'Questão de Tempo' constrói romance em clima de ficção científica


Diretor Richard Curtis faz do filme um ensaio sobre a relação do ser humano com família e amigos

Por Nayara Reynaud

"Se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente". Esse sentimento de não conseguir lidar com o tempo é algo que aflige as pessoas desde os primórdios - vide os questionamentos filosóficos, de Aristóteles a Kant, e a Bíblia, que tem um de seus capítulos dedicado somente ao assunto.

Um dos sinais disso é o desejo humano, que sempre existiu, de voltar no tempo. Interesse de cientistas, escritores e cineastas, o tema é o mote do filme Questão de Tempo (2013), de Richard Curtis, diretor de Simplesmente Amor (2003) e Os Piratas do Rock (2009), e roteirista de Quatro Casamentos e Um Funeral (1994), Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e O Diário de Bridget Jones (2001), entre outros. No seu trabalho mais recente, ele utiliza o argumento de ficção científica como pretexto e a estrutura das comédias românticas, à qual está tão habituado, como pano de fundo para esta espécie de ensaio sobre a relação do ser humano com o tempo e, consequentemente, com a família, os amigos e tudo o que o cerca. Logo no início, o espectador descobre junto com o próprio protagonista, quando o pai (Bill Nighy) lhe conta em seu aniversário de 21 anos, que os homens da família têm o dom de viajar no tempo. Sem poder mudar os rumos da História, mas os caminhos que traçou em sua própria, o romântico Tim (Domhnall Gleeson) experimenta seu poder consertando uma desastrosa noite de Ano Novo aqui, paquerando sua primeira paixão de verão ali, até conhecer Mary (Rachel McAdams) e reconhecer nela o grande amor da sua vida. Como toda viagem no tempo tem suas consequências, após dar uma ajudinha ao dramaturgo Harry (Tom Hollander), com quem se hospeda ao se mudar para Londres, o rapaz se vê obrigado a reconquistar sua amada outra vez. Num primeiro momento, o filme parece evocar os populares Como Se Fosse a Primeira Vez (2004) e Para Sempre (2012) - curiosamente, também com a atriz canadense McAdams -, com esse pretexto da reconquista, ou Efeito Borboleta (2004), Camisa de Força (2005) e Looper - Assassinos do Futuro (2012), por causa da ideia de que toda ação realizada em determinado momento resultará numa reação totalmente inesperada no futuro. No entanto, Curtis não se prende a essas subtramas e só as usa quando necessário, pois o seu foco é outro. Sua obra fala dessa aspiração unânime por um "segundo tempo", uma chance de parar, repensar e fazer tudo diferente. Porém, se os astrônomos denominam de tempo anomalístico o período entre duas passagens consecutivas de um planeta por um mesmo ponto em sua órbita, seu herói descobre aos poucos que o mesmo ciclo ocorre com os humanos, cuja vida também se mostra anômala, mas é esta anormalidade que a torna especial. Desse modo, Tim percebe gradativamente que mudar os fatos, mesmo quando o tempo - aquele dos fenômenos meteorológicos ou o do sentido figurativo - está ruim, não resolve tudo, pois alguns acontecimentos são naturais e necessários. Quando o personagem se dá conta de que o importante é viver cada momento, nas coisas mais simples e banais, o cineasta demonstra uma grande sensibilidade em sua direção mais madura, como na mudança sutil de planos entre uma cena e outra de Tim com a balconista. Contudo, em favor dessa discussão existencial, o diretor acaba cometendo um erro ao preferir não pontuar tão fortemente a questão da descoberta desse poder por outras pessoas, caindo, consequentemente, na exaltação de uma vida calcada em algumas mentiras. Isso, de certa maneira, passa despercebido aos menos atentos, graças ao roteiro do próprio e experiente Richard Curtis, com diálogos que soam muito familiares ao público. Mérito também do carisma dos atores principais, Domhnall Gleeson e Rachel McAdams - uma especialista em interpretar mulheres de viajantes do tempo, haja vista Te Amarei Para Sempre (2009) -, criando uma química interessante em um casal tão diferente. A afinidade de Tim com a sua mãe (Lindsay Duncan) e sua irmã (Lydia Wilson), de espírito livre e ingênuo, são bem construídas, mas não tanto quanto a do filho com o pai. A relação dos dois é o que mais se destaca no filme, que traz Bill Nighy em uma atuação inspirada e cativante. Outros pontos positivos são a fotografia de John Guleserian, com variação das luzes, em geral com tons claros; e a montagem - cujo timing é essencial - de Mark Day, às vezes com ares de videoclipe. Junta-se a esse conjunto a trilha que mescla músicas, tanto instrumentais, marcadas pelo piano, quanto canções pops da década passada, da banda de rock The Killers ao rapper Nelly, para contextualizar o passar dos anos no decorrer da trama.

