Plataformas de streaming deveriam ter cotas para conteúdo nacional, diz diretor da O2 Play


Para Igor Kupstas, que está na empresa há 10 anos, serviços precisam comprar e exibir conteúdo brasileiro, além de precisarem ofertar os produtos no ambiente de navegação

Por Daniel Silveira
Atualização:
Foto: TABA BENEDICTO
Entrevista comIgor KupstasDiretor da O2 Play, setor de distribuição da O2 Filmes

Há cerca de 10 anos, Igor Kupstas foi convidado a trabalhar na O2 Filmes, iniciando um novo setor na produtora de Fernando Meireles, a O2 Play. Naquela época, plataformas de streaming estavam apenas engatinhando. A Netflix era a única no mercado, que se concentrava apenas nas salas de cinema e licenciamento para a televisão aberta e canais a cabo.

Igor Kupstas é o nome por trás do setor de distribuição da O2 Filmes, a O2 Play.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Em uma década, muita coisa mudou no Brasil e no mundo. Passamos por uma pandemia, que forçou uma digitalização maior da sociedade, incluindo o mercado audiovisual, com explosão de plataformas de streaming e cinemas fechados em todo o mundo. Isso acelerou algo que Kupstas já visualizava para seu trabalho na O2 Play, que era conversar com exibidores e plataformas negociando janelas distintas de cinema e plataformas para produtos variados.

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“Fazia parte do projeto explicar o que era um aluguel de filmes e como seria essa distribuição no futuro, da questão das janelas do digital entrando um pouco em cima do cinema e experimentos em relação a isso que vinham acontecendo lá fora”, lembra o empresário, que começou a carreira no audiovisual como jornalista, escrevendo para o site e-Pipoca.

Durante a entrevista, Igor fala sobre a esperança de que políticas públicas voltem a ser eficazes. “Em 2013, tinha mais filme brasileiro sendo feito, mais possibilidade de produto para a gente, mais linhas para conseguir dinheiro para distribuição e tudo isso deu uma estagnada nos últimos anos com a morosidade do governo Bolsonaro”, comenta.

Defensor da produção nacional, ele levanta a bandeira das cotas para produtos brasileiros em plataformas de streaming, como já acontece para salas de cinema e TV a cabo. “Elas têm que comprar conteúdo nosso (brasileiro), exibir, ter um mínimo que esteja presente e que seja ofertado na plataforma”, diz. Além disso, Kupstas diz ser a favor da criação de um serviço públicoa, que permita que filmes e séries feitas no Brasil fiquem disponíveis. “Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes, seria uma evolução”, pontua.

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Abaixo, você lê trechos editados da entrevista, cortados para facilitar a compreensão.

Em 10 anos muita coisa aconteceu no mercado de audiovisual. Diante de todo o cenário, o que mudou para a O2 Play?

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Entrei para começar um projeto novo na casa. Quando apresentei também explicava o que era o streaming. Há 10 anos, a Netflix estava engatinhando, nem todo mundo tinha alugado um filme no iTunes, os serviços estavam chegando ao Brasil. Fazia parte do projeto explicar o que era um aluguel de filmes, diferentes direitos e como seria essa distribuição no futuro, falava também da questão das janelas do digital entrando um pouco em cima do cinema e experimentos em relação a isso que vinham acontecendo lá fora. A parte que não aconteceu foi que nossa carruagem pública não acompanhou a revolução digital.

Estou há 10 anos esperando que a Ancine regularize o VOD (do inglês ‘video on demand’, que são plataformas de streaming e serviços de aluguel digitais) por exemplo. Se tivesse sido feito, a gente podia ter uma política pública muito mais forte.

Também foi muito importante para nós o fundo setorial em 2013 e existir um boom na produção audiovisual. Tinha mais filme brasileiro sendo feito, mais linhas para conseguir dinheiro para distribuição e tudo isso deu uma estagnada nos últimos anos com a morosidade do governo Bolsonaro, pandemia, cinemas fechados etc.

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Acho que a gente tem no DNA as janelas e a parte tecnológica, aprendemos a lidar com o Fundo Setorial... Com alguns filmes que adquirimos em parceria com a MUBI também aprendemos a fazer um cinema comercial internacional. Espero estar bem perto de uma tempestade perfeita positiva. A gente vai ter recurso público, produção de novo, uma lei clara do VOD, cotas. A gente pode estar numa retomada muito especial.

Em 2018, numa entrevista ao Mídia em Foco, você falou sobre o futuro do On Demand. A pandemia acelerou o processo, inclusive de quebrar essa janela de lançamento no cinema e no streaming. Como foi a adaptação na distribuição?

Atingiu de modos diferentes em anos diferentes. Para o cinema foi a pior crise da história. A gente teve muita sala fechada, sem público, para eles foi quase uma questão de sobrevivência. O efeito disso para nós é claro, a gente perde receita, janela e oportunidade. Mas quem não tem muito como escolher começa também a ficar mais aberto. Para nós, que já vínhamos conversando sobre janela com exibidores, em algum momento eles se vêem mais abertos e aceitam um filme com duas semanas só de janela para Netflix, por exemplo.

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Para nós foi facilitador porque sempre entendemos que a janela poderia ser diferente para certos filmes. Foi positivo, o que não quer dizer que os filmes lançados deram certo, até porque muitos estrearam num período em que nada dava. Ao mesmo tempo, quando esse monte de serviço chega e começa a competir pelo público, o que salva um pouco nossa existência e mantém a gente de pé durante a pandemia é que começou-se a ter uma luta por direitos. No primeiro ano e meio de pandemia, tive alguns licenciamentos históricos para o streaming com resultado muito bons.

Para produtoras que começaram a entregar conteúdo teve um primeiro momento de queda, sem protocolo para filmar, daí estabelece um protocolo e tem uma demanda insana por produzir, algumas profissões foram hipervalorizadas. A gente viu que faltava profissional no setor, aí todo mundo começa a falar sobre formação. (Aconteceu) um pico de vendas, bons valores e depois uma queda.

Curiosamente, o que começa a ajudar na minha conta é o cinema de novo. Em 2022 tive boas performances, por exemplo, com Drive My Car, filme da Mubi indicado ao Oscar. Lançar um filme japonês de mais de três horas de duração em cinema e o negócio dar certo, vindo de uma pandemia, foi tipo: “o cinema está salvo”.

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Agora, a gente está um pouco na ressaca de tudo. Os streamings tentando entender como aumentar assinantes, como lucram em vez de só investir, produtoras que cresceram equipe entendendo se dá para manter, projetos que tinham recebido luz verde talvez não sejam feitos, e, de novo, expectativa pelo retorno do poder público ajudando e colocando um pouco mais de recurso.

Uma expectativa minha do que pode vir com essa regularização é eles comprarem mais conteúdo e guardarem um espaço privilegiado na prateleira para nossos filmes, se o público vai assistir isso ou filme coreano ou filme americano ou um filme italiano, aí é do público.

Igor Kupstas

Você falou também sobre essa esperança de que as políticas públicas voltem a ser eficazes de alguma forma para o mercado de audiovisual no Brasil. Qual o prognóstico que a O2 Play faz disso?

