Tragédia grega na Amazônia: a nova provocação do suíço Milo Rau


Em ‘Antígona na Amazônia’, diretor recria massacre do MST e foi filmada em Eldorado dos Carajás, no Pará

Por Marcelo Silva de Sousa

O renomado dramaturgo suíço Milo Rau está prestes a revelar sua mais recente provocação: Antígona na Amazônia, uma versão da tragédia grega que denuncia a destruição da maior floresta tropical do planeta e recria o massacre do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A obra estreia dia 13 de maio no Teatro Holandês de Gante, na Bélgica, que Rau dirige desde 2018 e parte dela foi filmada esta semana em Eldorado dos Carajás, um pequeno município do Pará, onde o diretor trabalhou por quase um mês na recriação do massacre ocorrido há 27 anos.

Ao longo de sua carreira, Rau, de 46 anos, escolheu o polêmico e o visceral na hora de contar suas histórias, e essa não foi exceção.

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Ativistas do MST e atores do Teatro Nacional de Gent, na Bélgica, encenam o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido 27 anos atrás. Dirigido por Milo Rau, a encenação é parte de 'Antígona na Amazônia' Foto: Nelson Almeida/AFP

A encenação foi gravada no mesmo trecho da rodovia brasileira onde 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos pela polícia ao bloquear a via em protesto por uma reforma agrária.

Os sobreviventes do massacre constam entre os atores, no lugar dos reprimidos, que, como naquele 17 de abril de 1996, tentavam se proteger dos tiros disparados pelas forças da ordem.

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Há militantes “em volta chorando, atores chorando” pelas ideias nas quais “acreditam”, disse Rau à AFP, entusiasmado com a “performance” que fará parte de “Antígona na Amazônia”.

“No centro” da obra “há uma história sombria. É um momento de passar pelo trauma para relembrá-lo, mas também de seguir em frente”, afirma.

Este diretor tem sido alvo de censuras e ameaças pelo estilo transgressor de seu teatro, que ele considera uma ferramenta de transformação da realidade.

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Cena de 'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Em Moscou, foi declarado persona ‘non grata’ depois de representar a repressão contra o grupo “Pussy Riot”.

No Brasil, as apresentações de Five Easy Pieces foram canceladas em 2018, na qual sete crianças contavam a história do maior pedófilo da Bélgica.

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Esse foi o gatilho para seu atual desafio no país sul-americano: usar uma tragédia grega para denunciar a destruição da maior floresta tropical do planeta - cujo desmatamento disparou 75% em relação à última década sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro - e defender os movimentos sociais que a protegem.

Antígona é uma luta do povo contra a ditadura, dos pequenos e diferentes, como os indígenas e os camponeses. O MST é contra o Estado e os latifundiários, papel personificado por Creón em Antígona”, explica o diretor, que pouco antes caminhava sob um sol escaldante pela rodovia amazônica, dando orientações para sua equipe.

Para gravar a encenação, centenas de militantes e voluntários rurais bloquearam a estrada onde o transporte de minérios e gado, entre outros, parece ser incessante.

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'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Última fronteira

O bloqueio da rodovia faz parte da “ação política”, destaca o suíço, justamente em um local “onde há caminhões de carga indo e vindo o tempo todo” para “explorar” a floresta, que considera a “última fronteira da sociedade moderna”.

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Agora, abrigado à sombra de uma árvore no acampamento montado pelo MST para relembrar seus “mártires”, ele se parece com um deles, vestindo a camiseta preta e o boné vermelho do movimento.

Eles são “um exemplo de sociedade pós-capitalista. É muito interessante, um movimento social para se aprender”, opina o diretor, conhecido por sua posição política de esquerda.

Milo Rau, ao centro, usando boné do MST, em foto de 17 de abril de 2023.  Foto: Nelson Almeida/AFP

Desde sua fundação, no início dos anos 1980, o MST luta pela conquista de terras “improdutivas” na posse do Estado ou de latifundiários, por meio de métodos controversos como a invasão de terras, e seus militantes lideram campanhas contra as monoculturas e pela conservação das florestas.

Janela de oportunidades

Em 2018, Rau assumiu uma posição na campanha eleitoral brasileira: assinou um manifesto contra o então candidato Bolsonaro, alertando para o risco de uma “catástrofe” para o Brasil.

Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cargo em seu quarto mês, o dramaturgo demonstra um otimismo moderado.

