‘Afire’: Saiba como é o vencedor de ‘melhor filme internacional’ da Mostra de Cinema de São Paulo


Longa alemão desbancou fortes concorrentes e conquistou crítica especializada por um voto de diferença; leia crítica

Por Luiz Carlos Merten

O lançamento oficial de Afire é nesta quinta-feira, 2, e o filme acaba de ganhar um atrativo extra para as salas de cinema: venceu o prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Havia, sim, outros fortes candidatos e o longa alemão ficou à frente de Ervas Secas, do turco Nuri Bilge Ceylan, por apenas um voto. Importante destacar: foi a nova geração da crítica que garantiu a vitória da película.

A premiação agrada a Jean-Thomas Bernardini da Imovision, que distribui Afire e do Reserva Cultural. Para quem opera no circuito de filmes especiais, de arte, ele já contava com o atrativo do Urso de Prata, que o longa recebeu no Festival de Berlim, em fevereiro, e com a persona do próprio diretor Christian Petzold, conhecido do público por seu cinema autoral.

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'Afire' vence prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo Foto: Imovision

Afire passa-se numa cabana na floresta, contígua a uma praia. Lá chegam um escritor que prepara o segundo livro e seu amigo fotógrafo. Encontram a casa já ocupada por uma mulher. Após alguma indecisão, resolvem dividir o espaço. O aquecimento global e a questão ambiental fazem-se presentes por meio de um incêndio.

Petzold tem refletido, nos filmes, sobre a história da Alemanha. Fez Phoenix, um thriller hitchcockiano sobre essa mulher — judia — que volta do passado — dos mortos? —, para se vingar do marido que pode ter sido quem a denunciou aos nazistas. Fez Undine, a história da sereia — com Paula Beer, a atriz de Afire.

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Na Berlinale, Petzold contou que, embora a questão do meio ambiente seja decisiva no filme — e no mundo atual —, interessam-lhe as pessoas. Contou uma coisa curiosa. Sua inspiração veio de um filme mítico, Menschen amm Sonntag, As Pessoas de Domingo, que fez história no cinema alemão ao reunir futuros grandes diretores como Robert Siodmak, Edgar G. Ulmer, Fred Zinnemann e Billy Wilder. A trama de cinco pessoas aleatórias, escolhidas na multidão, num domingo.

“Em todas as cinematografias do mundo existem filmes de verão. Eu quis fazer o meu filme do gênero, mas, de certa forma, isso é impossível. O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão”,

diz Petzold

Os personagens de 'Afire', e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho Foto: Imovision
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Afire constrói-se como uma comédia de costumes — de maneiras — ambientada na Alemanha atual, onde o colapso ambiental é um tema visceral. Só para lembrar, a Amazônia tem estado na pauta ambiental alemã, não importa quem esteja à frente do governo.

Os personagens, e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho. Não apenas por Leon (Thomas Schubert) ser escritor, a literatura tem seu papel na trama, e os personagens referem-se com frequência à literatura alemã do século 19. E estão todos envolvidos na atmosfera sufocante do verão — alguém aí pensou em Aftersun, de Charlotte Wells?

Talvez o mais bem sucedido autor da chamada ‘Escola de Berlim’, Petzold tem acumulado sucessos de público e crítica — e prêmios. Faz filmes intimistas com fundo social, abordando temas históricos e identitários que pesam na consciência dos alemães — o passado nazista. Mais de um crítico relacionou Afire aos Contos das Quatro Estações do francês Eric Rohmer.

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“Na fase de preparação, Gente de Domingo, alguns filmes de Rohmer e os contos de Chekhov foram referências que utilizei para os atores e os técnicos. Como homem e diretor, sinto que quero sempre estar no controle. O mar, o fogo, o calor sufocante, tudo isso me deixou inebriado, meio tonto. Não é um estado frequente em mim. Acho que o filme reflete isso”, explica Petzold.

