'Truman', que venceu o Oscar espanhol, tem Ricardo Darín e Javier Cámara


Diretor Cesc Gay fala ao 'Estado' sobre o filme

Por Luiz Carlos Merten

Assim como existem os Oscars de Hollywood, que este ano se dividiram entre O Regresso, de Alejandro González Iñárritu, e Spotlight - Segredos Revelados, de Tom McCarthy, existem os prêmios das diversas academias de cinema nacionais - Ariel (México), Bafta (Inglaterra), César (França), Félix (Academia Europeia) e Goya (Espanha). Em fevereiro, Truman, de Cesc Gay, foi o grande vitorioso do Goya, ganhando cinco dos seis troféus a que concorria - melhor filme, diretor, ator (Ricardo Darín), ator coadjuvante (Javier Cámara) e roteiro. No sábado, 2, o diretor conversou com o repórter por telefone, de Barcelona. No outro sábado, 9, foi a vez de Javier Cámara dar entrevista, também por telefone. Cesc começou explicando seu nome para o repórter. “Sou Francisco, que, em catalão, se diz Francesc. Terminei adotando o diminutivo, pelo qual sempre fui chamado, de forma afetiva. É como ‘Chico’ para vocês (brasileiros)”, prosseguiu. Bem-sucedido diretor de teatro e cinema, Cesc trabalha com frequência em Madri, mas não desiste da Catalunha - nem de Barcelona. Por quê? “Por el mar.” Mas filmou Truman em Madri. O filme começou a nascer há cinco anos. “Todo mundo sofre perdas, é um processo natural da vida. Passei por um processo difícil acompanhando o sofrimento e a morte de alguém muito querido da família. Tomava notas. Comecei a escrever um guión (roteiro), mas me parecia muito pesado, para baixo. Não era o que queria nem o que teria agradado à pessoa que me inspirou. Esse roteiro foi se deslocando da morte para a amizade e, um dia, meu corroteirista e eu tivemos a ideia do cachorro. Mudou tudo.” Na trama de Truman, um ator descobre que está morrendo. Um amigo vem do Canadá para lhe dar apoio. A grande preocupação passa a ser o cachorro. Com quem poderá ficar? Existem relações mal resolvidas - com o filho. Darín é o homem que está morrendo, Cámara é o amigo. Em geral, filmes com animais se utilizam de duplos. Dois ou três cães se alternando no ‘papel’. Truman era um só. Era - morreu logo depois da filmagem. “Era nosso mascote no set. Todo mundo amava Truman. Ricardo é cachorreiro. Tem três cães na casa dele. Cuidava de Truman como se fosse dele.” Embora não tão conhecido no Brasil como Pedro Almodóvar, Cesc Gay é um diretor quase tão prestigiado quanto, na Espanha. Na entrevista por telefone, Javier Cámara contou que fez três filmes com Cesc. Sabe o método do diretor.

reference

Para o público que conhece Javier por seus papéis de gay nos filmes de Pedrito, vai ser uma surpresa vê-lo contido, quase minimalista, em Truman. Para o ator, não faz diferença. “Pues, hombre, isso é coisa do diretor. Se tenho de fazer uma ‘loca’ ou um solitário, o que faço é tentar ser fiel aos personagens. Depois, com o corte, a montagem, o ritmo, a música, o diretor termina fazendo o que quer com a interpretação da gente.” Cesc Gay trabalhou com Ricardo Darín em O Que os Homens Falam, uma comédia episódica que estreou aqui faz alguns anos. “Parecem dois filmes muito diferentes, mas, para mim, são próximos. Ambos tratam da condição masculina. O Que os Homens Falam é sobre o macho, o que os homens pensam e dizem deles mesmos, e nem sempre é verdadeiro. Truman é sobre a finitude. Ela nos fragiliza ou fortalece? Acho essa questão muito intrigante e fascinante.” Como é trabalhar com esses dois atores estupendos que são Darín e Cámara? “Pois você está dizendo. São estupendos. Ricardo parece fazer sempre o mesmo personagem, mas, na verdade, é um mutante. Seu estilo é minimal, e ele faz sempre o mínimo para render o máximo. Apostava na química entre Javier e ele. Fiquei muito feliz que ambos tenham recebido o Goya. Teria achado injusto se um só vencesse.”