Por enquanto é muito bom, mas é prematuro dizer o que vai acontecer, acho que todos os olhos estão na Lei Paulo Gustavo. Quando o Fundo Setorial e Ancine funcionavam, a gente tinha uma relação boa com o poder público. Lancei muito filme com Fundo Setorial, com edital da SPCine, isso nos ajuda a fazer promoção, contratar equipe, levar filmes para salas, fazer ações diferentes, construir marca, vender ingresso, vender para streaming e para a TV. Sem esse recurso, a gente fica prejudicado.

Como é que regularizar o VOD poderia ajudar o mercado audiovisual, pensando principalmente no mercado brasileiro que sofre um pouco para chegar nas salas concorrendo com alguns produtos gringos?

A Lei do Cabo (1995), que criou cotas pedindo que canais a cabo tivessem número de horas de programação brasileira independente, revolucionou o mercado. Tanto na criação de pequenas produtoras quanto na compra e licenciamento de filmes prontos. Se a gente tiver algo similar para o streaming, vai ser muito positivo. O que a gente precisa é modernizar e adaptar. O que antes era uma linha de programação de espaço finito de 24 horas, no streaming de assinatura tem uma base que pode tender ao infinito. Como seria essa cota? Eles têm que comprar conteúdo nosso (brasileiro), exibir, ter um mínimo que esteja presente e que seja ofertado na plataforma.

Já participei de debates em que executivos dessas plataformas defendiam a ideia de que o algoritmo deles favorece o usuário mostrando o que ele gosta mais e que isso faz parte do modelo de negócio. O perigo é a gente eliminar a diversidade e também não trabalhar formação de público. Esse algoritmo precisa ser entendido regionalmente. Como fazer isso é um desafio, mas acho que também deixar aberto para que nunca recomende um filme brasileiro faz surgir a pergunta: “como vai ter uma pessoa que entende a cultura dela se a plataforma nem mostra um conteúdo?”

O mais incrível é que você poderia falar assim: “estou obrigando a pessoa a consumir essas horas.” Ninguém obriga a nada. A gente tem que preservar uma área para esses filmes. Aí que caiba ao produtor, ao distribuidor, fazer uma campanha, fazer um filme que mereça um clique. A gente está lutando por isso. Esse espaço de sobrevivência é muito importante. Uma expectativa minha do que pode vir com essa regularização é eles comprarem mais conteúdo e guardarem um espaço privilegiado na prateleira para nossos filmes, se o público vai assistir isso ou filme coreano, americano ou filme italiano, aí é com o público.

Como funciona a parceria com a Mubi?

Para nós é muito boa. Tem uma parte que é clássica, nós licenciamos os filmes deles. Eu os compro sabendo que eles detém a janela do streaming. A gente tem que ter um acordo muito arrojado em relação a datas, janelas e promoção. E para eles é bom que o filme esteja no cinema porque o assinante gosta, da mesma forma que eu também estou promovendo um filme que estará lá, então é um ganha-ganha. Eles também têm uma curadoria muito boa. E tenho aprendido cada vez mais que eu tinha a ideia errada de que a Mubi era uma plataforma para as pessoas mais velhas e não é isso. Tem um novo público cinéfilo jovem, e para mim fazer parte desse contexto é super legal.

O cara que assina Mubi sabe que o filme estará lá em fevereiro, mas ele quer ver no cinema antes, eu também apresento essa ideia para os exibidores. “A plataforma não está te roubando janela, está sendo seu parceiro também, ajudando a levar um público que talvez descubra o Reserva, o Estação, o Belas Artes, o Augusta com um filme Mubi”. Me sinto muito feliz de ser parte disso.

Pensando como distribuidor ainda é válido mandar um filme para o cinema?

Nem que seja um dia que seja uma semana, uma sala, cada vez mais, na verdade. Uma coisa é você ter um filme que, por questões de negócio, valeu a pena ir direto para um streaming, acho que a gente vive num mundo de poucas regras ou regras muito fluidas. Não dá para ser um distribuidor independente que trabalha com Mubi, com Netflix, com produtor muito pequeno, com produtor grande e falar “minha regra é assim eu lanço e depois eu faço isso”, não dá. Talvez faça sentido para um grande estúdio. Mas até eles ficaram mais fluidos com a pandemia.

Eu fui para Cannes este ano. Você entra numa sessão de terno e gravata e tudo mais. Falei: “nossa, mas por que isso?”. Achei bonito, questão de respeito, tradição. É lá que nascem os deuses do cinema, é o Panteão. Isso é pelo coletivo, pela projeção grande. Em casa, no celular, você não tem essas coisas, tem outras muito legais, mas é outra cultura. Então mesmo para um filme que eventualmente vou ter mil pessoas, prefiro fazer algumas poucas sessões com sala cheia, ativar e depois ir para o digital. Às vezes o exibidor também vai estar com tanto conteúdo que mal vai conseguir te receber porque no Brasil a gente tem um problema de poucas salas.

Falando nisto, o que explica o pouco espaço para produções nacionais nas salas do País? De quem é a culpa?

Não é culpa de uma coisa só e o fato de termos poucos cinemas não pode ser ignorado. Pouco antes da pandemia, a gente comemorou o recorde de número de telas de cinema no Brasil desde os anos 1970, em torno de 3.500. (Em 2019, eram 3.496 telas no País, sendo divididos em 842 espaços, segundo o Filme B.) Um País do tamanho do Brasil com cerca de mil locais, sendo a maioria no Sudeste, praticamente não tem cinema. Daí você pega o período que a gente está vivendo agora, com um a dois blockbusters americanos sendo lançados por semana e você fala: “queria colocar meu filme brasileiro aqui.” Se não tiver uma cota de tela, o que eu sou a favor, não entra e se entrar, vai ser no limite da cota.

A gente precisa de cota, de mais recursos para fazer filmes comerciais também. Fico muito feliz de ver um público novo querendo esses filmes e quanto mais eles assistirem, divulgarem e virarem mobilizadores desse cinema, mais temos ferramentas para trazer esse conteúdo. Fico feliz que, neste pós pandemia, o cinema seja um statement. Sabe quanta gente foi ver Marighella ainda durante a pandemia para falar “eu gosto dessa mensagem”? Esses fenômenos são incríveis.

A gente poderia pensar seriamente sobre uma uma segunda janela ou um streaming da Ancine, como é o SPCine Play. Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes.

Igor Kupstas

E para onde vai essa produção que fica pouco tempo em salas e plataformas ou que só circula em festivais?

Eu sou favorável que todos tenham um lugar no ambiente do TVOD por exemplo, porque ele tende ao infinito. Todos os filmes poderiam estar no Google Play, iTunes, no NOW, até com valores muito simbólicos de aluguel, porque lá é um ambiente sem exclusividade, que preza pela pela quantidade de acervo. Eu coloco todos os meus filmes neste espaço, que tem um custo pequeno para deixar na prateleira e aceita tudo.

