Desfile da Gucci leva barroco pop a Florença


Alessandro Michele brinca com códigos do Renascimento na Cruise

Por Maria Rita Alonso

FLORENÇA - Saber rir de si mesmo é uma característica de gente segura e divertida. Gente como o estilista Alessandro Michele, o romano que há três anos assumiu a direção criativa da Gucci e desde então colhe louros em forma de elogios rasgados da crítica, hits de sucesso e vendas nas alturas, ultrapassando com folga todas as metas imaginadas pelos diretores financeiros. Para falar claramente, Michele hoje está podendo. Prova disso é o desfile de Cruise armado na segunda-feira, 29, em pleno Palácio Pitti, em Florença, aberto exclusivamente para os convidados da marca. A coleção foi apresentada entre obras-primas do Renascimento e do período Barroco, em uma passarela que se estendeu por sete salas da Galeria Palatina repletas de quadros e esculturas clássicas.

Mix fashionista.Bordados que misturam tecidos e aplicações são altamente fotogênicos para a geração das redes sociais Foto: DAN & CORINA LECCA

Nas principais criações reinou uma autoironia luminosa e logotipada. Brincadeiras com o próprio nome destacaram-se nas roupas e acessórios que carregavam palavras como ‘Guccy’ (errado mesmo, como se fosse uma cópia), ‘Guccification’ e ‘Guccify Yourself’, bordadas ou estampadas. Peças parodiavam criações de Dapper Dan, um estilista do Harlem que ficou famoso nos anos 1980 pirateando roupas de marca para os rappers locais – em uma curiosa inversão de valores. Em tempos de ‘copy’ e ‘past’, Michele copiou o estilista que copiava a Gucci e outras grifes e botou lenha na fogueira que debate a apropriação cultural na internet e nas redes sociais.

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Jeans, camiseta e todo vestuário básico da moda de rua estavam ali contemplados ao lado de casacos de pele, vestidos-coluna de inspiração grega, peças de tecidos finos e florais delicados. O Renascimento serviu de pano de fundo e a musa inspiradora foi a Vênus de Botticelli. Mas na salada de estilos de Michele coube um pouco de tudo, em uma mistura extravagante e fotogênica do preppy (colegial) com peças-chave do estilo hip-hop, do hipster com bordados e aplicações vintage e românticas, do geek com o andrógino.

O desfile apostou na profusão, na disrupção, no discurso inclusivo e em símbolos fofos e meio infantis, como estampas de ursinho de pelúcia que já nascem com vocação de best-seller. Foram 115 looks, que significaram 115 capítulos. Cada um contou uma história, provando que a era das tendências acabou. Essa palavra, inclusive, está totalmente fora de moda. Em uma época em que ninguém mais está autorizado a ditar o que se pode ou não se pode vestir, tempos em que a elegância e o bom gosto foram 100% relativizados, não faz mais sentido nem pega bem impor um caminho certo para o guarda-roupa alheio. O que resta a fazer então para as supergrifes que viviam justamente disso? Ampliar ao máximo o leque de opções e revisitar a estética clássica, que é eterna e portanto nunca sai de moda. Está aí o segredo do sucesso atual da Gucci, sob o comando criativo de Michele.

Passe os olhos na linha do tempo do Instagram do estilista e será fácil identificar todo a atmosfera barroca e rebuscada que ele respira. Inicialmente, o designer queria fazer a coleção focada na Grécia Antiga e a apresentação seria dentro do Parthenon, em Atenas. Como não deu certo, decidiu mirar no próximo grande passo da civilização, o Renascimento. Nesse período, o comércio por meio das rotas asiáticas estava a todo vapor e o vestuário europeu ganhou a seda, os brocados mais sofisticados e novos tipos de tingimento em tecidos. Essa influência oriental, claro, também foi vista no coquetel de referências da coleção, que trouxe estampas motes da China e do Japão.

