AP - Faz mais ou menos uma hora que Ke Huy Quan ouviu seu nome ser indicado ao Oscar por sua atuação em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. “Ainda estou processando” seria um eufemismo. “Ainda estou pulando de alegria” seria mais preciso.
“É uma das manhãs mais felizes que já vivi!”, exclama Quan.
Poucos indicados ao Oscar este ano tiveram uma trajetória mais indireta para chegar às indicações do que Quan, de 51 anos. Depois de estrelar quando criança em dois dos filmes mais amados da década de 1980 - Indiana Jones e o Templo da Perdição e Os Goonies - Quan teve dificuldades para encontrar trabalho em uma indústria onde as oportunidades para atores de origem asiática eram poucas e distantes entre si. Ele acabou indo para a escola de cinema, começou a trabalhar atrás das câmeras e meio que abandonou suas esperanças de atuar de novo.
Agora, graças à brincadeira existencial de Daniel Kwan e Daniel Scheinert - Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo foi o filme mais agraciado na terça-feira, com 11 indicações, entre elas melhor filme e melhor atriz para Michelle Yeoh -, Quan está vivendo um sonho do qual tinha desistido. Falando por telefone de Los Angeles, Quan - considerado o favorito para ganhar o prêmio de melhor ator coadjuvante na noite de 12 de março - refletiu sobre seu outrora insondável momento Oscar.
Qual é a sensação neste momento?
Surreal. Não consigo acreditar no que está acontecendo. Quando ouvi a nomeação, pulei e gritei muito. Me senti exatamente como quando meu agente ligou para dizer que tinha conseguido o papel de Waymond. Sonhei com isso por mais de trinta anos. Assistia ao Oscar todos os anos, religiosamente. Sempre me imaginava no tapete vermelho, ali naquele lugar, como indicado, só esperando o anúncio - tudo aquilo. Parecia muito improvável. Especialmente porque tive de me afastar por muitos anos, o sonho parecia morto e enterrado. Nem ousava pensar nessas coisas porque não era mais ator. Só queria um emprego. Só queria ter um emprego estável onde pudesse atuar de novo. Então, conseguir uma indicação ao Oscar está além da minha imaginação. Não acredito que estou aqui conversando com você.
Como foi sua manhã?
Botei despertador, acordei bem cedo e abri um Zoom com Michelle, com os Daniels, com nosso produtor Jonathan (Wang). Ficamos só conversando e vendo as indicações. Todos ficamos muito impressionados. Não conseguimos acreditar que estamos liderando com onze categorias. Sou muito grato à academia. Eles realizaram muitos sonhos hoje.
Você vem sendo muito celebrado nesta temporada de premiações. Está sentindo as pessoas torcendo por você, inspiradas pelas reviravoltas no seu destino?
Quando decidi voltar a atuar, fiquei com muito medo. A última vez que me viram na tela, eu era criança. Agora sou um homem de meia-idade. Desde que nosso filme foi lançado, as pessoas não me mostraram nada além de amor e bondade, sou muito grato. Já chorei um monte de vezes. Fiquei muito emocionado porque encontrei muitas pessoas e todas disseram que estão muito felizes em me ver de volta na tela. É um momento muito louco e inacreditável. Eu não esperava nada disso. Espero que minha história inspire as pessoas a não desistir de seus sonhos.
Michelle Yeoh descreveu a indicação dela ao Oscar como uma validação. Especialmente considerando que você passou por longos períodos de dúvida, a sensação é a mesma para você?
Ela está certa. É a maior validação. Quando fiquei na frente da câmera, não sabia se conseguiria fazer tudo de novo, não sabia se o público queria me ver de novo. Tudo o que eu sabia era que me sentia feliz quando estava na frente da câmera. Fiquei muito confortável, como se fosse o lugar a que pertenço. Então, essa nomeação significa que tomei a decisão certa. Por muito tempo, quando eu era muito, muito mais jovem, fiquei perdido porque não via um rumo certo para mim. Mas agora vejo. Acho que isso significa que posso fazer tudo de novo pelo tempo que quiser. E, para ser franco, poder fazer o que você ama é um grande luxo. Este é o significado desta nomeação. Significa muito para mim. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU