Começa contando, em paralelo, as histórias da rainha Victoria e daquele que será seu ‘munshin’. A velha Victoria e a rotina da corte; e o indiano Abdul, que viaja meio mundo para entregar, em Londres, a memória comemorativa do reinado de ‘Victoria’. Na corte, o encarregado da etiqueta bate na tecla – ‘Olhos no chão, não encare a rainha’. Mas Abdul olha. Não apenas faz contato visual como Victoria corresponde. O que ela vê no indiano alto fica um pouco por conta do espectador, mas a vida de nenhum dos dois será a mesma depois da troca de olhares.
Victoria & Abdul tem sido encarado com preguiça pela maioria da crítica. O filme seria ameno como um chá das 5, senão pior – um repeteco de A Rainha, outro longa do britânico Stephen Frears, sobre outra monarca, Elizabeth II. Nada mais equivocado. Victoria & Abdul constrói-se na contracorrente de A Rainha. Está mais próximo de Sua Majestade, Mrs. Brown, também com Judi Dench, sobre outra amizade excêntrica da Rainha Victoria. A Rainha é sobre como um plebeu, o primeiro ministro trabalhista Tony Blair, salvou a realeza do país, num momento em que o clamor popular provocado pela morte da Princesa Diana se voltava contra a Coroa.
Blair convence a rainha de que seu silêncio é nocivo. Como ‘trabalhista’, não estaria sendo um traidor de sua classe? Victoria & Abdul é agora sobre um complô palaciano para destituir a rainha. Seu filho, quase sexagenário, não aguenta mais essa mãe aferrada ao trono. A amizade de Victoria com Abdul vira pretexto para a tentativa de impedimento. O filho orquestra com o médico real o plano para declará-la insana, portanto, incapaz. No limite, Victoria, com sua sagacidade, desfaz o plano e ainda supera o que quase vira uma rebelião no palácio. Mas nem ela, a mulher mais poderosa do mundo, em seu tempo, poderá proteger o munshin/secretário. Victoria sabe e o adverte. A vingança será terrível. Abdul será apagado da história.