Quentin Tarantino fala de seu novo filme, ‘Os Oito Odiados’


Longa tem pré-estreia no Caixa Belas Artes, e chega ao circuito no dia 7 de janeiro

Por Luiz Carlos Merten

Durante sua passagem por São Paulo, para promover Os Oito Odiados, Quentin Tarantino brincou com o repórter. “Westerner (diretor de westerns), eu? Teria de fazer, pelo menos, mais um para merecer o título.” Os Oito Odiados é o segundo western de Tarantino, mas ele é o primeiro a questionar, tecnicamente, a classificação. “Django Livre, o primeiro, na verdade é um ‘southern’. E Os Oito é um western ‘indoors’, de interiores. Posso vir a fazer um terceiro, mas duvido que seja tradicional”, ele ri.

Tarantino e seu novo western abrem o ano em alto estilo. Os Oito Odiados é a atração do primeiro Noitão de 2016 do Belas Artes, que começa nesta sexta-feira, 1º, às 23h40. O filme passa em duas salas do complexo, acrescido de dois filmes surpresa. Na quinta, 7, estreia nos cinemas brasileiros. Na sexta, 8, nos EUA. Dessa maneira, Os Oito Odiados só se habilita para o Oscar de 2016, que será atribuído em 2017. Existe uma tradição de westerns entre quatro paredes – obras como Johnny Guitar, de Nicholas Ray; Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks; e Jogada Decisiva, de Fielder Cook. Tarantino começa seu filme numa paisagem gelada – que filma em majestoso 70 mm. Ele conta, e fica a dúvida se é literal, que a lente utilizada em The Hateful Eight foi a mesma que captou imagens emblemáticas do épico bíblico Ben-Hur, de William Wyler, em 1959. “O cinema sempre usou o 70 mm para magnificar as paisagens, mas filmar, entre quatro paredes, com uma lente assim, dá uma espessura rara ao quadro. O intimismo salta da tela”, resume.

Cena de 'Os Oito Odiados' Foto: Cena de 'Os Oito Odiados'
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Paisagem nevada, interiores, muito diálogo. E mais. O cinema – o western – já contou muitas histórias de bandos selvagens. Mesmo com admiração por mestres como John Ford e Anthony Mann, o temperamento de Tarantino o aproxima mais de diretores como Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Sua Herança) e Sergio Leone. Ele admite que seu western do coração é do rei do spaghetti – Três Homens em Conflito, e cita o título original em italiano, Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo. “O duelo final, que na verdade subverte uma instituição do gênero, porque é um tiroteio de três, é minha cena favorita”, revela. Ao seu lado, o ator Tim Roth, que o acompanhou no Brasil, compartilha o entusiasmo. E ficam os dois imitando o trio mítico de atiradores – Clint, Lee Van Cleef e Eli Wallach.

Neve, indoors, mal-encarados falastrões. “Os Oito Odiados retoma a situação inicial de Cães de Aluguel (o primeiro Tarantino). Um bando de machos em quem não se pode confiar”, define o diretor. Aqui o bando de machos não dá nem para a saída perto da mulher em cena, Jennifer Jason Leigh. Daisy não é flor que se cheire e, de cara, o diálogo faz referência de que ela está fedendo. “Daisy é um papel para o qual não podia ‘audicionar’ nenhuma atriz. Até tentei, mas nenhuma cena me dava a dimensão da personagem. Sabia que estava escrevendo para Kurt (Russell), Samuel (L. Jackson), Tim (Roth) e Michael (Madsen). No fundo, também escrevi Daisy para Jennifer. Nos (anos) 1990, ela se impôs como a Sean Penn de saias.” Nunca houve uma mulher como Daisy/Jennifer no western – talvez a Mercedes McCambridge de Johnny Guitar. “Aquela, sim, era macha”, ri Tarantino.