“Depois de anos difíceis, muitas coisas estão mudando. O Brasil tem seu primeiro Ministério dos Povos Indígenas... vai continuar complicado, mas uma janela de oportunidade se abriu”, conclui.

O renomado dramaturgo suíço Milo Rau está prestes a revelar sua mais recente provocação: Antígona na Amazônia, uma versão da tragédia grega que denuncia a destruição da maior floresta tropical do planeta e recria o massacre do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A obra estreia dia 13 de maio no Teatro Holandês de Gante, na Bélgica, que Rau dirige desde 2018 e parte dela foi filmada esta semana em Eldorado dos Carajás, um pequeno município do Pará, onde o diretor trabalhou por quase um mês na recriação do massacre ocorrido há 27 anos.

Ao longo de sua carreira, Rau, de 46 anos, escolheu o polêmico e o visceral na hora de contar suas histórias, e essa não foi exceção.

Ativistas do MST e atores do Teatro Nacional de Gent, na Bélgica, encenam o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido 27 anos atrás. Dirigido por Milo Rau, a encenação é parte de 'Antígona na Amazônia' Foto: Nelson Almeida/AFP

A encenação foi gravada no mesmo trecho da rodovia brasileira onde 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos pela polícia ao bloquear a via em protesto por uma reforma agrária.

Os sobreviventes do massacre constam entre os atores, no lugar dos reprimidos, que, como naquele 17 de abril de 1996, tentavam se proteger dos tiros disparados pelas forças da ordem.

Há militantes “em volta chorando, atores chorando” pelas ideias nas quais “acreditam”, disse Rau à AFP, entusiasmado com a “performance” que fará parte de “Antígona na Amazônia”.

“No centro” da obra “há uma história sombria. É um momento de passar pelo trauma para relembrá-lo, mas também de seguir em frente”, afirma.

Este diretor tem sido alvo de censuras e ameaças pelo estilo transgressor de seu teatro, que ele considera uma ferramenta de transformação da realidade.

Cena de 'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Em Moscou, foi declarado persona ‘non grata’ depois de representar a repressão contra o grupo “Pussy Riot”.

No Brasil, as apresentações de Five Easy Pieces foram canceladas em 2018, na qual sete crianças contavam a história do maior pedófilo da Bélgica.

Esse foi o gatilho para seu atual desafio no país sul-americano: usar uma tragédia grega para denunciar a destruição da maior floresta tropical do planeta - cujo desmatamento disparou 75% em relação à última década sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro - e defender os movimentos sociais que a protegem.

Antígona é uma luta do povo contra a ditadura, dos pequenos e diferentes, como os indígenas e os camponeses. O MST é contra o Estado e os latifundiários, papel personificado por Creón em Antígona”, explica o diretor, que pouco antes caminhava sob um sol escaldante pela rodovia amazônica, dando orientações para sua equipe.

Para gravar a encenação, centenas de militantes e voluntários rurais bloquearam a estrada onde o transporte de minérios e gado, entre outros, parece ser incessante.

'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Última fronteira

O bloqueio da rodovia faz parte da “ação política”, destaca o suíço, justamente em um local “onde há caminhões de carga indo e vindo o tempo todo” para “explorar” a floresta, que considera a “última fronteira da sociedade moderna”.

Agora, abrigado à sombra de uma árvore no acampamento montado pelo MST para relembrar seus “mártires”, ele se parece com um deles, vestindo a camiseta preta e o boné vermelho do movimento.

Eles são “um exemplo de sociedade pós-capitalista. É muito interessante, um movimento social para se aprender”, opina o diretor, conhecido por sua posição política de esquerda.

Milo Rau, ao centro, usando boné do MST, em foto de 17 de abril de 2023.  Foto: Nelson Almeida/AFP

Desde sua fundação, no início dos anos 1980, o MST luta pela conquista de terras “improdutivas” na posse do Estado ou de latifundiários, por meio de métodos controversos como a invasão de terras, e seus militantes lideram campanhas contra as monoculturas e pela conservação das florestas.

Janela de oportunidades

Em 2018, Rau assumiu uma posição na campanha eleitoral brasileira: assinou um manifesto contra o então candidato Bolsonaro, alertando para o risco de uma “catástrofe” para o Brasil.

Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cargo em seu quarto mês, o dramaturgo demonstra um otimismo moderado.

