Sequestro de avião da Vasp ganha versão para o cinema após 30 anos


Produção usou uma aeronave de colecionador para cenas internas; episódio ocorreu em 1988, em um voo entre Porto Velho e o Rio

Por Pedro Venceslau
Atualização:

O mercado audiovisual brasileiro demorou 34 anos para conseguir realizar o sonho de transformar em filme um episódio traumático da crônica política e policial brasileira que se não fosse real seria completamente inverossímil.

No último dia 10, um sábado, 40 atores se acomodaram como passageiros em seus lugares em um Boeing 737 da Vasp instalado em cima de uma traquitana montada em um galpão gigante no Pavilhão Vera Cruz, o icônico estúdio em São Bernardo do Campo que foi a “casa” de Mazzaropi.

Filmagens do longa 'O Sequestro do Voo 375', baseado no caso da Vasp,ganha produção pelo Estúdio Escarlate  Foto: Marcelo Navarro
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O avião foi alugado pela produção do longa O Sequestro do Voo 375 – uma parceria da Disney com a produtora Estúdio Escarlate – de um colecionador de Brasília, transportado de caminhão até São Paulo e desmontado com a promessa de que seria devolvido inteiro.

Uma parte dele, o corredor e a cabine, foi separada para a cena capital: o momento em que o piloto fez um tonneau, manobra na qual o piloto executa um giro 360° mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal ousadia.

O objetivo desse gesto radical foi desestabilizar o sequestrador, Raimundo Nonato Alves da Conceição, que portava um revólver calibre 32 com o qual tinha matado o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na nuca após ele tentar contato com o controle de tráfego aéreo. O elenco foi medicado com remédios contra enjoo e amarrado nas poltronas com cordas especiais usadas em atrações circenses. O diretor Marcus Baldini queria o máximo de realismo. A ideia era que tudo em volta desabasse ao redor diante do desespero dos passageiros. Corta.

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O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo.

Marcus Baldini

Previsto para estrear nos cinemas só em outubro do ano que vem, o longa conseguiu superar seu maior desafio logístico. Nas últimas três décadas, ninguém conseguiu reunir recursos para contar de maneira convincente essa história.

E por um capricho do destino, o caso do homem que tentou matar José Sarney jogando um Boeing contra o Palácio do Planalto nos primeiros anos após a ditadura foi gravado no momento em que manifestantes de extrema direita são detidos com armas (e até uma ameaça de bomba) enquanto defendem intervenção militar.

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”O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo. O Nonato é um cara que toma uma atitude extrema ao se sentir traído pelos governantes que o iludem dizendo que o Brasil vai melhorar. Por mais que seja um ato terrorista e condenável, ele espelha um sentimento que está no inconsciente coletivo das pessoas. O Brasil se renova em círculos de esperanças e as pessoas reincidentemente se sentem traídas”, disse ao Estadão o diretor Marcus Baldini.

O diretor Marcus Baldine, que reconstituiu os momentos de tensão no longa  Foto: Marcelo Navarro

Para quem não se lembra ou nem era nascido, o longa conta a história do sequestro que aconteceu no dia 29 de setembro de 1988, quando a aeronave da Vasp partiu de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Rio de Janeiro, com quatro escalas no caminho: Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.

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No último trecho, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro e ordenou ao piloto para desviar a rota para Brasília, onde desejava jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto e, assim, matar o presidente José Sarney.

“O cinema tentou, mas não conseguiu fazer esse filme antes. Entrevistamos todos os personagens. Além de um filme de ação com temática política, é um filme de personagem na realidade pós-ditadura e Constituinte que chega no pós-pandemia e pós-Bolsonaro”, disse Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, sócio na Disney na produção.

Em cena, a sala de tráfego aéreo: agilidade foi fundamental no episódio. Foto: Marcelo Navarro
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Ao custo de R$ 15 milhões, um valor modesto para o primeiro filme de sequestro de avião do cinema brasileiro, o longa teve apoio decisivo dos militares, que cederam locações, aeronaves e técnicos em dois governos diferentes – Michel Temer e Bolsonaro.

Baldini conta que o caso brasileiro foi uma referência quando houve os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. “A Força Aérea foi muito proativa (no caso Vasp). A rapidez com que o caça decolou de Anápolis e chegou para a escolta não aconteceu no 11 de Setembro (nos Estados Unidos), quando demoraram muito para a autorização. Aqui no Brasil o sistema de tráfego aéreo é integrado. Eles (os EUA) vieram pra cá estudar essa integração”, compara.

