Juliano Ribeiro Salgado reconhece que tinha uma relação meio distante com o pai, o grande fotógrafo Sebastião Salgado. “Falávamos de futebol, de amenidades. O filme nos aproximou.” O filme é Sebastião Salgado – O Sal da Terra, documentário premiado em Cannes, no ano passado, e que ficou entre os finalistas para o Oscar da categoria, neste ano. Juliano divide a direção com Wim Wenders. É um filme que permite múltiplas leituras. Retrata o Sebastião fotógrafo e o ambientalista, aborda um pai pelo olhar do filho e, para Wenders, que já fez Paris, Texas, é outro olhar sobre a ligação pai/filho.
Sebastião esteve na cidade quando O Sal da Terra abriu o festival Ecofalante. O filme acaba de entrar em cartaz. “Já fui tema de vários documentários, mas esse é especial. Um pouco porque foi feito por meu filho e por Wenders, um grande diretor, mas também porque os demais, incluindo o de Betse de Paula, foram feitos para TV. Esse foi feito para cinema, e isso faz toda a diferença.” E Sebastião, que o filho chama de ‘Tião’, prossegue – “Juliano fez algumas viagens de trabalho comigo, desde que, aos 15 anos, ganhou uma câmera (Laica) e fez um trabalho de documentação para a escola. Estivemos juntos em Ruanda, em 1991, quando começou a repressão que culminou no genocídio, mas essa foi a primeira vez em que ele me retratou.”
É um duplo retrato – do artista, mas também do ambientalista. Como fotógrafo, Sebastião não é uma unanimidade. Existem críticos que o censuram por embelezar suas fotos sobre os miseráveis do mundo. Chamam a isso de estetização/cosmetização da miséria. Sebastião não entra na polêmica. “Faço meu trabalho. A fotografia é uma arte formal. Trabalho com angulação, enquadramento, iluminação. Não manipulo minha câmera de forma diferenciada se estou filmando a natureza, animais, pessoas pobres ou ricas. Uma das coisas que aprendi nessa atividade é a me comunicar com integrantes de culturas diversas e a reconhecer a doçura de outros povos.”
O filme põe ênfase no Sebastião ambientalista, que criou o Instituto Terra com a mulher, Lélia Wanick Salgado. “É a minha companheira. Na vida, no trabalho, em tudo. Sem ela não teria feito um terço do que fiz.”
O instituto, uma ONG ambiental, desenvolveu um projeto de reflorestamento da Mata Atlântica. E existe o programa Olhos d’Água, que a ONU-Água reconhece como um dos melhores do mundo na recuperação e conservação de recursos hídricos, um tema crucial no Brasil de 2015. Sebastião e a mulher plantam o futuro, como o filme mostra. E têm o maior orgulho disso.