Mais uma vez, o Brasil ficou fora da disputa pelo Oscar de melhor filme internacional. O belo Marte Um não entrou nem na shortlist. A torcida, apesar da rivalidade entre os países, é agora por Argentina, 1985, de Santiago Mitre. A Argentina já venceu duas vezes o prêmio da categoria. Conseguirá o terceiro? Como os anteriores - A História Oficial, de Luís Puenzo, de 1986, e O Segredo de Seus Olhos, de Juan José Campanella, de 2010 -, o novo candidato aborda a herança da ditadura militar.
Dessa vez, Mitre reconstitui o processo que levou ao julgamento dos comandantes das Juntas Militares. Havia o tempo em que todo o processo fosse só uma farsa. Ricardo Darín faz o promotor que forma uma equipe jovem para reunir as provas. Correm contra o tempo. O julgamento é dali a semanas. Darín é poderoso no papel, mas quando ele não é? Considerando-se que a produção é de 2022 e a Argentina já ganhou a Copa do Mundo no ano passado, ganhará agora a Copa do cinema? Não é exagerado comparar Darín a Messi. É o Messi do cinema, como Messi é o Darín do futebol. Feliz o país que tem esses dois gigantes.
Mas a disputa do Oscar não será fácil. Em 1930, numa das primeiras premiações do Oscar, Nada de Novo no Front venceu nas categorias de filme e direção. O crédito pela adaptação do romance de Erich Maria Remarque foi de Lewis Milestone. Passados quase 100 anos - 93, para sermos exatos -, outro filme adaptado do livro famoso concorre nas categorias de melhor filme e melhor filme internacional. No passado, o filme de Milestone chegou ao Brasil antes do livro e foi batizado como Sem Novidade no Front. A produção agora é da Netflix, que investe pesado na promoção de seu novo épico de guerra.
O diretor é o alemão Edward Berger. A guerra - a 1ª Grande Guerra - vista pelo olhar de Pauil. Lew Ayres foi quem fez o papel no filme antigo, o austríaco Felix Kammerer, famoso no teatro de seu país, estreia no cinema refazendo o personagem. Quem viu os dois filmes não notará grandes diferenças na história, e sim na maneira de contá-la. Entre um filme outro, surgiram longas como Apocalypse Now, O Resgate do Soldado Ryan, Cavalo de Guerra e 1917. A operização da destruição, a violência dos combates, o horror das trincheiras. Berger viu todos esses filmes e sabe que muitos espectadores, se não todos, também viram. Ele reconta a guerra de Remarque com mais realismo e intensidade, mas não abre mão de momentos mais intimistas e delicados. É quando o público se dá conta do bom ator que Kammerer é.
Nos últimos anos, Parasita, de Bong Joon-ho, e Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi, concorreram nas duas categorias, melhor filme e melhor filme internacional. O sul-coreano venceu nas duas em 2020, o japonês venceu somente como filme internacional no ano passado. Nada de Novo no Front repetirá um? Ou o outro? Parece improvável, mas ainda é cedo para avaliações definitivas. A internacionalização - globalização - do cinema tem levado a indicações curiosas. Ruben Östlund ganhou sua segunda Palma, em Cannes, no ano passado, por Triângulo da Tristeza, após a de The Square - A Arte da Discórdia.
É um diretor de prestígio, mas não uma unanimidade. Não poderia concorrer a melhor filme internacional porque Triângulo é falado em inglês. Cravou duas indicações nessa edição do prêmio - melhor filme e diretor. Östlund, vale repetir, faz um cinema do tipo ‘ame-o ou deixe-o’. Muito cínico e, dessa vez, escatológico. Só estar entre os cinco melhores diretores do ano segundo a Academia já é uma vitória e tanto para quem divide opiniões.