Coluna quinzenal do roteirista Lusa Silvestre com crônicas sobre a vida vista com ironia dramática

Opinião|Discurso de ócio: a solução para os problemas da política no Brasil


Que os políticos sejam nobres de verdade, gritem pela liberdade em fazer nada e fiquem balangando na rede, à toa mesmo - sem golpe de estado, sem mandar ninguém fuck you, sem ódio

Por Lusa Silvestre

Tenho uma tese sobre política no Brasil. E pode roteirista postular em tão complexa matéria? Ô se pode. Não viram Ainda Estou Aqui? Então. Porém, antes, preciso explicar meu raciocínio, corte e viés baseado no ócio. É assunto que nós, preguiçosos brasileiros, adoramos - segundo Monteiro Lobato em Urupês (1918).

Quando surgiu, na Grécia Antiga, ócio era o tempo dedicado às atividades nobres, em prol da comunidade. Sujeito trabalhava o dia todo – e aí, no fim do expediente, fechava a lojinha e ia pro ócio. Que podia ser atuar em teatro, declamar poesia pra idosos, dar aulas de filosofia - ou até fazer política. Sim, porque alguém precisava se dedicar à administração do lugar. Senão virava zona, e tal prática só foi inventada no Brasil, a partir de 1500.

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(Antes deste achamento, nosso pedaço de chão natal era bem-organizado. Cito livremente Oswald de Andrade, em 1927: tivesse o índio despido Cabral - e não sido vestido pelo português -, tudo estaria melhor.).

Mas divago. Voltemos ao assunto. Pasme, portanto, o leitor: política era considerada atividade nobre. Imagine Platão equilibrando-se num banquinho, barba e toga frouxa, discursando sobre A República (380 a.C)? Algo realmente sublime.

Com os milênios, essa noção de ócio foi se vulgarizando. Vejamos Fernando Pessoa, já em 1935: “Ai que prazer: ter um livro pra ler e não fazer.” Adoro. Ficar de boa enquanto o resto da humanidade estressa é privilégio conquistado. Apropriadamente, o poema chama Liberdade. É bem o que os políticos querem: liberdade pra sair zoando o País.

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O ócio criativo implica a ideia de que 'fazer nada' ajuda na criatividade. Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Corta para 1995. Veio Domenico de Masi com O Ócio Criativo. Banalizando, é quando você fica fazendo nada, aproveitando o tempo livre, se inspirando, deixando o cérebro na banguela até vir uma inspiração. Tem mais coisa na tese do Domenico, mas o que importa pra nossa conversa é: a pessoa fica à toa, indolentemente, enquanto aguarda por um anjo pintado por Rafael Sanzio (1483-1520) soprar alguma ideia boa no ouvido.

Agora sim: compilando todas essas visões ao longo do tempo, chegamos à solução para todos os problemas políticos do Brasil - quiçá do mundo. Teremos a grandeza dos gregos, com a emancipação que os espalhadores de fake news querem, mais a leseira secular atribuída ao nosso povo brazuca. Que os políticos sejam nobres de verdade, gritem pela liberdade em fazer nada e fiquem balangando na rede, à toa mesmo - sem golpe de estado, sem mandar ninguém fuck you, sem ódio - simplesmente ali, fazendo chongas e ouvindo Tom Zé (1936).

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Tenho uma tese sobre política no Brasil. E pode roteirista postular em tão complexa matéria? Ô se pode. Não viram Ainda Estou Aqui? Então. Porém, antes, preciso explicar meu raciocínio, corte e viés baseado no ócio. É assunto que nós, preguiçosos brasileiros, adoramos - segundo Monteiro Lobato em Urupês (1918).

Quando surgiu, na Grécia Antiga, ócio era o tempo dedicado às atividades nobres, em prol da comunidade. Sujeito trabalhava o dia todo – e aí, no fim do expediente, fechava a lojinha e ia pro ócio. Que podia ser atuar em teatro, declamar poesia pra idosos, dar aulas de filosofia - ou até fazer política. Sim, porque alguém precisava se dedicar à administração do lugar. Senão virava zona, e tal prática só foi inventada no Brasil, a partir de 1500.

(Antes deste achamento, nosso pedaço de chão natal era bem-organizado. Cito livremente Oswald de Andrade, em 1927: tivesse o índio despido Cabral - e não sido vestido pelo português -, tudo estaria melhor.).

Mas divago. Voltemos ao assunto. Pasme, portanto, o leitor: política era considerada atividade nobre. Imagine Platão equilibrando-se num banquinho, barba e toga frouxa, discursando sobre A República (380 a.C)? Algo realmente sublime.

Com os milênios, essa noção de ócio foi se vulgarizando. Vejamos Fernando Pessoa, já em 1935: “Ai que prazer: ter um livro pra ler e não fazer.” Adoro. Ficar de boa enquanto o resto da humanidade estressa é privilégio conquistado. Apropriadamente, o poema chama Liberdade. É bem o que os políticos querem: liberdade pra sair zoando o País.