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ENTREVISTA - 'O ator tem de se adaptar ao diretor' - Javier Cámara

Javier Cámara acaba de chegar em casa no sábado, 9. Espera pelo telefonema do repórter, depois de almoçar com Sesc Gay, seu diretor em Truman.Você tem trabalhado bastante com Sesc e Pedro Almodóvar. São diretores bem diferentes. Como se adapta a um e outro?

É minha função de ator. Mas, no geral, escrevem bem, são pessoas de trato fácil. A gente ri mais no set de Pedro. Os bastidores de Cesc no teatro é que são divertidos. Nossos planos hoje foram de fazer uma peçã. Espero que dê certo.

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O novo Almodóvar, ‘Julieta’, está estreando na Espanha. Já viu?

Te gusta Pedro?Julieta talvez seja a obra-prima dele. No lo vas a creer. É a história de uma mulher cuja filha desapareceu há 30 anos. Pedro mudou sua atrizes, e de certa forma o cinema dele mudou também.

E a morte de Chus Lampreave, la niña vieja dos filmes de Almodóvar?

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Escrevi no meu Face um texto sobre ela. Repercutiu muito. Chus nunca quis ser atriz, mas virou uma, e das grandes. Era muito divertida, e se tu a chamas de niña vieja, ela nos tratava como niños, seus meninos.

Darín?

Cesc diz que nascemos para atuar um com o outro. Mas acho que as melhores cenas dele são com o perro. Feitas de silêncios. Ele sabe que vai morrer. Truman, também. Mas, mais que sobre morte, é sobre amizade.  

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Assim como existem os Oscars de Hollywood, que este ano se dividiram entre O Regresso, de Alejandro González Iñárritu, e Spotlight - Segredos Revelados, de Tom McCarthy, existem os prêmios das diversas academias de cinema nacionais - Ariel (México), Bafta (Inglaterra), César (França), Félix (Academia Europeia) e Goya (Espanha). Em fevereiro, Truman, de Cesc Gay, foi o grande vitorioso do Goya, ganhando cinco dos seis troféus a que concorria - melhor filme, diretor, ator (Ricardo Darín), ator coadjuvante (Javier Cámara) e roteiro. No sábado, 2, o diretor conversou com o repórter por telefone, de Barcelona. No outro sábado, 9, foi a vez de Javier Cámara dar entrevista, também por telefone. Cesc começou explicando seu nome para o repórter. “Sou Francisco, que, em catalão, se diz Francesc. Terminei adotando o diminutivo, pelo qual sempre fui chamado, de forma afetiva. É como ‘Chico’ para vocês (brasileiros)”, prosseguiu. Bem-sucedido diretor de teatro e cinema, Cesc trabalha com frequência em Madri, mas não desiste da Catalunha - nem de Barcelona. Por quê? “Por el mar.” Mas filmou Truman em Madri. O filme começou a nascer há cinco anos. “Todo mundo sofre perdas, é um processo natural da vida. Passei por um processo difícil acompanhando o sofrimento e a morte de alguém muito querido da família. Tomava notas. Comecei a escrever um guión (roteiro), mas me parecia muito pesado, para baixo. Não era o que queria nem o que teria agradado à pessoa que me inspirou. Esse roteiro foi se deslocando da morte para a amizade e, um dia, meu corroteirista e eu tivemos a ideia do cachorro. Mudou tudo.” Na trama de Truman, um ator descobre que está morrendo. Um amigo vem do Canadá para lhe dar apoio. A grande preocupação passa a ser o cachorro. Com quem poderá ficar? Existem relações mal resolvidas - com o filho. Darín é o homem que está morrendo, Cámara é o amigo. Em geral, filmes com animais se utilizam de duplos. Dois ou três cães se alternando no ‘papel’. Truman era um só. Era - morreu logo depois da filmagem. “Era nosso mascote no set. Todo mundo amava Truman. Ricardo é cachorreiro. Tem três cães na casa dele. Cuidava de Truman como se fosse dele.” Embora não tão conhecido no Brasil como Pedro Almodóvar, Cesc Gay é um diretor quase tão prestigiado quanto, na Espanha. Na entrevista por telefone, Javier Cámara contou que fez três filmes com Cesc. Sabe o método do diretor.

