Opinião|‘Sorria 2’, mais ousado, saboroso e criativo, dá medo de verdade e não te prepara para os sustos


Novo filme, em cartaz nos cinemas, é melhor do que o anterior e se vale do horror para falar sobre vício, depressão e um mundo de fantasias

Por Matheus Mans
Atualização:

Skye Riley (Naomi Scott) é uma estrela da música que todo mundo conhece. É celebridade de verdade – dá para comparar, em algumas linhas tortas, como uma mistura de Taylor Swift com Demi Lovato. De um lado, enche estádios, mas, do outro, a vida pessoal está em cacos, principalmente por conta do envolvimento com drogas e por um período que passou em uma clínica de reabilitação. Até que o pesadelo na vida de Skye realmente começa.

Em Sorria 2, que estreou nos cinemas na quinta-feira, 17, Skye é a vítima da vez. Dois anos depois de nos apresentar o conceito no primeiro longa-metragem, o diretor Parker Finn volta ao cargo para mostrar como aquela epidemia de pessoas enlouquecendo pode ir além.

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Após visitar um traficante e vê-lo se suicidar na sua frente, a estrela da música começa a ter estranhas visões. Pessoas aparecem do nada em seu apartamento em Nova York, com aquele sorriso macabro estampado no rosto. Skye, que está se recuperando de um período difícil de luto e de vício em drogas, não consegue discernir o que é fato e o que é coisa da sua cabeça. Fantasia e realidade se misturam, enquanto a cantora entra em parafuso.

'Sorria 2' fala sobre as obrigações emocionais de uma grande estrela, entre ficção e realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Repetição, mas com um brilho a mais

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Sorria 2, assim, repete a mesma estrutura de história do longa-metragem anterior: uma pessoa que passa por um evento traumático e que começa a enfrentar essas estranhas aparições. Enquanto no outro temos uma psiquiatra que vê um paciente cometer suicídio, neste as coisas são mais borradas. Nós, como espectadores, tampouco conseguimos ter a compreensão de tudo o que está acontecendo. Parker Finn parece se divertir com isso.

Afinal, na vida de uma grande celebridade, o que é realidade e o que é fantasia? Como discernir aquilo que realmente acontece da imaginação em um mundo em que tudo é fabricado e pensado sob medida? Quando entram as drogas na equação, a coisa fica ainda mais complicada. Verdade e mentira se fundem, enquanto essa grande estrela não tem mais capacidade de compreender mais as diferentes camadas que compõem o seu mundo.

A partir de uma mesma premissa, assim, o diretor se esbalda com Sorria 2. Enquanto o primeiro capítulo é mais genérico, se valendo de uma metáfora pobre sobre depressão, que já tinha sido muito melhor trabalhada em filmes como Babadook, este novo filme traz mais densidade. As discussões psicológicas estão todas ali, principalmente na forma em que o roteiro, assinado pelo próprio Finn, trata da ausência de recuperação real da protagonista.

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'Sorria 2' não deixa claro, nunca, o que é realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Mas vai além de metáforas e parte, enfim, para a discussão. A criação de um mundo irreal é o ponto de partida para uma discussão ainda mais densa e preocupada em construir camadas. Ao enganar o espectador diversas vezes, Finn também assume o risco de perder a pessoa que está do outro lado da tela – deixando o filme mais ousado, saboroso, criativo. Nós, assim como Skye, não entendemos o que está acontecendo e compramos seu drama.

O melhor de tudo, porém, é como o diretor sabe dar sustos. Ele foge da escola de James Wan de jumpscares, que já está pra lá de ultrapassada. É aquele estilo de filmagem que engana o espectador, como quando o protagonista abre a porta da geladeira, fecha, nada aparece e aí, quando abre e fecha novamente a porta, a assombração enfim dá as caras. Dá tempo para o espectador desviar o olhar, se esconder. É algo que já perdeu a graça.

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Com Finn, as coisas são diferentes: o susto, muito ancorado em bons trabalhos de edição e edição de som, surge do nada. Em duas ocasiões, confesso, pulei da poltrona do cinema, sentindo arrepios. Parker Finn faz um terror com jumpscares, sim, mas sem avisos, enquanto sua narrativa está preocupada em trazer outras discussões. Pode anotar: assim como Wan mexeu com as estruturas do terror com Invocação do Mal, em 2013, Finn também vai gerar um novo movimento no gênero, mais antenado na edição das cenas.