O ócio criativo implica a ideia de que 'fazer nada' ajuda na criatividade. Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Corta para 1995. Veio Domenico de Masi com O Ócio Criativo. Banalizando, é quando você fica fazendo nada, aproveitando o tempo livre, se inspirando, deixando o cérebro na banguela até vir uma inspiração. Tem mais coisa na tese do Domenico, mas o que importa pra nossa conversa é: a pessoa fica à toa, indolentemente, enquanto aguarda por um anjo pintado por Rafael Sanzio (1483-1520) soprar alguma ideia boa no ouvido.

Agora sim: compilando todas essas visões ao longo do tempo, chegamos à solução para todos os problemas políticos do Brasil - quiçá do mundo. Teremos a grandeza dos gregos, com a emancipação que os espalhadores de fake news querem, mais a leseira secular atribuída ao nosso povo brazuca. Que os políticos sejam nobres de verdade, gritem pela liberdade em fazer nada e fiquem balangando na rede, à toa mesmo - sem golpe de estado, sem mandar ninguém fuck you, sem ódio - simplesmente ali, fazendo chongas e ouvindo Tom Zé (1936).

Tenho uma tese sobre política no Brasil. E pode roteirista postular em tão complexa matéria? Ô se pode. Não viram Ainda Estou Aqui? Então. Porém, antes, preciso explicar meu raciocínio, corte e viés baseado no ócio. É assunto que nós, preguiçosos brasileiros, adoramos - segundo Monteiro Lobato em Urupês (1918).

Quando surgiu, na Grécia Antiga, ócio era o tempo dedicado às atividades nobres, em prol da comunidade. Sujeito trabalhava o dia todo – e aí, no fim do expediente, fechava a lojinha e ia pro ócio. Que podia ser atuar em teatro, declamar poesia pra idosos, dar aulas de filosofia - ou até fazer política. Sim, porque alguém precisava se dedicar à administração do lugar. Senão virava zona, e tal prática só foi inventada no Brasil, a partir de 1500.

(Antes deste achamento, nosso pedaço de chão natal era bem-organizado. Cito livremente Oswald de Andrade, em 1927: tivesse o índio despido Cabral - e não sido vestido pelo português -, tudo estaria melhor.).

Mas divago. Voltemos ao assunto. Pasme, portanto, o leitor: política era considerada atividade nobre. Imagine Platão equilibrando-se num banquinho, barba e toga frouxa, discursando sobre A República (380 a.C)? Algo realmente sublime.

Com os milênios, essa noção de ócio foi se vulgarizando. Vejamos Fernando Pessoa, já em 1935: “Ai que prazer: ter um livro pra ler e não fazer.” Adoro. Ficar de boa enquanto o resto da humanidade estressa é privilégio conquistado. Apropriadamente, o poema chama Liberdade. É bem o que os políticos querem: liberdade pra sair zoando o País.

O ócio criativo implica a ideia de que 'fazer nada' ajuda na criatividade. Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Corta para 1995. Veio Domenico de Masi com O Ócio Criativo. Banalizando, é quando você fica fazendo nada, aproveitando o tempo livre, se inspirando, deixando o cérebro na banguela até vir uma inspiração. Tem mais coisa na tese do Domenico, mas o que importa pra nossa conversa é: a pessoa fica à toa, indolentemente, enquanto aguarda por um anjo pintado por Rafael Sanzio (1483-1520) soprar alguma ideia boa no ouvido.

Agora sim: compilando todas essas visões ao longo do tempo, chegamos à solução para todos os problemas políticos do Brasil - quiçá do mundo. Teremos a grandeza dos gregos, com a emancipação que os espalhadores de fake news querem, mais a leseira secular atribuída ao nosso povo brazuca. Que os políticos sejam nobres de verdade, gritem pela liberdade em fazer nada e fiquem balangando na rede, à toa mesmo - sem golpe de estado, sem mandar ninguém fuck you, sem ódio - simplesmente ali, fazendo chongas e ouvindo Tom Zé (1936).

Tenho uma tese sobre política no Brasil. E pode roteirista postular em tão complexa matéria? Ô se pode. Não viram Ainda Estou Aqui? Então. Porém, antes, preciso explicar meu raciocínio, corte e viés baseado no ócio. É assunto que nós, preguiçosos brasileiros, adoramos - segundo Monteiro Lobato em Urupês (1918).

Quando surgiu, na Grécia Antiga, ócio era o tempo dedicado às atividades nobres, em prol da comunidade. Sujeito trabalhava o dia todo – e aí, no fim do expediente, fechava a lojinha e ia pro ócio. Que podia ser atuar em teatro, declamar poesia pra idosos, dar aulas de filosofia - ou até fazer política. Sim, porque alguém precisava se dedicar à administração do lugar. Senão virava zona, e tal prática só foi inventada no Brasil, a partir de 1500.

