Ed Motta acaba de lançar o programa "Casa Salim", que será apresentado toda quarta-feira, em seu canal no YouTube. Com apoio da plataforma Passion4Jazz, o cantor e compositor carioca vai dividir com o público algumas de suas paixões como música, gastronomia, vinhos, séries de TV do passado, quadrinhos - e, é claro, jazz.
O programa é dirigido e apresentado por Ed e os episódios são gravados em sua casa. "Vou compartilhar cultura musical, falar dos meus baixistas elétricos preferidos ao primeiro selo musical de mulheres, entre outros assuntos", contou o cantor por telefone à repórter Sofia Patsch. Além do projeto, este ano o sobrinho de Tim Maia comemora 30 anos de seu disco "Entre e Ouça", lançado em 1992 pela Warner. Foi o terceiro disco do multiinstrumentalista, arranjador e produtor, que iniciou a carreira aos 17 anos.
No seu novo projeto no YouTube, o "Casa Salim", você divide com o público coisas de que gosta, como jazz, gastronomia, vinhos e quadrinhos. Como foi que surgiu essa ideia?
A ideia foi de reunir, em poucos capítulos, uma nota digital acerca das paixões às quais dedico minha vida, ao lado da música. Fico a semana inteira pensando na sequência de músicas, que intercalo com aberturas de séries clássicas de TV. É muito divertido compartilhar essas pesquisas e descobertas. A mesma obsessão colecionista é transportada para outras áreas, principalmente o cinema e os quadrinhos.
É um artista reservado, quase não dá entrevistas. Por que resolveu abrir sua intimidade na internet? A internet acessa tudo, a informação, o absurdo, o divino, a verdade, a mentira. É algo fascinante e esquisito, a dicotomia humana exposta em detalhes.
Como passou esse tempo de pandemia? Foi um período de ócio criativo? Meu modus vivendi é um semi-lockdown, sempre em casa, compondo, escutando, lendo, assistindo filmes. O terreno gastronômico ganhou um repertório interessante nesses dois anos. Edna Lopes, minha mulher, e eu melhoramos um pouco o que sempre foi feito com muito cuidado aqui em casa. O período longo sem frequentar restaurantes tornou possível o meu contato com muitos produtores de escala familiar, uma gama mais variada da terra, do mar. Estando em casa todos os dias sem viajar, podendo tocar meu piano a qualquer hora, pude lapidar à exaustão novas composições, que pretendo gravar ao longo deste ano, para lançar em 2023.
Sua carreira está mais direcionada à Europa e ao Japão. Como se deu isso? A gravadora que lança meus discos desde 2013 é a "Membran", na Alemanha. Os três discos recentes, "AOR", "Perpetual Gateways" e "Criterion Of The Senses", tiveram uma acolhida surpreendente na Europa e no Japão. Antes desses discos eu fazia apresentações pontuais fora do País. A partir desses discos comecei a fazer quatro excursões internacionais por ano. O Japão visitei com menos frequência, mas várias músicas tocam no rádio japonês. Uma delas, "1978", do disco "AOR", ficou em segundo lugar entre as mais tocadas em 2013 por uns meses. Recentemente a cantora japonesa Mariya Takeuchi, muito popular lá, citou meu disco "AOR" como um de seus prediletos.
E no Brasil, como é seu ritmo de trabalho?
O trabalho com shows sempre seguiu bem, o repertório é diferente, menos jazzístico, mais dançante, pop. Na minha vitrola toca de tudo, e isso se reflete na minha arte. Assim que lançar o novo disco pretendo retornar aos shows. O tempo em estúdio é longo, por adorar lapidar, polir à exaustão, essa tapeçaria chinesa leva um bom tempo.
Está completando 30 anos do lançamento do disco 'Entre e Ouça". Como avalia sua trajetória até aqui?
O disco foi pioneiro na reutilização de equipamentos e instrumentos dos anos 60 e 70 no Brasil. Ele marca também meu primeiro encontro com o jazz. Era um disco gravado em 1992, com perfume de 1975. Mas costumo contar como carreira meu primeiro disco, lançado em 1988.