Woody Allen leva 'Café Society’ a Cannes, seu melhor filme desde 'Meia-Noite em Paris'


Filme foi o escolhido para abrir, na quarta-feira, 11, o Festival de Cannes, que está completando 70 anos

Por Luiz Carlos Merten

CANNES - Há um momento de Café Society em que Jesse Eisenberg e Kristen Stewart conversam à luz de vela. Uma tonalidade amarelo-alaranjada domina a imagem e a dupla aparece em silhueta, um efeito muito bonito que Woody Allen vai repetir com ele no fim. Jesse faz esse jovem judeu que vai tentar a sorte em Hollywood, onde o tio é um agente famoso. Mas o tio/Steve Carell não tem tempo para o sobrinho, que se liga à sua secretária. Kristen é amante de um homem casado. Vive dividida entre os dois. Ela faz sua escolha, cada um segue para seu lado, mas se reencontram. O novo Woody Allen é o melhor filme do autor desde Meia-Noite em Paris, que também inaugurou o Festival de Cannes, anos atrás.

Pela terceira vez e um terço, a honra de abrir o maior festival do mundo coube a Woody. Ele já fez isso com Dirigindo no Escuro, o citado Meia-Noite, mas bem antes houve também Contos de Nova York, em que ele dirigia uma das histórias – as outras eram de Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Naquele ano, Woody não veio acompanhar o filme. Depois, ele se tornou habitué da Croisette. Veio mais nove vezes, 12 no total, incluindo agora. Ele diz que não tem tempo de curtir o festival. “Minha mulher (Soon-yi) adora fazer amigos, esses almoços e jantares fabulosos. Eu fico dando entrevistas.” Woody Allen já trouxe a Cannes alguns de seus melhores filmes – Manhattan, Hannah e Suas Irmãs, A Rosa Púrpura do Cairo. Café Society é da mesma estirpe.

Blake Lively, Woody Allen, Kristen Stewart e Jesse Eisenberg antes da exibição de 'Café Society' Foto: Thibault Camus|AP
continua após a publicidade

Como seus filósofos preferidos, Woody questiona-se sobre o sentido da vida. Seu humor judaico nunca esteve tão afiado – nem foi tão derrisório. Sozinho em Hollywood, Jesse contrata os serviços de uma prostituta. Recua ao saber que é judia. P... judia? Nem sabia que existia. Quando regressa a NY para se curar da dor de amor, vai dirigir o nightclub do irmão gângster. O local explode, vira o maior sucesso. Jesse, que fracassou (em termos) em Hollywood, vira o queridinho dos ricos de NY. Quando o irmão é preso e condenado, converte-se ao cristianismo – que lhe promete a vida eterna. A mãe reflete amargamente. Não sabe o que é pior. Assassino, ou cristão? Perpassa todo o filme uma espécie de melancolia. Jesse e Kristen, cada um do seu lado, reconstruíram as vidas. Mas serão felizes? E o que é a felicidade? Conselho de mãe – viva cada dia como se fosse o último, porque um dia vai ser mesmo.

Café Society é um filme que se interroga sobre o sentido da vida – e sobre o amor, o casamento, as relações familiares, a morte. A cena citada no começo – à luz de vela – é cortesia do diretor de fotografia Vittorio Storaro, um dos maiores do mundo. Na coletiva, Woody lembrou sua parceria com outros grandes iluminadores. Gordon Wills, Sven Nykvist, Carlo di Palma. “Sempre quis trabalhar com ele (Storaro). Como estava disponível, era agora ou nunca.” Storaro, oscarizado três vezes, uma delas por seu trabalho com Bernardo Bertolucci – O Último Imperador –, revelou inesperada humildade. “Com toda a minha experiência, não sou ninguém sem os diretores.” 

Depois de uma vida inteira dedicada ao celuloide, Woody Allen, enfim, se rendeu ao digital. “O futuro chegou”, refletiu. Storaro deu uma aula sobre como o digital continua repetindo o celuloide. Muda a ferramenta, mas, exceto nos efeitos, não se testam suas possibilidades. “Talvez não seja grave. O importante não é a técnica, mas a história que se pretende contar.”

continua após a publicidade
reference

Cannes está completando 70 anos. Nesta quarta-feira, 11, o tempo não ajudou. A Côte d'Azur é famosa pelo calor e sol, mas choveu e ventou. O tempo deve continuar assim até sábado, quando o sol vai voltar, a temperatura, subir e as mais belas mulheres do mundo voltarão ao tapete vermelho para fazer a festa dos fotógrafos. Kristen Stewart, ex-Crepúsculo, está linda no filme de Woody Allen. Ela estará em dose dupla nesse festival, porque também estrela Personal Shopper, de Olivier Assayas, que participa da competição – Café Society passa fora de concurso. Woody disse que Kristen foi uma sugestão de sua diretora de elenco. “Fizemos uma leitura e ela me cativou.” Ele não a conhecia de Crepúsculo. “Vou cada vez menos ver filmes”, confessou. “Minha cultura cinematográfica anda bem pobre”, admitiu. Deve ser por isso que, na falta de referências, ele se repete. Brincadeirinha. Se representa mais do mesmo, o mesmo, dessa vez, ficou melhor.

