‘Zona de Interesse’ usa nazismo para expor nossa cumplicidade com horrores do mundo; leia entrevista


Indicado ao Oscar de melhor filme, ‘Zona de Interesse’, que retrata a vida da família de um oficial da SS em Auschwitz, fala, segundo Jonathan Glazer, ‘da nossa capacidade de cometer violência, da indiferença e da dissociação da realidade brutal para proteger nosso estado mental’

Por Mariane Morisawa
Atualização:

Como fazer uma obra diferente sobre o Holocausto, que já rendeu clássicos premiados com o Oscar como A Lista de Schindler (1993) e O Pianista (2002)? Essa era a pergunta na cabeça de Jonathan Glazer ao criar Zona de Interesse, que estreia oficialmente nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, 15, e concorre a cinco estatuetas, incluindo melhor filme, direção e produção internacional.

O cineasta inglês, que filma a cada dez anos, mais ou menos – seu último longa tinha sido Sob a Pele, de 2013 –, buscava uma abordagem nova que trouxesse a tragédia dos anos 1940 para os dias de hoje. “Ele nunca quer se repetir e sempre deseja explorar os limites da linguagem”, disse o produtor Jim Wilson em entrevista à imprensa, por videoconferência, com a participação do Estadão.

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Na cabeça do diretor, já circulava a ideia de levar o Holocausto à tela pelo ponto de vista dos perpetradores, ou seja, dos nazistas. Quando ele topou com A Zona de Interesse, livro de Martin Amis (1949-2023) lançado no Brasil pela Companhia das Letras, foi como se ganhasse permissão para explorar essa possibilidade arriscada.

“É uma posição muito incômoda de se colocar artisticamente, por razões óbvias”, disse Glazer em entrevista. “Mas havia algo muito corajoso em sua tentativa, e isso me ajudou na minha, na verdade.”

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No romance, há três personagens no entorno de um campo de extermínio fictício: o comandante, um oficial e um homem que organiza os prisioneiros trabalhando para os nazistas.

Conforme começou a pesquisar, o diretor e roteirista percebeu que a realidade era muito mais chocante do que qualquer ficção. E decidiu: seu personagem principal seria Rudolf Höss, que vivia com a mulher e os filhos em uma casa confortável com enorme jardim colada no muro de Auschwitz, comandado por ele entre 1940 e 1943.

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No filme, depois de uma tela negra ao som da música inquietante de Mica Levi, que faz o espectador se concentrar e entrar no estado mental necessário para assistir, vemos uma família curtindo um dia de folga à beira de um lago.

'Zona de Interesse', indicado a 5 Oscars, chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, 15. Foto: Diamond Films/Divulgação

Nada remete a qualquer anormalidade, até chegarmos à casa e avistarmos uma torre, com guarita, e um muro. Höss (Christian Friedel) trabalha do lado de lá. Hedwig (Sandra Hüller, que concorre ao Oscar de melhor atriz por Anatomia de uma Queda, de Justine Triet) fica sempre na casa, dando instruções para os empregados e cuidando do belo jardim.

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Nós, os espectadores, nunca vemos o interior do campo. Mas ele está sempre presente no trabalho fabuloso de som de Johnnie Burn, também concorrente ao Oscar. Os barulhos da indústria da morte que era Auschwitz, dos fornos sendo ligados, dos gritos, dos tiros, por vezes invadem os espaços da família e a mente do espectador. Auschwitz está presente o tempo inteiro, mesmo que jamais entremos lá.

“Nunca tive nenhum desejo de recriar as atrocidades com atores e figurantes. Não havia essa opção para mim”, disse Glazer. “O som é capaz de pintar essas imagens na nossa cabeça.”

Em todas as suas escolhas, o cineasta procurou se afastar da fetichização e de uma possível glamourização, aproximando-se ao máximo do realismo. O filme é falado em alemão – daí ser o candidato do Reino Unido ao Oscar de melhor internacional.

