Cultura de Lula pode herdar ‘bomba-relógio’ de Bolsonaro em 2023


Se atual presidente não aprovar captação via Lei de Incentivo, instituições como Osesp e Masp terão ano caótico; saiba quem são os nomes cotados por seu sucessor para assumir o tema

Por Julio Maria
Atualização:

Se a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro não aprovar a captação de verbas via Lei Rouanet solicitadas por equipamentos como Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna, Museus da Imagem e do Som do Rio e de São Paulo, Museu do Amanhã (RJ), Masp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Museu do Ipiranga, essas e outras instituições terão, pela primeira vez em três décadas, um ano sem nenhum centavo proveniente de incentivos fiscais.

Pinacoteca do Estado Foto:

Até 2022, mesmo sob o silêncio da Secretaria a respeito das análises, esses aparelhos mantiveram seus recursos graças a um dispositivo garantido pela própria lei. Eles puderam solicitar a prorrogação dos mesmos valores autorizados em 2021 por mais um ano. Agora, no final de 2022, não há mais como pedir uma segunda renovação.

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“Se Bolsonaro não aprovar a captação de verbas para manter os projetos permanentes do País, ele vai deixar uma bomba-relógio para Lula”, diz Sérgio Sá Leitão, secretário estadual de Cultura de São Paulo e ex-ministro da Cultura durante a gestão de Michel Temer. A Secretaria Especial de Cultura do governo federal foi procurada para se posicionar sobre o assunto, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Masp. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Sem a aprovação de Bolsonaro, Lula pode decretar uma medida provisória no início de seu mandato, autorizando a captação das verbas mesmo fora do tempo exigido pela lei. Mas, ainda assim, as instituições perderiam um prazo importante. Por uma questão orçamentária, dezembro é o mês em que as empresas definem onde investir.

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Sem programação

Os prejuízos deverão ser percebidos sobretudo na redução ou extinção das programações. A Osesp, por exemplo, capta todos os anos R$ 40 milhões via Rouanet. Sem eles, ficaria só com os R$ 55 milhões provenientes do Estado. Isso garantiria a Sala São Paulo aberta e os músicos empregados, mas eliminaria eventos como os festivais de Campos do Jordão e a itinerância pelo Estado. Já os museus ficarão apenas com acervos fixos. “Será um ano sem exposições temporárias e sem programas educativos. O recurso para isso vem exclusivamente da Lei Rouanet”, diz Sá Leitão.

Em foto de 24 de janeiro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, durante a solenidade de de abertura das comemorações dos 85 anos da Previdencia Social e do Dia do Aposentado em Brasília. Foto: Sergio Dutti/Estadão Foto: SERGIO DUTTI
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Nomes ventilados

O PT não dá detalhes de seu projeto para a Cultura e os nomes para assumir a pasta são apenas ventilados. Daniela Mercury é o mais forte deles. Sua nomeação seria uma espécie de reedição do efeito diplomático de Gilberto Gil na pasta. Mas estão no páreo também o empresário e produtor de São Paulo, Alê Youssef; o ex-ministro Juca Ferreira (menos provável, já que Lula disse não querer fazer uma gestão requentada); e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB). Chico César, que chegou a ser cogitado, reafirmou, durante show no Sesc Pompeia, na última quinta, 3, que não quer saber de ministério. “Fico pensando quem é que quer me castigar com isso. Não estão gostando da música que eu tô fazendo?”

O cantor Chico César Foto: Gabriela Biló
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Se apenas reconstruir sem reavaliar a Cultura, e isso inclui um ministério inteiro com um corpo técnico cada vez mais raro em Brasília, o PT pode reativar também os vícios que minaram suas boas ideias. O Ponto de Cultura é uma delas. Gilberto Gil, quando ministro, entendeu que deveria reconhecer como agentes culturais pessoas atuantes em regiões periféricas do País. Deu-lhes o status de “pontos de cultura” e as financiou. Mas, com a burocracia e a exigência de uma infindável prestação de contas, o projeto deixou 3 mil agentes inadimplentes e naufragou.

Outra expectativa recai sobre as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, capazes de destinar respectivamente R$ 3,862 bilhões e R$ 3 bilhões ao setor. Bolsonaro vetou as leis, teve o veto derrubado e adiou os repasses para 2023, mas a ministra do Supremo Carmen Lúcia suspendeu a medida provisória que permitia o adiamento dos pagamentos.

