Com elenco brasileiro, alemão encena Nelson Rodrigues


Frank Castorf apresenta nesta quinta no Sesc Vila Mariana Anjo Negro de Nelson Rodrigues com a Lembrança de uma Revolução: A Missão de Heiner Müller

Por Agencia Estado

Diretor artístico do teatro Volksbühne, em Berlim, o alemão Frank Castorf provoca polêmica por onde passa, dividindo platéias entre aplausos e vaias ou ainda o simples abandono das salas de teatro. Não foi diferente no Brasil, onde já apresentou Estação Terminal América, releitura de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, e Na Selva das Cidades, de Bertolt Brecht. Nesta quinta-feira, estréia no Sesc Vila Mariana o seu mais novo ´experimento´, como ele próprio define - Anjo Negro de Nelson Rodrigues com a Lembrança de uma Revolução: A Missão de Heiner Müller, título auto-explicativo, sobre a montagem que funde as peças Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, e A Missão, de Heiner Müller. No palco, um elenco de atores brasileiros, entre eles Georgette Fadel, Denise Assunção, Roberto Áudio, Darcio Ribeiro, Janaina Leite, e um coro de jovens da Cia. Filhos de Olorum. De alguma forma, Castorf realiza o sonho de Ismael, o médico negro protagonista de Anjo Negro: todos os personagens negros são representados por atores brancos e vice-versa. Nesta peça, Nelson trabalha com o racismo introjetado nos homens - negros ou brancos. Mais que isso, com aspectos inconscientes e obscuros da alma humana que podem aflorar na forma de racismo, incesto ou violência. No saguão do Sesc Vila Mariana, Castorf falou ao Estado sobre a conexão entre Müller e Nelson. Anjo Negro é uma peça linda, com muitas camadas de leitura, toca em mitos. Por que é preciso juntar Heiner Müller a material já tão amplo? Se você adora o texto, temos um problema. É uma peça da década de 40, muito peculiar. Ela impressiona do ponto de vista poético, é prenhe de escândalos, ressentimentos, sexualidade e violência. Mas tenho problemas com o seu viés fatalista, com o círculo vicioso que encerra. Talvez ela corresponda a este nosso momento histórico, de um capitalismo confiante na própria vitória, construído à custa da exclusão e da escravidão. Tenho a tendência a ter esperança histórica de que nosso mundo não precisa continuar tal como é. A Missão, de Muller, formula a esperança. Nesta peça, três homens muito diferentes - um escravo negro, um camponês e um filho de um rico escravocrata - decidem libertar a Jamaica da escravidão com um revolução nos moldes da Francesa. Fracassam, como outras experiências similares na História. Mas a tentativa é uma coisa extraordinária. Abre a possibilidade de entender que a transformação é possível. Nelson trata do preconceito introjetado nas pessoas. Müller está falando de uma revolução social, externa. Como você faz a conexão? Anjo Negro é a sombra de A Missão. São abordagens filosóficas muito diferentes, mas têm conexão. Escravos não têm pátria. Nossa pátria é a rebelião (diz Castorf repetindo frases dos personagens de A Missão). Eu quero mudar este mundo, com todas as raças trabalhando junto e talvez eu cruze pela rua com o meu irmão de criação cego (personagem de Anjo Negro). Isso soa como uma amostra da forma como você vai fundir as peças. A vida é muito mais rica, tem muito mais variação do que querem os dramaturgos com sua limpeza e pureza estilística. Eu sou um porco. Os porcos comem e digerem todo tipo de alimento. Eu sou um porco que devora estéticas e peculiaridades. Ou um antropófago, como Zé Celso, a quem você convidou para mostrar Os Sertões em Berlim? Tão radical e de vanguarda como ele eu não sou, não posso viver tais paroxismos. E como europeu, estou cindido com o canibalismo. A peça será apresentada para uma platéia predominantemente branca, de classe média. Isso influi na abordagem de alguma forma? Pode isso mesmo pode ser interessante como exercício de tolerância com forma e conteúdo agressivos. Nesta montagem, Ismael (o protagonista negro) é interpretado por um ator branco e Virgínia (sua mulher branca), por uma atriz negra. Fica mais difícil julgar, amar ou defender personagens se o pensamento é paradoxal. Acho que o teatro pode incentivar outra forma de pensar. Se a peça ajudar a pensar sem medo, isso já é uma transformação. de Nelson Rodrigues com A Lembrança de Uma Revolução: A Missão de Heiner Müller. 120 min. 14 anos. Sesc Vila Mariana - Teatro (608 lug.). R. Pelotas, 141, V. Mariana, 5080-3000. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 20. Até 10/12