“Depois de anos difíceis, muitas coisas estão mudando. O Brasil tem seu primeiro Ministério dos Povos Indígenas... vai continuar complicado, mas uma janela de oportunidade se abriu”, conclui.

O renomado dramaturgo suíço Milo Rau está prestes a revelar sua mais recente provocação: Antígona na Amazônia, uma versão da tragédia grega que denuncia a destruição da maior floresta tropical do planeta e recria o massacre do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A obra estreia dia 13 de maio no Teatro Holandês de Gante, na Bélgica, que Rau dirige desde 2018 e parte dela foi filmada esta semana em Eldorado dos Carajás, um pequeno município do Pará, onde o diretor trabalhou por quase um mês na recriação do massacre ocorrido há 27 anos.

Ao longo de sua carreira, Rau, de 46 anos, escolheu o polêmico e o visceral na hora de contar suas histórias, e essa não foi exceção.

Ativistas do MST e atores do Teatro Nacional de Gent, na Bélgica, encenam o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido 27 anos atrás. Dirigido por Milo Rau, a encenação é parte de 'Antígona na Amazônia' Foto: Nelson Almeida/AFP

A encenação foi gravada no mesmo trecho da rodovia brasileira onde 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos pela polícia ao bloquear a via em protesto por uma reforma agrária.

Os sobreviventes do massacre constam entre os atores, no lugar dos reprimidos, que, como naquele 17 de abril de 1996, tentavam se proteger dos tiros disparados pelas forças da ordem.

Há militantes “em volta chorando, atores chorando” pelas ideias nas quais “acreditam”, disse Rau à AFP, entusiasmado com a “performance” que fará parte de “Antígona na Amazônia”.

“No centro” da obra “há uma história sombria. É um momento de passar pelo trauma para relembrá-lo, mas também de seguir em frente”, afirma.

Este diretor tem sido alvo de censuras e ameaças pelo estilo transgressor de seu teatro, que ele considera uma ferramenta de transformação da realidade.

Cena de 'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Em Moscou, foi declarado persona ‘non grata’ depois de representar a repressão contra o grupo “Pussy Riot”.

No Brasil, as apresentações de Five Easy Pieces foram canceladas em 2018, na qual sete crianças contavam a história do maior pedófilo da Bélgica.

Esse foi o gatilho para seu atual desafio no país sul-americano: usar uma tragédia grega para denunciar a destruição da maior floresta tropical do planeta - cujo desmatamento disparou 75% em relação à última década sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro - e defender os movimentos sociais que a protegem.

Antígona é uma luta do povo contra a ditadura, dos pequenos e diferentes, como os indígenas e os camponeses. O MST é contra o Estado e os latifundiários, papel personificado por Creón em Antígona”, explica o diretor, que pouco antes caminhava sob um sol escaldante pela rodovia amazônica, dando orientações para sua equipe.

Para gravar a encenação, centenas de militantes e voluntários rurais bloquearam a estrada onde o transporte de minérios e gado, entre outros, parece ser incessante.

'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Última fronteira

O bloqueio da rodovia faz parte da “ação política”, destaca o suíço, justamente em um local “onde há caminhões de carga indo e vindo o tempo todo” para “explorar” a floresta, que considera a “última fronteira da sociedade moderna”.

Agora, abrigado à sombra de uma árvore no acampamento montado pelo MST para relembrar seus “mártires”, ele se parece com um deles, vestindo a camiseta preta e o boné vermelho do movimento.

Eles são “um exemplo de sociedade pós-capitalista. É muito interessante, um movimento social para se aprender”, opina o diretor, conhecido por sua posição política de esquerda.

Milo Rau, ao centro, usando boné do MST, em foto de 17 de abril de 2023.  Foto: Nelson Almeida/AFP

Desde sua fundação, no início dos anos 1980, o MST luta pela conquista de terras “improdutivas” na posse do Estado ou de latifundiários, por meio de métodos controversos como a invasão de terras, e seus militantes lideram campanhas contra as monoculturas e pela conservação das florestas.

Janela de oportunidades

Em 2018, Rau assumiu uma posição na campanha eleitoral brasileira: assinou um manifesto contra o então candidato Bolsonaro, alertando para o risco de uma “catástrofe” para o Brasil.

Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cargo em seu quarto mês, o dramaturgo demonstra um otimismo moderado.

“Depois de anos difíceis, muitas coisas estão mudando. O Brasil tem seu primeiro Ministério dos Povos Indígenas... vai continuar complicado, mas uma janela de oportunidade se abriu”, conclui.