A cantora Daniela Mercury Foto: Fernando Vivas/Estadão
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Desafios

Ministério da Cultura

Por si só, a reativação de um ministério já será um desafio. Lula precisa contratar técnicos competentes e refazer um organograma dizimado por Bolsonaro.

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Escolha do nome

A opção por um quadro como Daniela Mercury tem vantagens e desvantagens. Ela reeditaria o efeito Gil, atuando como uma espécie de ministra embaixadora, e negociaria recursos para a pasta com mais sucesso. Mas vai precisar de um técnico como número 2.

Ministro da Cultura Juca Ferreira dá entrevista coletiva ao lado do Diretor dos Direitos Intelectuais do Minc, Marcos Souza, na sede do Ministério da Cultura, em Brasilia Foto: André Dusek/Estadão

Lei Rouanet

A urgência é garantir a aprovação da captação para projetos permanentes, com Osesp, Masp, MAM e MIS. Depois, é preciso rever pontos vulneráveis a ilegalidades do dispositivo.

Pontos de cultura

Lula precisa mudar o modo de relação com os agentes, passando de “convênio” para “prêmio”. Um ajuste técnico que traria um alívio nas burocracias que tornaram inadimplentes 3 mil pontos.

Se a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro não aprovar a captação de verbas via Lei Rouanet solicitadas por equipamentos como Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna, Museus da Imagem e do Som do Rio e de São Paulo, Museu do Amanhã (RJ), Masp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Museu do Ipiranga, essas e outras instituições terão, pela primeira vez em três décadas, um ano sem nenhum centavo proveniente de incentivos fiscais.

Pinacoteca do Estado Foto:

Até 2022, mesmo sob o silêncio da Secretaria a respeito das análises, esses aparelhos mantiveram seus recursos graças a um dispositivo garantido pela própria lei. Eles puderam solicitar a prorrogação dos mesmos valores autorizados em 2021 por mais um ano. Agora, no final de 2022, não há mais como pedir uma segunda renovação.

“Se Bolsonaro não aprovar a captação de verbas para manter os projetos permanentes do País, ele vai deixar uma bomba-relógio para Lula”, diz Sérgio Sá Leitão, secretário estadual de Cultura de São Paulo e ex-ministro da Cultura durante a gestão de Michel Temer. A Secretaria Especial de Cultura do governo federal foi procurada para se posicionar sobre o assunto, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Masp. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Sem a aprovação de Bolsonaro, Lula pode decretar uma medida provisória no início de seu mandato, autorizando a captação das verbas mesmo fora do tempo exigido pela lei. Mas, ainda assim, as instituições perderiam um prazo importante. Por uma questão orçamentária, dezembro é o mês em que as empresas definem onde investir.

Sem programação

Os prejuízos deverão ser percebidos sobretudo na redução ou extinção das programações. A Osesp, por exemplo, capta todos os anos R$ 40 milhões via Rouanet. Sem eles, ficaria só com os R$ 55 milhões provenientes do Estado. Isso garantiria a Sala São Paulo aberta e os músicos empregados, mas eliminaria eventos como os festivais de Campos do Jordão e a itinerância pelo Estado. Já os museus ficarão apenas com acervos fixos. “Será um ano sem exposições temporárias e sem programas educativos. O recurso para isso vem exclusivamente da Lei Rouanet”, diz Sá Leitão.

Em foto de 24 de janeiro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, durante a solenidade de de abertura das comemorações dos 85 anos da Previdencia Social e do Dia do Aposentado em Brasília. Foto: Sergio Dutti/Estadão Foto: SERGIO DUTTI

Nomes ventilados

O PT não dá detalhes de seu projeto para a Cultura e os nomes para assumir a pasta são apenas ventilados. Daniela Mercury é o mais forte deles. Sua nomeação seria uma espécie de reedição do efeito diplomático de Gilberto Gil na pasta. Mas estão no páreo também o empresário e produtor de São Paulo, Alê Youssef; o ex-ministro Juca Ferreira (menos provável, já que Lula disse não querer fazer uma gestão requentada); e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB). Chico César, que chegou a ser cogitado, reafirmou, durante show no Sesc Pompeia, na última quinta, 3, que não quer saber de ministério. “Fico pensando quem é que quer me castigar com isso. Não estão gostando da música que eu tô fazendo?”

