Elisabeth Griffith mostra um olhar inclusivo e antirracista sobre a história das sufragistas


Segundo a autora “Este livro relembra décadas de tensão entre mulheres negras e brancas e a desconfiança causada pelo racismo branco”

Por Connie Schultz
Atualização:

THE WASHINGTON POST - Uma confissão: Após algumas páginas do livro da historiadora Elisabeth Griffith, senti o cansaço de uma feminista de longa data. Quem precisa ler este relato enciclopédico dos últimos 100 anos de luta das mulheres pela igualdade? Quando terminei a introdução, meu humor havia mudado. Quem precisa desse rolo compressor com uma linha do tempo cheia de fatos e anedotas sobre o que as mulheres sofreram na América? Muitos de nós, receio. Incluindo eu mesma.

Este livro merece seu título: Formidable: American Women and the Fight for Equality: 1920-2020 (Formidáveis: mulheres americanas e a luta pela igualdade: 1920-2020). É grande em quase 400 páginas de texto porque deve ser, já que os relatos históricos da história das mulheres raramente levantam nosso olhar para além das ativistas, que eram em sua maioria brancas e unidas pela causa, e com muito tempo livre para persegui-la. Este é um relato interseccional do que significou ser uma mulher na América no século passado.

Cena do filme 'As Sufragistas', de Sarah Gavron, com Carey Mulligan, Meryl Streep, Helena Bonham Carter  Foto: IMDB
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Griffith nos obriga a considerar a complexidade das mulheres e reconhecer que temos sido “opressoras, progressistas, escravizadas, ativistas, adversárias e aliadas”. Ela nos guia por uma “cronologia multirracial e inclusiva” que nos leva a considerar exatamente sobre quem falamos quando tratamos da história das mulheres.

“Como estou escrevendo a história americana sobre mulheres negras e brancas, o racismo faz parte dessa história. Não pode ser encoberto ou apagado... Precisamos ser maduros o suficiente para confrontar e celebrar nossa história”, ela escreve. “Os historiadores têm a responsabilidade de serem testemunhas da verdade e registradores precisos.”

Griffith espera que os críticos opinem: “Este livro relembra décadas de tensão entre mulheres negras e brancas e a desconfiança causada pelo racismo branco. Dada a ferocidade do debate atual sobre como nossa nação aborda seu passado e presente, há críticos que irão me acusar de apropriação ou apropriação indevida. Minha resposta é que estudamos História para aprender, para sermos inspirados e talvez castigados. Aprender é nossa responsabilidade. Muitos de nós sabemos muito pouco sobre o passado da América. Sou branca, cisgênero, historiadora feminista, escrevendo sobre mulheres que podem ou não se parecer comigo. Tenho doutorado em História e ainda estou aprendendo. Também sou otimista. Acredito que mudanças políticas e pessoais são possíveis, como o século passado demonstrou .”

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As mulheres mais jovens queriam um papel maior na determinação de seu destino

Sempre houve divisões entre as mulheres. Após a decisão da Suprema Corte de anular Roe v. Wade, as tensões geracionais provavelmente aumentarão entre as mulheres enquanto tentamos passar da culpa para a ação. Por que as gerações mais velhas não fizeram mais para proteger esse direito essencial? Por que tantos jovens acharam que isso estava garantido? Isso pode ser desanimador, mas talvez seja instrutivo lembrar que esse também é o nosso legado.

Depois de uma grande celebração de seu 80º aniversário, a sufragista Elizabeth Cady Stanton publicou A Bíblia da Mulher em 1895. Como Griffith escreve, o livro de Stanton “descartou a versão da criação da costela de Adão (Gênesis, 2:18, 21-23) em favor da versão anterior (Gênesis, 1:26-27: ‘Então Deus criou o homem à sua própria imagem... homem e mulher’). Ela insistiu em estabelecer a igualdade entre os sexos e um Deus andrógino. Enfurecidas e envergonhadas pela heresia de Stanton , sufragistas mais jovens censuraram Stanton e canonizaram [Susan B.] Anthony, criando uma ruptura em sua amizade de quarenta e cinco anos. Stanton foi apagada.”

