Cultura brasileira fornece contrapeso ao imperialismo, diz filósofo Peter Sloterdijk


Autor da trilogia 'Esferas' fala sobre seu pensamento em entrevista exclusiva ao 'Aliás'

Por Rodrigo Petronio e Nelson Schuchmacher Endebo
O filósofoalemão Peter Sloterdijk, autor da trilogia 'Esferas' Foto: Frederic Poletti/Editora Estação Liberdade

O alemão Peter Sloterdijk há anos vem se destacando como uma das vozes mais instigantes da filosofia contemporânea. Recentemente esteve no Brasil a convite do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. A publicação pela editora Estação Liberdade de Bolhas, primeiro volume de seu opus magnum, a trilogia Esferas, é um passo decisivo para uma maior difusão de Sloterdijk, ainda pouco conhecido entre os leitores brasileiros. 

Herdeiro da fenomenologia, de Nietzsche e de Heidegger, Sloterdijk articula em rede e de modo criativo uma vasta bibliografia de pensadores antigos, medievais e modernos, orientais e ocidentais. Aclimata-os aos problemas presentes. Apoia-se neles para projetar futuros cenários do humano. 

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O pensamento de Sloterdijk pode ser compreendido como uma revisão radical da filosofia por meio da antropologia. Uma nova e inesperada antropologia para além do humano. Para tanto, apoia-se nos sistemas dos organismos e nos paradigmas da metabologia para pensar os fenômenos, sejam eles humanos, transumanos ou não-humanos. Um pensamento de fronteira. Um saber dos limites. Uma ampla ontologia (estudo do ser) das relações, conexões, hibridismos. Em outras palavras, vale para sua obra a expressão que Agamben cunhou para Aby Warburg: uma ciência sem nome.

Essa proposta o insere na vanguarda do pensamento contemporâneo, ao lado de nomes como Bruno Latour, Isabelle Stengers, Donna Haraway, Philippe Descola. Também o situa em diálogo com movimentos recentes da filosofia como o realismo especulativo (RE) e a ontologia orientada aos objetos (OOO). 

O pensamento de Sloterdijk é uma abertura para se pensar uma infinidade de mundos, passados e futuros, atuais e virtuais, existentes e possíveis. O homo sapiens pode ser definido como resultado dessa inacabada e infinita autopoiesis. A soma indefinida de forças extra-humanas que concorrem e concorreram para que viéssemos a nos tornar aquilo que somos, como queria Nietzsche. Nesta entrevista, exclusiva para o Aliás, Sloterdijk sinaliza alguns desses caminhos de floresta, de carbono e de silício desbravados por seu pensamento. 

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Uma das mais belas definições de esfera é dada no Esferas I - Bolhas: “a coexistência precede a existência”. Podemos definir as Esferas como a passagem da facticidade do ser-aí, central nas filosofias da existência, à relacionalidade do ser-com?  A teoria das esferas busca de fato uma descrição abrangente do ser-junto (Zusammen-Seins). Aquilo que eu chamo de esfera é sempre um espaço que organiza um estar-com-outro – do par romântico até os agrupamentos sociais e cósmicos, de grande escala. A origem desse projeto é antiga: começou por volta de 1990, na Academia das Artes de Viena, quando eu me dedicava a uma pesquisa sobre a introdução de jovens artistas à reflexão filosófica. Ocorreu-me, na ocasião, a ideia de falar-lhes sobre duas figuras morfológicas, o círculo e a flecha; a flecha representaria a existência temporal, e o círculo, a habitação no espaço. A esferologia desenvolveu-se a partir dessas duas figuras. O primeiro volume, que lida com as formas menores, íntimas, foi lançado em 1998. Em 2004 apareceu o terceiro, cujo objeto são as multiplicidades que experimentamos como nosso mundo circundante. Entre um livro e o outro, foram sete anos.