O cantor Chico César Foto: Gabriela Biló

Se apenas reconstruir sem reavaliar a Cultura, e isso inclui um ministério inteiro com um corpo técnico cada vez mais raro em Brasília, o PT pode reativar também os vícios que minaram suas boas ideias. O Ponto de Cultura é uma delas. Gilberto Gil, quando ministro, entendeu que deveria reconhecer como agentes culturais pessoas atuantes em regiões periféricas do País. Deu-lhes o status de “pontos de cultura” e as financiou. Mas, com a burocracia e a exigência de uma infindável prestação de contas, o projeto deixou 3 mil agentes inadimplentes e naufragou.

Outra expectativa recai sobre as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, capazes de destinar respectivamente R$ 3,862 bilhões e R$ 3 bilhões ao setor. Bolsonaro vetou as leis, teve o veto derrubado e adiou os repasses para 2023, mas a ministra do Supremo Carmen Lúcia suspendeu a medida provisória que permitia o adiamento dos pagamentos.

A cantora Daniela Mercury Foto: Fernando Vivas/Estadão

Desafios

Ministério da Cultura

Por si só, a reativação de um ministério já será um desafio. Lula precisa contratar técnicos competentes e refazer um organograma dizimado por Bolsonaro.

Escolha do nome

A opção por um quadro como Daniela Mercury tem vantagens e desvantagens. Ela reeditaria o efeito Gil, atuando como uma espécie de ministra embaixadora, e negociaria recursos para a pasta com mais sucesso. Mas vai precisar de um técnico como número 2.

Ministro da Cultura Juca Ferreira dá entrevista coletiva ao lado do Diretor dos Direitos Intelectuais do Minc, Marcos Souza, na sede do Ministério da Cultura, em Brasilia Foto: André Dusek/Estadão

Lei Rouanet

A urgência é garantir a aprovação da captação para projetos permanentes, com Osesp, Masp, MAM e MIS. Depois, é preciso rever pontos vulneráveis a ilegalidades do dispositivo.

Pontos de cultura

Lula precisa mudar o modo de relação com os agentes, passando de “convênio” para “prêmio”. Um ajuste técnico que traria um alívio nas burocracias que tornaram inadimplentes 3 mil pontos.

Se a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro não aprovar a captação de verbas via Lei Rouanet solicitadas por equipamentos como Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna, Museus da Imagem e do Som do Rio e de São Paulo, Museu do Amanhã (RJ), Masp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Museu do Ipiranga, essas e outras instituições terão, pela primeira vez em três décadas, um ano sem nenhum centavo proveniente de incentivos fiscais.

Pinacoteca do Estado Foto:

Até 2022, mesmo sob o silêncio da Secretaria a respeito das análises, esses aparelhos mantiveram seus recursos graças a um dispositivo garantido pela própria lei. Eles puderam solicitar a prorrogação dos mesmos valores autorizados em 2021 por mais um ano. Agora, no final de 2022, não há mais como pedir uma segunda renovação.

“Se Bolsonaro não aprovar a captação de verbas para manter os projetos permanentes do País, ele vai deixar uma bomba-relógio para Lula”, diz Sérgio Sá Leitão, secretário estadual de Cultura de São Paulo e ex-ministro da Cultura durante a gestão de Michel Temer. A Secretaria Especial de Cultura do governo federal foi procurada para se posicionar sobre o assunto, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Masp. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Sem a aprovação de Bolsonaro, Lula pode decretar uma medida provisória no início de seu mandato, autorizando a captação das verbas mesmo fora do tempo exigido pela lei. Mas, ainda assim, as instituições perderiam um prazo importante. Por uma questão orçamentária, dezembro é o mês em que as empresas definem onde investir.

Sem programação

Os prejuízos deverão ser percebidos sobretudo na redução ou extinção das programações. A Osesp, por exemplo, capta todos os anos R$ 40 milhões via Rouanet. Sem eles, ficaria só com os R$ 55 milhões provenientes do Estado. Isso garantiria a Sala São Paulo aberta e os músicos empregados, mas eliminaria eventos como os festivais de Campos do Jordão e a itinerância pelo Estado. Já os museus ficarão apenas com acervos fixos. “Será um ano sem exposições temporárias e sem programas educativos. O recurso para isso vem exclusivamente da Lei Rouanet”, diz Sá Leitão.