'O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão', diz diretor de 'Afire' Foto: Imovision

No debate após a projeção de seu filme, Petzold citou, entre outros filmes de verão, Mônica e o Desejo, de Ingmar Bergman, dos anos 1950 que, por acaso, era o filme preferido de Jean-Luc Godard, sempre que o assunto era o grande diretor sueco (mas essa é outra história). “Nos filmes de verão não existem pais, escola, nem trabalho. Em geral são filmes de férias, há uma espécie de pausa em relação à vida cotidiana. Aqui, meus personagens vivem no limite. Querem viver a liberdade do verão, mas o incêndio está próximo. Gera tensão, insegurança”, diz o diretor.

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“Vivemos num mundo distópico, é o meu assunto permanente com meu filho de 23 anos. Conto histórias ancoradas na tradição, mas que pertencem a esse mundo em que vivemos”,

reflete Petzold.

O prêmio da crítica na Mostra é agora o grande chamariz de público para Afire.

Só para lembrar, a Mostra nasceu durante a ditadura, quando não havia eleições diretas. O fundador do evento, Leon Cakoff, definiu o formato que permanece até hoje. Na mostra competitiva de novos diretores, o júri delibera sobre uma seleção de filmes pré-votados pelo público.

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No caso do júri da crítica, não se trata de um grupo, como na maioria dos eventos do gênero. Votam todos os críticos e jornalistas credenciados. Afire foi escolhido pelo voto da maioria.

O lançamento oficial de Afire é nesta quinta-feira, 2, e o filme acaba de ganhar um atrativo extra para as salas de cinema: venceu o prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Havia, sim, outros fortes candidatos e o longa alemão ficou à frente de Ervas Secas, do turco Nuri Bilge Ceylan, por apenas um voto. Importante destacar: foi a nova geração da crítica que garantiu a vitória da película.

A premiação agrada a Jean-Thomas Bernardini da Imovision, que distribui Afire e do Reserva Cultural. Para quem opera no circuito de filmes especiais, de arte, ele já contava com o atrativo do Urso de Prata, que o longa recebeu no Festival de Berlim, em fevereiro, e com a persona do próprio diretor Christian Petzold, conhecido do público por seu cinema autoral.

'Afire' vence prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo Foto: Imovision

Afire passa-se numa cabana na floresta, contígua a uma praia. Lá chegam um escritor que prepara o segundo livro e seu amigo fotógrafo. Encontram a casa já ocupada por uma mulher. Após alguma indecisão, resolvem dividir o espaço. O aquecimento global e a questão ambiental fazem-se presentes por meio de um incêndio.

Petzold tem refletido, nos filmes, sobre a história da Alemanha. Fez Phoenix, um thriller hitchcockiano sobre essa mulher — judia — que volta do passado — dos mortos? —, para se vingar do marido que pode ter sido quem a denunciou aos nazistas. Fez Undine, a história da sereia — com Paula Beer, a atriz de Afire.

Na Berlinale, Petzold contou que, embora a questão do meio ambiente seja decisiva no filme — e no mundo atual —, interessam-lhe as pessoas. Contou uma coisa curiosa. Sua inspiração veio de um filme mítico, Menschen amm Sonntag, As Pessoas de Domingo, que fez história no cinema alemão ao reunir futuros grandes diretores como Robert Siodmak, Edgar G. Ulmer, Fred Zinnemann e Billy Wilder. A trama de cinco pessoas aleatórias, escolhidas na multidão, num domingo.

“Em todas as cinematografias do mundo existem filmes de verão. Eu quis fazer o meu filme do gênero, mas, de certa forma, isso é impossível. O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão”,

diz Petzold

Os personagens de 'Afire', e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho Foto: Imovision

Afire constrói-se como uma comédia de costumes — de maneiras — ambientada na Alemanha atual, onde o colapso ambiental é um tema visceral. Só para lembrar, a Amazônia tem estado na pauta ambiental alemã, não importa quem esteja à frente do governo.

Os personagens, e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho. Não apenas por Leon (Thomas Schubert) ser escritor, a literatura tem seu papel na trama, e os personagens referem-se com frequência à literatura alemã do século 19. E estão todos envolvidos na atmosfera sufocante do verão — alguém aí pensou em Aftersun, de Charlotte Wells?

