É uma Phoebe Waller-Bridge bem diferente daquela de Fleabag que aparece em Indiana Jones e a Relíquia do Destino: ela salta aviões e de carros em movimento e se mete em confusões que não envolvem a paixão por um padre. “Eu amei poder usar meu corpo, é libertador para um ator. Adorei cada machucado que ganhei fazendo este filme”, disse a atriz ao Estadão, por videoconferência.
A quinta e última aventura de Harrison Ford em seu icônico papel, dirigida por James Mangold, estreia na quinta-feira (29) no Brasil.
A atriz de 37 anos interpreta Helena Shaw, a afilhada de Indy que reaparece depois de muitos anos. É arqueóloga como seu padrinho, inteligente e bem-humorada, mas sua natureza e motivações são diferentes.
“Quando ela aparece, Indy está em um beco sem saída emocional”, disse Waller-Bridge sobre o arqueólogo, que deixou as aventuras de lado e encara a aposentadoria, arrastando-se em seu último dia como professor universitário, em 1969. Ele está solitário e desmotivado.
Phoebe Wallder-Bridge
Ela está atrás da Relíquia de Arquimedes, deixada por seu pai, Basil (Toby Jones), com Indiana Jones anos atrás e capaz de localizar fissuras no tempo. Helena está disposta a vendê-lo para quem oferecer mais. Um dos interessados no artefato é Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), um nazista abrigado nos Estados Unidos que deseja mudar o rumo da história.
Como os nazistas são os inimigos clássicos de Indiana Jones, que teve seus dias de glória nos anos 1930, ele deixa os planos de aposentadoria de lado e embarca rapidinho na tentativa de recuperar a criação do cientista grego.
Às vezes a personagem parece uma vilã, mas também é capaz de atitudes heroicas. Sua relação com Indy é complicada, e ela certamente é a personagem feminina mais complexa da série.
Helena Shaw é um marco para a saga Indiana Jones e para a carreira de Phoebe Waller-Bridge, que apenas dez anos atrás, sem conseguir trabalho depois de sair da prestigiosa Academia Real de Artes Dramáticas de Londres, decidiu criar um papel para ela mesma. Fleabag, a peça, estreou no Fringe do Festival de Edimburgo em 2013, um espaço livre para criadores.
Aquela jovem não tinha como cogitar que hoje estaria dividindo a cena com Harrison Ford. “Nem em um milhão de anos imaginaria isso”, disse a inglesa.
“Mas sempre houve uma atriz-bebê em mim, pois eu quero ser atriz desde os 5 anos de idade. Então uma parte de mim sempre sonhou em participar de um projeto como este. Só que nunca achei que pudesse se tornar realidade.”
Quando ela recebeu a ligação perguntando: “Você gostaria de fazer Indiana Jones?”, foi como entrar em contato com aquela menininha.
Phoebe Waller-Bridge
Claro que, embora tenha demorado a deslanchar, a carreira de Phoebe Waller-Bridge tem sido tudo menos chata. A aparição no Fringe levou a um convite para fazer Fleabag, a série de televisão, que teve duas temporadas e ganhou seis Emmys, incluindo melhor série cômica, atriz e roteiro de comédia.
A personagem, que lida com os desafios de ser uma jovem em Londres e com os efeitos de uma tragédia, virou símbolo de uma geração com suas quebras da quarta parede comentando de forma divertida sua vida – como faziam as brasileiras Zelda Scott (Andréa Beltrão) de Armação Ilimitada e Vani (Fernanda Torres) de Os Normais.
Ela também criou Killing Eve, baseado nos livros de Luke Jennings, sobre a relação complicada entre uma funcionária do MI5 (Sandra Oh) e uma assassina de aluguel psicopata (Jodie Comer, vencedora do Emmy de atriz dramática em 2019).
Waller-Bridge em Hollywood
O sucesso das duas séries abriu as portas do cinema para Phoebe Waller-Bridge, que fez um papel pequeno e marcante como um androide feminista em Han Solo: Uma História Star Wars (2018) e foi uma das roteiristas de 007: Sem Tempo para Morrer (2021).
Ela também fechou um contrato milionário de US$ 60 milhões com a Amazon, que já foi renovado, mesmo sem ter produzido nada ainda – ela saiu do projeto de Sr. e Sra. Smith por divergências criativas com Donald Glover.
Mas agora ela trabalha na criação de uma série com Lara Croft, arqueóloga aventureira como Indiana Jones que é personagem do videogame Tomb Raider, adaptado duas vezes para o cinema, com Angelina Jolie e Alicia Vikander. “Eu tenho muito interesse em comandar uma produção de gênero tão amada”, disse Waller-Bridge. “Ela é uma heroína de ação, mas também uma personagem complexa.”
Por mais que os fãs adorassem vê-la em um papel do tipo Fleabag novamente, agora suas atenções estão voltadas para os filmes e séries desse tipo. Há inclusive um boato de que vai dirigir o próximo filme de James Bond, mas ela disse não saber de nada. No que depender de Phoebe Waller-Bridge, haverá heroínas de ação tão famosas como Indiana Jones. “Seria maravilhoso e inspirador e não vejo por que não pode acontecer.”