Em foto de 24 de janeiro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, durante a solenidade de de abertura das comemorações dos 85 anos da Previdencia Social e do Dia do Aposentado em Brasília. Foto: Sergio Dutti/Estadão Foto: SERGIO DUTTI

Nomes ventilados

O PT não dá detalhes de seu projeto para a Cultura e os nomes para assumir a pasta são apenas ventilados. Daniela Mercury é o mais forte deles. Sua nomeação seria uma espécie de reedição do efeito diplomático de Gilberto Gil na pasta. Mas estão no páreo também o empresário e produtor de São Paulo, Alê Youssef; o ex-ministro Juca Ferreira (menos provável, já que Lula disse não querer fazer uma gestão requentada); e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB). Chico César, que chegou a ser cogitado, reafirmou, durante show no Sesc Pompeia, na última quinta, 3, que não quer saber de ministério. “Fico pensando quem é que quer me castigar com isso. Não estão gostando da música que eu tô fazendo?”

O cantor Chico César Foto: Gabriela Biló

Se apenas reconstruir sem reavaliar a Cultura, e isso inclui um ministério inteiro com um corpo técnico cada vez mais raro em Brasília, o PT pode reativar também os vícios que minaram suas boas ideias. O Ponto de Cultura é uma delas. Gilberto Gil, quando ministro, entendeu que deveria reconhecer como agentes culturais pessoas atuantes em regiões periféricas do País. Deu-lhes o status de “pontos de cultura” e as financiou. Mas, com a burocracia e a exigência de uma infindável prestação de contas, o projeto deixou 3 mil agentes inadimplentes e naufragou.

Outra expectativa recai sobre as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, capazes de destinar respectivamente R$ 3,862 bilhões e R$ 3 bilhões ao setor. Bolsonaro vetou as leis, teve o veto derrubado e adiou os repasses para 2023, mas a ministra do Supremo Carmen Lúcia suspendeu a medida provisória que permitia o adiamento dos pagamentos.

A cantora Daniela Mercury Foto: Fernando Vivas/Estadão

Desafios

Ministério da Cultura

Por si só, a reativação de um ministério já será um desafio. Lula precisa contratar técnicos competentes e refazer um organograma dizimado por Bolsonaro.

Escolha do nome

A opção por um quadro como Daniela Mercury tem vantagens e desvantagens. Ela reeditaria o efeito Gil, atuando como uma espécie de ministra embaixadora, e negociaria recursos para a pasta com mais sucesso. Mas vai precisar de um técnico como número 2.

Ministro da Cultura Juca Ferreira dá entrevista coletiva ao lado do Diretor dos Direitos Intelectuais do Minc, Marcos Souza, na sede do Ministério da Cultura, em Brasilia Foto: André Dusek/Estadão

Lei Rouanet

A urgência é garantir a aprovação da captação para projetos permanentes, com Osesp, Masp, MAM e MIS. Depois, é preciso rever pontos vulneráveis a ilegalidades do dispositivo.

Pontos de cultura

Lula precisa mudar o modo de relação com os agentes, passando de “convênio” para “prêmio”. Um ajuste técnico que traria um alívio nas burocracias que tornaram inadimplentes 3 mil pontos.

Se a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro não aprovar a captação de verbas via Lei Rouanet solicitadas por equipamentos como Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna, Museus da Imagem e do Som do Rio e de São Paulo, Museu do Amanhã (RJ), Masp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Museu do Ipiranga, essas e outras instituições terão, pela primeira vez em três décadas, um ano sem nenhum centavo proveniente de incentivos fiscais.

Pinacoteca do Estado Foto:

Até 2022, mesmo sob o silêncio da Secretaria a respeito das análises, esses aparelhos mantiveram seus recursos graças a um dispositivo garantido pela própria lei. Eles puderam solicitar a prorrogação dos mesmos valores autorizados em 2021 por mais um ano. Agora, no final de 2022, não há mais como pedir uma segunda renovação.

“Se Bolsonaro não aprovar a captação de verbas para manter os projetos permanentes do País, ele vai deixar uma bomba-relógio para Lula”, diz Sérgio Sá Leitão, secretário estadual de Cultura de São Paulo e ex-ministro da Cultura durante a gestão de Michel Temer. A Secretaria Especial de Cultura do governo federal foi procurada para se posicionar sobre o assunto, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Masp. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Sem a aprovação de Bolsonaro, Lula pode decretar uma medida provisória no início de seu mandato, autorizando a captação das verbas mesmo fora do tempo exigido pela lei. Mas, ainda assim, as instituições perderiam um prazo importante. Por uma questão orçamentária, dezembro é o mês em que as empresas definem onde investir.

