Rodrigo Faro recebeu o convite para interpretar Silvio Santos sem imaginar que essa proposta viria – afinal, foram 15 anos trabalhando como apresentador, deixando a carreira de ator de lado. Todos ao redor de Faro achavam a proposta curiosa, mas ninguém o desencorajou. Até que ele tomou uma decisão: marcou uma reunião com o próprio Silvio Santos, que chancelou o trabalho. O resultado estreia nesta quinta-feira, 12, com Silvio.
“Eu fiz esse filme para ele, na verdade. Não foi para mim, para minha carreira, para o meu ego, nada disso. Fiz para que ele pudesse assisti-lo em vida”, diz Faro, lamentando a morte de Silvio em agosto. “Foi o maior desafio profissional da minha carreira. Dei o meu melhor, minha vida. Parei tudo para fazer esse filme para ele e por ele. A única coisa que me entristece é não poder chegar para ele e perguntar: ‘E aí, Silvão, o que achou? Cheguei perto?’. E ouvir o que ele teria para dizer. Riríamos muito, nos divertiríamos com tudo isso”.
Um novo caminho
Ao contrário de cinebiografias convencionais que buscam retratar toda a vida de um artista, o filme protagonizado por Faro se concentra em um dos episódios mais traumáticos da vida de Silvio Santos: o sequestro em sua mansão, apenas horas depois da filha Patrícia ser liberada por esse mesmo sequestrador. Enquanto mostra a tensão dessa situação, Silvio também resgata lembranças e memórias do apresentador criança e no início da carreira.
É, assim, uma busca para tentar humanizar um dos nomes mais conhecidos na história da televisão brasileira: falando de um momento que estava vulnerável, o filme traz o empresário e apresentador em uma face que quase ninguém conhece. “É um Silvio diferente. É o Senor Abravanel, o ser humano, o Silvio humanizado”, contextualiza Faro.
Outro desafio para Faro, para além de sair da “aposentadoria da carreira como ator”, foi lidar com a figura de Silvio Santos: como interpretar um personagem de forma séria sem cair na imitação? Como fazer com que o personagem de Silvio diga, em tela, coisas que nem sequer podemos imaginar, como pedir para que Fernando, o sequestrador, não o matasse? Ou, ainda, assumir a figura de conciliador entre o criminoso e a polícia militar?
“Foi um desafio gigantesco e amedrontador, especialmente por ser esse personagem. Imagina a mistura: 15 anos sem atuar, consolidado como apresentador, e aí, de repente, preciso interpretar outro comunicador, muito maior do que eu, num filme sobre um sequestro”, diz Rodrigo, que pensava que não daria conta. “Comecei a estudar, trabalhar a prosódia, a forma de fazer. Fiz um trabalho diferente do que costumava. Fui do exagero do Silvio até encontrar o tom certo. Foi um desafio imenso pra mim como ator e apresentador”.
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Haters
Apesar da felicidade de Faro no momento, nem sempre Silvio navegou por águas tranquilas. Logo que saíram as primeiras imagens do longa-metragem, uma enxurrada de comentários negativos tomou conta da internet – seja criticando o tom do trailer, a atuação de Faro e, principalmente, a caracterização. Críticas, aliás, de quem não tinha visto o filme.
“Uma coisa é crítica, outra é maldade. Mas faz parte do jogo. Falem de nós, mas falem”, diz o produtor Fábio Golombek. Rodrigo Faro continua a resposta. “Quem não sabe brincar, não desce pro play. O filme nem tinha sido lançado, e já colocaram um teste de caracterização, que alcançou 10 milhões de impressões. Isso foi criando uma bola de neve, e o mais legal é ver a expectativa que surgiu”, contextualiza o protagonista do filme.
No final, Faro celebra – e nem descarta voltar a trabalhar como ator. “Não sei, não sei”, diz ele. “Assisti ao filme pela primeira vez na pré-estreia e fiquei impactado como espectador. Fiquei feliz com o trabalho que as pessoas poderão ver. Alguns convites já apareceram para fazer streaming, séries, mas vamos ver se isso cabe na minha agenda de apresentador”.