Em 1938, Katharine Hepburn ainda carregava a fama de ser veneno de bilheteria, que só seria mudada dois anos mais tarde, quando fez Núpcias de Escândalo, com direção de George Cukor, dividindo a cena com Cary Grant e James Stewart. Naquele ano, Kate fez seu primeiro filme com Grant, também dirigido por Cukor. Chama-se Boêmio Encantador. Nostálgicos dos anos dourados de Hollywood não podem perder o lançamento da Warner. A história é puro entretenimento. Grant faz o boêmio do título, que está de casamento marcado com uma herdeira, mas descobre que ama a irmã dela - interpretada por Katharine Hepburn. O resultado é uma jóia daquilo que se chama de "screwball comedy" - diálogos brilhantes, que os atores dizem com graça, taco no taco, e cujo timing um autor como Cukor ajusta no relógio, sem perder o cuidado com a cenografia que lhe era habitual. Tome cuidado com a definição de "entretenimento", pois Boêmio Encantador é mais. Cukor critica a hipocrisia burguesa e também desenvolve, aqui, seu tema favorito. Ele ama a mulher apaixonada, mas, como Truffaut, que era um romântico que desconfiava do romantismo, Cukor também desconfia de suas mulheres que tentam se emancipar num universo de homens. Cukor, protofeminista? Exato. Cabe destacar que Boêmio foi o primeiro filme de Kate e Grant, mas em 1938, em seguida, eles fizeram o segundo - Levada da Breca, melhor ainda, com direção de Howard Hawks.