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Cena do filme Passing, baseado na vida de Nella Larsen, escritora que lutou pelos direitos das mulheres  Foto: Netflix

As mulheres mais jovens queriam um papel maior na determinação de seu destino, escreve Griffith. “A segunda geração estava impaciente com Stanton, que se recusava a ‘cantar o sufrágio eternamente’, preferindo ‘a agitação’.” Ao ler o livro de Griffith, descobri que as passagens mais incômodas são as mais necessárias, principalmente no que diz respeito ao racismo. Muitas sufragistas brancas, ela nos lembra, uma vez endossaram o linchamento. E Stanton, apesar de todo o seu ativismo, era uma “visionária míope” que “ignorou as mulheres negras”.

Em 1866, a autora negra Frances Ellen Watkins Harper implorou às sufragistas brancas da American Equal Rights Association para incluir mulheres negras em sua luta. “Vocês, mulheres brancas, falam aqui de direitos. Eu falo de injustiças”, ela disse, e então citou uma lista de humilhações contínuas infligidas às mulheres negras. Stanton eliminou seus comentários do registro oficial da reunião.

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A cantora de jazz Billie Holiday no Ryans Nightclub, em 1942 Foto: Don Peterson colorida por Marina Amaral

Quase sete décadas depois, a canção Strange Fruit, da cantora negra Billie Holiday, sobre linchamento, vendeu 1 milhão de cópias em 1939, quando ela tinha apenas 24 anos. Ela se tornou um símbolo da resistência ao linchamento, conta Griffith, e um ícone dos direitos civis - bem como alvo de vigilância e assédio do governo pelo resto de sua vida. O apoio da primeira-dama Eleanor Roosevelt aos negros americanos costumava ser usado contra seu marido como uma questão de campanha. “Não gostamos nem um pouco dela”, disse um morador da Geórgia na época. “Ela arruinou todas as empregadas que já tivemos.”

Além disso, infelizmente, algumas de nossas líderes mais conhecidas das décadas anteriores, incluindo a secretária do trabalho de Franklin Roosevelt, Frances Perkins, que era uma feroz defensora da segurança do trabalhador, não apoiava todas as mulheres trabalhadoras. “A trabalhadora do ‘dinheiro extra’ que compete com a trabalhadora por necessidade é uma ameaça para a sociedade, uma... criatura egoísta, que deveria ter vergonha de si mesma”, disse Perkins em 1930. “Até termos todas as mulheres... ganhando um salário digno... Não estou disposta a encorajar aquelas que não têm necessidades econômicas a competir com seu charme e educação, com suas vantagens superiores, com a garota trabalhadora que tem apenas duas mãos”.

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Uma das maneiras mais comuns de banalizar as mulheres é nos caracterizar como lutadoras divididas. A resposta eficaz, se é que devemos oferecer uma, não é provar o quanto somos semelhantes, mas sim celebrar como nossas diferenças nos mantêm honestas e alimentam o movimento. Toda líder, do passado e do presente, tem suas falhas, mas ainda pode realizar grandes coisas. Griffith encontrou as palavras para nós e faz um trabalho exemplar ao mostrar como as mulheres sempre descobriram maneiras de serem poderosas, independentemente dos obstáculos. A lição é sempre a mesma: quanto mais cedo reconhecermos esse poder umas nas outras, mais cedo a próxima onda de progresso chegará às nossas praias. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Formidable: American Women and the Fight for Equality: 1920 – 2020)

Elisabeth Griffith

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Pegasus. 507 pp. $35

- - -

Connie Schultz é colunista do USA Today e autora, mais recentemente, do romance “The Daughters of Erietown”.

THE WASHINGTON POST - Uma confissão: Após algumas páginas do livro da historiadora Elisabeth Griffith, senti o cansaço de uma feminista de longa data. Quem precisa ler este relato enciclopédico dos últimos 100 anos de luta das mulheres pela igualdade? Quando terminei a introdução, meu humor havia mudado. Quem precisa desse rolo compressor com uma linha do tempo cheia de fatos e anedotas sobre o que as mulheres sofreram na América? Muitos de nós, receio. Incluindo eu mesma.

Este livro merece seu título: Formidable: American Women and the Fight for Equality: 1920-2020 (Formidáveis: mulheres americanas e a luta pela igualdade: 1920-2020). É grande em quase 400 páginas de texto porque deve ser, já que os relatos históricos da história das mulheres raramente levantam nosso olhar para além das ativistas, que eram em sua maioria brancas e unidas pela causa, e com muito tempo livre para persegui-la. Este é um relato interseccional do que significou ser uma mulher na América no século passado.