Quentin Tarantino em São Paulo Foto: Estadão
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Para desestabilizar o gênero, Tarantino tem, então, essa mulher de pistola na bota. Mas isso não resolve a questão sobre os odiados – eles são oito, ou nove? Pois você pode contar. Um, dois, três, oito. De repente, nas reviravoltas da trama, surge, qual carta na manga, um nono odiado. Para Tarantino, que curte os gêneros – filme de assalto em Cães de Aluguel, pulp em Tempo de Violência, de sabre em Kill Bill, de guerra em Bastardos Inglórios e blaxploitation em Jackie Brown –, o western não é só uma brincadeira violenta. "Acho que o filme faz um comentário muito sério sobre a Guerra Civil. Os Oito Odiados é sobre um bando que sobreviveu ao apocalipse. Em geral, o cinema representa o apocalipse tipo Mad Max, no deserto australiano. Eu mostro na neve, mas a essência é a mesma. A Guerra Civil arruinou as vidas e destruiu a sociedade de toda essa gente. Os Oito Odiados é um western pós-apocalíptico.”

O próprio Tarantino parece viver no universo mítico do cinema. “É verdade. Vejo de forma mitológica a mim e a minha carreira. Os Oito Odiados é meu oitavo filme. Vou fazer só mais dois e parar no décimo.” Até lá, ele acredita que já terá feito tudo o que quis no cinema. Uma última revelação ‘tarantiniana’ – “Todos esses grandes atores disseram o texto como eu queria, mas Tim (Roth) foi além. Você sabe quem ele interpreta? Terry-Thomas.” Terry-Thomas! O grande comediante inglês dos anos 1960. “Só me falta os dentes separados da frente”, brinca o próprio Roth. Tarantino e ele são unha e carne. Amigos – e cinéfilos. “Só espero que ele continue me escrevendo bons papéis”, diz o ator.

Durante sua passagem por São Paulo, para promover Os Oito Odiados, Quentin Tarantino brincou com o repórter. “Westerner (diretor de westerns), eu? Teria de fazer, pelo menos, mais um para merecer o título.” Os Oito Odiados é o segundo western de Tarantino, mas ele é o primeiro a questionar, tecnicamente, a classificação. “Django Livre, o primeiro, na verdade é um ‘southern’. E Os Oito é um western ‘indoors’, de interiores. Posso vir a fazer um terceiro, mas duvido que seja tradicional”, ele ri.

Tarantino e seu novo western abrem o ano em alto estilo. Os Oito Odiados é a atração do primeiro Noitão de 2016 do Belas Artes, que começa nesta sexta-feira, 1º, às 23h40. O filme passa em duas salas do complexo, acrescido de dois filmes surpresa. Na quinta, 7, estreia nos cinemas brasileiros. Na sexta, 8, nos EUA. Dessa maneira, Os Oito Odiados só se habilita para o Oscar de 2016, que será atribuído em 2017. Existe uma tradição de westerns entre quatro paredes – obras como Johnny Guitar, de Nicholas Ray; Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks; e Jogada Decisiva, de Fielder Cook. Tarantino começa seu filme numa paisagem gelada – que filma em majestoso 70 mm. Ele conta, e fica a dúvida se é literal, que a lente utilizada em The Hateful Eight foi a mesma que captou imagens emblemáticas do épico bíblico Ben-Hur, de William Wyler, em 1959. “O cinema sempre usou o 70 mm para magnificar as paisagens, mas filmar, entre quatro paredes, com uma lente assim, dá uma espessura rara ao quadro. O intimismo salta da tela”, resume.

Cena de 'Os Oito Odiados' Foto: Cena de 'Os Oito Odiados'

Paisagem nevada, interiores, muito diálogo. E mais. O cinema – o western – já contou muitas histórias de bandos selvagens. Mesmo com admiração por mestres como John Ford e Anthony Mann, o temperamento de Tarantino o aproxima mais de diretores como Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Sua Herança) e Sergio Leone. Ele admite que seu western do coração é do rei do spaghetti – Três Homens em Conflito, e cita o título original em italiano, Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo. “O duelo final, que na verdade subverte uma instituição do gênero, porque é um tiroteio de três, é minha cena favorita”, revela. Ao seu lado, o ator Tim Roth, que o acompanhou no Brasil, compartilha o entusiasmo. E ficam os dois imitando o trio mítico de atiradores – Clint, Lee Van Cleef e Eli Wallach.