Elenco de ‘O Sequestro do Voo 375’ dentro da aeronave.  Foto: Marcelo Navarro
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O ator Danilo Gragheia interpreta o piloto Murilo. Jorge Paz será o sequestrador Nonato. Entre os outros nomes do elenco estão Roberta Gualda, Cesar Mello, Juliana Alves, Arianne Botelho, Diego Montez e Wagner Santisteban.

O longa está sendo gravado no Pavilhão Vera Cruz. Fundada em uma antiga fazenda do industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz funcionou como palco de produções audiovisuais nacionais de 1949 a 1954. Lá, foram produzidos 22 filmes, mas o número de obras sobe para 40 contando parcerias com outros estúdios. O espaço histórico, que representou o sonho de transformar a indústria do cinema no Brasil, foi inaugurado em 1949, em São Bernardo do Campo (SP).

O mercado audiovisual brasileiro demorou 34 anos para conseguir realizar o sonho de transformar em filme um episódio traumático da crônica política e policial brasileira que se não fosse real seria completamente inverossímil.

No último dia 10, um sábado, 40 atores se acomodaram como passageiros em seus lugares em um Boeing 737 da Vasp instalado em cima de uma traquitana montada em um galpão gigante no Pavilhão Vera Cruz, o icônico estúdio em São Bernardo do Campo que foi a “casa” de Mazzaropi.

Filmagens do longa 'O Sequestro do Voo 375', baseado no caso da Vasp,ganha produção pelo Estúdio Escarlate  Foto: Marcelo Navarro

O avião foi alugado pela produção do longa O Sequestro do Voo 375 – uma parceria da Disney com a produtora Estúdio Escarlate – de um colecionador de Brasília, transportado de caminhão até São Paulo e desmontado com a promessa de que seria devolvido inteiro.

Uma parte dele, o corredor e a cabine, foi separada para a cena capital: o momento em que o piloto fez um tonneau, manobra na qual o piloto executa um giro 360° mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal ousadia.

O objetivo desse gesto radical foi desestabilizar o sequestrador, Raimundo Nonato Alves da Conceição, que portava um revólver calibre 32 com o qual tinha matado o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na nuca após ele tentar contato com o controle de tráfego aéreo. O elenco foi medicado com remédios contra enjoo e amarrado nas poltronas com cordas especiais usadas em atrações circenses. O diretor Marcus Baldini queria o máximo de realismo. A ideia era que tudo em volta desabasse ao redor diante do desespero dos passageiros. Corta.

O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo.

Marcus Baldini

Previsto para estrear nos cinemas só em outubro do ano que vem, o longa conseguiu superar seu maior desafio logístico. Nas últimas três décadas, ninguém conseguiu reunir recursos para contar de maneira convincente essa história.

E por um capricho do destino, o caso do homem que tentou matar José Sarney jogando um Boeing contra o Palácio do Planalto nos primeiros anos após a ditadura foi gravado no momento em que manifestantes de extrema direita são detidos com armas (e até uma ameaça de bomba) enquanto defendem intervenção militar.

”O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo. O Nonato é um cara que toma uma atitude extrema ao se sentir traído pelos governantes que o iludem dizendo que o Brasil vai melhorar. Por mais que seja um ato terrorista e condenável, ele espelha um sentimento que está no inconsciente coletivo das pessoas. O Brasil se renova em círculos de esperanças e as pessoas reincidentemente se sentem traídas”, disse ao Estadão o diretor Marcus Baldini.

O diretor Marcus Baldine, que reconstituiu os momentos de tensão no longa  Foto: Marcelo Navarro

Para quem não se lembra ou nem era nascido, o longa conta a história do sequestro que aconteceu no dia 29 de setembro de 1988, quando a aeronave da Vasp partiu de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Rio de Janeiro, com quatro escalas no caminho: Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.

No último trecho, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro e ordenou ao piloto para desviar a rota para Brasília, onde desejava jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto e, assim, matar o presidente José Sarney.