Talvez o mais bem sucedido autor da chamada ‘Escola de Berlim’, Petzold tem acumulado sucessos de público e crítica — e prêmios. Faz filmes intimistas com fundo social, abordando temas históricos e identitários que pesam na consciência dos alemães — o passado nazista. Mais de um crítico relacionou Afire aos Contos das Quatro Estações do francês Eric Rohmer.

“Na fase de preparação, Gente de Domingo, alguns filmes de Rohmer e os contos de Chekhov foram referências que utilizei para os atores e os técnicos. Como homem e diretor, sinto que quero sempre estar no controle. O mar, o fogo, o calor sufocante, tudo isso me deixou inebriado, meio tonto. Não é um estado frequente em mim. Acho que o filme reflete isso”, explica Petzold.

'O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão', diz diretor de 'Afire' Foto: Imovision

No debate após a projeção de seu filme, Petzold citou, entre outros filmes de verão, Mônica e o Desejo, de Ingmar Bergman, dos anos 1950 que, por acaso, era o filme preferido de Jean-Luc Godard, sempre que o assunto era o grande diretor sueco (mas essa é outra história). “Nos filmes de verão não existem pais, escola, nem trabalho. Em geral são filmes de férias, há uma espécie de pausa em relação à vida cotidiana. Aqui, meus personagens vivem no limite. Querem viver a liberdade do verão, mas o incêndio está próximo. Gera tensão, insegurança”, diz o diretor.

“Vivemos num mundo distópico, é o meu assunto permanente com meu filho de 23 anos. Conto histórias ancoradas na tradição, mas que pertencem a esse mundo em que vivemos”,

reflete Petzold.

O prêmio da crítica na Mostra é agora o grande chamariz de público para Afire.

Só para lembrar, a Mostra nasceu durante a ditadura, quando não havia eleições diretas. O fundador do evento, Leon Cakoff, definiu o formato que permanece até hoje. Na mostra competitiva de novos diretores, o júri delibera sobre uma seleção de filmes pré-votados pelo público.

No caso do júri da crítica, não se trata de um grupo, como na maioria dos eventos do gênero. Votam todos os críticos e jornalistas credenciados. Afire foi escolhido pelo voto da maioria.

O lançamento oficial de Afire é nesta quinta-feira, 2, e o filme acaba de ganhar um atrativo extra para as salas de cinema: venceu o prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Havia, sim, outros fortes candidatos e o longa alemão ficou à frente de Ervas Secas, do turco Nuri Bilge Ceylan, por apenas um voto. Importante destacar: foi a nova geração da crítica que garantiu a vitória da película.

A premiação agrada a Jean-Thomas Bernardini da Imovision, que distribui Afire e do Reserva Cultural. Para quem opera no circuito de filmes especiais, de arte, ele já contava com o atrativo do Urso de Prata, que o longa recebeu no Festival de Berlim, em fevereiro, e com a persona do próprio diretor Christian Petzold, conhecido do público por seu cinema autoral.

'Afire' vence prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo Foto: Imovision

Afire passa-se numa cabana na floresta, contígua a uma praia. Lá chegam um escritor que prepara o segundo livro e seu amigo fotógrafo. Encontram a casa já ocupada por uma mulher. Após alguma indecisão, resolvem dividir o espaço. O aquecimento global e a questão ambiental fazem-se presentes por meio de um incêndio.

Petzold tem refletido, nos filmes, sobre a história da Alemanha. Fez Phoenix, um thriller hitchcockiano sobre essa mulher — judia — que volta do passado — dos mortos? —, para se vingar do marido que pode ter sido quem a denunciou aos nazistas. Fez Undine, a história da sereia — com Paula Beer, a atriz de Afire.

Na Berlinale, Petzold contou que, embora a questão do meio ambiente seja decisiva no filme — e no mundo atual —, interessam-lhe as pessoas. Contou uma coisa curiosa. Sua inspiração veio de um filme mítico, Menschen amm Sonntag, As Pessoas de Domingo, que fez história no cinema alemão ao reunir futuros grandes diretores como Robert Siodmak, Edgar G. Ulmer, Fred Zinnemann e Billy Wilder. A trama de cinco pessoas aleatórias, escolhidas na multidão, num domingo.