Diretor artístico do teatro Volksbühne, em Berlim, o alemão Frank Castorf provoca polêmica por onde passa, dividindo platéias entre aplausos e vaias ou ainda o simples abandono das salas de teatro. Não foi diferente no Brasil, onde já apresentou Estação Terminal América, releitura de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, e Na Selva das Cidades, de Bertolt Brecht. Nesta quinta-feira, estréia no Sesc Vila Mariana o seu mais novo ´experimento´, como ele próprio define - Anjo Negro de Nelson Rodrigues com a Lembrança de uma Revolução: A Missão de Heiner Müller, título auto-explicativo, sobre a montagem que funde as peças Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, e A Missão, de Heiner Müller. No palco, um elenco de atores brasileiros, entre eles Georgette Fadel, Denise Assunção, Roberto Áudio, Darcio Ribeiro, Janaina Leite, e um coro de jovens da Cia. Filhos de Olorum. De alguma forma, Castorf realiza o sonho de Ismael, o médico negro protagonista de Anjo Negro: todos os personagens negros são representados por atores brancos e vice-versa. Nesta peça, Nelson trabalha com o racismo introjetado nos homens - negros ou brancos. Mais que isso, com aspectos inconscientes e obscuros da alma humana que podem aflorar na forma de racismo, incesto ou violência. No saguão do Sesc Vila Mariana, Castorf falou ao Estado sobre a conexão entre Müller e Nelson. Anjo Negro é uma peça linda, com muitas camadas de leitura, toca em mitos. Por que é preciso juntar Heiner Müller a material já tão amplo? Se você adora o texto, temos um problema. É uma peça da década de 40, muito peculiar. Ela impressiona do ponto de vista poético, é prenhe de escândalos, ressentimentos, sexualidade e violência. Mas tenho problemas com o seu viés fatalista, com o círculo vicioso que encerra. Talvez ela corresponda a este nosso momento histórico, de um capitalismo confiante na própria vitória, construído à custa da exclusão e da escravidão. Tenho a tendência a ter esperança histórica de que nosso mundo não precisa continuar tal como é. A Missão, de Muller, formula a esperança. Nesta peça, três homens muito diferentes - um escravo negro, um camponês e um filho de um rico escravocrata - decidem libertar a Jamaica da escravidão com um revolução nos moldes da Francesa. Fracassam, como outras experiências similares na História. Mas a tentativa é uma coisa extraordinária. Abre a possibilidade de entender que a transformação é possível. Nelson trata do preconceito introjetado nas pessoas. Müller está falando de uma revolução social, externa. Como você faz a conexão? Anjo Negro é a sombra de A Missão. São abordagens filosóficas muito diferentes, mas têm conexão. Escravos não têm pátria. Nossa pátria é a rebelião (diz Castorf repetindo frases dos personagens de A Missão). Eu quero mudar este mundo, com todas as raças trabalhando junto e talvez eu cruze pela rua com o meu irmão de criação cego (personagem de Anjo Negro). Isso soa como uma amostra da forma como você vai fundir as peças. A vida é muito mais rica, tem muito mais variação do que querem os dramaturgos com sua limpeza e pureza estilística. Eu sou um porco. Os porcos comem e digerem todo tipo de alimento. Eu sou um porco que devora estéticas e peculiaridades. Ou um antropófago, como Zé Celso, a quem você convidou para mostrar Os Sertões em Berlim? Tão radical e de vanguarda como ele eu não sou, não posso viver tais paroxismos. E como europeu, estou cindido com o canibalismo. A peça será apresentada para uma platéia predominantemente branca, de classe média. Isso influi na abordagem de alguma forma? Pode isso mesmo pode ser interessante como exercício de tolerância com forma e conteúdo agressivos. Nesta montagem, Ismael (o protagonista negro) é interpretado por um ator branco e Virgínia (sua mulher branca), por uma atriz negra. Fica mais difícil julgar, amar ou defender personagens se o pensamento é paradoxal. Acho que o teatro pode incentivar outra forma de pensar. Se a peça ajudar a pensar sem medo, isso já é uma transformação. de Nelson Rodrigues com A Lembrança de Uma Revolução: A Missão de Heiner Müller. 120 min. 14 anos. Sesc Vila Mariana - Teatro (608 lug.). R. Pelotas, 141, V. Mariana, 5080-3000. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 20. Até 10/12