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'Zona de Interesse' é filme sobre Holocausto diferente, sem glamourização e da perspectiva dos nazistas. Foto: Diamond Films/Divulgação

A casa dos Höss é uma construção verdadeira a poucos metros de Auschwitz, com iluminação natural – ou seja, sem luzes de cinema – em todas as cenas exceto uma. Os closes são evitados, para que não haja nenhuma empatia com Rudolf ou Hedwig.

As câmeras são todas fixas e estavam espalhadas em locais escondidos pela casa. Os atores não sabiam sua localização. É como se fosse um Big Brother, sempre espiando – e julgando – os moradores da casa.

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Mas Zona de Interesse recusa a narrativa de que nazistas e perpetradores do Holocausto eram monstros. “Eles não eram anomalias, na maior parte das vezes eram pessoas normais que, pouco a pouco, tornaram-se assassinos em massa dissociados de seus crimes, pois não os enxergavam como crimes”, disse Glazer.

Por isso ele quis usar todos os métodos possíveis para fazer um filme de hoje, do século 21 – há inclusive sequências que colocam o passado e o presente em diálogo direto. Daí as lentes de alta tecnologia e resolução e as câmeras termográficas, que captam a luz infravermelha emitida por objetos e corpos, para sequências específicas de esperança e solidariedade em meio ao horror. “Eu não queria fazer uma peça de museu sobre algo que aconteceu há 80 anos, mas sobre algo que está em andamento.”

'Zona de Interesse' usou lentes de alta tecnologia e resolução e câmeras termográficas. Foto: Diamond Films/Divulgação

Foi essa, inclusive, a justificativa dada a seu pai, que ainda estava vivo quando Jonathan decidiu fazer Zona de Interesse. Judeu, ele achava que era um assunto para “deixar apodrecer”. “O Holocausto foi muitas vezes mitificado e tratado como um evento único, tornando-o hermético”, disse o produtor Jim Wilson.

Mas, na opinião de Wilson e Glazer, Rudolf e Hedwig poderiam ser nossos vizinhos. Eles tinham sonhos, tinham orgulho da casa, queriam proteger sua família. Rudolf contava histórias para os filhos depois de separar famílias e mandar crianças para a câmara de gás.

Claro que são um exemplo extremo, até porque tinham convicção naquilo. A ideia não é traçar equivalências morais ou éticas com os nazistas.

Mas o filme trata da nossa capacidade de cometer violência. E de nossa indiferença, cumplicidade, dissociação dos horrores do mundo para proteger nosso estado mental, nossa segurança, nossos luxos.

Jonathan Glazer

Seu desejo é que Zona de Interesse seja um aviso e abra questionamentos. O que escolhemos amar? Quem escolhemos amar? Por quem decidimos ter empatia? E quem achamos que não a merece? “O filme fala da possibilidade de todos nós sermos perpetradores”, disse Glazer. Ou seja, de termos pessoas ou grupos do lado de lá de nossos muros.

Mesmo sabendo que seu longa é e será atual por muitas décadas, sua esperança não é abalada. “Eu acredito que podemos evoluir. Eu me recuso a achar que não podemos.”

Como fazer uma obra diferente sobre o Holocausto, que já rendeu clássicos premiados com o Oscar como A Lista de Schindler (1993) e O Pianista (2002)? Essa era a pergunta na cabeça de Jonathan Glazer ao criar Zona de Interesse, que estreia oficialmente nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, 15, e concorre a cinco estatuetas, incluindo melhor filme, direção e produção internacional.

O cineasta inglês, que filma a cada dez anos, mais ou menos – seu último longa tinha sido Sob a Pele, de 2013 –, buscava uma abordagem nova que trouxesse a tragédia dos anos 1940 para os dias de hoje. “Ele nunca quer se repetir e sempre deseja explorar os limites da linguagem”, disse o produtor Jim Wilson em entrevista à imprensa, por videoconferência, com a participação do Estadão.

Na cabeça do diretor, já circulava a ideia de levar o Holocausto à tela pelo ponto de vista dos perpetradores, ou seja, dos nazistas. Quando ele topou com A Zona de Interesse, livro de Martin Amis (1949-2023) lançado no Brasil pela Companhia das Letras, foi como se ganhasse permissão para explorar essa possibilidade arriscada.