Cena do filme 'As Sufragistas', de Sarah Gavron, com Carey Mulligan, Meryl Streep, Helena Bonham Carter  Foto: IMDB

Griffith nos obriga a considerar a complexidade das mulheres e reconhecer que temos sido “opressoras, progressistas, escravizadas, ativistas, adversárias e aliadas”. Ela nos guia por uma “cronologia multirracial e inclusiva” que nos leva a considerar exatamente sobre quem falamos quando tratamos da história das mulheres.

“Como estou escrevendo a história americana sobre mulheres negras e brancas, o racismo faz parte dessa história. Não pode ser encoberto ou apagado... Precisamos ser maduros o suficiente para confrontar e celebrar nossa história”, ela escreve. “Os historiadores têm a responsabilidade de serem testemunhas da verdade e registradores precisos.”

Griffith espera que os críticos opinem: “Este livro relembra décadas de tensão entre mulheres negras e brancas e a desconfiança causada pelo racismo branco. Dada a ferocidade do debate atual sobre como nossa nação aborda seu passado e presente, há críticos que irão me acusar de apropriação ou apropriação indevida. Minha resposta é que estudamos História para aprender, para sermos inspirados e talvez castigados. Aprender é nossa responsabilidade. Muitos de nós sabemos muito pouco sobre o passado da América. Sou branca, cisgênero, historiadora feminista, escrevendo sobre mulheres que podem ou não se parecer comigo. Tenho doutorado em História e ainda estou aprendendo. Também sou otimista. Acredito que mudanças políticas e pessoais são possíveis, como o século passado demonstrou .”

As mulheres mais jovens queriam um papel maior na determinação de seu destino

Sempre houve divisões entre as mulheres. Após a decisão da Suprema Corte de anular Roe v. Wade, as tensões geracionais provavelmente aumentarão entre as mulheres enquanto tentamos passar da culpa para a ação. Por que as gerações mais velhas não fizeram mais para proteger esse direito essencial? Por que tantos jovens acharam que isso estava garantido? Isso pode ser desanimador, mas talvez seja instrutivo lembrar que esse também é o nosso legado.

Depois de uma grande celebração de seu 80º aniversário, a sufragista Elizabeth Cady Stanton publicou A Bíblia da Mulher em 1895. Como Griffith escreve, o livro de Stanton “descartou a versão da criação da costela de Adão (Gênesis, 2:18, 21-23) em favor da versão anterior (Gênesis, 1:26-27: ‘Então Deus criou o homem à sua própria imagem... homem e mulher’). Ela insistiu em estabelecer a igualdade entre os sexos e um Deus andrógino. Enfurecidas e envergonhadas pela heresia de Stanton , sufragistas mais jovens censuraram Stanton e canonizaram [Susan B.] Anthony, criando uma ruptura em sua amizade de quarenta e cinco anos. Stanton foi apagada.”

Cena do filme Passing, baseado na vida de Nella Larsen, escritora que lutou pelos direitos das mulheres  Foto: Netflix

As mulheres mais jovens queriam um papel maior na determinação de seu destino, escreve Griffith. “A segunda geração estava impaciente com Stanton, que se recusava a ‘cantar o sufrágio eternamente’, preferindo ‘a agitação’.” Ao ler o livro de Griffith, descobri que as passagens mais incômodas são as mais necessárias, principalmente no que diz respeito ao racismo. Muitas sufragistas brancas, ela nos lembra, uma vez endossaram o linchamento. E Stanton, apesar de todo o seu ativismo, era uma “visionária míope” que “ignorou as mulheres negras”.

Em 1866, a autora negra Frances Ellen Watkins Harper implorou às sufragistas brancas da American Equal Rights Association para incluir mulheres negras em sua luta. “Vocês, mulheres brancas, falam aqui de direitos. Eu falo de injustiças”, ela disse, e então citou uma lista de humilhações contínuas infligidas às mulheres negras. Stanton eliminou seus comentários do registro oficial da reunião.

