Coluna quinzenal do roteirista Lusa Silvestre com crônicas sobre a vida vista com ironia dramática

Opinião|Estou fora da moda e não sou nenhum Adônis. Mas pelo menos como pizza


Se a moda é comportamento, comigo ela está se comportando mal porque, pelo visto, não existe vestimenta para mim e estou para todo sempre condenado a vestir jeans apertado

Por Lusa Silvestre

Meio que sem querer acabei vendo algumas fotos da Semana de Moda de Paris. As modelos magérrimas, gente. Dos 206 ossos que temos no corpo, 150 estavam à mostra. Essas meninas não têm ninguém pra servir um bolo de laranja, um quindim? Não vão em festa junina tomar quentão?

Onde foram parar as modelos plus size, dez quilos acima do peso, balangando atitude e confiança - mais parecidas com o que se vê na rua? Eu achava que o mundo estava preparado para ver gente normal usando roupas. Não é o que está parecendo.

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Pelo visto, não existe vestimenta para mim, não tenho saída. Estou para todo sempre condenado a vestir jeans apertado e camiseta com umbigo à mostra. Faz tempo que sou governado pelo coração, no que tange a alimentos. Se tiver mil folhas na pauta, eu como mesmo - uma por uma.

Estátua de Adônis no Louvre, de 1602, feita por Marcantonio Prestinari Foto: Collections.Luvre.fr

Meu metabolismo também não ajuda; cada azeitona é 15 minutos na esteira ouvindo Prince. Além disso, a lida aqui em casa é dura; muitas vezes preciso de um prêmio por ter sobrevivido até de noite – que não vai ser quinoa. Churchill bebia todo dia; dizia que “nas derrotas, eu preciso. Nas vitórias, eu mereço”.

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Juro que busquei meu lugar nas passarelas. Cheguei a usar Ozempic. Não sei se sabem, é uma injeção que você mesmo aplica na sua barriga, e fica sem fome porque seu estômago se torna preguiçoso que nem o reggae. Tem quem goste. Não quero entrar em detalhes, mas ir ao banheiro se torna Copa do Mundo: a cada quatro anos.

Sem contar que a injeção custa mil reais. Com a mesma grana, eu compro uma caixa de scotch e me divirto horrores. E ainda sobra pro sorvete de gianduia. Vou buscando consolo por ter sido excluído do mundo fashion. Por exemplo: li na Revista Claudia que o intelectual pode estar até acima do peso que continua sedutor – então em vez de evitar pizza, estou lendo Umberto Eco.

Esse fascínio por gente magra começou com os gregos, que inventaram as Olimpíadas para todo mundo ficar sem camisa. Aí, Michelângelo e os renascentistas resgataram essa beleza estilo Adônis e saíram divulgando como arte. Só que, vamos combinar, Adônis era semideus; não tinha boleto pra pagar e ficava o dia todo na Smart Fit do Monte Olimpo. Filho de rico. Não era gente como a gente.

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Família retratada pelo artista colombiano Fernando Botero (1932-2023) Foto: Fundación Botero

Podiam ter deixado essa estética esquecida lá atrás, em algum templo em ruínas de Creta. Saíram fazendo teto de capela, estátua de Davi, incentivando costelas e músculos aparentes. Foi quando tudo começou. Tivesse sido o Botero a pintar a Sistina, a gente estaria agora comendo chocolate sem culpa. E todo mundo teria roupa bonita.

Meio que sem querer acabei vendo algumas fotos da Semana de Moda de Paris. As modelos magérrimas, gente. Dos 206 ossos que temos no corpo, 150 estavam à mostra. Essas meninas não têm ninguém pra servir um bolo de laranja, um quindim? Não vão em festa junina tomar quentão?

Onde foram parar as modelos plus size, dez quilos acima do peso, balangando atitude e confiança - mais parecidas com o que se vê na rua? Eu achava que o mundo estava preparado para ver gente normal usando roupas. Não é o que está parecendo.