Ao mesmo tempo, nós distribuidores queremos licenciar nossos filmes para os streamings, para canais de TV e tem muito filme que eles também não querem mais ou não compram pela ausência de uma política que os obrigam ou incentivam a comprar. E acho que tem uma questão da gente entender melhor uma estratégia de distribuição digital e eu, particularmente, sou favorável a um streaming público.

A gente poderia pensar seriamente sobre uma uma segunda janela ou um streaming da Ancine, como é o SPCine Play. Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes. Seria uma evolução se existisse, com algum tipo de remuneração, que fosse através de publicidade, através do fundo setorial como investidor. Acho que a gente tem que ter uma estrutura, nem que seja gratuito para o consumidor, mas com anúncio ou alguma outra coisa que ajude a financiar. Como distribuidor eu também usaria isso nessa jornada e, eventualmente, a gente poderia ter editais para essa plataforma.

Falando de trailer, atualmente, alguns são um resumão do filme. Isso é pensado para a geração TikTok?

Tem várias coisas aí, grande parte da plateia tem medo de arriscar um conteúdo, então trailers tentam, de forma desesperada, garantir o seu dinheiro e te entregar o que você espera. Não é o que fazemos com nossos filmes. Acho que o cinema de arte, autoral, experimental e independente, muitas vezes, tem como DNA a entrega de uma coisa nova, então essa observação, eu diria, tem mais a ver com grandes campanhas de filmes mais comerciais. Se não me engano o pessoal do Relatório Nostradamus, uns anos atrás, falou que as pessoas estão inundadas de tanto conteúdo e estão tão paralisadas pela enorme quantidade de opções que às vezes o conteúdo que você tem certeza que você não vai se decepcionar é aquele que você já viu.

'Mesmo para um filme que eu eventualmente vou ter mil pessoas eu prefiro fazer algumas poucas sessões com sala cheia, ativar e depois ir para o digital.' Foto: Taba Benedicto/Estadão

Você acha que isso explica a tendência de consumo de catálogo?

Acho que é um pouco isso, mas também acho que hoje em dia é mais difícil criar grandes fenômenos de consumo de massa. Qual foi a última grande franquia original do cinema que surgiu nos últimos 10 anos? Não sei nem se consigo dar exemplos. Quantas franquias a Netflix lançou por exemplo? Acho que Stranger Things é a maior delas, a gente talvez conte nos dedos. A gente acaba sendo mais superficial também enquanto que esses conteúdos que nasceram em outras eras ficavam mais incrustados. É o que eu sinto na minha experiência de fã, não sei se porque estou mais velho ou se porque o mundo mudou.

Como foi para a O2 Play estar em Cannes?

Muito bom! Eles inventaram o cinema, uma indústria, sinto que todos nós somos um pouco filhos de Cannes. Estar lá e entender como os nossos filmes podem ser parte disso. Fiz uma sessão do Elis e Tom que é um filme que a gente vai lançar em 21 de setembro, que a gente teve presença de compradores do mundo todo nessa cabine. Ver um comprador australiano chorando com um filme que nos orgulha muito, emocionando curadores de um festival italiano. Onde mais eu consigo fazer esse tipo de sessão assim?

Acabei conseguindo ingresso para ver o Indiana Jones novo lá, foi emocionante ver o Harrison Ford ali. E naquele mesmo lugar tem o filme do Kleber (Mendonça Filho), tem filme da O2 Play, da Mubi, tem o Scorcese... É a indústria do cinema de verdade. A gente vinha de um crescente com o cinema brasileiro, com tanta coisa boa participando no festival, crescendo, a gente tem que retomar isso. Porque tem um lugar ali para a gente.

E como a O2 Play está se preparando para os próximos anos?

Depois de 10 anos de empresa, acho que o que me deixa mais feliz é que eu sinto que ainda tem muita coisa para fazer. Porque o mercado está interessante. Depois de três anos muito difíceis, de você ligar para um parceiro exibidor e o cara estar deprimido, devendo dinheiro, mandando gente embora, de você tentar prestar contas num negócio e ter dificuldade de falar com a Ancine. Depois de anos muito difíceis a gente vê que o cinema autoral tem um lugar, que as políticas públicas estão voltando, que não tem espaço só para blockbuster.

E ao mesmo tempo a gente faz parte de uma empresa grande que é a O2 Filmes, que também está produzindo uma série do Raul Seixas para o Globoplay, uma do Cidade de Deus para a HBO, com outros projetos grandes. Minha expectativa nos próximos anos é crescer e trazer mais filme de qualidade de fora com a parceria Mubi. Já fizemos coisas com a Netflix, queremos fazer de novo, comprar outros filmes, ter mais filmes brasileiros numa parceria mais intensa. A gente também quer tentar produzir e coproduzir mais coisas através até da O2 e apostar que o mercado vai crescer, apostar no Fundo Setorial, na Ancine, no cinema. Quero cada vez mais olhar para meu catálogo e ter uma conexão com esses nossos projetos e entender que a gente tá conseguindo fazer uma coisa especial para todos.

Há cerca de 10 anos, Igor Kupstas foi convidado a trabalhar na O2 Filmes, iniciando um novo setor na produtora de Fernando Meireles, a O2 Play. Naquela época, plataformas de streaming estavam apenas engatinhando. A Netflix era a única no mercado, que se concentrava apenas nas salas de cinema e licenciamento para a televisão aberta e canais a cabo.

Igor Kupstas é o nome por trás do setor de distribuição da O2 Filmes, a O2 Play.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Em uma década, muita coisa mudou no Brasil e no mundo. Passamos por uma pandemia, que forçou uma digitalização maior da sociedade, incluindo o mercado audiovisual, com explosão de plataformas de streaming e cinemas fechados em todo o mundo. Isso acelerou algo que Kupstas já visualizava para seu trabalho na O2 Play, que era conversar com exibidores e plataformas negociando janelas distintas de cinema e plataformas para produtos variados.

“Fazia parte do projeto explicar o que era um aluguel de filmes e como seria essa distribuição no futuro, da questão das janelas do digital entrando um pouco em cima do cinema e experimentos em relação a isso que vinham acontecendo lá fora”, lembra o empresário, que começou a carreira no audiovisual como jornalista, escrevendo para o site e-Pipoca.

Durante a entrevista, Igor fala sobre a esperança de que políticas públicas voltem a ser eficazes. “Em 2013, tinha mais filme brasileiro sendo feito, mais possibilidade de produto para a gente, mais linhas para conseguir dinheiro para distribuição e tudo isso deu uma estagnada nos últimos anos com a morosidade do governo Bolsonaro”, comenta.

Defensor da produção nacional, ele levanta a bandeira das cotas para produtos brasileiros em plataformas de streaming, como já acontece para salas de cinema e TV a cabo. “Elas têm que comprar conteúdo nosso (brasileiro), exibir, ter um mínimo que esteja presente e que seja ofertado na plataforma”, diz. Além disso, Kupstas diz ser a favor da criação de um serviço públicoa, que permita que filmes e séries feitas no Brasil fiquem disponíveis. “Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes, seria uma evolução”, pontua.