Sem programação

Os prejuízos deverão ser percebidos sobretudo na redução ou extinção das programações. A Osesp, por exemplo, capta todos os anos R$ 40 milhões via Rouanet. Sem eles, ficaria só com os R$ 55 milhões provenientes do Estado. Isso garantiria a Sala São Paulo aberta e os músicos empregados, mas eliminaria eventos como os festivais de Campos do Jordão e a itinerância pelo Estado. Já os museus ficarão apenas com acervos fixos. “Será um ano sem exposições temporárias e sem programas educativos. O recurso para isso vem exclusivamente da Lei Rouanet”, diz Sá Leitão.

Em foto de 24 de janeiro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, durante a solenidade de de abertura das comemorações dos 85 anos da Previdencia Social e do Dia do Aposentado em Brasília. Foto: Sergio Dutti/Estadão Foto: SERGIO DUTTI

Nomes ventilados

O PT não dá detalhes de seu projeto para a Cultura e os nomes para assumir a pasta são apenas ventilados. Daniela Mercury é o mais forte deles. Sua nomeação seria uma espécie de reedição do efeito diplomático de Gilberto Gil na pasta. Mas estão no páreo também o empresário e produtor de São Paulo, Alê Youssef; o ex-ministro Juca Ferreira (menos provável, já que Lula disse não querer fazer uma gestão requentada); e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB). Chico César, que chegou a ser cogitado, reafirmou, durante show no Sesc Pompeia, na última quinta, 3, que não quer saber de ministério. “Fico pensando quem é que quer me castigar com isso. Não estão gostando da música que eu tô fazendo?”

O cantor Chico César Foto: Gabriela Biló

Se apenas reconstruir sem reavaliar a Cultura, e isso inclui um ministério inteiro com um corpo técnico cada vez mais raro em Brasília, o PT pode reativar também os vícios que minaram suas boas ideias. O Ponto de Cultura é uma delas. Gilberto Gil, quando ministro, entendeu que deveria reconhecer como agentes culturais pessoas atuantes em regiões periféricas do País. Deu-lhes o status de “pontos de cultura” e as financiou. Mas, com a burocracia e a exigência de uma infindável prestação de contas, o projeto deixou 3 mil agentes inadimplentes e naufragou.

Outra expectativa recai sobre as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, capazes de destinar respectivamente R$ 3,862 bilhões e R$ 3 bilhões ao setor. Bolsonaro vetou as leis, teve o veto derrubado e adiou os repasses para 2023, mas a ministra do Supremo Carmen Lúcia suspendeu a medida provisória que permitia o adiamento dos pagamentos.

A cantora Daniela Mercury Foto: Fernando Vivas/Estadão

Desafios

Ministério da Cultura

Por si só, a reativação de um ministério já será um desafio. Lula precisa contratar técnicos competentes e refazer um organograma dizimado por Bolsonaro.

Escolha do nome

A opção por um quadro como Daniela Mercury tem vantagens e desvantagens. Ela reeditaria o efeito Gil, atuando como uma espécie de ministra embaixadora, e negociaria recursos para a pasta com mais sucesso. Mas vai precisar de um técnico como número 2.

Ministro da Cultura Juca Ferreira dá entrevista coletiva ao lado do Diretor dos Direitos Intelectuais do Minc, Marcos Souza, na sede do Ministério da Cultura, em Brasilia Foto: André Dusek/Estadão

Lei Rouanet

A urgência é garantir a aprovação da captação para projetos permanentes, com Osesp, Masp, MAM e MIS. Depois, é preciso rever pontos vulneráveis a ilegalidades do dispositivo.

Pontos de cultura

Lula precisa mudar o modo de relação com os agentes, passando de “convênio” para “prêmio”. Um ajuste técnico que traria um alívio nas burocracias que tornaram inadimplentes 3 mil pontos.

Se a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro não aprovar a captação de verbas via Lei Rouanet solicitadas por equipamentos como Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna, Museus da Imagem e do Som do Rio e de São Paulo, Museu do Amanhã (RJ), Masp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Museu do Ipiranga, essas e outras instituições terão, pela primeira vez em três décadas, um ano sem nenhum centavo proveniente de incentivos fiscais.

Pinacoteca do Estado Foto:

Até 2022, mesmo sob o silêncio da Secretaria a respeito das análises, esses aparelhos mantiveram seus recursos graças a um dispositivo garantido pela própria lei. Eles puderam solicitar a prorrogação dos mesmos valores autorizados em 2021 por mais um ano. Agora, no final de 2022, não há mais como pedir uma segunda renovação.