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A dinâmica do evento foi complexa e luxuosa. Cerca de 400 convidados, entre clientes, celebridades e jornalistas foram recepcionados na Galeria Uffizi, um dos maiores museus da Itália, construído entre 1560 e 1580, e aberto exclusivamente para o evento. O tour começou pela sala de Botticelli, seguiu através do Corredor Vasari, chegando ao Palácio Pitti por um estreito corredor secreto construído pelos Medicis, os grandes patronos do período renascentista. Na plateia acomodada em banquinhos de lona, estavam Elton John, Dakota Johnson, Kirsten Dunst, Jared Leto e Beth Ditto, que depois do desfile deu um show, na festa armada no jardim Boboli.

Afetividade é o mote na era da internet Moda é 50% roupa, 50% emoção. Criar peças que encantem é a demanda número um dos grandes estilistas da atualidade. Não à toa, os fechos das novas bolsas da Gucci trazem gatinhos esculpidos. Quer bicho mais fofo que esse, que é campeão de likes nas redes sociais? Cientes de que peças que despertam memórias afetivas vendem mais, os acessórios estão decorados com flores, borboletas, cobras, que ainda se destacam por materiais luxuosos.

As pérolas imperaram como uma clara indicação da aristocracia. Estavam em guirlandas, coroas e bordados, nos acessórios, roupas e maquiagens. Cristais e glitters também foram polvilhados em todos os lugares, inclusive em meias-calças.

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A repórter viajou a convite da grife

FLORENÇA - Saber rir de si mesmo é uma característica de gente segura e divertida. Gente como o estilista Alessandro Michele, o romano que há três anos assumiu a direção criativa da Gucci e desde então colhe louros em forma de elogios rasgados da crítica, hits de sucesso e vendas nas alturas, ultrapassando com folga todas as metas imaginadas pelos diretores financeiros. Para falar claramente, Michele hoje está podendo. Prova disso é o desfile de Cruise armado na segunda-feira, 29, em pleno Palácio Pitti, em Florença, aberto exclusivamente para os convidados da marca. A coleção foi apresentada entre obras-primas do Renascimento e do período Barroco, em uma passarela que se estendeu por sete salas da Galeria Palatina repletas de quadros e esculturas clássicas.

Mix fashionista.Bordados que misturam tecidos e aplicações são altamente fotogênicos para a geração das redes sociais Foto: DAN & CORINA LECCA

Nas principais criações reinou uma autoironia luminosa e logotipada. Brincadeiras com o próprio nome destacaram-se nas roupas e acessórios que carregavam palavras como ‘Guccy’ (errado mesmo, como se fosse uma cópia), ‘Guccification’ e ‘Guccify Yourself’, bordadas ou estampadas. Peças parodiavam criações de Dapper Dan, um estilista do Harlem que ficou famoso nos anos 1980 pirateando roupas de marca para os rappers locais – em uma curiosa inversão de valores. Em tempos de ‘copy’ e ‘past’, Michele copiou o estilista que copiava a Gucci e outras grifes e botou lenha na fogueira que debate a apropriação cultural na internet e nas redes sociais.

Jeans, camiseta e todo vestuário básico da moda de rua estavam ali contemplados ao lado de casacos de pele, vestidos-coluna de inspiração grega, peças de tecidos finos e florais delicados. O Renascimento serviu de pano de fundo e a musa inspiradora foi a Vênus de Botticelli. Mas na salada de estilos de Michele coube um pouco de tudo, em uma mistura extravagante e fotogênica do preppy (colegial) com peças-chave do estilo hip-hop, do hipster com bordados e aplicações vintage e românticas, do geek com o andrógino.