“Em todas as cinematografias do mundo existem filmes de verão. Eu quis fazer o meu filme do gênero, mas, de certa forma, isso é impossível. O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão”,

diz Petzold

Os personagens de 'Afire', e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho Foto: Imovision

Afire constrói-se como uma comédia de costumes — de maneiras — ambientada na Alemanha atual, onde o colapso ambiental é um tema visceral. Só para lembrar, a Amazônia tem estado na pauta ambiental alemã, não importa quem esteja à frente do governo.

Os personagens, e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho. Não apenas por Leon (Thomas Schubert) ser escritor, a literatura tem seu papel na trama, e os personagens referem-se com frequência à literatura alemã do século 19. E estão todos envolvidos na atmosfera sufocante do verão — alguém aí pensou em Aftersun, de Charlotte Wells?

Talvez o mais bem sucedido autor da chamada ‘Escola de Berlim’, Petzold tem acumulado sucessos de público e crítica — e prêmios. Faz filmes intimistas com fundo social, abordando temas históricos e identitários que pesam na consciência dos alemães — o passado nazista. Mais de um crítico relacionou Afire aos Contos das Quatro Estações do francês Eric Rohmer.

“Na fase de preparação, Gente de Domingo, alguns filmes de Rohmer e os contos de Chekhov foram referências que utilizei para os atores e os técnicos. Como homem e diretor, sinto que quero sempre estar no controle. O mar, o fogo, o calor sufocante, tudo isso me deixou inebriado, meio tonto. Não é um estado frequente em mim. Acho que o filme reflete isso”, explica Petzold.

'O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão', diz diretor de 'Afire' Foto: Imovision

No debate após a projeção de seu filme, Petzold citou, entre outros filmes de verão, Mônica e o Desejo, de Ingmar Bergman, dos anos 1950 que, por acaso, era o filme preferido de Jean-Luc Godard, sempre que o assunto era o grande diretor sueco (mas essa é outra história). “Nos filmes de verão não existem pais, escola, nem trabalho. Em geral são filmes de férias, há uma espécie de pausa em relação à vida cotidiana. Aqui, meus personagens vivem no limite. Querem viver a liberdade do verão, mas o incêndio está próximo. Gera tensão, insegurança”, diz o diretor.

“Vivemos num mundo distópico, é o meu assunto permanente com meu filho de 23 anos. Conto histórias ancoradas na tradição, mas que pertencem a esse mundo em que vivemos”,

reflete Petzold.

O prêmio da crítica na Mostra é agora o grande chamariz de público para Afire.

Só para lembrar, a Mostra nasceu durante a ditadura, quando não havia eleições diretas. O fundador do evento, Leon Cakoff, definiu o formato que permanece até hoje. Na mostra competitiva de novos diretores, o júri delibera sobre uma seleção de filmes pré-votados pelo público.

No caso do júri da crítica, não se trata de um grupo, como na maioria dos eventos do gênero. Votam todos os críticos e jornalistas credenciados. Afire foi escolhido pelo voto da maioria.

O lançamento oficial de Afire é nesta quinta-feira, 2, e o filme acaba de ganhar um atrativo extra para as salas de cinema: venceu o prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Havia, sim, outros fortes candidatos e o longa alemão ficou à frente de Ervas Secas, do turco Nuri Bilge Ceylan, por apenas um voto. Importante destacar: foi a nova geração da crítica que garantiu a vitória da película.

A premiação agrada a Jean-Thomas Bernardini da Imovision, que distribui Afire e do Reserva Cultural. Para quem opera no circuito de filmes especiais, de arte, ele já contava com o atrativo do Urso de Prata, que o longa recebeu no Festival de Berlim, em fevereiro, e com a persona do próprio diretor Christian Petzold, conhecido do público por seu cinema autoral.

'Afire' vence prêmio de melhor filme internacional para a crítica na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo Foto: Imovision

Afire passa-se numa cabana na floresta, contígua a uma praia. Lá chegam um escritor que prepara o segundo livro e seu amigo fotógrafo. Encontram a casa já ocupada por uma mulher. Após alguma indecisão, resolvem dividir o espaço. O aquecimento global e a questão ambiental fazem-se presentes por meio de um incêndio.