Abaixo, você lê trechos editados da entrevista, cortados para facilitar a compreensão.

Em 10 anos muita coisa aconteceu no mercado de audiovisual. Diante de todo o cenário, o que mudou para a O2 Play?

Entrei para começar um projeto novo na casa. Quando apresentei também explicava o que era o streaming. Há 10 anos, a Netflix estava engatinhando, nem todo mundo tinha alugado um filme no iTunes, os serviços estavam chegando ao Brasil. Fazia parte do projeto explicar o que era um aluguel de filmes, diferentes direitos e como seria essa distribuição no futuro, falava também da questão das janelas do digital entrando um pouco em cima do cinema e experimentos em relação a isso que vinham acontecendo lá fora. A parte que não aconteceu foi que nossa carruagem pública não acompanhou a revolução digital.

Estou há 10 anos esperando que a Ancine regularize o VOD (do inglês ‘video on demand’, que são plataformas de streaming e serviços de aluguel digitais) por exemplo. Se tivesse sido feito, a gente podia ter uma política pública muito mais forte.

Também foi muito importante para nós o fundo setorial em 2013 e existir um boom na produção audiovisual. Tinha mais filme brasileiro sendo feito, mais linhas para conseguir dinheiro para distribuição e tudo isso deu uma estagnada nos últimos anos com a morosidade do governo Bolsonaro, pandemia, cinemas fechados etc.

Acho que a gente tem no DNA as janelas e a parte tecnológica, aprendemos a lidar com o Fundo Setorial... Com alguns filmes que adquirimos em parceria com a MUBI também aprendemos a fazer um cinema comercial internacional. Espero estar bem perto de uma tempestade perfeita positiva. A gente vai ter recurso público, produção de novo, uma lei clara do VOD, cotas. A gente pode estar numa retomada muito especial.

Em 2018, numa entrevista ao Mídia em Foco, você falou sobre o futuro do On Demand. A pandemia acelerou o processo, inclusive de quebrar essa janela de lançamento no cinema e no streaming. Como foi a adaptação na distribuição?

Atingiu de modos diferentes em anos diferentes. Para o cinema foi a pior crise da história. A gente teve muita sala fechada, sem público, para eles foi quase uma questão de sobrevivência. O efeito disso para nós é claro, a gente perde receita, janela e oportunidade. Mas quem não tem muito como escolher começa também a ficar mais aberto. Para nós, que já vínhamos conversando sobre janela com exibidores, em algum momento eles se vêem mais abertos e aceitam um filme com duas semanas só de janela para Netflix, por exemplo.

Para nós foi facilitador porque sempre entendemos que a janela poderia ser diferente para certos filmes. Foi positivo, o que não quer dizer que os filmes lançados deram certo, até porque muitos estrearam num período em que nada dava. Ao mesmo tempo, quando esse monte de serviço chega e começa a competir pelo público, o que salva um pouco nossa existência e mantém a gente de pé durante a pandemia é que começou-se a ter uma luta por direitos. No primeiro ano e meio de pandemia, tive alguns licenciamentos históricos para o streaming com resultado muito bons.

Para produtoras que começaram a entregar conteúdo teve um primeiro momento de queda, sem protocolo para filmar, daí estabelece um protocolo e tem uma demanda insana por produzir, algumas profissões foram hipervalorizadas. A gente viu que faltava profissional no setor, aí todo mundo começa a falar sobre formação. (Aconteceu) um pico de vendas, bons valores e depois uma queda.

Curiosamente, o que começa a ajudar na minha conta é o cinema de novo. Em 2022 tive boas performances, por exemplo, com Drive My Car, filme da Mubi indicado ao Oscar. Lançar um filme japonês de mais de três horas de duração em cinema e o negócio dar certo, vindo de uma pandemia, foi tipo: “o cinema está salvo”.

Agora, a gente está um pouco na ressaca de tudo. Os streamings tentando entender como aumentar assinantes, como lucram em vez de só investir, produtoras que cresceram equipe entendendo se dá para manter, projetos que tinham recebido luz verde talvez não sejam feitos, e, de novo, expectativa pelo retorno do poder público ajudando e colocando um pouco mais de recurso.

Uma expectativa minha do que pode vir com essa regularização é eles comprarem mais conteúdo e guardarem um espaço privilegiado na prateleira para nossos filmes, se o público vai assistir isso ou filme coreano ou filme americano ou um filme italiano, aí é do público.

Igor Kupstas

Você falou também sobre essa esperança de que as políticas públicas voltem a ser eficazes de alguma forma para o mercado de audiovisual no Brasil. Qual o prognóstico que a O2 Play faz disso?

Por enquanto é muito bom, mas é prematuro dizer o que vai acontecer, acho que todos os olhos estão na Lei Paulo Gustavo. Quando o Fundo Setorial e Ancine funcionavam, a gente tinha uma relação boa com o poder público. Lancei muito filme com Fundo Setorial, com edital da SPCine, isso nos ajuda a fazer promoção, contratar equipe, levar filmes para salas, fazer ações diferentes, construir marca, vender ingresso, vender para streaming e para a TV. Sem esse recurso, a gente fica prejudicado.

Como é que regularizar o VOD poderia ajudar o mercado audiovisual, pensando principalmente no mercado brasileiro que sofre um pouco para chegar nas salas concorrendo com alguns produtos gringos?

A Lei do Cabo (1995), que criou cotas pedindo que canais a cabo tivessem número de horas de programação brasileira independente, revolucionou o mercado. Tanto na criação de pequenas produtoras quanto na compra e licenciamento de filmes prontos. Se a gente tiver algo similar para o streaming, vai ser muito positivo. O que a gente precisa é modernizar e adaptar. O que antes era uma linha de programação de espaço finito de 24 horas, no streaming de assinatura tem uma base que pode tender ao infinito. Como seria essa cota? Eles têm que comprar conteúdo nosso (brasileiro), exibir, ter um mínimo que esteja presente e que seja ofertado na plataforma.

Já participei de debates em que executivos dessas plataformas defendiam a ideia de que o algoritmo deles favorece o usuário mostrando o que ele gosta mais e que isso faz parte do modelo de negócio. O perigo é a gente eliminar a diversidade e também não trabalhar formação de público. Esse algoritmo precisa ser entendido regionalmente. Como fazer isso é um desafio, mas acho que também deixar aberto para que nunca recomende um filme brasileiro faz surgir a pergunta: “como vai ter uma pessoa que entende a cultura dela se a plataforma nem mostra um conteúdo?”

O mais incrível é que você poderia falar assim: “estou obrigando a pessoa a consumir essas horas.” Ninguém obriga a nada. A gente tem que preservar uma área para esses filmes. Aí que caiba ao produtor, ao distribuidor, fazer uma campanha, fazer um filme que mereça um clique. A gente está lutando por isso. Esse espaço de sobrevivência é muito importante. Uma expectativa minha do que pode vir com essa regularização é eles comprarem mais conteúdo e guardarem um espaço privilegiado na prateleira para nossos filmes, se o público vai assistir isso ou filme coreano, americano ou filme italiano, aí é com o público.