A cantora de jazz Billie Holiday no Ryans Nightclub, em 1942 Foto: Don Peterson colorida por Marina Amaral

Quase sete décadas depois, a canção Strange Fruit, da cantora negra Billie Holiday, sobre linchamento, vendeu 1 milhão de cópias em 1939, quando ela tinha apenas 24 anos. Ela se tornou um símbolo da resistência ao linchamento, conta Griffith, e um ícone dos direitos civis - bem como alvo de vigilância e assédio do governo pelo resto de sua vida. O apoio da primeira-dama Eleanor Roosevelt aos negros americanos costumava ser usado contra seu marido como uma questão de campanha. “Não gostamos nem um pouco dela”, disse um morador da Geórgia na época. “Ela arruinou todas as empregadas que já tivemos.”

Além disso, infelizmente, algumas de nossas líderes mais conhecidas das décadas anteriores, incluindo a secretária do trabalho de Franklin Roosevelt, Frances Perkins, que era uma feroz defensora da segurança do trabalhador, não apoiava todas as mulheres trabalhadoras. “A trabalhadora do ‘dinheiro extra’ que compete com a trabalhadora por necessidade é uma ameaça para a sociedade, uma... criatura egoísta, que deveria ter vergonha de si mesma”, disse Perkins em 1930. “Até termos todas as mulheres... ganhando um salário digno... Não estou disposta a encorajar aquelas que não têm necessidades econômicas a competir com seu charme e educação, com suas vantagens superiores, com a garota trabalhadora que tem apenas duas mãos”.

Uma das maneiras mais comuns de banalizar as mulheres é nos caracterizar como lutadoras divididas. A resposta eficaz, se é que devemos oferecer uma, não é provar o quanto somos semelhantes, mas sim celebrar como nossas diferenças nos mantêm honestas e alimentam o movimento. Toda líder, do passado e do presente, tem suas falhas, mas ainda pode realizar grandes coisas. Griffith encontrou as palavras para nós e faz um trabalho exemplar ao mostrar como as mulheres sempre descobriram maneiras de serem poderosas, independentemente dos obstáculos. A lição é sempre a mesma: quanto mais cedo reconhecermos esse poder umas nas outras, mais cedo a próxima onda de progresso chegará às nossas praias. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Formidable: American Women and the Fight for Equality: 1920 – 2020)

Elisabeth Griffith

Pegasus. 507 pp. $35

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Connie Schultz é colunista do USA Today e autora, mais recentemente, do romance “The Daughters of Erietown”.

THE WASHINGTON POST - Uma confissão: Após algumas páginas do livro da historiadora Elisabeth Griffith, senti o cansaço de uma feminista de longa data. Quem precisa ler este relato enciclopédico dos últimos 100 anos de luta das mulheres pela igualdade? Quando terminei a introdução, meu humor havia mudado. Quem precisa desse rolo compressor com uma linha do tempo cheia de fatos e anedotas sobre o que as mulheres sofreram na América? Muitos de nós, receio. Incluindo eu mesma.

Este livro merece seu título: Formidable: American Women and the Fight for Equality: 1920-2020 (Formidáveis: mulheres americanas e a luta pela igualdade: 1920-2020). É grande em quase 400 páginas de texto porque deve ser, já que os relatos históricos da história das mulheres raramente levantam nosso olhar para além das ativistas, que eram em sua maioria brancas e unidas pela causa, e com muito tempo livre para persegui-la. Este é um relato interseccional do que significou ser uma mulher na América no século passado.

Cena do filme 'As Sufragistas', de Sarah Gavron, com Carey Mulligan, Meryl Streep, Helena Bonham Carter  Foto: IMDB

Griffith nos obriga a considerar a complexidade das mulheres e reconhecer que temos sido “opressoras, progressistas, escravizadas, ativistas, adversárias e aliadas”. Ela nos guia por uma “cronologia multirracial e inclusiva” que nos leva a considerar exatamente sobre quem falamos quando tratamos da história das mulheres.

“Como estou escrevendo a história americana sobre mulheres negras e brancas, o racismo faz parte dessa história. Não pode ser encoberto ou apagado... Precisamos ser maduros o suficiente para confrontar e celebrar nossa história”, ela escreve. “Os historiadores têm a responsabilidade de serem testemunhas da verdade e registradores precisos.”

Griffith espera que os críticos opinem: “Este livro relembra décadas de tensão entre mulheres negras e brancas e a desconfiança causada pelo racismo branco. Dada a ferocidade do debate atual sobre como nossa nação aborda seu passado e presente, há críticos que irão me acusar de apropriação ou apropriação indevida. Minha resposta é que estudamos História para aprender, para sermos inspirados e talvez castigados. Aprender é nossa responsabilidade. Muitos de nós sabemos muito pouco sobre o passado da América. Sou branca, cisgênero, historiadora feminista, escrevendo sobre mulheres que podem ou não se parecer comigo. Tenho doutorado em História e ainda estou aprendendo. Também sou otimista. Acredito que mudanças políticas e pessoais são possíveis, como o século passado demonstrou .”