O desfile apostou na profusão, na disrupção, no discurso inclusivo e em símbolos fofos e meio infantis, como estampas de ursinho de pelúcia que já nascem com vocação de best-seller. Foram 115 looks, que significaram 115 capítulos. Cada um contou uma história, provando que a era das tendências acabou. Essa palavra, inclusive, está totalmente fora de moda. Em uma época em que ninguém mais está autorizado a ditar o que se pode ou não se pode vestir, tempos em que a elegância e o bom gosto foram 100% relativizados, não faz mais sentido nem pega bem impor um caminho certo para o guarda-roupa alheio. O que resta a fazer então para as supergrifes que viviam justamente disso? Ampliar ao máximo o leque de opções e revisitar a estética clássica, que é eterna e portanto nunca sai de moda. Está aí o segredo do sucesso atual da Gucci, sob o comando criativo de Michele.

Passe os olhos na linha do tempo do Instagram do estilista e será fácil identificar todo a atmosfera barroca e rebuscada que ele respira. Inicialmente, o designer queria fazer a coleção focada na Grécia Antiga e a apresentação seria dentro do Parthenon, em Atenas. Como não deu certo, decidiu mirar no próximo grande passo da civilização, o Renascimento. Nesse período, o comércio por meio das rotas asiáticas estava a todo vapor e o vestuário europeu ganhou a seda, os brocados mais sofisticados e novos tipos de tingimento em tecidos. Essa influência oriental, claro, também foi vista no coquetel de referências da coleção, que trouxe estampas motes da China e do Japão.

A dinâmica do evento foi complexa e luxuosa. Cerca de 400 convidados, entre clientes, celebridades e jornalistas foram recepcionados na Galeria Uffizi, um dos maiores museus da Itália, construído entre 1560 e 1580, e aberto exclusivamente para o evento. O tour começou pela sala de Botticelli, seguiu através do Corredor Vasari, chegando ao Palácio Pitti por um estreito corredor secreto construído pelos Medicis, os grandes patronos do período renascentista. Na plateia acomodada em banquinhos de lona, estavam Elton John, Dakota Johnson, Kirsten Dunst, Jared Leto e Beth Ditto, que depois do desfile deu um show, na festa armada no jardim Boboli.

Afetividade é o mote na era da internet Moda é 50% roupa, 50% emoção. Criar peças que encantem é a demanda número um dos grandes estilistas da atualidade. Não à toa, os fechos das novas bolsas da Gucci trazem gatinhos esculpidos. Quer bicho mais fofo que esse, que é campeão de likes nas redes sociais? Cientes de que peças que despertam memórias afetivas vendem mais, os acessórios estão decorados com flores, borboletas, cobras, que ainda se destacam por materiais luxuosos.

As pérolas imperaram como uma clara indicação da aristocracia. Estavam em guirlandas, coroas e bordados, nos acessórios, roupas e maquiagens. Cristais e glitters também foram polvilhados em todos os lugares, inclusive em meias-calças.

A repórter viajou a convite da grife

FLORENÇA - Saber rir de si mesmo é uma característica de gente segura e divertida. Gente como o estilista Alessandro Michele, o romano que há três anos assumiu a direção criativa da Gucci e desde então colhe louros em forma de elogios rasgados da crítica, hits de sucesso e vendas nas alturas, ultrapassando com folga todas as metas imaginadas pelos diretores financeiros. Para falar claramente, Michele hoje está podendo. Prova disso é o desfile de Cruise armado na segunda-feira, 29, em pleno Palácio Pitti, em Florença, aberto exclusivamente para os convidados da marca. A coleção foi apresentada entre obras-primas do Renascimento e do período Barroco, em uma passarela que se estendeu por sete salas da Galeria Palatina repletas de quadros e esculturas clássicas.

Mix fashionista.Bordados que misturam tecidos e aplicações são altamente fotogênicos para a geração das redes sociais Foto: DAN & CORINA LECCA

Nas principais criações reinou uma autoironia luminosa e logotipada. Brincadeiras com o próprio nome destacaram-se nas roupas e acessórios que carregavam palavras como ‘Guccy’ (errado mesmo, como se fosse uma cópia), ‘Guccification’ e ‘Guccify Yourself’, bordadas ou estampadas. Peças parodiavam criações de Dapper Dan, um estilista do Harlem que ficou famoso nos anos 1980 pirateando roupas de marca para os rappers locais – em uma curiosa inversão de valores. Em tempos de ‘copy’ e ‘past’, Michele copiou o estilista que copiava a Gucci e outras grifes e botou lenha na fogueira que debate a apropriação cultural na internet e nas redes sociais.