Como funciona a parceria com a Mubi?

Para nós é muito boa. Tem uma parte que é clássica, nós licenciamos os filmes deles. Eu os compro sabendo que eles detém a janela do streaming. A gente tem que ter um acordo muito arrojado em relação a datas, janelas e promoção. E para eles é bom que o filme esteja no cinema porque o assinante gosta, da mesma forma que eu também estou promovendo um filme que estará lá, então é um ganha-ganha. Eles também têm uma curadoria muito boa. E tenho aprendido cada vez mais que eu tinha a ideia errada de que a Mubi era uma plataforma para as pessoas mais velhas e não é isso. Tem um novo público cinéfilo jovem, e para mim fazer parte desse contexto é super legal.

O cara que assina Mubi sabe que o filme estará lá em fevereiro, mas ele quer ver no cinema antes, eu também apresento essa ideia para os exibidores. “A plataforma não está te roubando janela, está sendo seu parceiro também, ajudando a levar um público que talvez descubra o Reserva, o Estação, o Belas Artes, o Augusta com um filme Mubi”. Me sinto muito feliz de ser parte disso.

Pensando como distribuidor ainda é válido mandar um filme para o cinema?

Nem que seja um dia que seja uma semana, uma sala, cada vez mais, na verdade. Uma coisa é você ter um filme que, por questões de negócio, valeu a pena ir direto para um streaming, acho que a gente vive num mundo de poucas regras ou regras muito fluidas. Não dá para ser um distribuidor independente que trabalha com Mubi, com Netflix, com produtor muito pequeno, com produtor grande e falar “minha regra é assim eu lanço e depois eu faço isso”, não dá. Talvez faça sentido para um grande estúdio. Mas até eles ficaram mais fluidos com a pandemia.

Eu fui para Cannes este ano. Você entra numa sessão de terno e gravata e tudo mais. Falei: “nossa, mas por que isso?”. Achei bonito, questão de respeito, tradição. É lá que nascem os deuses do cinema, é o Panteão. Isso é pelo coletivo, pela projeção grande. Em casa, no celular, você não tem essas coisas, tem outras muito legais, mas é outra cultura. Então mesmo para um filme que eventualmente vou ter mil pessoas, prefiro fazer algumas poucas sessões com sala cheia, ativar e depois ir para o digital. Às vezes o exibidor também vai estar com tanto conteúdo que mal vai conseguir te receber porque no Brasil a gente tem um problema de poucas salas.

Falando nisto, o que explica o pouco espaço para produções nacionais nas salas do País? De quem é a culpa?

Não é culpa de uma coisa só e o fato de termos poucos cinemas não pode ser ignorado. Pouco antes da pandemia, a gente comemorou o recorde de número de telas de cinema no Brasil desde os anos 1970, em torno de 3.500. (Em 2019, eram 3.496 telas no País, sendo divididos em 842 espaços, segundo o Filme B.) Um País do tamanho do Brasil com cerca de mil locais, sendo a maioria no Sudeste, praticamente não tem cinema. Daí você pega o período que a gente está vivendo agora, com um a dois blockbusters americanos sendo lançados por semana e você fala: “queria colocar meu filme brasileiro aqui.” Se não tiver uma cota de tela, o que eu sou a favor, não entra e se entrar, vai ser no limite da cota.

A gente precisa de cota, de mais recursos para fazer filmes comerciais também. Fico muito feliz de ver um público novo querendo esses filmes e quanto mais eles assistirem, divulgarem e virarem mobilizadores desse cinema, mais temos ferramentas para trazer esse conteúdo. Fico feliz que, neste pós pandemia, o cinema seja um statement. Sabe quanta gente foi ver Marighella ainda durante a pandemia para falar “eu gosto dessa mensagem”? Esses fenômenos são incríveis.

A gente poderia pensar seriamente sobre uma uma segunda janela ou um streaming da Ancine, como é o SPCine Play. Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes.

Igor Kupstas

E para onde vai essa produção que fica pouco tempo em salas e plataformas ou que só circula em festivais?

Eu sou favorável que todos tenham um lugar no ambiente do TVOD por exemplo, porque ele tende ao infinito. Todos os filmes poderiam estar no Google Play, iTunes, no NOW, até com valores muito simbólicos de aluguel, porque lá é um ambiente sem exclusividade, que preza pela pela quantidade de acervo. Eu coloco todos os meus filmes neste espaço, que tem um custo pequeno para deixar na prateleira e aceita tudo.

Ao mesmo tempo, nós distribuidores queremos licenciar nossos filmes para os streamings, para canais de TV e tem muito filme que eles também não querem mais ou não compram pela ausência de uma política que os obrigam ou incentivam a comprar. E acho que tem uma questão da gente entender melhor uma estratégia de distribuição digital e eu, particularmente, sou favorável a um streaming público.

A gente poderia pensar seriamente sobre uma uma segunda janela ou um streaming da Ancine, como é o SPCine Play. Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes. Seria uma evolução se existisse, com algum tipo de remuneração, que fosse através de publicidade, através do fundo setorial como investidor. Acho que a gente tem que ter uma estrutura, nem que seja gratuito para o consumidor, mas com anúncio ou alguma outra coisa que ajude a financiar. Como distribuidor eu também usaria isso nessa jornada e, eventualmente, a gente poderia ter editais para essa plataforma.

Falando de trailer, atualmente, alguns são um resumão do filme. Isso é pensado para a geração TikTok?

Tem várias coisas aí, grande parte da plateia tem medo de arriscar um conteúdo, então trailers tentam, de forma desesperada, garantir o seu dinheiro e te entregar o que você espera. Não é o que fazemos com nossos filmes. Acho que o cinema de arte, autoral, experimental e independente, muitas vezes, tem como DNA a entrega de uma coisa nova, então essa observação, eu diria, tem mais a ver com grandes campanhas de filmes mais comerciais. Se não me engano o pessoal do Relatório Nostradamus, uns anos atrás, falou que as pessoas estão inundadas de tanto conteúdo e estão tão paralisadas pela enorme quantidade de opções que às vezes o conteúdo que você tem certeza que você não vai se decepcionar é aquele que você já viu.

'Mesmo para um filme que eu eventualmente vou ter mil pessoas eu prefiro fazer algumas poucas sessões com sala cheia, ativar e depois ir para o digital.' Foto: Taba Benedicto/Estadão

Você acha que isso explica a tendência de consumo de catálogo?

Acho que é um pouco isso, mas também acho que hoje em dia é mais difícil criar grandes fenômenos de consumo de massa. Qual foi a última grande franquia original do cinema que surgiu nos últimos 10 anos? Não sei nem se consigo dar exemplos. Quantas franquias a Netflix lançou por exemplo? Acho que Stranger Things é a maior delas, a gente talvez conte nos dedos. A gente acaba sendo mais superficial também enquanto que esses conteúdos que nasceram em outras eras ficavam mais incrustados. É o que eu sinto na minha experiência de fã, não sei se porque estou mais velho ou se porque o mundo mudou.