Neve, indoors, mal-encarados falastrões. “Os Oito Odiados retoma a situação inicial de Cães de Aluguel (o primeiro Tarantino). Um bando de machos em quem não se pode confiar”, define o diretor. Aqui o bando de machos não dá nem para a saída perto da mulher em cena, Jennifer Jason Leigh. Daisy não é flor que se cheire e, de cara, o diálogo faz referência de que ela está fedendo. “Daisy é um papel para o qual não podia ‘audicionar’ nenhuma atriz. Até tentei, mas nenhuma cena me dava a dimensão da personagem. Sabia que estava escrevendo para Kurt (Russell), Samuel (L. Jackson), Tim (Roth) e Michael (Madsen). No fundo, também escrevi Daisy para Jennifer. Nos (anos) 1990, ela se impôs como a Sean Penn de saias.” Nunca houve uma mulher como Daisy/Jennifer no western – talvez a Mercedes McCambridge de Johnny Guitar. “Aquela, sim, era macha”, ri Tarantino.

Quentin Tarantino em São Paulo Foto: Estadão

Para desestabilizar o gênero, Tarantino tem, então, essa mulher de pistola na bota. Mas isso não resolve a questão sobre os odiados – eles são oito, ou nove? Pois você pode contar. Um, dois, três, oito. De repente, nas reviravoltas da trama, surge, qual carta na manga, um nono odiado. Para Tarantino, que curte os gêneros – filme de assalto em Cães de Aluguel, pulp em Tempo de Violência, de sabre em Kill Bill, de guerra em Bastardos Inglórios e blaxploitation em Jackie Brown –, o western não é só uma brincadeira violenta. "Acho que o filme faz um comentário muito sério sobre a Guerra Civil. Os Oito Odiados é sobre um bando que sobreviveu ao apocalipse. Em geral, o cinema representa o apocalipse tipo Mad Max, no deserto australiano. Eu mostro na neve, mas a essência é a mesma. A Guerra Civil arruinou as vidas e destruiu a sociedade de toda essa gente. Os Oito Odiados é um western pós-apocalíptico.”

O próprio Tarantino parece viver no universo mítico do cinema. “É verdade. Vejo de forma mitológica a mim e a minha carreira. Os Oito Odiados é meu oitavo filme. Vou fazer só mais dois e parar no décimo.” Até lá, ele acredita que já terá feito tudo o que quis no cinema. Uma última revelação ‘tarantiniana’ – “Todos esses grandes atores disseram o texto como eu queria, mas Tim (Roth) foi além. Você sabe quem ele interpreta? Terry-Thomas.” Terry-Thomas! O grande comediante inglês dos anos 1960. “Só me falta os dentes separados da frente”, brinca o próprio Roth. Tarantino e ele são unha e carne. Amigos – e cinéfilos. “Só espero que ele continue me escrevendo bons papéis”, diz o ator.

Durante sua passagem por São Paulo, para promover Os Oito Odiados, Quentin Tarantino brincou com o repórter. “Westerner (diretor de westerns), eu? Teria de fazer, pelo menos, mais um para merecer o título.” Os Oito Odiados é o segundo western de Tarantino, mas ele é o primeiro a questionar, tecnicamente, a classificação. “Django Livre, o primeiro, na verdade é um ‘southern’. E Os Oito é um western ‘indoors’, de interiores. Posso vir a fazer um terceiro, mas duvido que seja tradicional”, ele ri.