“É uma posição muito incômoda de se colocar artisticamente, por razões óbvias”, disse Glazer em entrevista. “Mas havia algo muito corajoso em sua tentativa, e isso me ajudou na minha, na verdade.”

No romance, há três personagens no entorno de um campo de extermínio fictício: o comandante, um oficial e um homem que organiza os prisioneiros trabalhando para os nazistas.

Conforme começou a pesquisar, o diretor e roteirista percebeu que a realidade era muito mais chocante do que qualquer ficção. E decidiu: seu personagem principal seria Rudolf Höss, que vivia com a mulher e os filhos em uma casa confortável com enorme jardim colada no muro de Auschwitz, comandado por ele entre 1940 e 1943.

No filme, depois de uma tela negra ao som da música inquietante de Mica Levi, que faz o espectador se concentrar e entrar no estado mental necessário para assistir, vemos uma família curtindo um dia de folga à beira de um lago.

'Zona de Interesse', indicado a 5 Oscars, chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, 15. Foto: Diamond Films/Divulgação

Nada remete a qualquer anormalidade, até chegarmos à casa e avistarmos uma torre, com guarita, e um muro. Höss (Christian Friedel) trabalha do lado de lá. Hedwig (Sandra Hüller, que concorre ao Oscar de melhor atriz por Anatomia de uma Queda, de Justine Triet) fica sempre na casa, dando instruções para os empregados e cuidando do belo jardim.

Nós, os espectadores, nunca vemos o interior do campo. Mas ele está sempre presente no trabalho fabuloso de som de Johnnie Burn, também concorrente ao Oscar. Os barulhos da indústria da morte que era Auschwitz, dos fornos sendo ligados, dos gritos, dos tiros, por vezes invadem os espaços da família e a mente do espectador. Auschwitz está presente o tempo inteiro, mesmo que jamais entremos lá.

“Nunca tive nenhum desejo de recriar as atrocidades com atores e figurantes. Não havia essa opção para mim”, disse Glazer. “O som é capaz de pintar essas imagens na nossa cabeça.”

Em todas as suas escolhas, o cineasta procurou se afastar da fetichização e de uma possível glamourização, aproximando-se ao máximo do realismo. O filme é falado em alemão – daí ser o candidato do Reino Unido ao Oscar de melhor internacional.

'Zona de Interesse' é filme sobre Holocausto diferente, sem glamourização e da perspectiva dos nazistas. Foto: Diamond Films/Divulgação

A casa dos Höss é uma construção verdadeira a poucos metros de Auschwitz, com iluminação natural – ou seja, sem luzes de cinema – em todas as cenas exceto uma. Os closes são evitados, para que não haja nenhuma empatia com Rudolf ou Hedwig.

As câmeras são todas fixas e estavam espalhadas em locais escondidos pela casa. Os atores não sabiam sua localização. É como se fosse um Big Brother, sempre espiando – e julgando – os moradores da casa.

Mas Zona de Interesse recusa a narrativa de que nazistas e perpetradores do Holocausto eram monstros. “Eles não eram anomalias, na maior parte das vezes eram pessoas normais que, pouco a pouco, tornaram-se assassinos em massa dissociados de seus crimes, pois não os enxergavam como crimes”, disse Glazer.

Por isso ele quis usar todos os métodos possíveis para fazer um filme de hoje, do século 21 – há inclusive sequências que colocam o passado e o presente em diálogo direto. Daí as lentes de alta tecnologia e resolução e as câmeras termográficas, que captam a luz infravermelha emitida por objetos e corpos, para sequências específicas de esperança e solidariedade em meio ao horror. “Eu não queria fazer uma peça de museu sobre algo que aconteceu há 80 anos, mas sobre algo que está em andamento.”

