Coluna semanal do historiador Leandro Karnal, com crônicas e textos sobre ética, religião, comportamento e atualidades

Opinião|Você é normal?


O medo e a ideia de força são elementos sexuais clássicos. Um encarcerado pode potencializá-los

Por Leandro Karnal
Atualização:

Há pessoas que se excitam muito com partes do corpo. O fetiche da podolatria é uma fascinação por pés. No Ensino Fundamental, a gente lia A Pata da Gazela, de José de Alencar. Horácio, no romance, parece ser alguém talhado para desejar o pé – como a parte que revela e enleva.

Os pés podem ser parte dinâmica do jogo sexual. Uma massagem, feita pela parceira ou pelo parceiro, envolve alta carga erótica. Não causa estranheza social o marido elogiar o delicado pé da esposa. Uma mulher pode indicar para as amigas: o fato de o homem calçar 46 foi um detalhe que a atraiu para amplas possibilidades.

Ter fixação em pés é mais fácil de praticar do que a busca erótica de quem apresenta nasofilia. O fetiche sexual por nariz implica maior criatividade. Pés, afinal, costumam vir aos pares e são muito móveis. O nariz é único, mas (claro!) pode ir ao encontro do desejo.

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Cena do filme 'O Pequeno Narigudo', baseado no texto de Wilhelm Hauff, o protagonista Jacob é enfeitiçado e preso no castelo da Bruxa  Foto: Melnitsa Animation Studio

As parafilias são preferências sexuais menos frequentes. O chamado “normal” é algo complexo de ser delimitado no campo do comportamento humano, em especial dos gostos sexuais. Você conhece anadentisfilia? Trata-se do desejo por pessoa com poucos ou nenhum dente. O ser humano com essa característica pode até ficar constrangido em explicar ao mundo sua inclinação, mas (creia-me!) encontra um universo vasto e abundante à sua disposição. Gostar de pessoas com todos os dentes perfeitos e existentes é, no mínimo, mais caro.

Sigamos no denso labirinto das parafilias. Há um desejo específico por pessoas acusadas de crimes.

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Pois bem: “Ali está um assaltante violento?” A pessoa que contempla a ficha do condenado fica enlouquecida. Trata-se de um caso de hibristofilia. Fato concreto: muitos bandidos recolhidos às cadeias recebem grande quantidade de cartas de fãs, que se sentem atraídas (ou atraídos). O medo e a ideia de força são componentes sexuais clássicos. Um encarcerado pode potencializar tais sentimentos.

Ter o desejo não significa exercê-lo. O pudor, o medo, a formação moral existem para oferecer alguma margem de contenção ao impetuoso rio sexual. Sempre é bom observar sua companheira ou companheiro. Estão de carro e passam perto de alguma unidade prisional? Verifique a reação dela ou dele ao indicar que ali, atrás dos muros, há assaltantes, estelionatários, estupradores e possíveis assassinos. Observe a reação e aprenda um pouco mais. A hibristofilia explica um pouco do que se passa na cama, nos noticiários sensacionalistas ou, até, na política brasileira. Você tem esperança de ser normal? l

Há pessoas que se excitam muito com partes do corpo. O fetiche da podolatria é uma fascinação por pés. No Ensino Fundamental, a gente lia A Pata da Gazela, de José de Alencar. Horácio, no romance, parece ser alguém talhado para desejar o pé – como a parte que revela e enleva.

Os pés podem ser parte dinâmica do jogo sexual. Uma massagem, feita pela parceira ou pelo parceiro, envolve alta carga erótica. Não causa estranheza social o marido elogiar o delicado pé da esposa. Uma mulher pode indicar para as amigas: o fato de o homem calçar 46 foi um detalhe que a atraiu para amplas possibilidades.

Ter fixação em pés é mais fácil de praticar do que a busca erótica de quem apresenta nasofilia. O fetiche sexual por nariz implica maior criatividade. Pés, afinal, costumam vir aos pares e são muito móveis. O nariz é único, mas (claro!) pode ir ao encontro do desejo.

Cena do filme 'O Pequeno Narigudo', baseado no texto de Wilhelm Hauff, o protagonista Jacob é enfeitiçado e preso no castelo da Bruxa  Foto: Melnitsa Animation Studio

As parafilias são preferências sexuais menos frequentes. O chamado “normal” é algo complexo de ser delimitado no campo do comportamento humano, em especial dos gostos sexuais. Você conhece anadentisfilia? Trata-se do desejo por pessoa com poucos ou nenhum dente. O ser humano com essa característica pode até ficar constrangido em explicar ao mundo sua inclinação, mas (creia-me!) encontra um universo vasto e abundante à sua disposição. Gostar de pessoas com todos os dentes perfeitos e existentes é, no mínimo, mais caro.