“O cinema tentou, mas não conseguiu fazer esse filme antes. Entrevistamos todos os personagens. Além de um filme de ação com temática política, é um filme de personagem na realidade pós-ditadura e Constituinte que chega no pós-pandemia e pós-Bolsonaro”, disse Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, sócio na Disney na produção.

Em cena, a sala de tráfego aéreo: agilidade foi fundamental no episódio. Foto: Marcelo Navarro

Ao custo de R$ 15 milhões, um valor modesto para o primeiro filme de sequestro de avião do cinema brasileiro, o longa teve apoio decisivo dos militares, que cederam locações, aeronaves e técnicos em dois governos diferentes – Michel Temer e Bolsonaro.

Baldini conta que o caso brasileiro foi uma referência quando houve os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. “A Força Aérea foi muito proativa (no caso Vasp). A rapidez com que o caça decolou de Anápolis e chegou para a escolta não aconteceu no 11 de Setembro (nos Estados Unidos), quando demoraram muito para a autorização. Aqui no Brasil o sistema de tráfego aéreo é integrado. Eles (os EUA) vieram pra cá estudar essa integração”, compara.

Elenco de ‘O Sequestro do Voo 375’ dentro da aeronave.  Foto: Marcelo Navarro

O ator Danilo Gragheia interpreta o piloto Murilo. Jorge Paz será o sequestrador Nonato. Entre os outros nomes do elenco estão Roberta Gualda, Cesar Mello, Juliana Alves, Arianne Botelho, Diego Montez e Wagner Santisteban.

O longa está sendo gravado no Pavilhão Vera Cruz. Fundada em uma antiga fazenda do industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz funcionou como palco de produções audiovisuais nacionais de 1949 a 1954. Lá, foram produzidos 22 filmes, mas o número de obras sobe para 40 contando parcerias com outros estúdios. O espaço histórico, que representou o sonho de transformar a indústria do cinema no Brasil, foi inaugurado em 1949, em São Bernardo do Campo (SP).

O mercado audiovisual brasileiro demorou 34 anos para conseguir realizar o sonho de transformar em filme um episódio traumático da crônica política e policial brasileira que se não fosse real seria completamente inverossímil.

No último dia 10, um sábado, 40 atores se acomodaram como passageiros em seus lugares em um Boeing 737 da Vasp instalado em cima de uma traquitana montada em um galpão gigante no Pavilhão Vera Cruz, o icônico estúdio em São Bernardo do Campo que foi a “casa” de Mazzaropi.

Filmagens do longa 'O Sequestro do Voo 375', baseado no caso da Vasp,ganha produção pelo Estúdio Escarlate  Foto: Marcelo Navarro

O avião foi alugado pela produção do longa O Sequestro do Voo 375 – uma parceria da Disney com a produtora Estúdio Escarlate – de um colecionador de Brasília, transportado de caminhão até São Paulo e desmontado com a promessa de que seria devolvido inteiro.

Uma parte dele, o corredor e a cabine, foi separada para a cena capital: o momento em que o piloto fez um tonneau, manobra na qual o piloto executa um giro 360° mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal ousadia.

O objetivo desse gesto radical foi desestabilizar o sequestrador, Raimundo Nonato Alves da Conceição, que portava um revólver calibre 32 com o qual tinha matado o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na nuca após ele tentar contato com o controle de tráfego aéreo. O elenco foi medicado com remédios contra enjoo e amarrado nas poltronas com cordas especiais usadas em atrações circenses. O diretor Marcus Baldini queria o máximo de realismo. A ideia era que tudo em volta desabasse ao redor diante do desespero dos passageiros. Corta.

O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo.

Marcus Baldini

Previsto para estrear nos cinemas só em outubro do ano que vem, o longa conseguiu superar seu maior desafio logístico. Nas últimas três décadas, ninguém conseguiu reunir recursos para contar de maneira convincente essa história.

E por um capricho do destino, o caso do homem que tentou matar José Sarney jogando um Boeing contra o Palácio do Planalto nos primeiros anos após a ditadura foi gravado no momento em que manifestantes de extrema direita são detidos com armas (e até uma ameaça de bomba) enquanto defendem intervenção militar.

”O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo. O Nonato é um cara que toma uma atitude extrema ao se sentir traído pelos governantes que o iludem dizendo que o Brasil vai melhorar. Por mais que seja um ato terrorista e condenável, ele espelha um sentimento que está no inconsciente coletivo das pessoas. O Brasil se renova em círculos de esperanças e as pessoas reincidentemente se sentem traídas”, disse ao Estadão o diretor Marcus Baldini.