A obra Esferas é a mais ampla, perfeita e definitiva fenomenologia dos meios circundantes jamais escrita. As esferas são estruturas morfológicas e ontológicas, não lógicas ou cronológicas. Contudo, à medida que a ausência de interioridade ontológica é mortal e uma vida sem interioridade seria uma antiesfera sem capacidade de se imunizar, podemos dizer que há uma anterioridade lógica das bolhas em relação aos globos e às espumas? A ambição do projeto Esferas como um todo é suprir os contornos de uma imunologia geral. Não nos esqueçamos: a palavra “imunologia” é uma metáfora emprestada por juristas aos biólogos. Eu dou um passo adiante, estendendo o conceito de immunis (que em latim significa “livre dos deveres”) à dimensão religiosa. Enquanto para Niklas Luhmann o sistema legal seria o sistema imunológico do sistema social, a esferologia afirma que a religião é o sistema imunológico original da sociedade. Isso é plausível se considerarmos, por exemplo, que o Direito e as leis foram, em quase todos os lugares, inicialmente codificados em formas religiosas, e só se separaram destas em um estágio ulterior da evolução social. Para a teoria das esferas, sociedades devem ser compreendidas como agrupamentos co-imunitários, nos quais a proteção emerge no estar-junto da comunidade. Nessas unidades co-imunitárias, imunidade e comunidade andam de mãos dadas. Desse ponto de vista, os espaços menores precedem os maiores.

Em uma passagem de Esferas I - Bolhas, o senhor diz que a teoria das esferas é uma “teoria geral dos meios”. Como o senhor definiria um meio? Em alemão, a palavra “Mittel” evoca a palavra “Mitte” (como em português) – presumivelmente por tentar imitar o termo latino medium. Acima de tudo, ela remete a ferramentas (como meio de...); se soubermos ouvi-la, entretanto, ela pode significar também o “meio”, o espaço intermediário, a atmosfera compartilhada. A esferologia busca fundamentar a midiologia em geral em uma teoria do espaço.

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A teoria das esferas implica uma globalização policêntrica. A partir de sua vivência na Índia e de sua recente viagem ao Brasil, como o senhor vê a especificidade da contribuição dos países do hemisfério sul à dinâmica mundial de bolhas, globos e espumas da esferologia? No terceiro volume da trilogia Esferas eu traço um painel do universo policêntrico que habitamos. O pluralismo espacial e a multiplicidade dos centros de poder são seminais para a existência (dasein) nas “espumas”. As culturas da Índia, da China e do Brasil são especialmente significativas, pois fornecem contrapesos consideráveis ao imperialismo da angloesfera. 

*Rodrigo Petronio é escritor, filósofo, doutor em Literatura Comparada pela Uerj e professor da Faap. Nelson Schuchmacher Endebo é doutorando em Literatura Comparada (Stanford University) e mestre em Comunicação (Uerj)

Capa do livro 'Esferas I - Bolhas', de Peter Sloterdijk Foto: Editora Estação Liberdade
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Esferas I - BolhasAutor: Peter SloterdijkTradução: José Oscar de Almeida MarquesEditora: Estação Liberdade 576 páginas R$ 95

O filósofoalemão Peter Sloterdijk, autor da trilogia 'Esferas' Foto: Frederic Poletti/Editora Estação Liberdade

O alemão Peter Sloterdijk há anos vem se destacando como uma das vozes mais instigantes da filosofia contemporânea. Recentemente esteve no Brasil a convite do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. A publicação pela editora Estação Liberdade de Bolhas, primeiro volume de seu opus magnum, a trilogia Esferas, é um passo decisivo para uma maior difusão de Sloterdijk, ainda pouco conhecido entre os leitores brasileiros. 

Herdeiro da fenomenologia, de Nietzsche e de Heidegger, Sloterdijk articula em rede e de modo criativo uma vasta bibliografia de pensadores antigos, medievais e modernos, orientais e ocidentais. Aclimata-os aos problemas presentes. Apoia-se neles para projetar futuros cenários do humano. 