CANNES - Há um momento de Café Society em que Jesse Eisenberg e Kristen Stewart conversam à luz de vela. Uma tonalidade amarelo-alaranjada domina a imagem e a dupla aparece em silhueta, um efeito muito bonito que Woody Allen vai repetir com ele no fim. Jesse faz esse jovem judeu que vai tentar a sorte em Hollywood, onde o tio é um agente famoso. Mas o tio/Steve Carell não tem tempo para o sobrinho, que se liga à sua secretária. Kristen é amante de um homem casado. Vive dividida entre os dois. Ela faz sua escolha, cada um segue para seu lado, mas se reencontram. O novo Woody Allen é o melhor filme do autor desde Meia-Noite em Paris, que também inaugurou o Festival de Cannes, anos atrás.

Pela terceira vez e um terço, a honra de abrir o maior festival do mundo coube a Woody. Ele já fez isso com Dirigindo no Escuro, o citado Meia-Noite, mas bem antes houve também Contos de Nova York, em que ele dirigia uma das histórias – as outras eram de Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Naquele ano, Woody não veio acompanhar o filme. Depois, ele se tornou habitué da Croisette. Veio mais nove vezes, 12 no total, incluindo agora. Ele diz que não tem tempo de curtir o festival. “Minha mulher (Soon-yi) adora fazer amigos, esses almoços e jantares fabulosos. Eu fico dando entrevistas.” Woody Allen já trouxe a Cannes alguns de seus melhores filmes – Manhattan, Hannah e Suas Irmãs, A Rosa Púrpura do Cairo. Café Society é da mesma estirpe.

Blake Lively, Woody Allen, Kristen Stewart e Jesse Eisenberg antes da exibição de 'Café Society' Foto: Thibault Camus|AP

Como seus filósofos preferidos, Woody questiona-se sobre o sentido da vida. Seu humor judaico nunca esteve tão afiado – nem foi tão derrisório. Sozinho em Hollywood, Jesse contrata os serviços de uma prostituta. Recua ao saber que é judia. P... judia? Nem sabia que existia. Quando regressa a NY para se curar da dor de amor, vai dirigir o nightclub do irmão gângster. O local explode, vira o maior sucesso. Jesse, que fracassou (em termos) em Hollywood, vira o queridinho dos ricos de NY. Quando o irmão é preso e condenado, converte-se ao cristianismo – que lhe promete a vida eterna. A mãe reflete amargamente. Não sabe o que é pior. Assassino, ou cristão? Perpassa todo o filme uma espécie de melancolia. Jesse e Kristen, cada um do seu lado, reconstruíram as vidas. Mas serão felizes? E o que é a felicidade? Conselho de mãe – viva cada dia como se fosse o último, porque um dia vai ser mesmo.

Café Society é um filme que se interroga sobre o sentido da vida – e sobre o amor, o casamento, as relações familiares, a morte. A cena citada no começo – à luz de vela – é cortesia do diretor de fotografia Vittorio Storaro, um dos maiores do mundo. Na coletiva, Woody lembrou sua parceria com outros grandes iluminadores. Gordon Wills, Sven Nykvist, Carlo di Palma. “Sempre quis trabalhar com ele (Storaro). Como estava disponível, era agora ou nunca.” Storaro, oscarizado três vezes, uma delas por seu trabalho com Bernardo Bertolucci – O Último Imperador –, revelou inesperada humildade. “Com toda a minha experiência, não sou ninguém sem os diretores.” 

Depois de uma vida inteira dedicada ao celuloide, Woody Allen, enfim, se rendeu ao digital. “O futuro chegou”, refletiu. Storaro deu uma aula sobre como o digital continua repetindo o celuloide. Muda a ferramenta, mas, exceto nos efeitos, não se testam suas possibilidades. “Talvez não seja grave. O importante não é a técnica, mas a história que se pretende contar.”

reference

Cannes está completando 70 anos. Nesta quarta-feira, 11, o tempo não ajudou. A Côte d'Azur é famosa pelo calor e sol, mas choveu e ventou. O tempo deve continuar assim até sábado, quando o sol vai voltar, a temperatura, subir e as mais belas mulheres do mundo voltarão ao tapete vermelho para fazer a festa dos fotógrafos. Kristen Stewart, ex-Crepúsculo, está linda no filme de Woody Allen. Ela estará em dose dupla nesse festival, porque também estrela Personal Shopper, de Olivier Assayas, que participa da competição – Café Society passa fora de concurso. Woody disse que Kristen foi uma sugestão de sua diretora de elenco. “Fizemos uma leitura e ela me cativou.” Ele não a conhecia de Crepúsculo. “Vou cada vez menos ver filmes”, confessou. “Minha cultura cinematográfica anda bem pobre”, admitiu. Deve ser por isso que, na falta de referências, ele se repete. Brincadeirinha. Se representa mais do mesmo, o mesmo, dessa vez, ficou melhor.