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Para o público que conhece Javier por seus papéis de gay nos filmes de Pedrito, vai ser uma surpresa vê-lo contido, quase minimalista, em Truman. Para o ator, não faz diferença. “Pues, hombre, isso é coisa do diretor. Se tenho de fazer uma ‘loca’ ou um solitário, o que faço é tentar ser fiel aos personagens. Depois, com o corte, a montagem, o ritmo, a música, o diretor termina fazendo o que quer com a interpretação da gente.” Cesc Gay trabalhou com Ricardo Darín em O Que os Homens Falam, uma comédia episódica que estreou aqui faz alguns anos. “Parecem dois filmes muito diferentes, mas, para mim, são próximos. Ambos tratam da condição masculina. O Que os Homens Falam é sobre o macho, o que os homens pensam e dizem deles mesmos, e nem sempre é verdadeiro. Truman é sobre a finitude. Ela nos fragiliza ou fortalece? Acho essa questão muito intrigante e fascinante.” Como é trabalhar com esses dois atores estupendos que são Darín e Cámara? “Pois você está dizendo. São estupendos. Ricardo parece fazer sempre o mesmo personagem, mas, na verdade, é um mutante. Seu estilo é minimal, e ele faz sempre o mínimo para render o máximo. Apostava na química entre Javier e ele. Fiquei muito feliz que ambos tenham recebido o Goya. Teria achado injusto se um só vencesse.”

ENTREVISTA - 'O ator tem de se adaptar ao diretor' - Javier Cámara

Javier Cámara acaba de chegar em casa no sábado, 9. Espera pelo telefonema do repórter, depois de almoçar com Sesc Gay, seu diretor em Truman.Você tem trabalhado bastante com Sesc e Pedro Almodóvar. São diretores bem diferentes. Como se adapta a um e outro?

É minha função de ator. Mas, no geral, escrevem bem, são pessoas de trato fácil. A gente ri mais no set de Pedro. Os bastidores de Cesc no teatro é que são divertidos. Nossos planos hoje foram de fazer uma peçã. Espero que dê certo.

O novo Almodóvar, ‘Julieta’, está estreando na Espanha. Já viu?

Te gusta Pedro?Julieta talvez seja a obra-prima dele. No lo vas a creer. É a história de uma mulher cuja filha desapareceu há 30 anos. Pedro mudou sua atrizes, e de certa forma o cinema dele mudou também.

E a morte de Chus Lampreave, la niña vieja dos filmes de Almodóvar?

Escrevi no meu Face um texto sobre ela. Repercutiu muito. Chus nunca quis ser atriz, mas virou uma, e das grandes. Era muito divertida, e se tu a chamas de niña vieja, ela nos tratava como niños, seus meninos.

Darín?

Cesc diz que nascemos para atuar um com o outro. Mas acho que as melhores cenas dele são com o perro. Feitas de silêncios. Ele sabe que vai morrer. Truman, também. Mas, mais que sobre morte, é sobre amizade.  

Assim como existem os Oscars de Hollywood, que este ano se dividiram entre O Regresso, de Alejandro González Iñárritu, e Spotlight - Segredos Revelados, de Tom McCarthy, existem os prêmios das diversas academias de cinema nacionais - Ariel (México), Bafta (Inglaterra), César (França), Félix (Academia Europeia) e Goya (Espanha). Em fevereiro, Truman, de Cesc Gay, foi o grande vitorioso do Goya, ganhando cinco dos seis troféus a que concorria - melhor filme, diretor, ator (Ricardo Darín), ator coadjuvante (Javier Cámara) e roteiro. No sábado, 2, o diretor conversou com o repórter por telefone, de Barcelona. No outro sábado, 9, foi a vez de Javier Cámara dar entrevista, também por telefone. Cesc começou explicando seu nome para o repórter. “Sou Francisco, que, em catalão, se diz Francesc. Terminei adotando o diminutivo, pelo qual sempre fui chamado, de forma afetiva. É como ‘Chico’ para vocês (brasileiros)”, prosseguiu. Bem-sucedido diretor de teatro e cinema, Cesc trabalha com frequência em Madri, mas não desiste da Catalunha - nem de Barcelona. Por quê? “Por el mar.” Mas filmou Truman em Madri. O filme começou a nascer há cinco anos. “Todo mundo sofre perdas, é um processo natural da vida. Passei por um processo difícil acompanhando o sofrimento e a morte de alguém muito querido da família. Tomava notas. Comecei a escrever um guión (roteiro), mas me parecia muito pesado, para baixo. Não era o que queria nem o que teria agradado à pessoa que me inspirou. Esse roteiro foi se deslocando da morte para a amizade e, um dia, meu corroteirista e eu tivemos a ideia do cachorro. Mudou tudo.” Na trama de Truman, um ator descobre que está morrendo. Um amigo vem do Canadá para lhe dar apoio. A grande preocupação passa a ser o cachorro. Com quem poderá ficar? Existem relações mal resolvidas - com o filho. Darín é o homem que está morrendo, Cámara é o amigo. Em geral, filmes com animais se utilizam de duplos. Dois ou três cães se alternando no ‘papel’. Truman era um só. Era - morreu logo depois da filmagem. “Era nosso mascote no set. Todo mundo amava Truman. Ricardo é cachorreiro. Tem três cães na casa dele. Cuidava de Truman como se fosse dele.” Embora não tão conhecido no Brasil como Pedro Almodóvar, Cesc Gay é um diretor quase tão prestigiado quanto, na Espanha. Na entrevista por telefone, Javier Cámara contou que fez três filmes com Cesc. Sabe o método do diretor.