O pensamento de Sloterdijk pode ser compreendido como uma revisão radical da filosofia por meio da antropologia. Uma nova e inesperada antropologia para além do humano. Para tanto, apoia-se nos sistemas dos organismos e nos paradigmas da metabologia para pensar os fenômenos, sejam eles humanos, transumanos ou não-humanos. Um pensamento de fronteira. Um saber dos limites. Uma ampla ontologia (estudo do ser) das relações, conexões, hibridismos. Em outras palavras, vale para sua obra a expressão que Agamben cunhou para Aby Warburg: uma ciência sem nome.

Essa proposta o insere na vanguarda do pensamento contemporâneo, ao lado de nomes como Bruno Latour, Isabelle Stengers, Donna Haraway, Philippe Descola. Também o situa em diálogo com movimentos recentes da filosofia como o realismo especulativo (RE) e a ontologia orientada aos objetos (OOO). 

O pensamento de Sloterdijk é uma abertura para se pensar uma infinidade de mundos, passados e futuros, atuais e virtuais, existentes e possíveis. O homo sapiens pode ser definido como resultado dessa inacabada e infinita autopoiesis. A soma indefinida de forças extra-humanas que concorrem e concorreram para que viéssemos a nos tornar aquilo que somos, como queria Nietzsche. Nesta entrevista, exclusiva para o Aliás, Sloterdijk sinaliza alguns desses caminhos de floresta, de carbono e de silício desbravados por seu pensamento. 

Uma das mais belas definições de esfera é dada no Esferas I - Bolhas: “a coexistência precede a existência”. Podemos definir as Esferas como a passagem da facticidade do ser-aí, central nas filosofias da existência, à relacionalidade do ser-com?  A teoria das esferas busca de fato uma descrição abrangente do ser-junto (Zusammen-Seins). Aquilo que eu chamo de esfera é sempre um espaço que organiza um estar-com-outro – do par romântico até os agrupamentos sociais e cósmicos, de grande escala. A origem desse projeto é antiga: começou por volta de 1990, na Academia das Artes de Viena, quando eu me dedicava a uma pesquisa sobre a introdução de jovens artistas à reflexão filosófica. Ocorreu-me, na ocasião, a ideia de falar-lhes sobre duas figuras morfológicas, o círculo e a flecha; a flecha representaria a existência temporal, e o círculo, a habitação no espaço. A esferologia desenvolveu-se a partir dessas duas figuras. O primeiro volume, que lida com as formas menores, íntimas, foi lançado em 1998. Em 2004 apareceu o terceiro, cujo objeto são as multiplicidades que experimentamos como nosso mundo circundante. Entre um livro e o outro, foram sete anos.

A obra Esferas é a mais ampla, perfeita e definitiva fenomenologia dos meios circundantes jamais escrita. As esferas são estruturas morfológicas e ontológicas, não lógicas ou cronológicas. Contudo, à medida que a ausência de interioridade ontológica é mortal e uma vida sem interioridade seria uma antiesfera sem capacidade de se imunizar, podemos dizer que há uma anterioridade lógica das bolhas em relação aos globos e às espumas? A ambição do projeto Esferas como um todo é suprir os contornos de uma imunologia geral. Não nos esqueçamos: a palavra “imunologia” é uma metáfora emprestada por juristas aos biólogos. Eu dou um passo adiante, estendendo o conceito de immunis (que em latim significa “livre dos deveres”) à dimensão religiosa. Enquanto para Niklas Luhmann o sistema legal seria o sistema imunológico do sistema social, a esferologia afirma que a religião é o sistema imunológico original da sociedade. Isso é plausível se considerarmos, por exemplo, que o Direito e as leis foram, em quase todos os lugares, inicialmente codificados em formas religiosas, e só se separaram destas em um estágio ulterior da evolução social. Para a teoria das esferas, sociedades devem ser compreendidas como agrupamentos co-imunitários, nos quais a proteção emerge no estar-junto da comunidade. Nessas unidades co-imunitárias, imunidade e comunidade andam de mãos dadas. Desse ponto de vista, os espaços menores precedem os maiores.