"Se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente". Esse sentimento de não conseguir lidar com o tempo é algo que aflige as pessoas desde os primórdios - vide os questionamentos filosóficos, de Aristóteles a Kant, e a Bíblia, que tem um de seus capítulos dedicado somente ao assunto.

Um dos sinais disso é o desejo humano, que sempre existiu, de voltar no tempo. Interesse de cientistas, escritores e cineastas, o tema é o mote do filme Questão de Tempo (2013), de Richard Curtis, diretor de Simplesmente Amor (2003) e Os Piratas do Rock (2009), e roteirista de Quatro Casamentos e Um Funeral (1994), Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e O Diário de Bridget Jones (2001), entre outros. No seu trabalho mais recente, ele utiliza o argumento de ficção científica como pretexto e a estrutura das comédias românticas, à qual está tão habituado, como pano de fundo para esta espécie de ensaio sobre a relação do ser humano com o tempo e, consequentemente, com a família, os amigos e tudo o que o cerca. Logo no início, o espectador descobre junto com o próprio protagonista, quando o pai (Bill Nighy) lhe conta em seu aniversário de 21 anos, que os homens da família têm o dom de viajar no tempo. Sem poder mudar os rumos da História, mas os caminhos que traçou em sua própria, o romântico Tim (Domhnall Gleeson) experimenta seu poder consertando uma desastrosa noite de Ano Novo aqui, paquerando sua primeira paixão de verão ali, até conhecer Mary (Rachel McAdams) e reconhecer nela o grande amor da sua vida. Como toda viagem no tempo tem suas consequências, após dar uma ajudinha ao dramaturgo Harry (Tom Hollander), com quem se hospeda ao se mudar para Londres, o rapaz se vê obrigado a reconquistar sua amada outra vez. Num primeiro momento, o filme parece evocar os populares Como Se Fosse a Primeira Vez (2004) e Para Sempre (2012) - curiosamente, também com a atriz canadense McAdams -, com esse pretexto da reconquista, ou Efeito Borboleta (2004), Camisa de Força (2005) e Looper - Assassinos do Futuro (2012), por causa da ideia de que toda ação realizada em determinado momento resultará numa reação totalmente inesperada no futuro. No entanto, Curtis não se prende a essas subtramas e só as usa quando necessário, pois o seu foco é outro. Sua obra fala dessa aspiração unânime por um "segundo tempo", uma chance de parar, repensar e fazer tudo diferente. Porém, se os astrônomos denominam de tempo anomalístico o período entre duas passagens consecutivas de um planeta por um mesmo ponto em sua órbita, seu herói descobre aos poucos que o mesmo ciclo ocorre com os humanos, cuja vida também se mostra anômala, mas é esta anormalidade que a torna especial. Desse modo, Tim percebe gradativamente que mudar os fatos, mesmo quando o tempo - aquele dos fenômenos meteorológicos ou o do sentido figurativo - está ruim, não resolve tudo, pois alguns acontecimentos são naturais e necessários. Quando o personagem se dá conta de que o importante é viver cada momento, nas coisas mais simples e banais, o cineasta demonstra uma grande sensibilidade em sua direção mais madura, como na mudança sutil de planos entre uma cena e outra de Tim com a balconista. Contudo, em favor dessa discussão existencial, o diretor acaba cometendo um erro ao preferir não pontuar tão fortemente a questão da descoberta desse poder por outras pessoas, caindo, consequentemente, na exaltação de uma vida calcada em algumas mentiras. Isso, de certa maneira, passa despercebido aos menos atentos, graças ao roteiro do próprio e experiente Richard Curtis, com diálogos que soam muito familiares ao público. Mérito também do carisma dos atores principais, Domhnall Gleeson e Rachel McAdams - uma especialista em interpretar mulheres de viajantes do tempo, haja vista Te Amarei Para Sempre (2009) -, criando uma química interessante em um casal tão diferente. A afinidade de Tim com a sua mãe (Lindsay Duncan) e sua irmã (Lydia Wilson), de espírito livre e ingênuo, são bem construídas, mas não tanto quanto a do filho com o pai. A relação dos dois é o que mais se destaca no filme, que traz Bill Nighy em uma atuação inspirada e cativante. Outros pontos positivos são a fotografia de John Guleserian, com variação das luzes, em geral com tons claros; e a montagem - cujo timing é essencial - de Mark Day, às vezes com ares de videoclipe. Junta-se a esse conjunto a trilha que mescla músicas, tanto instrumentais, marcadas pelo piano, quanto canções pops da década passada, da banda de rock The Killers ao rapper Nelly, para contextualizar o passar dos anos no decorrer da trama.