Sigamos no denso labirinto das parafilias. Há um desejo específico por pessoas acusadas de crimes.

Pois bem: “Ali está um assaltante violento?” A pessoa que contempla a ficha do condenado fica enlouquecida. Trata-se de um caso de hibristofilia. Fato concreto: muitos bandidos recolhidos às cadeias recebem grande quantidade de cartas de fãs, que se sentem atraídas (ou atraídos). O medo e a ideia de força são componentes sexuais clássicos. Um encarcerado pode potencializar tais sentimentos.

Ter o desejo não significa exercê-lo. O pudor, o medo, a formação moral existem para oferecer alguma margem de contenção ao impetuoso rio sexual. Sempre é bom observar sua companheira ou companheiro. Estão de carro e passam perto de alguma unidade prisional? Verifique a reação dela ou dele ao indicar que ali, atrás dos muros, há assaltantes, estelionatários, estupradores e possíveis assassinos. Observe a reação e aprenda um pouco mais. A hibristofilia explica um pouco do que se passa na cama, nos noticiários sensacionalistas ou, até, na política brasileira. Você tem esperança de ser normal? l

Há pessoas que se excitam muito com partes do corpo. O fetiche da podolatria é uma fascinação por pés. No Ensino Fundamental, a gente lia A Pata da Gazela, de José de Alencar. Horácio, no romance, parece ser alguém talhado para desejar o pé – como a parte que revela e enleva.

Os pés podem ser parte dinâmica do jogo sexual. Uma massagem, feita pela parceira ou pelo parceiro, envolve alta carga erótica. Não causa estranheza social o marido elogiar o delicado pé da esposa. Uma mulher pode indicar para as amigas: o fato de o homem calçar 46 foi um detalhe que a atraiu para amplas possibilidades.

Ter fixação em pés é mais fácil de praticar do que a busca erótica de quem apresenta nasofilia. O fetiche sexual por nariz implica maior criatividade. Pés, afinal, costumam vir aos pares e são muito móveis. O nariz é único, mas (claro!) pode ir ao encontro do desejo.

Cena do filme 'O Pequeno Narigudo', baseado no texto de Wilhelm Hauff, o protagonista Jacob é enfeitiçado e preso no castelo da Bruxa  Foto: Melnitsa Animation Studio

As parafilias são preferências sexuais menos frequentes. O chamado “normal” é algo complexo de ser delimitado no campo do comportamento humano, em especial dos gostos sexuais. Você conhece anadentisfilia? Trata-se do desejo por pessoa com poucos ou nenhum dente. O ser humano com essa característica pode até ficar constrangido em explicar ao mundo sua inclinação, mas (creia-me!) encontra um universo vasto e abundante à sua disposição. Gostar de pessoas com todos os dentes perfeitos e existentes é, no mínimo, mais caro.

Sigamos no denso labirinto das parafilias. Há um desejo específico por pessoas acusadas de crimes.

Pois bem: “Ali está um assaltante violento?” A pessoa que contempla a ficha do condenado fica enlouquecida. Trata-se de um caso de hibristofilia. Fato concreto: muitos bandidos recolhidos às cadeias recebem grande quantidade de cartas de fãs, que se sentem atraídas (ou atraídos). O medo e a ideia de força são componentes sexuais clássicos. Um encarcerado pode potencializar tais sentimentos.

Ter o desejo não significa exercê-lo. O pudor, o medo, a formação moral existem para oferecer alguma margem de contenção ao impetuoso rio sexual. Sempre é bom observar sua companheira ou companheiro. Estão de carro e passam perto de alguma unidade prisional? Verifique a reação dela ou dele ao indicar que ali, atrás dos muros, há assaltantes, estelionatários, estupradores e possíveis assassinos. Observe a reação e aprenda um pouco mais. A hibristofilia explica um pouco do que se passa na cama, nos noticiários sensacionalistas ou, até, na política brasileira. Você tem esperança de ser normal? l

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Opinião por Leandro Karnal

É historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, colunista do Estadão desde 2016 e autor de 'A Coragem da Esperança', entre outros

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