Tarantino e seu novo western abrem o ano em alto estilo. Os Oito Odiados é a atração do primeiro Noitão de 2016 do Belas Artes, que começa nesta sexta-feira, 1º, às 23h40. O filme passa em duas salas do complexo, acrescido de dois filmes surpresa. Na quinta, 7, estreia nos cinemas brasileiros. Na sexta, 8, nos EUA. Dessa maneira, Os Oito Odiados só se habilita para o Oscar de 2016, que será atribuído em 2017. Existe uma tradição de westerns entre quatro paredes – obras como Johnny Guitar, de Nicholas Ray; Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks; e Jogada Decisiva, de Fielder Cook. Tarantino começa seu filme numa paisagem gelada – que filma em majestoso 70 mm. Ele conta, e fica a dúvida se é literal, que a lente utilizada em The Hateful Eight foi a mesma que captou imagens emblemáticas do épico bíblico Ben-Hur, de William Wyler, em 1959. “O cinema sempre usou o 70 mm para magnificar as paisagens, mas filmar, entre quatro paredes, com uma lente assim, dá uma espessura rara ao quadro. O intimismo salta da tela”, resume.

Cena de 'Os Oito Odiados' Foto: Cena de 'Os Oito Odiados'

Paisagem nevada, interiores, muito diálogo. E mais. O cinema – o western – já contou muitas histórias de bandos selvagens. Mesmo com admiração por mestres como John Ford e Anthony Mann, o temperamento de Tarantino o aproxima mais de diretores como Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Sua Herança) e Sergio Leone. Ele admite que seu western do coração é do rei do spaghetti – Três Homens em Conflito, e cita o título original em italiano, Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo. “O duelo final, que na verdade subverte uma instituição do gênero, porque é um tiroteio de três, é minha cena favorita”, revela. Ao seu lado, o ator Tim Roth, que o acompanhou no Brasil, compartilha o entusiasmo. E ficam os dois imitando o trio mítico de atiradores – Clint, Lee Van Cleef e Eli Wallach.

Neve, indoors, mal-encarados falastrões. “Os Oito Odiados retoma a situação inicial de Cães de Aluguel (o primeiro Tarantino). Um bando de machos em quem não se pode confiar”, define o diretor. Aqui o bando de machos não dá nem para a saída perto da mulher em cena, Jennifer Jason Leigh. Daisy não é flor que se cheire e, de cara, o diálogo faz referência de que ela está fedendo. “Daisy é um papel para o qual não podia ‘audicionar’ nenhuma atriz. Até tentei, mas nenhuma cena me dava a dimensão da personagem. Sabia que estava escrevendo para Kurt (Russell), Samuel (L. Jackson), Tim (Roth) e Michael (Madsen). No fundo, também escrevi Daisy para Jennifer. Nos (anos) 1990, ela se impôs como a Sean Penn de saias.” Nunca houve uma mulher como Daisy/Jennifer no western – talvez a Mercedes McCambridge de Johnny Guitar. “Aquela, sim, era macha”, ri Tarantino.

Quentin Tarantino em São Paulo Foto: Estadão

Para desestabilizar o gênero, Tarantino tem, então, essa mulher de pistola na bota. Mas isso não resolve a questão sobre os odiados – eles são oito, ou nove? Pois você pode contar. Um, dois, três, oito. De repente, nas reviravoltas da trama, surge, qual carta na manga, um nono odiado. Para Tarantino, que curte os gêneros – filme de assalto em Cães de Aluguel, pulp em Tempo de Violência, de sabre em Kill Bill, de guerra em Bastardos Inglórios e blaxploitation em Jackie Brown –, o western não é só uma brincadeira violenta. "Acho que o filme faz um comentário muito sério sobre a Guerra Civil. Os Oito Odiados é sobre um bando que sobreviveu ao apocalipse. Em geral, o cinema representa o apocalipse tipo Mad Max, no deserto australiano. Eu mostro na neve, mas a essência é a mesma. A Guerra Civil arruinou as vidas e destruiu a sociedade de toda essa gente. Os Oito Odiados é um western pós-apocalíptico.”