Diretor artístico do teatro Volksbühne, em Berlim, o alemão Frank Castorf provoca polêmica por onde passa, dividindo platéias entre aplausos e vaias ou ainda o simples abandono das salas de teatro. Não foi diferente no Brasil, onde já apresentou Estação Terminal América, releitura de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, e Na Selva das Cidades, de Bertolt Brecht. Nesta quinta-feira, estréia no Sesc Vila Mariana o seu mais novo ´experimento´, como ele próprio define - Anjo Negro de Nelson Rodrigues com a Lembrança de uma Revolução: A Missão de Heiner Müller, título auto-explicativo, sobre a montagem que funde as peças Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, e A Missão, de Heiner Müller. No palco, um elenco de atores brasileiros, entre eles Georgette Fadel, Denise Assunção, Roberto Áudio, Darcio Ribeiro, Janaina Leite, e um coro de jovens da Cia. Filhos de Olorum. De alguma forma, Castorf realiza o sonho de Ismael, o médico negro protagonista de Anjo Negro: todos os personagens negros são representados por atores brancos e vice-versa. Nesta peça, Nelson trabalha com o racismo introjetado nos homens - negros ou brancos. Mais que isso, com aspectos inconscientes e obscuros da alma humana que podem aflorar na forma de racismo, incesto ou violência. No saguão do Sesc Vila Mariana, Castorf falou ao Estado sobre a conexão entre Müller e Nelson. Anjo Negro é uma peça linda, com muitas camadas de leitura, toca em mitos. Por que é preciso juntar Heiner Müller a material já tão amplo? Se você adora o texto, temos um problema. É uma peça da década de 40, muito peculiar. Ela impressiona do ponto de vista poético, é prenhe de escândalos, ressentimentos, sexualidade e violência. Mas tenho problemas com o seu viés fatalista, com o círculo vicioso que encerra. Talvez ela corresponda a este nosso momento histórico, de um capitalismo confiante na própria vitória, construído à custa da exclusão e da escravidão. Tenho a tendência a ter esperança histórica de que nosso mundo não precisa continuar tal como é. A Missão, de Muller, formula a esperança. Nesta peça, três homens muito diferentes - um escravo negro, um camponês e um filho de um rico escravocrata - decidem libertar a Jamaica da escravidão com um revolução nos moldes da Francesa. Fracassam, como outras experiências similares na História. Mas a tentativa é uma coisa extraordinária. Abre a possibilidade de entender que a transformação é possível. Nelson trata do preconceito introjetado nas pessoas. Müller está falando de uma revolução social, externa. Como você faz a conexão? Anjo Negro é a sombra de A Missão. São abordagens filosóficas muito diferentes, mas têm conexão. Escravos não têm pátria. Nossa pátria é a rebelião (diz Castorf repetindo frases dos personagens de A Missão). Eu quero mudar este mundo, com todas as raças trabalhando junto e talvez eu cruze pela rua com o meu irmão de criação cego (personagem de Anjo Negro). Isso soa como uma amostra da forma como você vai fundir as peças. A vida é muito mais rica, tem muito mais variação do que querem os dramaturgos com sua limpeza e pureza estilística. Eu sou um porco. Os porcos comem e digerem todo tipo de alimento. Eu sou um porco que devora estéticas e peculiaridades. Ou um antropófago, como Zé Celso, a quem você convidou para mostrar Os Sertões em Berlim? Tão radical e de vanguarda como ele eu não sou, não posso viver tais paroxismos. E como europeu, estou cindido com o canibalismo. A peça será apresentada para uma platéia predominantemente branca, de classe média. Isso influi na abordagem de alguma forma? Pode isso mesmo pode ser interessante como exercício de tolerância com forma e conteúdo agressivos. Nesta montagem, Ismael (o protagonista negro) é interpretado por um ator branco e Virgínia (sua mulher branca), por uma atriz negra. Fica mais difícil julgar, amar ou defender personagens se o pensamento é paradoxal. Acho que o teatro pode incentivar outra forma de pensar. Se a peça ajudar a pensar sem medo, isso já é uma transformação. de Nelson Rodrigues com A Lembrança de Uma Revolução: A Missão de Heiner Müller. 120 min. 14 anos. Sesc Vila Mariana - Teatro (608 lug.). R. Pelotas, 141, V. Mariana, 5080-3000. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 20. Até 10/12

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