Como foi para a O2 Play estar em Cannes?

Muito bom! Eles inventaram o cinema, uma indústria, sinto que todos nós somos um pouco filhos de Cannes. Estar lá e entender como os nossos filmes podem ser parte disso. Fiz uma sessão do Elis e Tom que é um filme que a gente vai lançar em 21 de setembro, que a gente teve presença de compradores do mundo todo nessa cabine. Ver um comprador australiano chorando com um filme que nos orgulha muito, emocionando curadores de um festival italiano. Onde mais eu consigo fazer esse tipo de sessão assim?

Acabei conseguindo ingresso para ver o Indiana Jones novo lá, foi emocionante ver o Harrison Ford ali. E naquele mesmo lugar tem o filme do Kleber (Mendonça Filho), tem filme da O2 Play, da Mubi, tem o Scorcese... É a indústria do cinema de verdade. A gente vinha de um crescente com o cinema brasileiro, com tanta coisa boa participando no festival, crescendo, a gente tem que retomar isso. Porque tem um lugar ali para a gente.

E como a O2 Play está se preparando para os próximos anos?

Depois de 10 anos de empresa, acho que o que me deixa mais feliz é que eu sinto que ainda tem muita coisa para fazer. Porque o mercado está interessante. Depois de três anos muito difíceis, de você ligar para um parceiro exibidor e o cara estar deprimido, devendo dinheiro, mandando gente embora, de você tentar prestar contas num negócio e ter dificuldade de falar com a Ancine. Depois de anos muito difíceis a gente vê que o cinema autoral tem um lugar, que as políticas públicas estão voltando, que não tem espaço só para blockbuster.

E ao mesmo tempo a gente faz parte de uma empresa grande que é a O2 Filmes, que também está produzindo uma série do Raul Seixas para o Globoplay, uma do Cidade de Deus para a HBO, com outros projetos grandes. Minha expectativa nos próximos anos é crescer e trazer mais filme de qualidade de fora com a parceria Mubi. Já fizemos coisas com a Netflix, queremos fazer de novo, comprar outros filmes, ter mais filmes brasileiros numa parceria mais intensa. A gente também quer tentar produzir e coproduzir mais coisas através até da O2 e apostar que o mercado vai crescer, apostar no Fundo Setorial, na Ancine, no cinema. Quero cada vez mais olhar para meu catálogo e ter uma conexão com esses nossos projetos e entender que a gente tá conseguindo fazer uma coisa especial para todos.

Há cerca de 10 anos, Igor Kupstas foi convidado a trabalhar na O2 Filmes, iniciando um novo setor na produtora de Fernando Meireles, a O2 Play. Naquela época, plataformas de streaming estavam apenas engatinhando. A Netflix era a única no mercado, que se concentrava apenas nas salas de cinema e licenciamento para a televisão aberta e canais a cabo.

Igor Kupstas é o nome por trás do setor de distribuição da O2 Filmes, a O2 Play.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Em uma década, muita coisa mudou no Brasil e no mundo. Passamos por uma pandemia, que forçou uma digitalização maior da sociedade, incluindo o mercado audiovisual, com explosão de plataformas de streaming e cinemas fechados em todo o mundo. Isso acelerou algo que Kupstas já visualizava para seu trabalho na O2 Play, que era conversar com exibidores e plataformas negociando janelas distintas de cinema e plataformas para produtos variados.

“Fazia parte do projeto explicar o que era um aluguel de filmes e como seria essa distribuição no futuro, da questão das janelas do digital entrando um pouco em cima do cinema e experimentos em relação a isso que vinham acontecendo lá fora”, lembra o empresário, que começou a carreira no audiovisual como jornalista, escrevendo para o site e-Pipoca.

Durante a entrevista, Igor fala sobre a esperança de que políticas públicas voltem a ser eficazes. “Em 2013, tinha mais filme brasileiro sendo feito, mais possibilidade de produto para a gente, mais linhas para conseguir dinheiro para distribuição e tudo isso deu uma estagnada nos últimos anos com a morosidade do governo Bolsonaro”, comenta.

Defensor da produção nacional, ele levanta a bandeira das cotas para produtos brasileiros em plataformas de streaming, como já acontece para salas de cinema e TV a cabo. “Elas têm que comprar conteúdo nosso (brasileiro), exibir, ter um mínimo que esteja presente e que seja ofertado na plataforma”, diz. Além disso, Kupstas diz ser a favor da criação de um serviço públicoa, que permita que filmes e séries feitas no Brasil fiquem disponíveis. “Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes, seria uma evolução”, pontua.

Abaixo, você lê trechos editados da entrevista, cortados para facilitar a compreensão.

Em 10 anos muita coisa aconteceu no mercado de audiovisual. Diante de todo o cenário, o que mudou para a O2 Play?

Entrei para começar um projeto novo na casa. Quando apresentei também explicava o que era o streaming. Há 10 anos, a Netflix estava engatinhando, nem todo mundo tinha alugado um filme no iTunes, os serviços estavam chegando ao Brasil. Fazia parte do projeto explicar o que era um aluguel de filmes, diferentes direitos e como seria essa distribuição no futuro, falava também da questão das janelas do digital entrando um pouco em cima do cinema e experimentos em relação a isso que vinham acontecendo lá fora. A parte que não aconteceu foi que nossa carruagem pública não acompanhou a revolução digital.

Estou há 10 anos esperando que a Ancine regularize o VOD (do inglês ‘video on demand’, que são plataformas de streaming e serviços de aluguel digitais) por exemplo. Se tivesse sido feito, a gente podia ter uma política pública muito mais forte.

Também foi muito importante para nós o fundo setorial em 2013 e existir um boom na produção audiovisual. Tinha mais filme brasileiro sendo feito, mais linhas para conseguir dinheiro para distribuição e tudo isso deu uma estagnada nos últimos anos com a morosidade do governo Bolsonaro, pandemia, cinemas fechados etc.

Acho que a gente tem no DNA as janelas e a parte tecnológica, aprendemos a lidar com o Fundo Setorial... Com alguns filmes que adquirimos em parceria com a MUBI também aprendemos a fazer um cinema comercial internacional. Espero estar bem perto de uma tempestade perfeita positiva. A gente vai ter recurso público, produção de novo, uma lei clara do VOD, cotas. A gente pode estar numa retomada muito especial.

Em 2018, numa entrevista ao Mídia em Foco, você falou sobre o futuro do On Demand. A pandemia acelerou o processo, inclusive de quebrar essa janela de lançamento no cinema e no streaming. Como foi a adaptação na distribuição?

Atingiu de modos diferentes em anos diferentes. Para o cinema foi a pior crise da história. A gente teve muita sala fechada, sem público, para eles foi quase uma questão de sobrevivência. O efeito disso para nós é claro, a gente perde receita, janela e oportunidade. Mas quem não tem muito como escolher começa também a ficar mais aberto. Para nós, que já vínhamos conversando sobre janela com exibidores, em algum momento eles se vêem mais abertos e aceitam um filme com duas semanas só de janela para Netflix, por exemplo.

