O que pode significar tantas indicações para uma “obra” que mais parece videogame que filme de cinema para valer? Para uma ficção científica que dialoga com o metaverso, mas que nem de longe passa perto de clássicos do gênero que reinventaram nossa maneira de ver o mundo baseando-se em especulações científicas, como são os casos de 2001 - Uma Odisseia no Espaço ou Solaris, para ficar nos clássicos. Bem, pode expressar a crise de criatividade do cinema atual, ainda mais quando pensamos que ganha a companhia da continuação de Avatar: O Caminho da Água entre seus concorrentes a melhor filme.

Riz Ahmed e Allison Williams anunciam os dez finalistas ao Oscar de melhor filme Foto: CAROLINE BREHMAN

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (que alguém já rebatizou de Nada em Nenhum Lugar em Tempo Algum) tem concorrentes sólidos para sua, digamos, “estética” delirante. A começar por Nada de Novo no Front, densa adaptação da obra de Erich Maria Remarque sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial. Ou o memorialístico Os Fabelmans, sobre a infância de Spielberg e a descoberta de seu amor pelo cinema. Convencional mas bonito. Ou mesmo a cinebiografia inventiva de Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann.

O irlandês Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh, é um filme estranho, porém tem seduzido parte da crítica. Fala do súbito rompimento de uma amizade, tendo por pano de fundo uma guerra da qual se ouvem apenas alguns rumores distantes. Num tempo explícito, sabe ser alusivo.

Tár, de Todd Field, é uma presença marcante, em especial por Cate Blanchett que faz uma maestrina durona e que entra em crise por suas próprias contradições. Discute música, política, gênero, numa trama tensa puxada por sua extraordinária protagonista, favorita para o prêmio de melhor atriz. Entre Mulheres, um filme correto, entra na cota #Metoo. E, por contraste, Top Gun: Maverick, na do saudosismo machista.

Tirando essa enganação de sucesso que é Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o mais destoante dos dez indicados a melhor filme é o sueco Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund, Palma de Ouro em Cannes. Östulund é um diretor que tem ideias, o que já joga contra ele. Imagina um casal de modelos que embarca num cruzeiro de luxo, sofre um naufrágio e sobrevive em uma ilha com outros passageiros. A recriação de uma espécie de sociedade primitiva serve como crítica à hipocrisia da nossa. Um tanto de escatologia se soma a uma crítica social que se torna bastante rudimentar, se vista com certo rigor.

Por fim, algumas palavras sobre a categoria filme internacional, esse sonho de consumo brasileiro, sempre distante de nós. Categoria difícil, com filmes fortes como Nada de Novo no Front, que está também na disputa principal, a de melhor filme. E também com o singelo e maravilhoso Eo, do veterano polonês Jerzy Skolimowski, releitura do clássico Au Hasard, Balthazar, de Robert Bresson, o nosso mundo impiedoso visto pelo olhar de um burrico.

No entanto, entre os filmes de língua não inglesa surge com força Argentina, 1985, de Santiago Mitre, sobre o julgamento dos militares argentinos por crimes cometidos durante a ditadura. Num momento em que a democracia parece em xeque em várias partes do mundo, essa produção sólida e politicamente madura, protagonizada por Ricardo Darín, pode dar mais uma estatueta de Hollywood ao cinema dos nossos hermanos.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo sai na frente na corrida do Oscar, ao menos em número de indicações - 11, incluindo as de melhor filme e direção. Os Banshees de Inisherin e Nada de Novo no Front ficaram com nove indicações, e Elvis, com oito.

O que pode significar tantas indicações para uma “obra” que mais parece videogame que filme de cinema para valer? Para uma ficção científica que dialoga com o metaverso, mas que nem de longe passa perto de clássicos do gênero que reinventaram nossa maneira de ver o mundo baseando-se em especulações científicas, como são os casos de 2001 - Uma Odisseia no Espaço ou Solaris, para ficar nos clássicos. Bem, pode expressar a crise de criatividade do cinema atual, ainda mais quando pensamos que ganha a companhia da continuação de Avatar: O Caminho da Água entre seus concorrentes a melhor filme.

Riz Ahmed e Allison Williams anunciam os dez finalistas ao Oscar de melhor filme Foto: CAROLINE BREHMAN

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (que alguém já rebatizou de Nada em Nenhum Lugar em Tempo Algum) tem concorrentes sólidos para sua, digamos, “estética” delirante. A começar por Nada de Novo no Front, densa adaptação da obra de Erich Maria Remarque sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial. Ou o memorialístico Os Fabelmans, sobre a infância de Spielberg e a descoberta de seu amor pelo cinema. Convencional mas bonito. Ou mesmo a cinebiografia inventiva de Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann.

O irlandês Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh, é um filme estranho, porém tem seduzido parte da crítica. Fala do súbito rompimento de uma amizade, tendo por pano de fundo uma guerra da qual se ouvem apenas alguns rumores distantes. Num tempo explícito, sabe ser alusivo.

Tár, de Todd Field, é uma presença marcante, em especial por Cate Blanchett que faz uma maestrina durona e que entra em crise por suas próprias contradições. Discute música, política, gênero, numa trama tensa puxada por sua extraordinária protagonista, favorita para o prêmio de melhor atriz. Entre Mulheres, um filme correto, entra na cota #Metoo. E, por contraste, Top Gun: Maverick, na do saudosismo machista.

Tirando essa enganação de sucesso que é Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o mais destoante dos dez indicados a melhor filme é o sueco Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund, Palma de Ouro em Cannes. Östulund é um diretor que tem ideias, o que já joga contra ele. Imagina um casal de modelos que embarca num cruzeiro de luxo, sofre um naufrágio e sobrevive em uma ilha com outros passageiros. A recriação de uma espécie de sociedade primitiva serve como crítica à hipocrisia da nossa. Um tanto de escatologia se soma a uma crítica social que se torna bastante rudimentar, se vista com certo rigor.

Por fim, algumas palavras sobre a categoria filme internacional, esse sonho de consumo brasileiro, sempre distante de nós. Categoria difícil, com filmes fortes como Nada de Novo no Front, que está também na disputa principal, a de melhor filme. E também com o singelo e maravilhoso Eo, do veterano polonês Jerzy Skolimowski, releitura do clássico Au Hasard, Balthazar, de Robert Bresson, o nosso mundo impiedoso visto pelo olhar de um burrico.

No entanto, entre os filmes de língua não inglesa surge com força Argentina, 1985, de Santiago Mitre, sobre o julgamento dos militares argentinos por crimes cometidos durante a ditadura. Num momento em que a democracia parece em xeque em várias partes do mundo, essa produção sólida e politicamente madura, protagonizada por Ricardo Darín, pode dar mais uma estatueta de Hollywood ao cinema dos nossos hermanos.

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