Sorria 2, assim, é um blockbuster de estúdio que consegue se desgarrar do primeiro capítulo e, mesmo repetindo histórias e acontecimentos, mantém intacto seu objetivo: a vontade assumida de fazer com que as pessoas sintam medo – seja de assombrações ou da nossa própria mente. Saí do filme preocupado se iria conseguir dormir à noite e isso, enfim, é prova mais do que suficiente de que temos, aqui, um ótimo filme de terror.

Skye Riley (Naomi Scott) é uma estrela da música que todo mundo conhece. É celebridade de verdade – dá para comparar, em algumas linhas tortas, como uma mistura de Taylor Swift com Demi Lovato. De um lado, enche estádios, mas, do outro, a vida pessoal está em cacos, principalmente por conta do envolvimento com drogas e por um período que passou em uma clínica de reabilitação. Até que o pesadelo na vida de Skye realmente começa.

Em Sorria 2, que estreou nos cinemas na quinta-feira, 17, Skye é a vítima da vez. Dois anos depois de nos apresentar o conceito no primeiro longa-metragem, o diretor Parker Finn volta ao cargo para mostrar como aquela epidemia de pessoas enlouquecendo pode ir além.

Após visitar um traficante e vê-lo se suicidar na sua frente, a estrela da música começa a ter estranhas visões. Pessoas aparecem do nada em seu apartamento em Nova York, com aquele sorriso macabro estampado no rosto. Skye, que está se recuperando de um período difícil de luto e de vício em drogas, não consegue discernir o que é fato e o que é coisa da sua cabeça. Fantasia e realidade se misturam, enquanto a cantora entra em parafuso.

'Sorria 2' fala sobre as obrigações emocionais de uma grande estrela, entre ficção e realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Repetição, mas com um brilho a mais

Sorria 2, assim, repete a mesma estrutura de história do longa-metragem anterior: uma pessoa que passa por um evento traumático e que começa a enfrentar essas estranhas aparições. Enquanto no outro temos uma psiquiatra que vê um paciente cometer suicídio, neste as coisas são mais borradas. Nós, como espectadores, tampouco conseguimos ter a compreensão de tudo o que está acontecendo. Parker Finn parece se divertir com isso.

Afinal, na vida de uma grande celebridade, o que é realidade e o que é fantasia? Como discernir aquilo que realmente acontece da imaginação em um mundo em que tudo é fabricado e pensado sob medida? Quando entram as drogas na equação, a coisa fica ainda mais complicada. Verdade e mentira se fundem, enquanto essa grande estrela não tem mais capacidade de compreender mais as diferentes camadas que compõem o seu mundo.

A partir de uma mesma premissa, assim, o diretor se esbalda com Sorria 2. Enquanto o primeiro capítulo é mais genérico, se valendo de uma metáfora pobre sobre depressão, que já tinha sido muito melhor trabalhada em filmes como Babadook, este novo filme traz mais densidade. As discussões psicológicas estão todas ali, principalmente na forma em que o roteiro, assinado pelo próprio Finn, trata da ausência de recuperação real da protagonista.

'Sorria 2' não deixa claro, nunca, o que é realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Mas vai além de metáforas e parte, enfim, para a discussão. A criação de um mundo irreal é o ponto de partida para uma discussão ainda mais densa e preocupada em construir camadas. Ao enganar o espectador diversas vezes, Finn também assume o risco de perder a pessoa que está do outro lado da tela – deixando o filme mais ousado, saboroso, criativo. Nós, assim como Skye, não entendemos o que está acontecendo e compramos seu drama.

O melhor de tudo, porém, é como o diretor sabe dar sustos. Ele foge da escola de James Wan de jumpscares, que já está pra lá de ultrapassada. É aquele estilo de filmagem que engana o espectador, como quando o protagonista abre a porta da geladeira, fecha, nada aparece e aí, quando abre e fecha novamente a porta, a assombração enfim dá as caras. Dá tempo para o espectador desviar o olhar, se esconder. É algo que já perdeu a graça.

Com Finn, as coisas são diferentes: o susto, muito ancorado em bons trabalhos de edição e edição de som, surge do nada. Em duas ocasiões, confesso, pulei da poltrona do cinema, sentindo arrepios. Parker Finn faz um terror com jumpscares, sim, mas sem avisos, enquanto sua narrativa está preocupada em trazer outras discussões. Pode anotar: assim como Wan mexeu com as estruturas do terror com Invocação do Mal, em 2013, Finn também vai gerar um novo movimento no gênero, mais antenado na edição das cenas.

Sorria 2, assim, é um blockbuster de estúdio que consegue se desgarrar do primeiro capítulo e, mesmo repetindo histórias e acontecimentos, mantém intacto seu objetivo: a vontade assumida de fazer com que as pessoas sintam medo – seja de assombrações ou da nossa própria mente. Saí do filme preocupado se iria conseguir dormir à noite e isso, enfim, é prova mais do que suficiente de que temos, aqui, um ótimo filme de terror.

Skye Riley (Naomi Scott) é uma estrela da música que todo mundo conhece. É celebridade de verdade – dá para comparar, em algumas linhas tortas, como uma mistura de Taylor Swift com Demi Lovato. De um lado, enche estádios, mas, do outro, a vida pessoal está em cacos, principalmente por conta do envolvimento com drogas e por um período que passou em uma clínica de reabilitação. Até que o pesadelo na vida de Skye realmente começa.

Em Sorria 2, que estreou nos cinemas na quinta-feira, 17, Skye é a vítima da vez. Dois anos depois de nos apresentar o conceito no primeiro longa-metragem, o diretor Parker Finn volta ao cargo para mostrar como aquela epidemia de pessoas enlouquecendo pode ir além.

Após visitar um traficante e vê-lo se suicidar na sua frente, a estrela da música começa a ter estranhas visões. Pessoas aparecem do nada em seu apartamento em Nova York, com aquele sorriso macabro estampado no rosto. Skye, que está se recuperando de um período difícil de luto e de vício em drogas, não consegue discernir o que é fato e o que é coisa da sua cabeça. Fantasia e realidade se misturam, enquanto a cantora entra em parafuso.

'Sorria 2' fala sobre as obrigações emocionais de uma grande estrela, entre ficção e realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Repetição, mas com um brilho a mais

Sorria 2, assim, repete a mesma estrutura de história do longa-metragem anterior: uma pessoa que passa por um evento traumático e que começa a enfrentar essas estranhas aparições. Enquanto no outro temos uma psiquiatra que vê um paciente cometer suicídio, neste as coisas são mais borradas. Nós, como espectadores, tampouco conseguimos ter a compreensão de tudo o que está acontecendo. Parker Finn parece se divertir com isso.

Afinal, na vida de uma grande celebridade, o que é realidade e o que é fantasia? Como discernir aquilo que realmente acontece da imaginação em um mundo em que tudo é fabricado e pensado sob medida? Quando entram as drogas na equação, a coisa fica ainda mais complicada. Verdade e mentira se fundem, enquanto essa grande estrela não tem mais capacidade de compreender mais as diferentes camadas que compõem o seu mundo.

A partir de uma mesma premissa, assim, o diretor se esbalda com Sorria 2. Enquanto o primeiro capítulo é mais genérico, se valendo de uma metáfora pobre sobre depressão, que já tinha sido muito melhor trabalhada em filmes como Babadook, este novo filme traz mais densidade. As discussões psicológicas estão todas ali, principalmente na forma em que o roteiro, assinado pelo próprio Finn, trata da ausência de recuperação real da protagonista.

'Sorria 2' não deixa claro, nunca, o que é realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Mas vai além de metáforas e parte, enfim, para a discussão. A criação de um mundo irreal é o ponto de partida para uma discussão ainda mais densa e preocupada em construir camadas. Ao enganar o espectador diversas vezes, Finn também assume o risco de perder a pessoa que está do outro lado da tela – deixando o filme mais ousado, saboroso, criativo. Nós, assim como Skye, não entendemos o que está acontecendo e compramos seu drama.

O melhor de tudo, porém, é como o diretor sabe dar sustos. Ele foge da escola de James Wan de jumpscares, que já está pra lá de ultrapassada. É aquele estilo de filmagem que engana o espectador, como quando o protagonista abre a porta da geladeira, fecha, nada aparece e aí, quando abre e fecha novamente a porta, a assombração enfim dá as caras. Dá tempo para o espectador desviar o olhar, se esconder. É algo que já perdeu a graça.

Com Finn, as coisas são diferentes: o susto, muito ancorado em bons trabalhos de edição e edição de som, surge do nada. Em duas ocasiões, confesso, pulei da poltrona do cinema, sentindo arrepios. Parker Finn faz um terror com jumpscares, sim, mas sem avisos, enquanto sua narrativa está preocupada em trazer outras discussões. Pode anotar: assim como Wan mexeu com as estruturas do terror com Invocação do Mal, em 2013, Finn também vai gerar um novo movimento no gênero, mais antenado na edição das cenas.

Sorria 2, assim, é um blockbuster de estúdio que consegue se desgarrar do primeiro capítulo e, mesmo repetindo histórias e acontecimentos, mantém intacto seu objetivo: a vontade assumida de fazer com que as pessoas sintam medo – seja de assombrações ou da nossa própria mente. Saí do filme preocupado se iria conseguir dormir à noite e isso, enfim, é prova mais do que suficiente de que temos, aqui, um ótimo filme de terror.