O diretor Marcus Baldine, que reconstituiu os momentos de tensão no longa  Foto: Marcelo Navarro

Para quem não se lembra ou nem era nascido, o longa conta a história do sequestro que aconteceu no dia 29 de setembro de 1988, quando a aeronave da Vasp partiu de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Rio de Janeiro, com quatro escalas no caminho: Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.

No último trecho, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro e ordenou ao piloto para desviar a rota para Brasília, onde desejava jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto e, assim, matar o presidente José Sarney.

“O cinema tentou, mas não conseguiu fazer esse filme antes. Entrevistamos todos os personagens. Além de um filme de ação com temática política, é um filme de personagem na realidade pós-ditadura e Constituinte que chega no pós-pandemia e pós-Bolsonaro”, disse Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, sócio na Disney na produção.

Em cena, a sala de tráfego aéreo: agilidade foi fundamental no episódio. Foto: Marcelo Navarro

Ao custo de R$ 15 milhões, um valor modesto para o primeiro filme de sequestro de avião do cinema brasileiro, o longa teve apoio decisivo dos militares, que cederam locações, aeronaves e técnicos em dois governos diferentes – Michel Temer e Bolsonaro.

Baldini conta que o caso brasileiro foi uma referência quando houve os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. “A Força Aérea foi muito proativa (no caso Vasp). A rapidez com que o caça decolou de Anápolis e chegou para a escolta não aconteceu no 11 de Setembro (nos Estados Unidos), quando demoraram muito para a autorização. Aqui no Brasil o sistema de tráfego aéreo é integrado. Eles (os EUA) vieram pra cá estudar essa integração”, compara.

Elenco de ‘O Sequestro do Voo 375’ dentro da aeronave.  Foto: Marcelo Navarro

O ator Danilo Gragheia interpreta o piloto Murilo. Jorge Paz será o sequestrador Nonato. Entre os outros nomes do elenco estão Roberta Gualda, Cesar Mello, Juliana Alves, Arianne Botelho, Diego Montez e Wagner Santisteban.

O longa está sendo gravado no Pavilhão Vera Cruz. Fundada em uma antiga fazenda do industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz funcionou como palco de produções audiovisuais nacionais de 1949 a 1954. Lá, foram produzidos 22 filmes, mas o número de obras sobe para 40 contando parcerias com outros estúdios. O espaço histórico, que representou o sonho de transformar a indústria do cinema no Brasil, foi inaugurado em 1949, em São Bernardo do Campo (SP).

O mercado audiovisual brasileiro demorou 34 anos para conseguir realizar o sonho de transformar em filme um episódio traumático da crônica política e policial brasileira que se não fosse real seria completamente inverossímil.

No último dia 10, um sábado, 40 atores se acomodaram como passageiros em seus lugares em um Boeing 737 da Vasp instalado em cima de uma traquitana montada em um galpão gigante no Pavilhão Vera Cruz, o icônico estúdio em São Bernardo do Campo que foi a “casa” de Mazzaropi.

Filmagens do longa 'O Sequestro do Voo 375', baseado no caso da Vasp,ganha produção pelo Estúdio Escarlate  Foto: Marcelo Navarro

O avião foi alugado pela produção do longa O Sequestro do Voo 375 – uma parceria da Disney com a produtora Estúdio Escarlate – de um colecionador de Brasília, transportado de caminhão até São Paulo e desmontado com a promessa de que seria devolvido inteiro.

Uma parte dele, o corredor e a cabine, foi separada para a cena capital: o momento em que o piloto fez um tonneau, manobra na qual o piloto executa um giro 360° mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal ousadia.

O objetivo desse gesto radical foi desestabilizar o sequestrador, Raimundo Nonato Alves da Conceição, que portava um revólver calibre 32 com o qual tinha matado o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na nuca após ele tentar contato com o controle de tráfego aéreo. O elenco foi medicado com remédios contra enjoo e amarrado nas poltronas com cordas especiais usadas em atrações circenses. O diretor Marcus Baldini queria o máximo de realismo. A ideia era que tudo em volta desabasse ao redor diante do desespero dos passageiros. Corta.

O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo.