O próprio Tarantino parece viver no universo mítico do cinema. “É verdade. Vejo de forma mitológica a mim e a minha carreira. Os Oito Odiados é meu oitavo filme. Vou fazer só mais dois e parar no décimo.” Até lá, ele acredita que já terá feito tudo o que quis no cinema. Uma última revelação ‘tarantiniana’ – “Todos esses grandes atores disseram o texto como eu queria, mas Tim (Roth) foi além. Você sabe quem ele interpreta? Terry-Thomas.” Terry-Thomas! O grande comediante inglês dos anos 1960. “Só me falta os dentes separados da frente”, brinca o próprio Roth. Tarantino e ele são unha e carne. Amigos – e cinéfilos. “Só espero que ele continue me escrevendo bons papéis”, diz o ator.

Durante sua passagem por São Paulo, para promover Os Oito Odiados, Quentin Tarantino brincou com o repórter. “Westerner (diretor de westerns), eu? Teria de fazer, pelo menos, mais um para merecer o título.” Os Oito Odiados é o segundo western de Tarantino, mas ele é o primeiro a questionar, tecnicamente, a classificação. “Django Livre, o primeiro, na verdade é um ‘southern’. E Os Oito é um western ‘indoors’, de interiores. Posso vir a fazer um terceiro, mas duvido que seja tradicional”, ele ri.

Tarantino e seu novo western abrem o ano em alto estilo. Os Oito Odiados é a atração do primeiro Noitão de 2016 do Belas Artes, que começa nesta sexta-feira, 1º, às 23h40. O filme passa em duas salas do complexo, acrescido de dois filmes surpresa. Na quinta, 7, estreia nos cinemas brasileiros. Na sexta, 8, nos EUA. Dessa maneira, Os Oito Odiados só se habilita para o Oscar de 2016, que será atribuído em 2017. Existe uma tradição de westerns entre quatro paredes – obras como Johnny Guitar, de Nicholas Ray; Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks; e Jogada Decisiva, de Fielder Cook. Tarantino começa seu filme numa paisagem gelada – que filma em majestoso 70 mm. Ele conta, e fica a dúvida se é literal, que a lente utilizada em The Hateful Eight foi a mesma que captou imagens emblemáticas do épico bíblico Ben-Hur, de William Wyler, em 1959. “O cinema sempre usou o 70 mm para magnificar as paisagens, mas filmar, entre quatro paredes, com uma lente assim, dá uma espessura rara ao quadro. O intimismo salta da tela”, resume.

Cena de 'Os Oito Odiados' Foto: Cena de 'Os Oito Odiados'

Paisagem nevada, interiores, muito diálogo. E mais. O cinema – o western – já contou muitas histórias de bandos selvagens. Mesmo com admiração por mestres como John Ford e Anthony Mann, o temperamento de Tarantino o aproxima mais de diretores como Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Sua Herança) e Sergio Leone. Ele admite que seu western do coração é do rei do spaghetti – Três Homens em Conflito, e cita o título original em italiano, Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo. “O duelo final, que na verdade subverte uma instituição do gênero, porque é um tiroteio de três, é minha cena favorita”, revela. Ao seu lado, o ator Tim Roth, que o acompanhou no Brasil, compartilha o entusiasmo. E ficam os dois imitando o trio mítico de atiradores – Clint, Lee Van Cleef e Eli Wallach.