Pelo visto, não existe vestimenta para mim, não tenho saída. Estou para todo sempre condenado a vestir jeans apertado e camiseta com umbigo à mostra. Faz tempo que sou governado pelo coração, no que tange a alimentos. Se tiver mil folhas na pauta, eu como mesmo - uma por uma.

Estátua de Adônis no Louvre, de 1602, feita por Marcantonio Prestinari Foto: Collections.Luvre.fr

Meu metabolismo também não ajuda; cada azeitona é 15 minutos na esteira ouvindo Prince. Além disso, a lida aqui em casa é dura; muitas vezes preciso de um prêmio por ter sobrevivido até de noite – que não vai ser quinoa. Churchill bebia todo dia; dizia que “nas derrotas, eu preciso. Nas vitórias, eu mereço”.

Juro que busquei meu lugar nas passarelas. Cheguei a usar Ozempic. Não sei se sabem, é uma injeção que você mesmo aplica na sua barriga, e fica sem fome porque seu estômago se torna preguiçoso que nem o reggae. Tem quem goste. Não quero entrar em detalhes, mas ir ao banheiro se torna Copa do Mundo: a cada quatro anos.

Sem contar que a injeção custa mil reais. Com a mesma grana, eu compro uma caixa de scotch e me divirto horrores. E ainda sobra pro sorvete de gianduia. Vou buscando consolo por ter sido excluído do mundo fashion. Por exemplo: li na Revista Claudia que o intelectual pode estar até acima do peso que continua sedutor – então em vez de evitar pizza, estou lendo Umberto Eco.

Esse fascínio por gente magra começou com os gregos, que inventaram as Olimpíadas para todo mundo ficar sem camisa. Aí, Michelângelo e os renascentistas resgataram essa beleza estilo Adônis e saíram divulgando como arte. Só que, vamos combinar, Adônis era semideus; não tinha boleto pra pagar e ficava o dia todo na Smart Fit do Monte Olimpo. Filho de rico. Não era gente como a gente.

Família retratada pelo artista colombiano Fernando Botero (1932-2023) Foto: Fundación Botero

Podiam ter deixado essa estética esquecida lá atrás, em algum templo em ruínas de Creta. Saíram fazendo teto de capela, estátua de Davi, incentivando costelas e músculos aparentes. Foi quando tudo começou. Tivesse sido o Botero a pintar a Sistina, a gente estaria agora comendo chocolate sem culpa. E todo mundo teria roupa bonita.

Meio que sem querer acabei vendo algumas fotos da Semana de Moda de Paris. As modelos magérrimas, gente. Dos 206 ossos que temos no corpo, 150 estavam à mostra. Essas meninas não têm ninguém pra servir um bolo de laranja, um quindim? Não vão em festa junina tomar quentão?

Onde foram parar as modelos plus size, dez quilos acima do peso, balangando atitude e confiança - mais parecidas com o que se vê na rua? Eu achava que o mundo estava preparado para ver gente normal usando roupas. Não é o que está parecendo.

Pelo visto, não existe vestimenta para mim, não tenho saída. Estou para todo sempre condenado a vestir jeans apertado e camiseta com umbigo à mostra. Faz tempo que sou governado pelo coração, no que tange a alimentos. Se tiver mil folhas na pauta, eu como mesmo - uma por uma.

Estátua de Adônis no Louvre, de 1602, feita por Marcantonio Prestinari Foto: Collections.Luvre.fr

Meu metabolismo também não ajuda; cada azeitona é 15 minutos na esteira ouvindo Prince. Além disso, a lida aqui em casa é dura; muitas vezes preciso de um prêmio por ter sobrevivido até de noite – que não vai ser quinoa. Churchill bebia todo dia; dizia que “nas derrotas, eu preciso. Nas vitórias, eu mereço”.