Em uma passagem de Esferas I - Bolhas, o senhor diz que a teoria das esferas é uma “teoria geral dos meios”. Como o senhor definiria um meio? Em alemão, a palavra “Mittel” evoca a palavra “Mitte” (como em português) – presumivelmente por tentar imitar o termo latino medium. Acima de tudo, ela remete a ferramentas (como meio de...); se soubermos ouvi-la, entretanto, ela pode significar também o “meio”, o espaço intermediário, a atmosfera compartilhada. A esferologia busca fundamentar a midiologia em geral em uma teoria do espaço.

A teoria das esferas implica uma globalização policêntrica. A partir de sua vivência na Índia e de sua recente viagem ao Brasil, como o senhor vê a especificidade da contribuição dos países do hemisfério sul à dinâmica mundial de bolhas, globos e espumas da esferologia? No terceiro volume da trilogia Esferas eu traço um painel do universo policêntrico que habitamos. O pluralismo espacial e a multiplicidade dos centros de poder são seminais para a existência (dasein) nas “espumas”. As culturas da Índia, da China e do Brasil são especialmente significativas, pois fornecem contrapesos consideráveis ao imperialismo da angloesfera. 

*Rodrigo Petronio é escritor, filósofo, doutor em Literatura Comparada pela Uerj e professor da Faap. Nelson Schuchmacher Endebo é doutorando em Literatura Comparada (Stanford University) e mestre em Comunicação (Uerj)

Capa do livro 'Esferas I - Bolhas', de Peter Sloterdijk Foto: Editora Estação Liberdade

Esferas I - BolhasAutor: Peter SloterdijkTradução: José Oscar de Almeida MarquesEditora: Estação Liberdade 576 páginas R$ 95

O filósofoalemão Peter Sloterdijk, autor da trilogia 'Esferas' Foto: Frederic Poletti/Editora Estação Liberdade

O alemão Peter Sloterdijk há anos vem se destacando como uma das vozes mais instigantes da filosofia contemporânea. Recentemente esteve no Brasil a convite do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. A publicação pela editora Estação Liberdade de Bolhas, primeiro volume de seu opus magnum, a trilogia Esferas, é um passo decisivo para uma maior difusão de Sloterdijk, ainda pouco conhecido entre os leitores brasileiros. 

Herdeiro da fenomenologia, de Nietzsche e de Heidegger, Sloterdijk articula em rede e de modo criativo uma vasta bibliografia de pensadores antigos, medievais e modernos, orientais e ocidentais. Aclimata-os aos problemas presentes. Apoia-se neles para projetar futuros cenários do humano. 

O pensamento de Sloterdijk pode ser compreendido como uma revisão radical da filosofia por meio da antropologia. Uma nova e inesperada antropologia para além do humano. Para tanto, apoia-se nos sistemas dos organismos e nos paradigmas da metabologia para pensar os fenômenos, sejam eles humanos, transumanos ou não-humanos. Um pensamento de fronteira. Um saber dos limites. Uma ampla ontologia (estudo do ser) das relações, conexões, hibridismos. Em outras palavras, vale para sua obra a expressão que Agamben cunhou para Aby Warburg: uma ciência sem nome.

Essa proposta o insere na vanguarda do pensamento contemporâneo, ao lado de nomes como Bruno Latour, Isabelle Stengers, Donna Haraway, Philippe Descola. Também o situa em diálogo com movimentos recentes da filosofia como o realismo especulativo (RE) e a ontologia orientada aos objetos (OOO). 

O pensamento de Sloterdijk é uma abertura para se pensar uma infinidade de mundos, passados e futuros, atuais e virtuais, existentes e possíveis. O homo sapiens pode ser definido como resultado dessa inacabada e infinita autopoiesis. A soma indefinida de forças extra-humanas que concorrem e concorreram para que viéssemos a nos tornar aquilo que somos, como queria Nietzsche. Nesta entrevista, exclusiva para o Aliás, Sloterdijk sinaliza alguns desses caminhos de floresta, de carbono e de silício desbravados por seu pensamento. 

