Comemorou-se no domingo, 19, o Dia do Cinema Brasileiro. Haveria muito a festejar, em termos de qualidade, filmes como Espero Que Esta Te Encontre e Estejas Bem, Amigo Secreto e Um Broto Legal, mas a frequência continua baixa. Muita gente ainda tem medo de voltar às salas e os jovens, mais destemidos, correm para ver os blockbusters. O cinema brasileiro continua mendigando no próprio mercado.
Luiz Alberto Pereira, o Gal, conseguiu 25 salas em todo o País para a sua cinebiografia da pioneira do rock nacional, Celly Campello. Apenas 25! - e em algumas o horário nem é cheio.
Havia a expectativa, mesmo assim, de um público razoável. Marianna Alexandre, que faz o papel, tem mais de 6 milhões de seguidores nas redes sociais e os coroas - de 60 e 70 anos - com certeza se lembram de Celly. "O-ó que broto legal, garota fenomenal/Fez um sucesso total/E abafou no festival." O filme fez míseros 3 mil espectadores no fim de semana. Merecia muito mais. Gal Pereira tem no currículo cinebiografias como Hans Staden. É o primeiro a reconhecer que Um Broto Legal é muito diferente. Está mais no espírito de Tapete Vermelho, sua bela celebração da figura de Mazzaropi, com antológica interpretação de Matheus Nachtergaele como o jeca.
Gal conta sua motivação. Ele também é de Taubaté, como Celly e o irmão, Tony. Conhece aquele clube, a piscina, a rádio em que ela cantava, mas a verdadeira motivação foi outra. “Era muito pequeno, mas percebia o frisson da juventude, da minha irmã, que sabia de memória todas as músicas da Celly. Sua intenção era aprofundar o comportamento de uma garotada que encontrava, no rock nacional que estava surgindo - estou falando do fim dos anos 1950 -, o seu próprio caminho.”
Ajudou muito o fato de o corroteirista Dimas de Oliveira Jr. ter conhecido Celly e até ter assistido a muitos dos seus shows. “Era fundamental captar o espírito da época, tanto no comportamento dos jovens como nas locações e nos traços culturais.” Há uma ingenuidade calculada, e muito carinho na relação dos irmãos.
Tony, que saiu de Taubaté para fazer carreira em São Paulo, impôs a irmã. Foi até quem a renomeou - era Célia, virou Celly. “Ela morreu em 2003, mas o Tony segue vivo e deu dicas muito importantes.” Gírias, a relação dos artistas com as gravadoras. Tony contou muitas histórias que estão no filme. Emprestou objetos de sua coleção para garantir a autenticidade. “E, claro, fizemos uma extensa pesquisa no Museu da Imagem e do Som, que tem um arquivo musical bem preservado, com grandes entrevistas de muitos artistas.”
No sábado, 18, Celly teria feito 80 anos. Estava no auge, colecionando sucessos como Um Broto Legal, Banho de Lua e Estúpido Cupido, quando abandonou a carreira por amor. O namorado, futuro marido, não queria uma mulher artista. “Era uma época de muito preconceito, e é disso que o filme também fala”, esclarece o diretor.
A época, o tom, tudo representava desafio, e ainda havia o “quem?” Quem poderia fazer o papel? Teria de ser bonita, carismática, teria de cantar e atuar. “Testei muitas garotas, mas quando a Marianna sentou ao piano e tocou e cantou Estúpido Cupido, a busca acabou. Tinha de ser ela.” Murilo Armacollo, que faz o irmão, “foi outro achado maravilhoso. Os dois vieram dos musicais. Fizeram três juntos”.
E ainda houve a contribuição do restante do elenco. Claudio Fontana, conhecido da TV e do teatro, faz o assessor de imprensa da gravadora. O próprio Fontana conta: “O Gal é um diretor muito aberto a sugestões. Tudo o que pode tornar o filme melhor ele aceita. Propus que o meu personagem fosse uma espécie de papagaio, ou de grilo falante. Ele fica repetindo, feito eco, as palavras do dono da gravadora. Ficou engraçado”.
Ainda há tempo de aumentar o público de Um Broto Legal. 3 mil e um, dois. Como na letra da música: “O broto então se revelou/Mostrou ser maioral/A turma toda até parou/No rock’n’roll nós dois demos um show”.