CANNES - Há um momento de Café Society em que Jesse Eisenberg e Kristen Stewart conversam à luz de vela. Uma tonalidade amarelo-alaranjada domina a imagem e a dupla aparece em silhueta, um efeito muito bonito que Woody Allen vai repetir com ele no fim. Jesse faz esse jovem judeu que vai tentar a sorte em Hollywood, onde o tio é um agente famoso. Mas o tio/Steve Carell não tem tempo para o sobrinho, que se liga à sua secretária. Kristen é amante de um homem casado. Vive dividida entre os dois. Ela faz sua escolha, cada um segue para seu lado, mas se reencontram. O novo Woody Allen é o melhor filme do autor desde Meia-Noite em Paris, que também inaugurou o Festival de Cannes, anos atrás.

Pela terceira vez e um terço, a honra de abrir o maior festival do mundo coube a Woody. Ele já fez isso com Dirigindo no Escuro, o citado Meia-Noite, mas bem antes houve também Contos de Nova York, em que ele dirigia uma das histórias – as outras eram de Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Naquele ano, Woody não veio acompanhar o filme. Depois, ele se tornou habitué da Croisette. Veio mais nove vezes, 12 no total, incluindo agora. Ele diz que não tem tempo de curtir o festival. “Minha mulher (Soon-yi) adora fazer amigos, esses almoços e jantares fabulosos. Eu fico dando entrevistas.” Woody Allen já trouxe a Cannes alguns de seus melhores filmes – Manhattan, Hannah e Suas Irmãs, A Rosa Púrpura do Cairo. Café Society é da mesma estirpe.

Blake Lively, Woody Allen, Kristen Stewart e Jesse Eisenberg antes da exibição de 'Café Society' Foto: Thibault Camus|AP

Como seus filósofos preferidos, Woody questiona-se sobre o sentido da vida. Seu humor judaico nunca esteve tão afiado – nem foi tão derrisório. Sozinho em Hollywood, Jesse contrata os serviços de uma prostituta. Recua ao saber que é judia. P... judia? Nem sabia que existia. Quando regressa a NY para se curar da dor de amor, vai dirigir o nightclub do irmão gângster. O local explode, vira o maior sucesso. Jesse, que fracassou (em termos) em Hollywood, vira o queridinho dos ricos de NY. Quando o irmão é preso e condenado, converte-se ao cristianismo – que lhe promete a vida eterna. A mãe reflete amargamente. Não sabe o que é pior. Assassino, ou cristão? Perpassa todo o filme uma espécie de melancolia. Jesse e Kristen, cada um do seu lado, reconstruíram as vidas. Mas serão felizes? E o que é a felicidade? Conselho de mãe – viva cada dia como se fosse o último, porque um dia vai ser mesmo.

Café Society é um filme que se interroga sobre o sentido da vida – e sobre o amor, o casamento, as relações familiares, a morte. A cena citada no começo – à luz de vela – é cortesia do diretor de fotografia Vittorio Storaro, um dos maiores do mundo. Na coletiva, Woody lembrou sua parceria com outros grandes iluminadores. Gordon Wills, Sven Nykvist, Carlo di Palma. “Sempre quis trabalhar com ele (Storaro). Como estava disponível, era agora ou nunca.” Storaro, oscarizado três vezes, uma delas por seu trabalho com Bernardo Bertolucci – O Último Imperador –, revelou inesperada humildade. “Com toda a minha experiência, não sou ninguém sem os diretores.” 

Depois de uma vida inteira dedicada ao celuloide, Woody Allen, enfim, se rendeu ao digital. “O futuro chegou”, refletiu. Storaro deu uma aula sobre como o digital continua repetindo o celuloide. Muda a ferramenta, mas, exceto nos efeitos, não se testam suas possibilidades. “Talvez não seja grave. O importante não é a técnica, mas a história que se pretende contar.”

reference

Cannes está completando 70 anos. Nesta quarta-feira, 11, o tempo não ajudou. A Côte d'Azur é famosa pelo calor e sol, mas choveu e ventou. O tempo deve continuar assim até sábado, quando o sol vai voltar, a temperatura, subir e as mais belas mulheres do mundo voltarão ao tapete vermelho para fazer a festa dos fotógrafos. Kristen Stewart, ex-Crepúsculo, está linda no filme de Woody Allen. Ela estará em dose dupla nesse festival, porque também estrela Personal Shopper, de Olivier Assayas, que participa da competição – Café Society passa fora de concurso. Woody disse que Kristen foi uma sugestão de sua diretora de elenco. “Fizemos uma leitura e ela me cativou.” Ele não a conhecia de Crepúsculo. “Vou cada vez menos ver filmes”, confessou. “Minha cultura cinematográfica anda bem pobre”, admitiu. Deve ser por isso que, na falta de referências, ele se repete. Brincadeirinha. Se representa mais do mesmo, o mesmo, dessa vez, ficou melhor.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.