Skye Riley (Naomi Scott) é uma estrela da música que todo mundo conhece. É celebridade de verdade – dá para comparar, em algumas linhas tortas, como uma mistura de Taylor Swift com Demi Lovato. De um lado, enche estádios, mas, do outro, a vida pessoal está em cacos, principalmente por conta do envolvimento com drogas e por um período que passou em uma clínica de reabilitação. Até que o pesadelo na vida de Skye realmente começa.

Em Sorria 2, que estreou nos cinemas na quinta-feira, 17, Skye é a vítima da vez. Dois anos depois de nos apresentar o conceito no primeiro longa-metragem, o diretor Parker Finn volta ao cargo para mostrar como aquela epidemia de pessoas enlouquecendo pode ir além.

Após visitar um traficante e vê-lo se suicidar na sua frente, a estrela da música começa a ter estranhas visões. Pessoas aparecem do nada em seu apartamento em Nova York, com aquele sorriso macabro estampado no rosto. Skye, que está se recuperando de um período difícil de luto e de vício em drogas, não consegue discernir o que é fato e o que é coisa da sua cabeça. Fantasia e realidade se misturam, enquanto a cantora entra em parafuso.

'Sorria 2' fala sobre as obrigações emocionais de uma grande estrela, entre ficção e realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Repetição, mas com um brilho a mais

Sorria 2, assim, repete a mesma estrutura de história do longa-metragem anterior: uma pessoa que passa por um evento traumático e que começa a enfrentar essas estranhas aparições. Enquanto no outro temos uma psiquiatra que vê um paciente cometer suicídio, neste as coisas são mais borradas. Nós, como espectadores, tampouco conseguimos ter a compreensão de tudo o que está acontecendo. Parker Finn parece se divertir com isso.

Afinal, na vida de uma grande celebridade, o que é realidade e o que é fantasia? Como discernir aquilo que realmente acontece da imaginação em um mundo em que tudo é fabricado e pensado sob medida? Quando entram as drogas na equação, a coisa fica ainda mais complicada. Verdade e mentira se fundem, enquanto essa grande estrela não tem mais capacidade de compreender mais as diferentes camadas que compõem o seu mundo.

A partir de uma mesma premissa, assim, o diretor se esbalda com Sorria 2. Enquanto o primeiro capítulo é mais genérico, se valendo de uma metáfora pobre sobre depressão, que já tinha sido muito melhor trabalhada em filmes como Babadook, este novo filme traz mais densidade. As discussões psicológicas estão todas ali, principalmente na forma em que o roteiro, assinado pelo próprio Finn, trata da ausência de recuperação real da protagonista.

'Sorria 2' não deixa claro, nunca, o que é realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Mas vai além de metáforas e parte, enfim, para a discussão. A criação de um mundo irreal é o ponto de partida para uma discussão ainda mais densa e preocupada em construir camadas. Ao enganar o espectador diversas vezes, Finn também assume o risco de perder a pessoa que está do outro lado da tela – deixando o filme mais ousado, saboroso, criativo. Nós, assim como Skye, não entendemos o que está acontecendo e compramos seu drama.

O melhor de tudo, porém, é como o diretor sabe dar sustos. Ele foge da escola de James Wan de jumpscares, que já está pra lá de ultrapassada. É aquele estilo de filmagem que engana o espectador, como quando o protagonista abre a porta da geladeira, fecha, nada aparece e aí, quando abre e fecha novamente a porta, a assombração enfim dá as caras. Dá tempo para o espectador desviar o olhar, se esconder. É algo que já perdeu a graça.

Com Finn, as coisas são diferentes: o susto, muito ancorado em bons trabalhos de edição e edição de som, surge do nada. Em duas ocasiões, confesso, pulei da poltrona do cinema, sentindo arrepios. Parker Finn faz um terror com jumpscares, sim, mas sem avisos, enquanto sua narrativa está preocupada em trazer outras discussões. Pode anotar: assim como Wan mexeu com as estruturas do terror com Invocação do Mal, em 2013, Finn também vai gerar um novo movimento no gênero, mais antenado na edição das cenas.

Sorria 2, assim, é um blockbuster de estúdio que consegue se desgarrar do primeiro capítulo e, mesmo repetindo histórias e acontecimentos, mantém intacto seu objetivo: a vontade assumida de fazer com que as pessoas sintam medo – seja de assombrações ou da nossa própria mente. Saí do filme preocupado se iria conseguir dormir à noite e isso, enfim, é prova mais do que suficiente de que temos, aqui, um ótimo filme de terror.

