É um programa tão legal que chega a ser frustrante. Parece um contra-senso, mas pode ser explicado. O Fugitivo - A Caçada Continua, que a Warner está lançando em vídeo, é o piloto da nova série que está sendo exibida pela TV paga. Tim Daly, de A Tempestade do Século, substitui David Janssen, o fugitivo da série original, produzida para a TV americana nos anos 60, e Harrison Ford, que recriou o papel, na versão para cinema dirigida por Andrew Davis, em 1993. O piloto é ótimo. Nenhum fã de ação vai reclamar. Quer dizer, a reclamação a ser feita é a seguinte: já que se trata de um piloto, o filme é só o episódio inicial. Expõe o drama, apresenta os personagens, mas termina em aberto, ou não termina, forçando o espectador a ver os episódios da série de TV. Recomeça o enigma - quem é o misterioso homem sem braço, que matou a mulher do Dr. Richard Kimble? Foi o ponto de partida para a série criada por Roy Higgins. O Fugitivo, na sua versão original, foi ao ar na rede ABC entre setembro de 1963 e agosto de 1967. O episódio final, transmitido em 29 de agosto daquele ano, teve a maior audiência que uma série havia registrado até então. Kimble é um médico bem sucedido, mas sua mulher é morta brutalmente. As evidências apontam para ele, que cita o tal homem sem braço como o verdadeiro assassino. Condenado, consegue fugir e inicia a caçada ao criminoso. Mas ele próprio é perseguido por um policial, o tenente Philip Gerard, que transforma em ponto de honra, verdadeira obsessão, recolocar o médico foragido nas grades. Gerard, que no cinema foi interpretado por Tommy Lee Jones - e ele ganhou o Oscar de coadjuvante pelo papel -, é recriado agora por Mikelti Williamson, que integrava o elenco de Forrest Gump - O Contador de Histórias. Na série antiga, Barry Morse era o intérprete. O piloto da nova série começa em plena fuga. Há o acidente com o camburão que transporta o Dr. Kimble, ele consegue escapar e, enquanto corre pela mata, perseguido por Gerard, flashes reconstituem sua história - a vida com a mulher, o crime, a prisão, o julgamento, a condenação. Tudo breve, sucinto, econômico. Kimble encontra uma pista, resolve segui-la. No caminho, vai trabalhar na construção civil e se envolve com uma médica, depois de salvar a vida dela. Em outro episódio, é roubado e persegue o ladrão para descobrir que é casado com uma mulher (jovem) que sofre de uma doença degenerativa. Por maior que seja a desgraça de Kimble, ele não consegue deixar de ser solidário. Diante do eletrizante O Fugitivo, com Harrison Ford, Andrew Davis pode ser considerado um dos melhores diretores de ação de Hollywood nos anos 90. Há que fazer agora justiça a Mikael Salomon, que dirige o piloto da nova série. Ele tem jeito para as cenas movimentadas, mas se preocupa tanto com a humanidade dos personagens que atira, às vezes, O Fugitivo - A Caçada Continua no território do melodrama. Algumas das cenas mais emotivas são aquelas que mostram Kimble observando a engenheira com a filha, ou encorajando a mulher doente a lutar pela vida. Elas remetem à essência da trama - a dor, que representa para o protagonista, a perda da própria mulher; a caçada, movida menos pelo desejo de vingança do que pela necessidade de limpar o nome e readquirir a cidadania. A pergunta que não quer calar é: A Warner também vai lançar em vídeo o desfecho da série? E quando? Até lá, você talvez não resista. Nesse caso, vai sintonizar, nem que seja só de vez em quando, a série da TV paga, para acompanhar a dramática trajetória de Tim Daly como o fugitivo. O Fugitivo - A Caçada Continua.EUA, 2000. De Michael Salomon.Lançamento Warner. Colorido. 89 minutos.