Marcus Baldini

Previsto para estrear nos cinemas só em outubro do ano que vem, o longa conseguiu superar seu maior desafio logístico. Nas últimas três décadas, ninguém conseguiu reunir recursos para contar de maneira convincente essa história.

E por um capricho do destino, o caso do homem que tentou matar José Sarney jogando um Boeing contra o Palácio do Planalto nos primeiros anos após a ditadura foi gravado no momento em que manifestantes de extrema direita são detidos com armas (e até uma ameaça de bomba) enquanto defendem intervenção militar.

”O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo. O Nonato é um cara que toma uma atitude extrema ao se sentir traído pelos governantes que o iludem dizendo que o Brasil vai melhorar. Por mais que seja um ato terrorista e condenável, ele espelha um sentimento que está no inconsciente coletivo das pessoas. O Brasil se renova em círculos de esperanças e as pessoas reincidentemente se sentem traídas”, disse ao Estadão o diretor Marcus Baldini.

O diretor Marcus Baldine, que reconstituiu os momentos de tensão no longa  Foto: Marcelo Navarro

Para quem não se lembra ou nem era nascido, o longa conta a história do sequestro que aconteceu no dia 29 de setembro de 1988, quando a aeronave da Vasp partiu de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Rio de Janeiro, com quatro escalas no caminho: Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.

No último trecho, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro e ordenou ao piloto para desviar a rota para Brasília, onde desejava jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto e, assim, matar o presidente José Sarney.

“O cinema tentou, mas não conseguiu fazer esse filme antes. Entrevistamos todos os personagens. Além de um filme de ação com temática política, é um filme de personagem na realidade pós-ditadura e Constituinte que chega no pós-pandemia e pós-Bolsonaro”, disse Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, sócio na Disney na produção.

Em cena, a sala de tráfego aéreo: agilidade foi fundamental no episódio. Foto: Marcelo Navarro

Ao custo de R$ 15 milhões, um valor modesto para o primeiro filme de sequestro de avião do cinema brasileiro, o longa teve apoio decisivo dos militares, que cederam locações, aeronaves e técnicos em dois governos diferentes – Michel Temer e Bolsonaro.

Baldini conta que o caso brasileiro foi uma referência quando houve os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. “A Força Aérea foi muito proativa (no caso Vasp). A rapidez com que o caça decolou de Anápolis e chegou para a escolta não aconteceu no 11 de Setembro (nos Estados Unidos), quando demoraram muito para a autorização. Aqui no Brasil o sistema de tráfego aéreo é integrado. Eles (os EUA) vieram pra cá estudar essa integração”, compara.

Elenco de ‘O Sequestro do Voo 375’ dentro da aeronave.  Foto: Marcelo Navarro

O ator Danilo Gragheia interpreta o piloto Murilo. Jorge Paz será o sequestrador Nonato. Entre os outros nomes do elenco estão Roberta Gualda, Cesar Mello, Juliana Alves, Arianne Botelho, Diego Montez e Wagner Santisteban.

O longa está sendo gravado no Pavilhão Vera Cruz. Fundada em uma antiga fazenda do industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz funcionou como palco de produções audiovisuais nacionais de 1949 a 1954. Lá, foram produzidos 22 filmes, mas o número de obras sobe para 40 contando parcerias com outros estúdios. O espaço histórico, que representou o sonho de transformar a indústria do cinema no Brasil, foi inaugurado em 1949, em São Bernardo do Campo (SP).

O mercado audiovisual brasileiro demorou 34 anos para conseguir realizar o sonho de transformar em filme um episódio traumático da crônica política e policial brasileira que se não fosse real seria completamente inverossímil.

No último dia 10, um sábado, 40 atores se acomodaram como passageiros em seus lugares em um Boeing 737 da Vasp instalado em cima de uma traquitana montada em um galpão gigante no Pavilhão Vera Cruz, o icônico estúdio em São Bernardo do Campo que foi a “casa” de Mazzaropi.

Filmagens do longa 'O Sequestro do Voo 375', baseado no caso da Vasp,ganha produção pelo Estúdio Escarlate  Foto: Marcelo Navarro

O avião foi alugado pela produção do longa O Sequestro do Voo 375 – uma parceria da Disney com a produtora Estúdio Escarlate – de um colecionador de Brasília, transportado de caminhão até São Paulo e desmontado com a promessa de que seria devolvido inteiro.