reference

Para o público que conhece Javier por seus papéis de gay nos filmes de Pedrito, vai ser uma surpresa vê-lo contido, quase minimalista, em Truman. Para o ator, não faz diferença. “Pues, hombre, isso é coisa do diretor. Se tenho de fazer uma ‘loca’ ou um solitário, o que faço é tentar ser fiel aos personagens. Depois, com o corte, a montagem, o ritmo, a música, o diretor termina fazendo o que quer com a interpretação da gente.” Cesc Gay trabalhou com Ricardo Darín em O Que os Homens Falam, uma comédia episódica que estreou aqui faz alguns anos. “Parecem dois filmes muito diferentes, mas, para mim, são próximos. Ambos tratam da condição masculina. O Que os Homens Falam é sobre o macho, o que os homens pensam e dizem deles mesmos, e nem sempre é verdadeiro. Truman é sobre a finitude. Ela nos fragiliza ou fortalece? Acho essa questão muito intrigante e fascinante.” Como é trabalhar com esses dois atores estupendos que são Darín e Cámara? “Pois você está dizendo. São estupendos. Ricardo parece fazer sempre o mesmo personagem, mas, na verdade, é um mutante. Seu estilo é minimal, e ele faz sempre o mínimo para render o máximo. Apostava na química entre Javier e ele. Fiquei muito feliz que ambos tenham recebido o Goya. Teria achado injusto se um só vencesse.”

ENTREVISTA - 'O ator tem de se adaptar ao diretor' - Javier Cámara

Javier Cámara acaba de chegar em casa no sábado, 9. Espera pelo telefonema do repórter, depois de almoçar com Sesc Gay, seu diretor em Truman.Você tem trabalhado bastante com Sesc e Pedro Almodóvar. São diretores bem diferentes. Como se adapta a um e outro?

É minha função de ator. Mas, no geral, escrevem bem, são pessoas de trato fácil. A gente ri mais no set de Pedro. Os bastidores de Cesc no teatro é que são divertidos. Nossos planos hoje foram de fazer uma peçã. Espero que dê certo.

O novo Almodóvar, ‘Julieta’, está estreando na Espanha. Já viu?

Te gusta Pedro?Julieta talvez seja a obra-prima dele. No lo vas a creer. É a história de uma mulher cuja filha desapareceu há 30 anos. Pedro mudou sua atrizes, e de certa forma o cinema dele mudou também.

E a morte de Chus Lampreave, la niña vieja dos filmes de Almodóvar?

Escrevi no meu Face um texto sobre ela. Repercutiu muito. Chus nunca quis ser atriz, mas virou uma, e das grandes. Era muito divertida, e se tu a chamas de niña vieja, ela nos tratava como niños, seus meninos.

Darín?

Cesc diz que nascemos para atuar um com o outro. Mas acho que as melhores cenas dele são com o perro. Feitas de silêncios. Ele sabe que vai morrer. Truman, também. Mas, mais que sobre morte, é sobre amizade.  

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