Neve, indoors, mal-encarados falastrões. “Os Oito Odiados retoma a situação inicial de Cães de Aluguel (o primeiro Tarantino). Um bando de machos em quem não se pode confiar”, define o diretor. Aqui o bando de machos não dá nem para a saída perto da mulher em cena, Jennifer Jason Leigh. Daisy não é flor que se cheire e, de cara, o diálogo faz referência de que ela está fedendo. “Daisy é um papel para o qual não podia ‘audicionar’ nenhuma atriz. Até tentei, mas nenhuma cena me dava a dimensão da personagem. Sabia que estava escrevendo para Kurt (Russell), Samuel (L. Jackson), Tim (Roth) e Michael (Madsen). No fundo, também escrevi Daisy para Jennifer. Nos (anos) 1990, ela se impôs como a Sean Penn de saias.” Nunca houve uma mulher como Daisy/Jennifer no western – talvez a Mercedes McCambridge de Johnny Guitar. “Aquela, sim, era macha”, ri Tarantino.

Quentin Tarantino em São Paulo Foto: Estadão

Para desestabilizar o gênero, Tarantino tem, então, essa mulher de pistola na bota. Mas isso não resolve a questão sobre os odiados – eles são oito, ou nove? Pois você pode contar. Um, dois, três, oito. De repente, nas reviravoltas da trama, surge, qual carta na manga, um nono odiado. Para Tarantino, que curte os gêneros – filme de assalto em Cães de Aluguel, pulp em Tempo de Violência, de sabre em Kill Bill, de guerra em Bastardos Inglórios e blaxploitation em Jackie Brown –, o western não é só uma brincadeira violenta. "Acho que o filme faz um comentário muito sério sobre a Guerra Civil. Os Oito Odiados é sobre um bando que sobreviveu ao apocalipse. Em geral, o cinema representa o apocalipse tipo Mad Max, no deserto australiano. Eu mostro na neve, mas a essência é a mesma. A Guerra Civil arruinou as vidas e destruiu a sociedade de toda essa gente. Os Oito Odiados é um western pós-apocalíptico.”

O próprio Tarantino parece viver no universo mítico do cinema. “É verdade. Vejo de forma mitológica a mim e a minha carreira. Os Oito Odiados é meu oitavo filme. Vou fazer só mais dois e parar no décimo.” Até lá, ele acredita que já terá feito tudo o que quis no cinema. Uma última revelação ‘tarantiniana’ – “Todos esses grandes atores disseram o texto como eu queria, mas Tim (Roth) foi além. Você sabe quem ele interpreta? Terry-Thomas.” Terry-Thomas! O grande comediante inglês dos anos 1960. “Só me falta os dentes separados da frente”, brinca o próprio Roth. Tarantino e ele são unha e carne. Amigos – e cinéfilos. “Só espero que ele continue me escrevendo bons papéis”, diz o ator.

Durante sua passagem por São Paulo, para promover Os Oito Odiados, Quentin Tarantino brincou com o repórter. “Westerner (diretor de westerns), eu? Teria de fazer, pelo menos, mais um para merecer o título.” Os Oito Odiados é o segundo western de Tarantino, mas ele é o primeiro a questionar, tecnicamente, a classificação. “Django Livre, o primeiro, na verdade é um ‘southern’. E Os Oito é um western ‘indoors’, de interiores. Posso vir a fazer um terceiro, mas duvido que seja tradicional”, ele ri.

Tarantino e seu novo western abrem o ano em alto estilo. Os Oito Odiados é a atração do primeiro Noitão de 2016 do Belas Artes, que começa nesta sexta-feira, 1º, às 23h40. O filme passa em duas salas do complexo, acrescido de dois filmes surpresa. Na quinta, 7, estreia nos cinemas brasileiros. Na sexta, 8, nos EUA. Dessa maneira, Os Oito Odiados só se habilita para o Oscar de 2016, que será atribuído em 2017. Existe uma tradição de westerns entre quatro paredes – obras como Johnny Guitar, de Nicholas Ray; Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks; e Jogada Decisiva, de Fielder Cook. Tarantino começa seu filme numa paisagem gelada – que filma em majestoso 70 mm. Ele conta, e fica a dúvida se é literal, que a lente utilizada em The Hateful Eight foi a mesma que captou imagens emblemáticas do épico bíblico Ben-Hur, de William Wyler, em 1959. “O cinema sempre usou o 70 mm para magnificar as paisagens, mas filmar, entre quatro paredes, com uma lente assim, dá uma espessura rara ao quadro. O intimismo salta da tela”, resume.