“Se Bolsonaro não aprovar a captação de verbas para manter os projetos permanentes do País, ele vai deixar uma bomba-relógio para Lula”, diz Sérgio Sá Leitão, secretário estadual de Cultura de São Paulo e ex-ministro da Cultura durante a gestão de Michel Temer. A Secretaria Especial de Cultura do governo federal foi procurada para se posicionar sobre o assunto, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Masp. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Sem a aprovação de Bolsonaro, Lula pode decretar uma medida provisória no início de seu mandato, autorizando a captação das verbas mesmo fora do tempo exigido pela lei. Mas, ainda assim, as instituições perderiam um prazo importante. Por uma questão orçamentária, dezembro é o mês em que as empresas definem onde investir.

Sem programação

Os prejuízos deverão ser percebidos sobretudo na redução ou extinção das programações. A Osesp, por exemplo, capta todos os anos R$ 40 milhões via Rouanet. Sem eles, ficaria só com os R$ 55 milhões provenientes do Estado. Isso garantiria a Sala São Paulo aberta e os músicos empregados, mas eliminaria eventos como os festivais de Campos do Jordão e a itinerância pelo Estado. Já os museus ficarão apenas com acervos fixos. “Será um ano sem exposições temporárias e sem programas educativos. O recurso para isso vem exclusivamente da Lei Rouanet”, diz Sá Leitão.

Em foto de 24 de janeiro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, durante a solenidade de de abertura das comemorações dos 85 anos da Previdencia Social e do Dia do Aposentado em Brasília. Foto: Sergio Dutti/Estadão Foto: SERGIO DUTTI

Nomes ventilados

O PT não dá detalhes de seu projeto para a Cultura e os nomes para assumir a pasta são apenas ventilados. Daniela Mercury é o mais forte deles. Sua nomeação seria uma espécie de reedição do efeito diplomático de Gilberto Gil na pasta. Mas estão no páreo também o empresário e produtor de São Paulo, Alê Youssef; o ex-ministro Juca Ferreira (menos provável, já que Lula disse não querer fazer uma gestão requentada); e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB). Chico César, que chegou a ser cogitado, reafirmou, durante show no Sesc Pompeia, na última quinta, 3, que não quer saber de ministério. “Fico pensando quem é que quer me castigar com isso. Não estão gostando da música que eu tô fazendo?”

O cantor Chico César Foto: Gabriela Biló

Se apenas reconstruir sem reavaliar a Cultura, e isso inclui um ministério inteiro com um corpo técnico cada vez mais raro em Brasília, o PT pode reativar também os vícios que minaram suas boas ideias. O Ponto de Cultura é uma delas. Gilberto Gil, quando ministro, entendeu que deveria reconhecer como agentes culturais pessoas atuantes em regiões periféricas do País. Deu-lhes o status de “pontos de cultura” e as financiou. Mas, com a burocracia e a exigência de uma infindável prestação de contas, o projeto deixou 3 mil agentes inadimplentes e naufragou.

Outra expectativa recai sobre as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, capazes de destinar respectivamente R$ 3,862 bilhões e R$ 3 bilhões ao setor. Bolsonaro vetou as leis, teve o veto derrubado e adiou os repasses para 2023, mas a ministra do Supremo Carmen Lúcia suspendeu a medida provisória que permitia o adiamento dos pagamentos.

A cantora Daniela Mercury Foto: Fernando Vivas/Estadão

Desafios

Ministério da Cultura

Por si só, a reativação de um ministério já será um desafio. Lula precisa contratar técnicos competentes e refazer um organograma dizimado por Bolsonaro.

Escolha do nome

A opção por um quadro como Daniela Mercury tem vantagens e desvantagens. Ela reeditaria o efeito Gil, atuando como uma espécie de ministra embaixadora, e negociaria recursos para a pasta com mais sucesso. Mas vai precisar de um técnico como número 2.

Ministro da Cultura Juca Ferreira dá entrevista coletiva ao lado do Diretor dos Direitos Intelectuais do Minc, Marcos Souza, na sede do Ministério da Cultura, em Brasilia Foto: André Dusek/Estadão

Lei Rouanet

A urgência é garantir a aprovação da captação para projetos permanentes, com Osesp, Masp, MAM e MIS. Depois, é preciso rever pontos vulneráveis a ilegalidades do dispositivo.

Pontos de cultura

Lula precisa mudar o modo de relação com os agentes, passando de “convênio” para “prêmio”. Um ajuste técnico que traria um alívio nas burocracias que tornaram inadimplentes 3 mil pontos.

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