O desenvolvedor de software Fernando Tremonti sempre foi apaixonado por livros. Nada mais natural que ele transformasse o metrô num ambiente de leitura: no trajeto de ida e volta entre as estações Barra Funda e Vergueiro, que costumava percorrer diariamente, ele sempre podia ser visto entretido com as páginas de alguma obra. As quase duas horas que ele levava para ir e voltar do trabalho passavam mais rápido graças à literatura, e ele chegava a ler dois livros por semana apenas nesse percurso.
Ao contrário de outros leitores do metrô, porém, Fernando não se contentou em desfrutar sozinho os benefícios da leitura. Ao notar a quantidade de passageiros que passavam seu tempo de viagem no celular ou simplesmente olhando para o vazio em vez de aproveitar o tempo para ler, ele decidiu fazer um esforço para transformar o metrô numa plataforma que ajudasse mais gente a descobrir os livros.
"Sempre gostei de presentear pessoas com livros, novos ou já lidos por mim. Penso que um livro é algo muito bom para ficar parado e gostaria que todos pudessem ter acesso à leitura", diz Fernando. "Eu já tinha o hábito de deixar livros por onde passava. Se terminava um livro num restaurante, por exemplo, ele ficava por ali. Então decidi criar um projeto e centralizar esse movimento no ambiente que eu mais frequentava."
O projeto, que completa três anos este mês, foi batizado de Leitura No Vagão. Tudo começou com um esforço individual: "Peguei os livros que eu tinha em casa, e eram muitos, e personalizei. Coloquei uma etiqueta na capa do livro, imprimi um folder para ser colado dentro, carimbei algumas páginas e comecei deixando os livros por onde passava", afirma Fernando. "Também criou um Twitter e um Facebook para o projeto e comecei a divulgar os livros deixados."
Com o tempo, o projeto começou a repercutir nas redes sociais e Fernando passou a receber doações de outros leitores e também de editoras interessadas em ajudar o projeto. A quantidade de livros aumentou e outros voluntários aderiram à causa, espalhando livros pela rede de transporte público.
Até o Metrô aderiu à ideia. Antes, livros deixados no vagão eram levados para setor de achados e perdidos. Depois da criação do projeto, livros que têm a etiqueta do Leitura No Vagão na capa deixaram de ser recolhidos pelos funcionários e podem continuar circulando até encontrar novos leitores. A colaboração deu certo e levou a iniciativas mais ambiciosas: em novembro de 2016, com a ajuda do Metrô, Fernando e outros voluntários do projeto prepararam um vagão para que ele chegasse à Estação Barra Funda recheado com mais de 300 livros.
O sucesso da iniciativa inspirou também uma parceria com a SPTrans, para que o projeto chegasse também aos terminais de ônibus. "Todo mês doamos 200 livros para eles colocarem nas estantes dos terminais", diz Fernando. Nada mau para um projeto que começou de maneira despretensiosa, com a iniciativa de apenas um leitor. Para quem se interessou pela causa, o site do projeto traz dicas de como colaborar.