O renomado dramaturgo suíço Milo Rau está prestes a revelar sua mais recente provocação: Antígona na Amazônia, uma versão da tragédia grega que denuncia a destruição da maior floresta tropical do planeta e recria o massacre do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A obra estreia dia 13 de maio no Teatro Holandês de Gante, na Bélgica, que Rau dirige desde 2018 e parte dela foi filmada esta semana em Eldorado dos Carajás, um pequeno município do Pará, onde o diretor trabalhou por quase um mês na recriação do massacre ocorrido há 27 anos.

Ao longo de sua carreira, Rau, de 46 anos, escolheu o polêmico e o visceral na hora de contar suas histórias, e essa não foi exceção.

Ativistas do MST e atores do Teatro Nacional de Gent, na Bélgica, encenam o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido 27 anos atrás. Dirigido por Milo Rau, a encenação é parte de 'Antígona na Amazônia' Foto: Nelson Almeida/AFP

A encenação foi gravada no mesmo trecho da rodovia brasileira onde 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos pela polícia ao bloquear a via em protesto por uma reforma agrária.

Os sobreviventes do massacre constam entre os atores, no lugar dos reprimidos, que, como naquele 17 de abril de 1996, tentavam se proteger dos tiros disparados pelas forças da ordem.

Há militantes “em volta chorando, atores chorando” pelas ideias nas quais “acreditam”, disse Rau à AFP, entusiasmado com a “performance” que fará parte de “Antígona na Amazônia”.

“No centro” da obra “há uma história sombria. É um momento de passar pelo trauma para relembrá-lo, mas também de seguir em frente”, afirma.

Este diretor tem sido alvo de censuras e ameaças pelo estilo transgressor de seu teatro, que ele considera uma ferramenta de transformação da realidade.

Cena de 'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Em Moscou, foi declarado persona ‘non grata’ depois de representar a repressão contra o grupo “Pussy Riot”.

No Brasil, as apresentações de Five Easy Pieces foram canceladas em 2018, na qual sete crianças contavam a história do maior pedófilo da Bélgica.

Esse foi o gatilho para seu atual desafio no país sul-americano: usar uma tragédia grega para denunciar a destruição da maior floresta tropical do planeta - cujo desmatamento disparou 75% em relação à última década sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro - e defender os movimentos sociais que a protegem.

Antígona é uma luta do povo contra a ditadura, dos pequenos e diferentes, como os indígenas e os camponeses. O MST é contra o Estado e os latifundiários, papel personificado por Creón em Antígona”, explica o diretor, que pouco antes caminhava sob um sol escaldante pela rodovia amazônica, dando orientações para sua equipe.

Para gravar a encenação, centenas de militantes e voluntários rurais bloquearam a estrada onde o transporte de minérios e gado, entre outros, parece ser incessante.

'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Última fronteira

O bloqueio da rodovia faz parte da “ação política”, destaca o suíço, justamente em um local “onde há caminhões de carga indo e vindo o tempo todo” para “explorar” a floresta, que considera a “última fronteira da sociedade moderna”.

Agora, abrigado à sombra de uma árvore no acampamento montado pelo MST para relembrar seus “mártires”, ele se parece com um deles, vestindo a camiseta preta e o boné vermelho do movimento.

Eles são “um exemplo de sociedade pós-capitalista. É muito interessante, um movimento social para se aprender”, opina o diretor, conhecido por sua posição política de esquerda.

Milo Rau, ao centro, usando boné do MST, em foto de 17 de abril de 2023.  Foto: Nelson Almeida/AFP

Desde sua fundação, no início dos anos 1980, o MST luta pela conquista de terras “improdutivas” na posse do Estado ou de latifundiários, por meio de métodos controversos como a invasão de terras, e seus militantes lideram campanhas contra as monoculturas e pela conservação das florestas.

Janela de oportunidades

Em 2018, Rau assumiu uma posição na campanha eleitoral brasileira: assinou um manifesto contra o então candidato Bolsonaro, alertando para o risco de uma “catástrofe” para o Brasil.

Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cargo em seu quarto mês, o dramaturgo demonstra um otimismo moderado.

“Depois de anos difíceis, muitas coisas estão mudando. O Brasil tem seu primeiro Ministério dos Povos Indígenas... vai continuar complicado, mas uma janela de oportunidade se abriu”, conclui.