'Zona de Interesse' usou lentes de alta tecnologia e resolução e câmeras termográficas. Foto: Diamond Films/Divulgação

Foi essa, inclusive, a justificativa dada a seu pai, que ainda estava vivo quando Jonathan decidiu fazer Zona de Interesse. Judeu, ele achava que era um assunto para “deixar apodrecer”. “O Holocausto foi muitas vezes mitificado e tratado como um evento único, tornando-o hermético”, disse o produtor Jim Wilson.

Mas, na opinião de Wilson e Glazer, Rudolf e Hedwig poderiam ser nossos vizinhos. Eles tinham sonhos, tinham orgulho da casa, queriam proteger sua família. Rudolf contava histórias para os filhos depois de separar famílias e mandar crianças para a câmara de gás.

Claro que são um exemplo extremo, até porque tinham convicção naquilo. A ideia não é traçar equivalências morais ou éticas com os nazistas.

Mas o filme trata da nossa capacidade de cometer violência. E de nossa indiferença, cumplicidade, dissociação dos horrores do mundo para proteger nosso estado mental, nossa segurança, nossos luxos.

Jonathan Glazer

Seu desejo é que Zona de Interesse seja um aviso e abra questionamentos. O que escolhemos amar? Quem escolhemos amar? Por quem decidimos ter empatia? E quem achamos que não a merece? “O filme fala da possibilidade de todos nós sermos perpetradores”, disse Glazer. Ou seja, de termos pessoas ou grupos do lado de lá de nossos muros.

Mesmo sabendo que seu longa é e será atual por muitas décadas, sua esperança não é abalada. “Eu acredito que podemos evoluir. Eu me recuso a achar que não podemos.”

Como fazer uma obra diferente sobre o Holocausto, que já rendeu clássicos premiados com o Oscar como A Lista de Schindler (1993) e O Pianista (2002)? Essa era a pergunta na cabeça de Jonathan Glazer ao criar Zona de Interesse, que estreia oficialmente nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, 15, e concorre a cinco estatuetas, incluindo melhor filme, direção e produção internacional.

O cineasta inglês, que filma a cada dez anos, mais ou menos – seu último longa tinha sido Sob a Pele, de 2013 –, buscava uma abordagem nova que trouxesse a tragédia dos anos 1940 para os dias de hoje. “Ele nunca quer se repetir e sempre deseja explorar os limites da linguagem”, disse o produtor Jim Wilson em entrevista à imprensa, por videoconferência, com a participação do Estadão.

Na cabeça do diretor, já circulava a ideia de levar o Holocausto à tela pelo ponto de vista dos perpetradores, ou seja, dos nazistas. Quando ele topou com A Zona de Interesse, livro de Martin Amis (1949-2023) lançado no Brasil pela Companhia das Letras, foi como se ganhasse permissão para explorar essa possibilidade arriscada.

“É uma posição muito incômoda de se colocar artisticamente, por razões óbvias”, disse Glazer em entrevista. “Mas havia algo muito corajoso em sua tentativa, e isso me ajudou na minha, na verdade.”

No romance, há três personagens no entorno de um campo de extermínio fictício: o comandante, um oficial e um homem que organiza os prisioneiros trabalhando para os nazistas.

Conforme começou a pesquisar, o diretor e roteirista percebeu que a realidade era muito mais chocante do que qualquer ficção. E decidiu: seu personagem principal seria Rudolf Höss, que vivia com a mulher e os filhos em uma casa confortável com enorme jardim colada no muro de Auschwitz, comandado por ele entre 1940 e 1943.

No filme, depois de uma tela negra ao som da música inquietante de Mica Levi, que faz o espectador se concentrar e entrar no estado mental necessário para assistir, vemos uma família curtindo um dia de folga à beira de um lago.

'Zona de Interesse', indicado a 5 Oscars, chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, 15. Foto: Diamond Films/Divulgação

Nada remete a qualquer anormalidade, até chegarmos à casa e avistarmos uma torre, com guarita, e um muro. Höss (Christian Friedel) trabalha do lado de lá. Hedwig (Sandra Hüller, que concorre ao Oscar de melhor atriz por Anatomia de uma Queda, de Justine Triet) fica sempre na casa, dando instruções para os empregados e cuidando do belo jardim.