(Antes deste achamento, nosso pedaço de chão natal era bem-organizado. Cito livremente Oswald de Andrade, em 1927: tivesse o índio despido Cabral - e não sido vestido pelo português -, tudo estaria melhor.).

Mas divago. Voltemos ao assunto. Pasme, portanto, o leitor: política era considerada atividade nobre. Imagine Platão equilibrando-se num banquinho, barba e toga frouxa, discursando sobre A República (380 a.C)? Algo realmente sublime.

Com os milênios, essa noção de ócio foi se vulgarizando. Vejamos Fernando Pessoa, já em 1935: “Ai que prazer: ter um livro pra ler e não fazer.” Adoro. Ficar de boa enquanto o resto da humanidade estressa é privilégio conquistado. Apropriadamente, o poema chama Liberdade. É bem o que os políticos querem: liberdade pra sair zoando o País.

O ócio criativo implica a ideia de que 'fazer nada' ajuda na criatividade. Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Corta para 1995. Veio Domenico de Masi com O Ócio Criativo. Banalizando, é quando você fica fazendo nada, aproveitando o tempo livre, se inspirando, deixando o cérebro na banguela até vir uma inspiração. Tem mais coisa na tese do Domenico, mas o que importa pra nossa conversa é: a pessoa fica à toa, indolentemente, enquanto aguarda por um anjo pintado por Rafael Sanzio (1483-1520) soprar alguma ideia boa no ouvido.

Agora sim: compilando todas essas visões ao longo do tempo, chegamos à solução para todos os problemas políticos do Brasil - quiçá do mundo. Teremos a grandeza dos gregos, com a emancipação que os espalhadores de fake news querem, mais a leseira secular atribuída ao nosso povo brazuca. Que os políticos sejam nobres de verdade, gritem pela liberdade em fazer nada e fiquem balangando na rede, à toa mesmo - sem golpe de estado, sem mandar ninguém fuck you, sem ódio - simplesmente ali, fazendo chongas e ouvindo Tom Zé (1936).

Tenho uma tese sobre política no Brasil. E pode roteirista postular em tão complexa matéria? Ô se pode. Não viram Ainda Estou Aqui? Então. Porém, antes, preciso explicar meu raciocínio, corte e viés baseado no ócio. É assunto que nós, preguiçosos brasileiros, adoramos - segundo Monteiro Lobato em Urupês (1918).

Quando surgiu, na Grécia Antiga, ócio era o tempo dedicado às atividades nobres, em prol da comunidade. Sujeito trabalhava o dia todo – e aí, no fim do expediente, fechava a lojinha e ia pro ócio. Que podia ser atuar em teatro, declamar poesia pra idosos, dar aulas de filosofia - ou até fazer política. Sim, porque alguém precisava se dedicar à administração do lugar. Senão virava zona, e tal prática só foi inventada no Brasil, a partir de 1500.

(Antes deste achamento, nosso pedaço de chão natal era bem-organizado. Cito livremente Oswald de Andrade, em 1927: tivesse o índio despido Cabral - e não sido vestido pelo português -, tudo estaria melhor.).

Mas divago. Voltemos ao assunto. Pasme, portanto, o leitor: política era considerada atividade nobre. Imagine Platão equilibrando-se num banquinho, barba e toga frouxa, discursando sobre A República (380 a.C)? Algo realmente sublime.

Com os milênios, essa noção de ócio foi se vulgarizando. Vejamos Fernando Pessoa, já em 1935: “Ai que prazer: ter um livro pra ler e não fazer.” Adoro. Ficar de boa enquanto o resto da humanidade estressa é privilégio conquistado. Apropriadamente, o poema chama Liberdade. É bem o que os políticos querem: liberdade pra sair zoando o País.

O ócio criativo implica a ideia de que 'fazer nada' ajuda na criatividade. Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Corta para 1995. Veio Domenico de Masi com O Ócio Criativo. Banalizando, é quando você fica fazendo nada, aproveitando o tempo livre, se inspirando, deixando o cérebro na banguela até vir uma inspiração. Tem mais coisa na tese do Domenico, mas o que importa pra nossa conversa é: a pessoa fica à toa, indolentemente, enquanto aguarda por um anjo pintado por Rafael Sanzio (1483-1520) soprar alguma ideia boa no ouvido.

Agora sim: compilando todas essas visões ao longo do tempo, chegamos à solução para todos os problemas políticos do Brasil - quiçá do mundo. Teremos a grandeza dos gregos, com a emancipação que os espalhadores de fake news querem, mais a leseira secular atribuída ao nosso povo brazuca. Que os políticos sejam nobres de verdade, gritem pela liberdade em fazer nada e fiquem balangando na rede, à toa mesmo - sem golpe de estado, sem mandar ninguém fuck you, sem ódio - simplesmente ali, fazendo chongas e ouvindo Tom Zé (1936).

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Opinião por Lusa Silvestre

Roteirista dos filmes 'Estômago', 'O Roubo da Taça', 'Medida Provisória' e 'Sequestro do Voo 375'.

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