Brad Pitt não toma banho. Jake Gyllenhaall e Ashton Kutcher, também não. Como estrela de Hollywood é cheia de nheco-nhecos e manias, como a foto dos paparazzi não revela catiças e boduns, tudo bem. Queria ver se fosse eu. Careca, escritor, um e setenta e três de altura - se não fosse cheiroso, o que seria de mim?
Enquanto estava entre os famosos, soava como excentricidade. Mas médico que não toma banho? Oi? Aí é outro nível de desprendimento. E aconteceu: doutor James, de Yale, não entra em um chuveiro desde 2015. Nove anos! De vez em quando, lava a mão e corta a unha. O doutor só pode ser legista - quem iria num médico cujo cabelo está grudando feito chão de cozinha?
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Teve também um iraniano que ficou 60 anos na seca. Olhei a foto dele: parecia uma rolha queimada. Aos 94, resolveu se lavar e morreu. Deve ter sido de susto. Outro com higiene controversa foi Mao, o da China: nunca escovava os dentes e quando sorria mostrava a boca cheia de estalactites penduradas na gengiva. Registre-se: Mao era genocida. Faz todo sentido.
Mas banho não é só higiene, é mindfulness também: no box que a gente se refugia pra buscar epifanias. O hábito tem uma aura sagrada, um salvo-conduto para a reflexão, que todo mundo respeita. Pode aparecer filho pequeno batendo na porta, cachorro ganindo, namorada agoniada – que você continua ali, em paz. Onde que Brad fica a sós com seus pensamentos?
Banheiros são o Tibete da casa - e o banho, a meditação. É você sem roupa (que já traz contemplações alvissareiras), a água gostosa e o celular tocando Led bem alto. As melhores ideias aparecem, a mente clareia - e não é para qualquer assunto; só os nobres, aqueles que você gosta de pensar. Se alguém lhe provoca desalento, vingue-se: tire a pessoa do seu shower time – para ela, horário comercial.
O pior de tudo mesmo é a solidão de quem não toma banho. A pessoa que dispensa o sabonete abdica do amor - simples assim. Pode passar perfume e lavar as partes no bidê que a craca atrás da orelha denuncia. Vai pro último lugar na fila da carne, ligeiramente à frente dos eunucos. Vou acrescentar que banho não é sempre um evento solo – me entende quem namora.
Só mesmo em Hollywood que a pessoa consegue arrumar afetos sem o chuveiro cotidiano. Agora, gente de verdade? Gente como eu? Careca, escritor, um e setenta e três? Não acontece. Nem escrevendo “de tudo ao meu amor serei atento”. Então, resumindo, fica essa lição importante para todos: se você não é Brad Pitt, melhor tomar banho.