Nós, os espectadores, nunca vemos o interior do campo. Mas ele está sempre presente no trabalho fabuloso de som de Johnnie Burn, também concorrente ao Oscar. Os barulhos da indústria da morte que era Auschwitz, dos fornos sendo ligados, dos gritos, dos tiros, por vezes invadem os espaços da família e a mente do espectador. Auschwitz está presente o tempo inteiro, mesmo que jamais entremos lá.

“Nunca tive nenhum desejo de recriar as atrocidades com atores e figurantes. Não havia essa opção para mim”, disse Glazer. “O som é capaz de pintar essas imagens na nossa cabeça.”

Em todas as suas escolhas, o cineasta procurou se afastar da fetichização e de uma possível glamourização, aproximando-se ao máximo do realismo. O filme é falado em alemão – daí ser o candidato do Reino Unido ao Oscar de melhor internacional.

'Zona de Interesse' é filme sobre Holocausto diferente, sem glamourização e da perspectiva dos nazistas. Foto: Diamond Films/Divulgação

A casa dos Höss é uma construção verdadeira a poucos metros de Auschwitz, com iluminação natural – ou seja, sem luzes de cinema – em todas as cenas exceto uma. Os closes são evitados, para que não haja nenhuma empatia com Rudolf ou Hedwig.

As câmeras são todas fixas e estavam espalhadas em locais escondidos pela casa. Os atores não sabiam sua localização. É como se fosse um Big Brother, sempre espiando – e julgando – os moradores da casa.

Mas Zona de Interesse recusa a narrativa de que nazistas e perpetradores do Holocausto eram monstros. “Eles não eram anomalias, na maior parte das vezes eram pessoas normais que, pouco a pouco, tornaram-se assassinos em massa dissociados de seus crimes, pois não os enxergavam como crimes”, disse Glazer.

Por isso ele quis usar todos os métodos possíveis para fazer um filme de hoje, do século 21 – há inclusive sequências que colocam o passado e o presente em diálogo direto. Daí as lentes de alta tecnologia e resolução e as câmeras termográficas, que captam a luz infravermelha emitida por objetos e corpos, para sequências específicas de esperança e solidariedade em meio ao horror. “Eu não queria fazer uma peça de museu sobre algo que aconteceu há 80 anos, mas sobre algo que está em andamento.”

'Zona de Interesse' usou lentes de alta tecnologia e resolução e câmeras termográficas. Foto: Diamond Films/Divulgação

Foi essa, inclusive, a justificativa dada a seu pai, que ainda estava vivo quando Jonathan decidiu fazer Zona de Interesse. Judeu, ele achava que era um assunto para “deixar apodrecer”. “O Holocausto foi muitas vezes mitificado e tratado como um evento único, tornando-o hermético”, disse o produtor Jim Wilson.

Mas, na opinião de Wilson e Glazer, Rudolf e Hedwig poderiam ser nossos vizinhos. Eles tinham sonhos, tinham orgulho da casa, queriam proteger sua família. Rudolf contava histórias para os filhos depois de separar famílias e mandar crianças para a câmara de gás.

Claro que são um exemplo extremo, até porque tinham convicção naquilo. A ideia não é traçar equivalências morais ou éticas com os nazistas.

Mas o filme trata da nossa capacidade de cometer violência. E de nossa indiferença, cumplicidade, dissociação dos horrores do mundo para proteger nosso estado mental, nossa segurança, nossos luxos.

Jonathan Glazer

Seu desejo é que Zona de Interesse seja um aviso e abra questionamentos. O que escolhemos amar? Quem escolhemos amar? Por quem decidimos ter empatia? E quem achamos que não a merece? “O filme fala da possibilidade de todos nós sermos perpetradores”, disse Glazer. Ou seja, de termos pessoas ou grupos do lado de lá de nossos muros.

Mesmo sabendo que seu longa é e será atual por muitas décadas, sua esperança não é abalada. “Eu acredito que podemos evoluir. Eu me recuso a achar que não podemos.”

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