Jeans, camiseta e todo vestuário básico da moda de rua estavam ali contemplados ao lado de casacos de pele, vestidos-coluna de inspiração grega, peças de tecidos finos e florais delicados. O Renascimento serviu de pano de fundo e a musa inspiradora foi a Vênus de Botticelli. Mas na salada de estilos de Michele coube um pouco de tudo, em uma mistura extravagante e fotogênica do preppy (colegial) com peças-chave do estilo hip-hop, do hipster com bordados e aplicações vintage e românticas, do geek com o andrógino.

O desfile apostou na profusão, na disrupção, no discurso inclusivo e em símbolos fofos e meio infantis, como estampas de ursinho de pelúcia que já nascem com vocação de best-seller. Foram 115 looks, que significaram 115 capítulos. Cada um contou uma história, provando que a era das tendências acabou. Essa palavra, inclusive, está totalmente fora de moda. Em uma época em que ninguém mais está autorizado a ditar o que se pode ou não se pode vestir, tempos em que a elegância e o bom gosto foram 100% relativizados, não faz mais sentido nem pega bem impor um caminho certo para o guarda-roupa alheio. O que resta a fazer então para as supergrifes que viviam justamente disso? Ampliar ao máximo o leque de opções e revisitar a estética clássica, que é eterna e portanto nunca sai de moda. Está aí o segredo do sucesso atual da Gucci, sob o comando criativo de Michele.

Passe os olhos na linha do tempo do Instagram do estilista e será fácil identificar todo a atmosfera barroca e rebuscada que ele respira. Inicialmente, o designer queria fazer a coleção focada na Grécia Antiga e a apresentação seria dentro do Parthenon, em Atenas. Como não deu certo, decidiu mirar no próximo grande passo da civilização, o Renascimento. Nesse período, o comércio por meio das rotas asiáticas estava a todo vapor e o vestuário europeu ganhou a seda, os brocados mais sofisticados e novos tipos de tingimento em tecidos. Essa influência oriental, claro, também foi vista no coquetel de referências da coleção, que trouxe estampas motes da China e do Japão.

A dinâmica do evento foi complexa e luxuosa. Cerca de 400 convidados, entre clientes, celebridades e jornalistas foram recepcionados na Galeria Uffizi, um dos maiores museus da Itália, construído entre 1560 e 1580, e aberto exclusivamente para o evento. O tour começou pela sala de Botticelli, seguiu através do Corredor Vasari, chegando ao Palácio Pitti por um estreito corredor secreto construído pelos Medicis, os grandes patronos do período renascentista. Na plateia acomodada em banquinhos de lona, estavam Elton John, Dakota Johnson, Kirsten Dunst, Jared Leto e Beth Ditto, que depois do desfile deu um show, na festa armada no jardim Boboli.

Afetividade é o mote na era da internet Moda é 50% roupa, 50% emoção. Criar peças que encantem é a demanda número um dos grandes estilistas da atualidade. Não à toa, os fechos das novas bolsas da Gucci trazem gatinhos esculpidos. Quer bicho mais fofo que esse, que é campeão de likes nas redes sociais? Cientes de que peças que despertam memórias afetivas vendem mais, os acessórios estão decorados com flores, borboletas, cobras, que ainda se destacam por materiais luxuosos.

As pérolas imperaram como uma clara indicação da aristocracia. Estavam em guirlandas, coroas e bordados, nos acessórios, roupas e maquiagens. Cristais e glitters também foram polvilhados em todos os lugares, inclusive em meias-calças.

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