O renomado dramaturgo suíço Milo Rau está prestes a revelar sua mais recente provocação: Antígona na Amazônia, uma versão da tragédia grega que denuncia a destruição da maior floresta tropical do planeta e recria o massacre do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A obra estreia dia 13 de maio no Teatro Holandês de Gante, na Bélgica, que Rau dirige desde 2018 e parte dela foi filmada esta semana em Eldorado dos Carajás, um pequeno município do Pará, onde o diretor trabalhou por quase um mês na recriação do massacre ocorrido há 27 anos.

Ao longo de sua carreira, Rau, de 46 anos, escolheu o polêmico e o visceral na hora de contar suas histórias, e essa não foi exceção.

Ativistas do MST e atores do Teatro Nacional de Gent, na Bélgica, encenam o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido 27 anos atrás. Dirigido por Milo Rau, a encenação é parte de 'Antígona na Amazônia' Foto: Nelson Almeida/AFP

A encenação foi gravada no mesmo trecho da rodovia brasileira onde 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos pela polícia ao bloquear a via em protesto por uma reforma agrária.

Os sobreviventes do massacre constam entre os atores, no lugar dos reprimidos, que, como naquele 17 de abril de 1996, tentavam se proteger dos tiros disparados pelas forças da ordem.

Há militantes “em volta chorando, atores chorando” pelas ideias nas quais “acreditam”, disse Rau à AFP, entusiasmado com a “performance” que fará parte de “Antígona na Amazônia”.

“No centro” da obra “há uma história sombria. É um momento de passar pelo trauma para relembrá-lo, mas também de seguir em frente”, afirma.

Este diretor tem sido alvo de censuras e ameaças pelo estilo transgressor de seu teatro, que ele considera uma ferramenta de transformação da realidade.

Cena de 'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Em Moscou, foi declarado persona ‘non grata’ depois de representar a repressão contra o grupo “Pussy Riot”.

No Brasil, as apresentações de Five Easy Pieces foram canceladas em 2018, na qual sete crianças contavam a história do maior pedófilo da Bélgica.

Esse foi o gatilho para seu atual desafio no país sul-americano: usar uma tragédia grega para denunciar a destruição da maior floresta tropical do planeta - cujo desmatamento disparou 75% em relação à última década sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro - e defender os movimentos sociais que a protegem.

Antígona é uma luta do povo contra a ditadura, dos pequenos e diferentes, como os indígenas e os camponeses. O MST é contra o Estado e os latifundiários, papel personificado por Creón em Antígona”, explica o diretor, que pouco antes caminhava sob um sol escaldante pela rodovia amazônica, dando orientações para sua equipe.

Para gravar a encenação, centenas de militantes e voluntários rurais bloquearam a estrada onde o transporte de minérios e gado, entre outros, parece ser incessante.

'Antígona na Amazônia', de Milo Rau Foto: Nelson Almeida/AFP

Última fronteira

O bloqueio da rodovia faz parte da “ação política”, destaca o suíço, justamente em um local “onde há caminhões de carga indo e vindo o tempo todo” para “explorar” a floresta, que considera a “última fronteira da sociedade moderna”.

Agora, abrigado à sombra de uma árvore no acampamento montado pelo MST para relembrar seus “mártires”, ele se parece com um deles, vestindo a camiseta preta e o boné vermelho do movimento.

Eles são “um exemplo de sociedade pós-capitalista. É muito interessante, um movimento social para se aprender”, opina o diretor, conhecido por sua posição política de esquerda.

Milo Rau, ao centro, usando boné do MST, em foto de 17 de abril de 2023.  Foto: Nelson Almeida/AFP

Desde sua fundação, no início dos anos 1980, o MST luta pela conquista de terras “improdutivas” na posse do Estado ou de latifundiários, por meio de métodos controversos como a invasão de terras, e seus militantes lideram campanhas contra as monoculturas e pela conservação das florestas.

Janela de oportunidades

Em 2018, Rau assumiu uma posição na campanha eleitoral brasileira: assinou um manifesto contra o então candidato Bolsonaro, alertando para o risco de uma “catástrofe” para o Brasil.

Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cargo em seu quarto mês, o dramaturgo demonstra um otimismo moderado.

“Depois de anos difíceis, muitas coisas estão mudando. O Brasil tem seu primeiro Ministério dos Povos Indígenas... vai continuar complicado, mas uma janela de oportunidade se abriu”, conclui.

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