Juro que busquei meu lugar nas passarelas. Cheguei a usar Ozempic. Não sei se sabem, é uma injeção que você mesmo aplica na sua barriga, e fica sem fome porque seu estômago se torna preguiçoso que nem o reggae. Tem quem goste. Não quero entrar em detalhes, mas ir ao banheiro se torna Copa do Mundo: a cada quatro anos.

Sem contar que a injeção custa mil reais. Com a mesma grana, eu compro uma caixa de scotch e me divirto horrores. E ainda sobra pro sorvete de gianduia. Vou buscando consolo por ter sido excluído do mundo fashion. Por exemplo: li na Revista Claudia que o intelectual pode estar até acima do peso que continua sedutor – então em vez de evitar pizza, estou lendo Umberto Eco.

Esse fascínio por gente magra começou com os gregos, que inventaram as Olimpíadas para todo mundo ficar sem camisa. Aí, Michelângelo e os renascentistas resgataram essa beleza estilo Adônis e saíram divulgando como arte. Só que, vamos combinar, Adônis era semideus; não tinha boleto pra pagar e ficava o dia todo na Smart Fit do Monte Olimpo. Filho de rico. Não era gente como a gente.

Família retratada pelo artista colombiano Fernando Botero (1932-2023) Foto: Fundación Botero

Podiam ter deixado essa estética esquecida lá atrás, em algum templo em ruínas de Creta. Saíram fazendo teto de capela, estátua de Davi, incentivando costelas e músculos aparentes. Foi quando tudo começou. Tivesse sido o Botero a pintar a Sistina, a gente estaria agora comendo chocolate sem culpa. E todo mundo teria roupa bonita.

Meio que sem querer acabei vendo algumas fotos da Semana de Moda de Paris. As modelos magérrimas, gente. Dos 206 ossos que temos no corpo, 150 estavam à mostra. Essas meninas não têm ninguém pra servir um bolo de laranja, um quindim? Não vão em festa junina tomar quentão?

Onde foram parar as modelos plus size, dez quilos acima do peso, balangando atitude e confiança - mais parecidas com o que se vê na rua? Eu achava que o mundo estava preparado para ver gente normal usando roupas. Não é o que está parecendo.

Pelo visto, não existe vestimenta para mim, não tenho saída. Estou para todo sempre condenado a vestir jeans apertado e camiseta com umbigo à mostra. Faz tempo que sou governado pelo coração, no que tange a alimentos. Se tiver mil folhas na pauta, eu como mesmo - uma por uma.

Estátua de Adônis no Louvre, de 1602, feita por Marcantonio Prestinari Foto: Collections.Luvre.fr

Meu metabolismo também não ajuda; cada azeitona é 15 minutos na esteira ouvindo Prince. Além disso, a lida aqui em casa é dura; muitas vezes preciso de um prêmio por ter sobrevivido até de noite – que não vai ser quinoa. Churchill bebia todo dia; dizia que “nas derrotas, eu preciso. Nas vitórias, eu mereço”.

Juro que busquei meu lugar nas passarelas. Cheguei a usar Ozempic. Não sei se sabem, é uma injeção que você mesmo aplica na sua barriga, e fica sem fome porque seu estômago se torna preguiçoso que nem o reggae. Tem quem goste. Não quero entrar em detalhes, mas ir ao banheiro se torna Copa do Mundo: a cada quatro anos.

Sem contar que a injeção custa mil reais. Com a mesma grana, eu compro uma caixa de scotch e me divirto horrores. E ainda sobra pro sorvete de gianduia. Vou buscando consolo por ter sido excluído do mundo fashion. Por exemplo: li na Revista Claudia que o intelectual pode estar até acima do peso que continua sedutor – então em vez de evitar pizza, estou lendo Umberto Eco.