Skye Riley (Naomi Scott) é uma estrela da música que todo mundo conhece. É celebridade de verdade – dá para comparar, em algumas linhas tortas, como uma mistura de Taylor Swift com Demi Lovato. De um lado, enche estádios, mas, do outro, a vida pessoal está em cacos, principalmente por conta do envolvimento com drogas e por um período que passou em uma clínica de reabilitação. Até que o pesadelo na vida de Skye realmente começa.

Em Sorria 2, que estreou nos cinemas na quinta-feira, 17, Skye é a vítima da vez. Dois anos depois de nos apresentar o conceito no primeiro longa-metragem, o diretor Parker Finn volta ao cargo para mostrar como aquela epidemia de pessoas enlouquecendo pode ir além.

Após visitar um traficante e vê-lo se suicidar na sua frente, a estrela da música começa a ter estranhas visões. Pessoas aparecem do nada em seu apartamento em Nova York, com aquele sorriso macabro estampado no rosto. Skye, que está se recuperando de um período difícil de luto e de vício em drogas, não consegue discernir o que é fato e o que é coisa da sua cabeça. Fantasia e realidade se misturam, enquanto a cantora entra em parafuso.

'Sorria 2' fala sobre as obrigações emocionais de uma grande estrela, entre ficção e realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Repetição, mas com um brilho a mais

Sorria 2, assim, repete a mesma estrutura de história do longa-metragem anterior: uma pessoa que passa por um evento traumático e que começa a enfrentar essas estranhas aparições. Enquanto no outro temos uma psiquiatra que vê um paciente cometer suicídio, neste as coisas são mais borradas. Nós, como espectadores, tampouco conseguimos ter a compreensão de tudo o que está acontecendo. Parker Finn parece se divertir com isso.

Afinal, na vida de uma grande celebridade, o que é realidade e o que é fantasia? Como discernir aquilo que realmente acontece da imaginação em um mundo em que tudo é fabricado e pensado sob medida? Quando entram as drogas na equação, a coisa fica ainda mais complicada. Verdade e mentira se fundem, enquanto essa grande estrela não tem mais capacidade de compreender mais as diferentes camadas que compõem o seu mundo.

A partir de uma mesma premissa, assim, o diretor se esbalda com Sorria 2. Enquanto o primeiro capítulo é mais genérico, se valendo de uma metáfora pobre sobre depressão, que já tinha sido muito melhor trabalhada em filmes como Babadook, este novo filme traz mais densidade. As discussões psicológicas estão todas ali, principalmente na forma em que o roteiro, assinado pelo próprio Finn, trata da ausência de recuperação real da protagonista.

'Sorria 2' não deixa claro, nunca, o que é realidade Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Mas vai além de metáforas e parte, enfim, para a discussão. A criação de um mundo irreal é o ponto de partida para uma discussão ainda mais densa e preocupada em construir camadas. Ao enganar o espectador diversas vezes, Finn também assume o risco de perder a pessoa que está do outro lado da tela – deixando o filme mais ousado, saboroso, criativo. Nós, assim como Skye, não entendemos o que está acontecendo e compramos seu drama.

O melhor de tudo, porém, é como o diretor sabe dar sustos. Ele foge da escola de James Wan de jumpscares, que já está pra lá de ultrapassada. É aquele estilo de filmagem que engana o espectador, como quando o protagonista abre a porta da geladeira, fecha, nada aparece e aí, quando abre e fecha novamente a porta, a assombração enfim dá as caras. Dá tempo para o espectador desviar o olhar, se esconder. É algo que já perdeu a graça.

Com Finn, as coisas são diferentes: o susto, muito ancorado em bons trabalhos de edição e edição de som, surge do nada. Em duas ocasiões, confesso, pulei da poltrona do cinema, sentindo arrepios. Parker Finn faz um terror com jumpscares, sim, mas sem avisos, enquanto sua narrativa está preocupada em trazer outras discussões. Pode anotar: assim como Wan mexeu com as estruturas do terror com Invocação do Mal, em 2013, Finn também vai gerar um novo movimento no gênero, mais antenado na edição das cenas.

Sorria 2, assim, é um blockbuster de estúdio que consegue se desgarrar do primeiro capítulo e, mesmo repetindo histórias e acontecimentos, mantém intacto seu objetivo: a vontade assumida de fazer com que as pessoas sintam medo – seja de assombrações ou da nossa própria mente. Saí do filme preocupado se iria conseguir dormir à noite e isso, enfim, é prova mais do que suficiente de que temos, aqui, um ótimo filme de terror.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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