Cena de 'Os Oito Odiados' Foto: Cena de 'Os Oito Odiados'

Paisagem nevada, interiores, muito diálogo. E mais. O cinema – o western – já contou muitas histórias de bandos selvagens. Mesmo com admiração por mestres como John Ford e Anthony Mann, o temperamento de Tarantino o aproxima mais de diretores como Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Sua Herança) e Sergio Leone. Ele admite que seu western do coração é do rei do spaghetti – Três Homens em Conflito, e cita o título original em italiano, Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo. “O duelo final, que na verdade subverte uma instituição do gênero, porque é um tiroteio de três, é minha cena favorita”, revela. Ao seu lado, o ator Tim Roth, que o acompanhou no Brasil, compartilha o entusiasmo. E ficam os dois imitando o trio mítico de atiradores – Clint, Lee Van Cleef e Eli Wallach.

Neve, indoors, mal-encarados falastrões. “Os Oito Odiados retoma a situação inicial de Cães de Aluguel (o primeiro Tarantino). Um bando de machos em quem não se pode confiar”, define o diretor. Aqui o bando de machos não dá nem para a saída perto da mulher em cena, Jennifer Jason Leigh. Daisy não é flor que se cheire e, de cara, o diálogo faz referência de que ela está fedendo. “Daisy é um papel para o qual não podia ‘audicionar’ nenhuma atriz. Até tentei, mas nenhuma cena me dava a dimensão da personagem. Sabia que estava escrevendo para Kurt (Russell), Samuel (L. Jackson), Tim (Roth) e Michael (Madsen). No fundo, também escrevi Daisy para Jennifer. Nos (anos) 1990, ela se impôs como a Sean Penn de saias.” Nunca houve uma mulher como Daisy/Jennifer no western – talvez a Mercedes McCambridge de Johnny Guitar. “Aquela, sim, era macha”, ri Tarantino.

Quentin Tarantino em São Paulo Foto: Estadão

Para desestabilizar o gênero, Tarantino tem, então, essa mulher de pistola na bota. Mas isso não resolve a questão sobre os odiados – eles são oito, ou nove? Pois você pode contar. Um, dois, três, oito. De repente, nas reviravoltas da trama, surge, qual carta na manga, um nono odiado. Para Tarantino, que curte os gêneros – filme de assalto em Cães de Aluguel, pulp em Tempo de Violência, de sabre em Kill Bill, de guerra em Bastardos Inglórios e blaxploitation em Jackie Brown –, o western não é só uma brincadeira violenta. "Acho que o filme faz um comentário muito sério sobre a Guerra Civil. Os Oito Odiados é sobre um bando que sobreviveu ao apocalipse. Em geral, o cinema representa o apocalipse tipo Mad Max, no deserto australiano. Eu mostro na neve, mas a essência é a mesma. A Guerra Civil arruinou as vidas e destruiu a sociedade de toda essa gente. Os Oito Odiados é um western pós-apocalíptico.”

O próprio Tarantino parece viver no universo mítico do cinema. “É verdade. Vejo de forma mitológica a mim e a minha carreira. Os Oito Odiados é meu oitavo filme. Vou fazer só mais dois e parar no décimo.” Até lá, ele acredita que já terá feito tudo o que quis no cinema. Uma última revelação ‘tarantiniana’ – “Todos esses grandes atores disseram o texto como eu queria, mas Tim (Roth) foi além. Você sabe quem ele interpreta? Terry-Thomas.” Terry-Thomas! O grande comediante inglês dos anos 1960. “Só me falta os dentes separados da frente”, brinca o próprio Roth. Tarantino e ele são unha e carne. Amigos – e cinéfilos. “Só espero que ele continue me escrevendo bons papéis”, diz o ator.

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