Petzold tem refletido, nos filmes, sobre a história da Alemanha. Fez Phoenix, um thriller hitchcockiano sobre essa mulher — judia — que volta do passado — dos mortos? —, para se vingar do marido que pode ter sido quem a denunciou aos nazistas. Fez Undine, a história da sereia — com Paula Beer, a atriz de Afire.

Na Berlinale, Petzold contou que, embora a questão do meio ambiente seja decisiva no filme — e no mundo atual —, interessam-lhe as pessoas. Contou uma coisa curiosa. Sua inspiração veio de um filme mítico, Menschen amm Sonntag, As Pessoas de Domingo, que fez história no cinema alemão ao reunir futuros grandes diretores como Robert Siodmak, Edgar G. Ulmer, Fred Zinnemann e Billy Wilder. A trama de cinco pessoas aleatórias, escolhidas na multidão, num domingo.

“Em todas as cinematografias do mundo existem filmes de verão. Eu quis fazer o meu filme do gênero, mas, de certa forma, isso é impossível. O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão”,

diz Petzold

Os personagens de 'Afire', e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho Foto: Imovision

Afire constrói-se como uma comédia de costumes — de maneiras — ambientada na Alemanha atual, onde o colapso ambiental é um tema visceral. Só para lembrar, a Amazônia tem estado na pauta ambiental alemã, não importa quem esteja à frente do governo.

Os personagens, e não apenas o triângulo central, estão empenhados em discussões sobre amor, sexo e trabalho. Não apenas por Leon (Thomas Schubert) ser escritor, a literatura tem seu papel na trama, e os personagens referem-se com frequência à literatura alemã do século 19. E estão todos envolvidos na atmosfera sufocante do verão — alguém aí pensou em Aftersun, de Charlotte Wells?

Talvez o mais bem sucedido autor da chamada ‘Escola de Berlim’, Petzold tem acumulado sucessos de público e crítica — e prêmios. Faz filmes intimistas com fundo social, abordando temas históricos e identitários que pesam na consciência dos alemães — o passado nazista. Mais de um crítico relacionou Afire aos Contos das Quatro Estações do francês Eric Rohmer.

“Na fase de preparação, Gente de Domingo, alguns filmes de Rohmer e os contos de Chekhov foram referências que utilizei para os atores e os técnicos. Como homem e diretor, sinto que quero sempre estar no controle. O mar, o fogo, o calor sufocante, tudo isso me deixou inebriado, meio tonto. Não é um estado frequente em mim. Acho que o filme reflete isso”, explica Petzold.

'O nazismo destruiu não apenas o conceito do filme de verão na Alemanha. Destruiu o próprio verão', diz diretor de 'Afire' Foto: Imovision

No debate após a projeção de seu filme, Petzold citou, entre outros filmes de verão, Mônica e o Desejo, de Ingmar Bergman, dos anos 1950 que, por acaso, era o filme preferido de Jean-Luc Godard, sempre que o assunto era o grande diretor sueco (mas essa é outra história). “Nos filmes de verão não existem pais, escola, nem trabalho. Em geral são filmes de férias, há uma espécie de pausa em relação à vida cotidiana. Aqui, meus personagens vivem no limite. Querem viver a liberdade do verão, mas o incêndio está próximo. Gera tensão, insegurança”, diz o diretor.

“Vivemos num mundo distópico, é o meu assunto permanente com meu filho de 23 anos. Conto histórias ancoradas na tradição, mas que pertencem a esse mundo em que vivemos”,

reflete Petzold.

O prêmio da crítica na Mostra é agora o grande chamariz de público para Afire.

Só para lembrar, a Mostra nasceu durante a ditadura, quando não havia eleições diretas. O fundador do evento, Leon Cakoff, definiu o formato que permanece até hoje. Na mostra competitiva de novos diretores, o júri delibera sobre uma seleção de filmes pré-votados pelo público.

No caso do júri da crítica, não se trata de um grupo, como na maioria dos eventos do gênero. Votam todos os críticos e jornalistas credenciados. Afire foi escolhido pelo voto da maioria.

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