Para nós foi facilitador porque sempre entendemos que a janela poderia ser diferente para certos filmes. Foi positivo, o que não quer dizer que os filmes lançados deram certo, até porque muitos estrearam num período em que nada dava. Ao mesmo tempo, quando esse monte de serviço chega e começa a competir pelo público, o que salva um pouco nossa existência e mantém a gente de pé durante a pandemia é que começou-se a ter uma luta por direitos. No primeiro ano e meio de pandemia, tive alguns licenciamentos históricos para o streaming com resultado muito bons.

Para produtoras que começaram a entregar conteúdo teve um primeiro momento de queda, sem protocolo para filmar, daí estabelece um protocolo e tem uma demanda insana por produzir, algumas profissões foram hipervalorizadas. A gente viu que faltava profissional no setor, aí todo mundo começa a falar sobre formação. (Aconteceu) um pico de vendas, bons valores e depois uma queda.

Curiosamente, o que começa a ajudar na minha conta é o cinema de novo. Em 2022 tive boas performances, por exemplo, com Drive My Car, filme da Mubi indicado ao Oscar. Lançar um filme japonês de mais de três horas de duração em cinema e o negócio dar certo, vindo de uma pandemia, foi tipo: “o cinema está salvo”.

Agora, a gente está um pouco na ressaca de tudo. Os streamings tentando entender como aumentar assinantes, como lucram em vez de só investir, produtoras que cresceram equipe entendendo se dá para manter, projetos que tinham recebido luz verde talvez não sejam feitos, e, de novo, expectativa pelo retorno do poder público ajudando e colocando um pouco mais de recurso.

Uma expectativa minha do que pode vir com essa regularização é eles comprarem mais conteúdo e guardarem um espaço privilegiado na prateleira para nossos filmes, se o público vai assistir isso ou filme coreano ou filme americano ou um filme italiano, aí é do público.

Igor Kupstas

Você falou também sobre essa esperança de que as políticas públicas voltem a ser eficazes de alguma forma para o mercado de audiovisual no Brasil. Qual o prognóstico que a O2 Play faz disso?

Por enquanto é muito bom, mas é prematuro dizer o que vai acontecer, acho que todos os olhos estão na Lei Paulo Gustavo. Quando o Fundo Setorial e Ancine funcionavam, a gente tinha uma relação boa com o poder público. Lancei muito filme com Fundo Setorial, com edital da SPCine, isso nos ajuda a fazer promoção, contratar equipe, levar filmes para salas, fazer ações diferentes, construir marca, vender ingresso, vender para streaming e para a TV. Sem esse recurso, a gente fica prejudicado.

Como é que regularizar o VOD poderia ajudar o mercado audiovisual, pensando principalmente no mercado brasileiro que sofre um pouco para chegar nas salas concorrendo com alguns produtos gringos?

A Lei do Cabo (1995), que criou cotas pedindo que canais a cabo tivessem número de horas de programação brasileira independente, revolucionou o mercado. Tanto na criação de pequenas produtoras quanto na compra e licenciamento de filmes prontos. Se a gente tiver algo similar para o streaming, vai ser muito positivo. O que a gente precisa é modernizar e adaptar. O que antes era uma linha de programação de espaço finito de 24 horas, no streaming de assinatura tem uma base que pode tender ao infinito. Como seria essa cota? Eles têm que comprar conteúdo nosso (brasileiro), exibir, ter um mínimo que esteja presente e que seja ofertado na plataforma.

Já participei de debates em que executivos dessas plataformas defendiam a ideia de que o algoritmo deles favorece o usuário mostrando o que ele gosta mais e que isso faz parte do modelo de negócio. O perigo é a gente eliminar a diversidade e também não trabalhar formação de público. Esse algoritmo precisa ser entendido regionalmente. Como fazer isso é um desafio, mas acho que também deixar aberto para que nunca recomende um filme brasileiro faz surgir a pergunta: “como vai ter uma pessoa que entende a cultura dela se a plataforma nem mostra um conteúdo?”

O mais incrível é que você poderia falar assim: “estou obrigando a pessoa a consumir essas horas.” Ninguém obriga a nada. A gente tem que preservar uma área para esses filmes. Aí que caiba ao produtor, ao distribuidor, fazer uma campanha, fazer um filme que mereça um clique. A gente está lutando por isso. Esse espaço de sobrevivência é muito importante. Uma expectativa minha do que pode vir com essa regularização é eles comprarem mais conteúdo e guardarem um espaço privilegiado na prateleira para nossos filmes, se o público vai assistir isso ou filme coreano, americano ou filme italiano, aí é com o público.

Como funciona a parceria com a Mubi?

Para nós é muito boa. Tem uma parte que é clássica, nós licenciamos os filmes deles. Eu os compro sabendo que eles detém a janela do streaming. A gente tem que ter um acordo muito arrojado em relação a datas, janelas e promoção. E para eles é bom que o filme esteja no cinema porque o assinante gosta, da mesma forma que eu também estou promovendo um filme que estará lá, então é um ganha-ganha. Eles também têm uma curadoria muito boa. E tenho aprendido cada vez mais que eu tinha a ideia errada de que a Mubi era uma plataforma para as pessoas mais velhas e não é isso. Tem um novo público cinéfilo jovem, e para mim fazer parte desse contexto é super legal.

O cara que assina Mubi sabe que o filme estará lá em fevereiro, mas ele quer ver no cinema antes, eu também apresento essa ideia para os exibidores. “A plataforma não está te roubando janela, está sendo seu parceiro também, ajudando a levar um público que talvez descubra o Reserva, o Estação, o Belas Artes, o Augusta com um filme Mubi”. Me sinto muito feliz de ser parte disso.

Pensando como distribuidor ainda é válido mandar um filme para o cinema?

Nem que seja um dia que seja uma semana, uma sala, cada vez mais, na verdade. Uma coisa é você ter um filme que, por questões de negócio, valeu a pena ir direto para um streaming, acho que a gente vive num mundo de poucas regras ou regras muito fluidas. Não dá para ser um distribuidor independente que trabalha com Mubi, com Netflix, com produtor muito pequeno, com produtor grande e falar “minha regra é assim eu lanço e depois eu faço isso”, não dá. Talvez faça sentido para um grande estúdio. Mas até eles ficaram mais fluidos com a pandemia.

Eu fui para Cannes este ano. Você entra numa sessão de terno e gravata e tudo mais. Falei: “nossa, mas por que isso?”. Achei bonito, questão de respeito, tradição. É lá que nascem os deuses do cinema, é o Panteão. Isso é pelo coletivo, pela projeção grande. Em casa, no celular, você não tem essas coisas, tem outras muito legais, mas é outra cultura. Então mesmo para um filme que eventualmente vou ter mil pessoas, prefiro fazer algumas poucas sessões com sala cheia, ativar e depois ir para o digital. Às vezes o exibidor também vai estar com tanto conteúdo que mal vai conseguir te receber porque no Brasil a gente tem um problema de poucas salas.

Falando nisto, o que explica o pouco espaço para produções nacionais nas salas do País? De quem é a culpa?