Uma parte dele, o corredor e a cabine, foi separada para a cena capital: o momento em que o piloto fez um tonneau, manobra na qual o piloto executa um giro 360° mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal ousadia.

O objetivo desse gesto radical foi desestabilizar o sequestrador, Raimundo Nonato Alves da Conceição, que portava um revólver calibre 32 com o qual tinha matado o copiloto, Salvador Evangelista, com um tiro na nuca após ele tentar contato com o controle de tráfego aéreo. O elenco foi medicado com remédios contra enjoo e amarrado nas poltronas com cordas especiais usadas em atrações circenses. O diretor Marcus Baldini queria o máximo de realismo. A ideia era que tudo em volta desabasse ao redor diante do desespero dos passageiros. Corta.

O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo.

Marcus Baldini

Previsto para estrear nos cinemas só em outubro do ano que vem, o longa conseguiu superar seu maior desafio logístico. Nas últimas três décadas, ninguém conseguiu reunir recursos para contar de maneira convincente essa história.

E por um capricho do destino, o caso do homem que tentou matar José Sarney jogando um Boeing contra o Palácio do Planalto nos primeiros anos após a ditadura foi gravado no momento em que manifestantes de extrema direita são detidos com armas (e até uma ameaça de bomba) enquanto defendem intervenção militar.

”O filme dialoga com esse mundo atual. Há um sentimento sempre presente de traição do povo. O Nonato é um cara que toma uma atitude extrema ao se sentir traído pelos governantes que o iludem dizendo que o Brasil vai melhorar. Por mais que seja um ato terrorista e condenável, ele espelha um sentimento que está no inconsciente coletivo das pessoas. O Brasil se renova em círculos de esperanças e as pessoas reincidentemente se sentem traídas”, disse ao Estadão o diretor Marcus Baldini.

O diretor Marcus Baldine, que reconstituiu os momentos de tensão no longa  Foto: Marcelo Navarro

Para quem não se lembra ou nem era nascido, o longa conta a história do sequestro que aconteceu no dia 29 de setembro de 1988, quando a aeronave da Vasp partiu de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Rio de Janeiro, com quatro escalas no caminho: Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.

No último trecho, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro e ordenou ao piloto para desviar a rota para Brasília, onde desejava jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto e, assim, matar o presidente José Sarney.

“O cinema tentou, mas não conseguiu fazer esse filme antes. Entrevistamos todos os personagens. Além de um filme de ação com temática política, é um filme de personagem na realidade pós-ditadura e Constituinte que chega no pós-pandemia e pós-Bolsonaro”, disse Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, sócio na Disney na produção.

Em cena, a sala de tráfego aéreo: agilidade foi fundamental no episódio. Foto: Marcelo Navarro

Ao custo de R$ 15 milhões, um valor modesto para o primeiro filme de sequestro de avião do cinema brasileiro, o longa teve apoio decisivo dos militares, que cederam locações, aeronaves e técnicos em dois governos diferentes – Michel Temer e Bolsonaro.

Baldini conta que o caso brasileiro foi uma referência quando houve os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. “A Força Aérea foi muito proativa (no caso Vasp). A rapidez com que o caça decolou de Anápolis e chegou para a escolta não aconteceu no 11 de Setembro (nos Estados Unidos), quando demoraram muito para a autorização. Aqui no Brasil o sistema de tráfego aéreo é integrado. Eles (os EUA) vieram pra cá estudar essa integração”, compara.

Elenco de ‘O Sequestro do Voo 375’ dentro da aeronave.  Foto: Marcelo Navarro

O ator Danilo Gragheia interpreta o piloto Murilo. Jorge Paz será o sequestrador Nonato. Entre os outros nomes do elenco estão Roberta Gualda, Cesar Mello, Juliana Alves, Arianne Botelho, Diego Montez e Wagner Santisteban.

O longa está sendo gravado no Pavilhão Vera Cruz. Fundada em uma antiga fazenda do industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz funcionou como palco de produções audiovisuais nacionais de 1949 a 1954. Lá, foram produzidos 22 filmes, mas o número de obras sobe para 40 contando parcerias com outros estúdios. O espaço histórico, que representou o sonho de transformar a indústria do cinema no Brasil, foi inaugurado em 1949, em São Bernardo do Campo (SP).

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