K.d. lang está feliz. Os olhos brilham, o sorriso sai fácil. Diz ela que, após 28 anos, chegou ao seu melhor registro na carreira. Difícil contestar tamanho bom humor quando os primeiros acordes de I Confess abrem Sing it Loud. Do silêncio, do leve toque ao piano, surge um country-rock monumental. Algo como se o Wilco agora tivesse a canadense em seu time. O trânsito pelo underground, aliás, é só charme.
Lang faz canção para arrebatar, sem gênero ou categoria específica. Sua personalidade à frente dos microfones traz uma mescla de rock-star com diva do jazz. Mas, aqui, o principal feito vem do coletivo, como gosta de dizer técnico de futebol. Ao lado do produtor e compositor Joe Pisapia, ela resolveu montar uma banda nova.
Preservou dois integrantes antigos e contratou mais dois. Pronto. Nascia a Siss Boom Bang band. Assim, com créditos na capa e toda pompa necessária, o grupo tirou o fardo do "disco de cantora" para dar amplitude às ideias de sua protagonista. "Parecia mágica", descreveu k.d. lang sobre as poucas, mas intensas sessões de estúdio. Delas, vieram preciosidades como Perfect Word, um lamento resignado sobre o desencontro.
"Eu não preciso ganhar esta luta", diz o refrão. A química com os novos companheiros prova-se azeitada na melancólica A Sleep With No Dreaming. Há poucos acordes, muitos espaços e narrativa em franco diálogo com os versos de dor de amor. Em tom mais acústico, a saudade de casa bate forte em Inglewood.
Na faixa-título, porém, o sentimento é mais refrescante, um libertar do próprio lirismo. "Cante alto para que todos saibam quem é você", prega. A versão "oficial" do álbum vem com dez faixas, mas há o exemplar com quatro canções extras, que guarda a excepcional Reminiscing. Um apelo extra ao impecável retorno de k.d. lang, guardiã de um pop flutuante e de refinado processo criativo.