Não é culpa de uma coisa só e o fato de termos poucos cinemas não pode ser ignorado. Pouco antes da pandemia, a gente comemorou o recorde de número de telas de cinema no Brasil desde os anos 1970, em torno de 3.500. (Em 2019, eram 3.496 telas no País, sendo divididos em 842 espaços, segundo o Filme B.) Um País do tamanho do Brasil com cerca de mil locais, sendo a maioria no Sudeste, praticamente não tem cinema. Daí você pega o período que a gente está vivendo agora, com um a dois blockbusters americanos sendo lançados por semana e você fala: “queria colocar meu filme brasileiro aqui.” Se não tiver uma cota de tela, o que eu sou a favor, não entra e se entrar, vai ser no limite da cota.

A gente precisa de cota, de mais recursos para fazer filmes comerciais também. Fico muito feliz de ver um público novo querendo esses filmes e quanto mais eles assistirem, divulgarem e virarem mobilizadores desse cinema, mais temos ferramentas para trazer esse conteúdo. Fico feliz que, neste pós pandemia, o cinema seja um statement. Sabe quanta gente foi ver Marighella ainda durante a pandemia para falar “eu gosto dessa mensagem”? Esses fenômenos são incríveis.

A gente poderia pensar seriamente sobre uma uma segunda janela ou um streaming da Ancine, como é o SPCine Play. Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes.

Igor Kupstas

E para onde vai essa produção que fica pouco tempo em salas e plataformas ou que só circula em festivais?

Eu sou favorável que todos tenham um lugar no ambiente do TVOD por exemplo, porque ele tende ao infinito. Todos os filmes poderiam estar no Google Play, iTunes, no NOW, até com valores muito simbólicos de aluguel, porque lá é um ambiente sem exclusividade, que preza pela pela quantidade de acervo. Eu coloco todos os meus filmes neste espaço, que tem um custo pequeno para deixar na prateleira e aceita tudo.

Ao mesmo tempo, nós distribuidores queremos licenciar nossos filmes para os streamings, para canais de TV e tem muito filme que eles também não querem mais ou não compram pela ausência de uma política que os obrigam ou incentivam a comprar. E acho que tem uma questão da gente entender melhor uma estratégia de distribuição digital e eu, particularmente, sou favorável a um streaming público.

A gente poderia pensar seriamente sobre uma uma segunda janela ou um streaming da Ancine, como é o SPCine Play. Criar um espaço para esses filmes serem adotados nas escolas, facilitando a vida de cineclubes. Seria uma evolução se existisse, com algum tipo de remuneração, que fosse através de publicidade, através do fundo setorial como investidor. Acho que a gente tem que ter uma estrutura, nem que seja gratuito para o consumidor, mas com anúncio ou alguma outra coisa que ajude a financiar. Como distribuidor eu também usaria isso nessa jornada e, eventualmente, a gente poderia ter editais para essa plataforma.

Falando de trailer, atualmente, alguns são um resumão do filme. Isso é pensado para a geração TikTok?

Tem várias coisas aí, grande parte da plateia tem medo de arriscar um conteúdo, então trailers tentam, de forma desesperada, garantir o seu dinheiro e te entregar o que você espera. Não é o que fazemos com nossos filmes. Acho que o cinema de arte, autoral, experimental e independente, muitas vezes, tem como DNA a entrega de uma coisa nova, então essa observação, eu diria, tem mais a ver com grandes campanhas de filmes mais comerciais. Se não me engano o pessoal do Relatório Nostradamus, uns anos atrás, falou que as pessoas estão inundadas de tanto conteúdo e estão tão paralisadas pela enorme quantidade de opções que às vezes o conteúdo que você tem certeza que você não vai se decepcionar é aquele que você já viu.

'Mesmo para um filme que eu eventualmente vou ter mil pessoas eu prefiro fazer algumas poucas sessões com sala cheia, ativar e depois ir para o digital.' Foto: Taba Benedicto/Estadão

Você acha que isso explica a tendência de consumo de catálogo?

Acho que é um pouco isso, mas também acho que hoje em dia é mais difícil criar grandes fenômenos de consumo de massa. Qual foi a última grande franquia original do cinema que surgiu nos últimos 10 anos? Não sei nem se consigo dar exemplos. Quantas franquias a Netflix lançou por exemplo? Acho que Stranger Things é a maior delas, a gente talvez conte nos dedos. A gente acaba sendo mais superficial também enquanto que esses conteúdos que nasceram em outras eras ficavam mais incrustados. É o que eu sinto na minha experiência de fã, não sei se porque estou mais velho ou se porque o mundo mudou.

Como foi para a O2 Play estar em Cannes?

Muito bom! Eles inventaram o cinema, uma indústria, sinto que todos nós somos um pouco filhos de Cannes. Estar lá e entender como os nossos filmes podem ser parte disso. Fiz uma sessão do Elis e Tom que é um filme que a gente vai lançar em 21 de setembro, que a gente teve presença de compradores do mundo todo nessa cabine. Ver um comprador australiano chorando com um filme que nos orgulha muito, emocionando curadores de um festival italiano. Onde mais eu consigo fazer esse tipo de sessão assim?

Acabei conseguindo ingresso para ver o Indiana Jones novo lá, foi emocionante ver o Harrison Ford ali. E naquele mesmo lugar tem o filme do Kleber (Mendonça Filho), tem filme da O2 Play, da Mubi, tem o Scorcese... É a indústria do cinema de verdade. A gente vinha de um crescente com o cinema brasileiro, com tanta coisa boa participando no festival, crescendo, a gente tem que retomar isso. Porque tem um lugar ali para a gente.

E como a O2 Play está se preparando para os próximos anos?

Depois de 10 anos de empresa, acho que o que me deixa mais feliz é que eu sinto que ainda tem muita coisa para fazer. Porque o mercado está interessante. Depois de três anos muito difíceis, de você ligar para um parceiro exibidor e o cara estar deprimido, devendo dinheiro, mandando gente embora, de você tentar prestar contas num negócio e ter dificuldade de falar com a Ancine. Depois de anos muito difíceis a gente vê que o cinema autoral tem um lugar, que as políticas públicas estão voltando, que não tem espaço só para blockbuster.

E ao mesmo tempo a gente faz parte de uma empresa grande que é a O2 Filmes, que também está produzindo uma série do Raul Seixas para o Globoplay, uma do Cidade de Deus para a HBO, com outros projetos grandes. Minha expectativa nos próximos anos é crescer e trazer mais filme de qualidade de fora com a parceria Mubi. Já fizemos coisas com a Netflix, queremos fazer de novo, comprar outros filmes, ter mais filmes brasileiros numa parceria mais intensa. A gente também quer tentar produzir e coproduzir mais coisas através até da O2 e apostar que o mercado vai crescer, apostar no Fundo Setorial, na Ancine, no cinema. Quero cada vez mais olhar para meu catálogo e ter uma conexão com esses nossos projetos e entender que a gente tá conseguindo fazer uma coisa especial para todos.

Entrevista por Daniel Silveira

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