Esse fascínio por gente magra começou com os gregos, que inventaram as Olimpíadas para todo mundo ficar sem camisa. Aí, Michelângelo e os renascentistas resgataram essa beleza estilo Adônis e saíram divulgando como arte. Só que, vamos combinar, Adônis era semideus; não tinha boleto pra pagar e ficava o dia todo na Smart Fit do Monte Olimpo. Filho de rico. Não era gente como a gente.

Família retratada pelo artista colombiano Fernando Botero (1932-2023) Foto: Fundación Botero

Podiam ter deixado essa estética esquecida lá atrás, em algum templo em ruínas de Creta. Saíram fazendo teto de capela, estátua de Davi, incentivando costelas e músculos aparentes. Foi quando tudo começou. Tivesse sido o Botero a pintar a Sistina, a gente estaria agora comendo chocolate sem culpa. E todo mundo teria roupa bonita.

Meio que sem querer acabei vendo algumas fotos da Semana de Moda de Paris. As modelos magérrimas, gente. Dos 206 ossos que temos no corpo, 150 estavam à mostra. Essas meninas não têm ninguém pra servir um bolo de laranja, um quindim? Não vão em festa junina tomar quentão?

Onde foram parar as modelos plus size, dez quilos acima do peso, balangando atitude e confiança - mais parecidas com o que se vê na rua? Eu achava que o mundo estava preparado para ver gente normal usando roupas. Não é o que está parecendo.

Pelo visto, não existe vestimenta para mim, não tenho saída. Estou para todo sempre condenado a vestir jeans apertado e camiseta com umbigo à mostra. Faz tempo que sou governado pelo coração, no que tange a alimentos. Se tiver mil folhas na pauta, eu como mesmo - uma por uma.

Estátua de Adônis no Louvre, de 1602, feita por Marcantonio Prestinari Foto: Collections.Luvre.fr

Meu metabolismo também não ajuda; cada azeitona é 15 minutos na esteira ouvindo Prince. Além disso, a lida aqui em casa é dura; muitas vezes preciso de um prêmio por ter sobrevivido até de noite – que não vai ser quinoa. Churchill bebia todo dia; dizia que “nas derrotas, eu preciso. Nas vitórias, eu mereço”.

Juro que busquei meu lugar nas passarelas. Cheguei a usar Ozempic. Não sei se sabem, é uma injeção que você mesmo aplica na sua barriga, e fica sem fome porque seu estômago se torna preguiçoso que nem o reggae. Tem quem goste. Não quero entrar em detalhes, mas ir ao banheiro se torna Copa do Mundo: a cada quatro anos.

Sem contar que a injeção custa mil reais. Com a mesma grana, eu compro uma caixa de scotch e me divirto horrores. E ainda sobra pro sorvete de gianduia. Vou buscando consolo por ter sido excluído do mundo fashion. Por exemplo: li na Revista Claudia que o intelectual pode estar até acima do peso que continua sedutor – então em vez de evitar pizza, estou lendo Umberto Eco.

Esse fascínio por gente magra começou com os gregos, que inventaram as Olimpíadas para todo mundo ficar sem camisa. Aí, Michelângelo e os renascentistas resgataram essa beleza estilo Adônis e saíram divulgando como arte. Só que, vamos combinar, Adônis era semideus; não tinha boleto pra pagar e ficava o dia todo na Smart Fit do Monte Olimpo. Filho de rico. Não era gente como a gente.

Família retratada pelo artista colombiano Fernando Botero (1932-2023) Foto: Fundación Botero

Podiam ter deixado essa estética esquecida lá atrás, em algum templo em ruínas de Creta. Saíram fazendo teto de capela, estátua de Davi, incentivando costelas e músculos aparentes. Foi quando tudo começou. Tivesse sido o Botero a pintar a Sistina, a gente estaria agora comendo chocolate sem culpa. E todo mundo teria roupa bonita.

Opinião por Lusa Silvestre

Roteirista dos filmes 'Estômago', 'O Roubo da Taça', 'Medida Provisória' e 'Sequestro do Voo 375'.

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