Uma das mais belas definições de esfera é dada no Esferas I - Bolhas: “a coexistência precede a existência”. Podemos definir as Esferas como a passagem da facticidade do ser-aí, central nas filosofias da existência, à relacionalidade do ser-com?  A teoria das esferas busca de fato uma descrição abrangente do ser-junto (Zusammen-Seins). Aquilo que eu chamo de esfera é sempre um espaço que organiza um estar-com-outro – do par romântico até os agrupamentos sociais e cósmicos, de grande escala. A origem desse projeto é antiga: começou por volta de 1990, na Academia das Artes de Viena, quando eu me dedicava a uma pesquisa sobre a introdução de jovens artistas à reflexão filosófica. Ocorreu-me, na ocasião, a ideia de falar-lhes sobre duas figuras morfológicas, o círculo e a flecha; a flecha representaria a existência temporal, e o círculo, a habitação no espaço. A esferologia desenvolveu-se a partir dessas duas figuras. O primeiro volume, que lida com as formas menores, íntimas, foi lançado em 1998. Em 2004 apareceu o terceiro, cujo objeto são as multiplicidades que experimentamos como nosso mundo circundante. Entre um livro e o outro, foram sete anos.

A obra Esferas é a mais ampla, perfeita e definitiva fenomenologia dos meios circundantes jamais escrita. As esferas são estruturas morfológicas e ontológicas, não lógicas ou cronológicas. Contudo, à medida que a ausência de interioridade ontológica é mortal e uma vida sem interioridade seria uma antiesfera sem capacidade de se imunizar, podemos dizer que há uma anterioridade lógica das bolhas em relação aos globos e às espumas? A ambição do projeto Esferas como um todo é suprir os contornos de uma imunologia geral. Não nos esqueçamos: a palavra “imunologia” é uma metáfora emprestada por juristas aos biólogos. Eu dou um passo adiante, estendendo o conceito de immunis (que em latim significa “livre dos deveres”) à dimensão religiosa. Enquanto para Niklas Luhmann o sistema legal seria o sistema imunológico do sistema social, a esferologia afirma que a religião é o sistema imunológico original da sociedade. Isso é plausível se considerarmos, por exemplo, que o Direito e as leis foram, em quase todos os lugares, inicialmente codificados em formas religiosas, e só se separaram destas em um estágio ulterior da evolução social. Para a teoria das esferas, sociedades devem ser compreendidas como agrupamentos co-imunitários, nos quais a proteção emerge no estar-junto da comunidade. Nessas unidades co-imunitárias, imunidade e comunidade andam de mãos dadas. Desse ponto de vista, os espaços menores precedem os maiores.

Em uma passagem de Esferas I - Bolhas, o senhor diz que a teoria das esferas é uma “teoria geral dos meios”. Como o senhor definiria um meio? Em alemão, a palavra “Mittel” evoca a palavra “Mitte” (como em português) – presumivelmente por tentar imitar o termo latino medium. Acima de tudo, ela remete a ferramentas (como meio de...); se soubermos ouvi-la, entretanto, ela pode significar também o “meio”, o espaço intermediário, a atmosfera compartilhada. A esferologia busca fundamentar a midiologia em geral em uma teoria do espaço.

A teoria das esferas implica uma globalização policêntrica. A partir de sua vivência na Índia e de sua recente viagem ao Brasil, como o senhor vê a especificidade da contribuição dos países do hemisfério sul à dinâmica mundial de bolhas, globos e espumas da esferologia? No terceiro volume da trilogia Esferas eu traço um painel do universo policêntrico que habitamos. O pluralismo espacial e a multiplicidade dos centros de poder são seminais para a existência (dasein) nas “espumas”. As culturas da Índia, da China e do Brasil são especialmente significativas, pois fornecem contrapesos consideráveis ao imperialismo da angloesfera. 

*Rodrigo Petronio é escritor, filósofo, doutor em Literatura Comparada pela Uerj e professor da Faap. Nelson Schuchmacher Endebo é doutorando em Literatura Comparada (Stanford University) e mestre em Comunicação (Uerj)

Capa do livro 'Esferas I - Bolhas', de Peter Sloterdijk Foto: Editora Estação Liberdade

Esferas I - BolhasAutor: Peter SloterdijkTradução: José Oscar de Almeida MarquesEditora: Estação Liberdade 576 páginas R$ 95

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