"Se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente". Esse sentimento de não conseguir lidar com o tempo é algo que aflige as pessoas desde os primórdios - vide os questionamentos filosóficos, de Aristóteles a Kant, e a Bíblia, que tem um de seus capítulos dedicado somente ao assunto.

Um dos sinais disso é o desejo humano, que sempre existiu, de voltar no tempo. Interesse de cientistas, escritores e cineastas, o tema é o mote do filme Questão de Tempo (2013), de Richard Curtis, diretor de Simplesmente Amor (2003) e Os Piratas do Rock (2009), e roteirista de Quatro Casamentos e Um Funeral (1994), Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e O Diário de Bridget Jones (2001), entre outros. No seu trabalho mais recente, ele utiliza o argumento de ficção científica como pretexto e a estrutura das comédias românticas, à qual está tão habituado, como pano de fundo para esta espécie de ensaio sobre a relação do ser humano com o tempo e, consequentemente, com a família, os amigos e tudo o que o cerca. Logo no início, o espectador descobre junto com o próprio protagonista, quando o pai (Bill Nighy) lhe conta em seu aniversário de 21 anos, que os homens da família têm o dom de viajar no tempo. Sem poder mudar os rumos da História, mas os caminhos que traçou em sua própria, o romântico Tim (Domhnall Gleeson) experimenta seu poder consertando uma desastrosa noite de Ano Novo aqui, paquerando sua primeira paixão de verão ali, até conhecer Mary (Rachel McAdams) e reconhecer nela o grande amor da sua vida. Como toda viagem no tempo tem suas consequências, após dar uma ajudinha ao dramaturgo Harry (Tom Hollander), com quem se hospeda ao se mudar para Londres, o rapaz se vê obrigado a reconquistar sua amada outra vez. Num primeiro momento, o filme parece evocar os populares Como Se Fosse a Primeira Vez (2004) e Para Sempre (2012) - curiosamente, também com a atriz canadense McAdams -, com esse pretexto da reconquista, ou Efeito Borboleta (2004), Camisa de Força (2005) e Looper - Assassinos do Futuro (2012), por causa da ideia de que toda ação realizada em determinado momento resultará numa reação totalmente inesperada no futuro. No entanto, Curtis não se prende a essas subtramas e só as usa quando necessário, pois o seu foco é outro. Sua obra fala dessa aspiração unânime por um "segundo tempo", uma chance de parar, repensar e fazer tudo diferente. Porém, se os astrônomos denominam de tempo anomalístico o período entre duas passagens consecutivas de um planeta por um mesmo ponto em sua órbita, seu herói descobre aos poucos que o mesmo ciclo ocorre com os humanos, cuja vida também se mostra anômala, mas é esta anormalidade que a torna especial. Desse modo, Tim percebe gradativamente que mudar os fatos, mesmo quando o tempo - aquele dos fenômenos meteorológicos ou o do sentido figurativo - está ruim, não resolve tudo, pois alguns acontecimentos são naturais e necessários. Quando o personagem se dá conta de que o importante é viver cada momento, nas coisas mais simples e banais, o cineasta demonstra uma grande sensibilidade em sua direção mais madura, como na mudança sutil de planos entre uma cena e outra de Tim com a balconista. Contudo, em favor dessa discussão existencial, o diretor acaba cometendo um erro ao preferir não pontuar tão fortemente a questão da descoberta desse poder por outras pessoas, caindo, consequentemente, na exaltação de uma vida calcada em algumas mentiras. Isso, de certa maneira, passa despercebido aos menos atentos, graças ao roteiro do próprio e experiente Richard Curtis, com diálogos que soam muito familiares ao público. Mérito também do carisma dos atores principais, Domhnall Gleeson e Rachel McAdams - uma especialista em interpretar mulheres de viajantes do tempo, haja vista Te Amarei Para Sempre (2009) -, criando uma química interessante em um casal tão diferente. A afinidade de Tim com a sua mãe (Lindsay Duncan) e sua irmã (Lydia Wilson), de espírito livre e ingênuo, são bem construídas, mas não tanto quanto a do filho com o pai. A relação dos dois é o que mais se destaca no filme, que traz Bill Nighy em uma atuação inspirada e cativante. Outros pontos positivos são a fotografia de John Guleserian, com variação das luzes, em geral com tons claros; e a montagem - cujo timing é essencial - de Mark Day, às vezes com ares de videoclipe. Junta-se a esse conjunto a trilha que mescla músicas, tanto instrumentais, marcadas pelo piano, quanto canções pops da década passada, da banda de rock The Killers ao rapper Nelly, para contextualizar o passar dos anos no decorrer da trama.

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