As mulheres mais jovens queriam um papel maior na determinação de seu destino

Sempre houve divisões entre as mulheres. Após a decisão da Suprema Corte de anular Roe v. Wade, as tensões geracionais provavelmente aumentarão entre as mulheres enquanto tentamos passar da culpa para a ação. Por que as gerações mais velhas não fizeram mais para proteger esse direito essencial? Por que tantos jovens acharam que isso estava garantido? Isso pode ser desanimador, mas talvez seja instrutivo lembrar que esse também é o nosso legado.

Depois de uma grande celebração de seu 80º aniversário, a sufragista Elizabeth Cady Stanton publicou A Bíblia da Mulher em 1895. Como Griffith escreve, o livro de Stanton “descartou a versão da criação da costela de Adão (Gênesis, 2:18, 21-23) em favor da versão anterior (Gênesis, 1:26-27: ‘Então Deus criou o homem à sua própria imagem... homem e mulher’). Ela insistiu em estabelecer a igualdade entre os sexos e um Deus andrógino. Enfurecidas e envergonhadas pela heresia de Stanton , sufragistas mais jovens censuraram Stanton e canonizaram [Susan B.] Anthony, criando uma ruptura em sua amizade de quarenta e cinco anos. Stanton foi apagada.”

Cena do filme Passing, baseado na vida de Nella Larsen, escritora que lutou pelos direitos das mulheres  Foto: Netflix

As mulheres mais jovens queriam um papel maior na determinação de seu destino, escreve Griffith. “A segunda geração estava impaciente com Stanton, que se recusava a ‘cantar o sufrágio eternamente’, preferindo ‘a agitação’.” Ao ler o livro de Griffith, descobri que as passagens mais incômodas são as mais necessárias, principalmente no que diz respeito ao racismo. Muitas sufragistas brancas, ela nos lembra, uma vez endossaram o linchamento. E Stanton, apesar de todo o seu ativismo, era uma “visionária míope” que “ignorou as mulheres negras”.

Em 1866, a autora negra Frances Ellen Watkins Harper implorou às sufragistas brancas da American Equal Rights Association para incluir mulheres negras em sua luta. “Vocês, mulheres brancas, falam aqui de direitos. Eu falo de injustiças”, ela disse, e então citou uma lista de humilhações contínuas infligidas às mulheres negras. Stanton eliminou seus comentários do registro oficial da reunião.

A cantora de jazz Billie Holiday no Ryans Nightclub, em 1942 Foto: Don Peterson colorida por Marina Amaral

Quase sete décadas depois, a canção Strange Fruit, da cantora negra Billie Holiday, sobre linchamento, vendeu 1 milhão de cópias em 1939, quando ela tinha apenas 24 anos. Ela se tornou um símbolo da resistência ao linchamento, conta Griffith, e um ícone dos direitos civis - bem como alvo de vigilância e assédio do governo pelo resto de sua vida. O apoio da primeira-dama Eleanor Roosevelt aos negros americanos costumava ser usado contra seu marido como uma questão de campanha. “Não gostamos nem um pouco dela”, disse um morador da Geórgia na época. “Ela arruinou todas as empregadas que já tivemos.”

Além disso, infelizmente, algumas de nossas líderes mais conhecidas das décadas anteriores, incluindo a secretária do trabalho de Franklin Roosevelt, Frances Perkins, que era uma feroz defensora da segurança do trabalhador, não apoiava todas as mulheres trabalhadoras. “A trabalhadora do ‘dinheiro extra’ que compete com a trabalhadora por necessidade é uma ameaça para a sociedade, uma... criatura egoísta, que deveria ter vergonha de si mesma”, disse Perkins em 1930. “Até termos todas as mulheres... ganhando um salário digno... Não estou disposta a encorajar aquelas que não têm necessidades econômicas a competir com seu charme e educação, com suas vantagens superiores, com a garota trabalhadora que tem apenas duas mãos”.

Uma das maneiras mais comuns de banalizar as mulheres é nos caracterizar como lutadoras divididas. A resposta eficaz, se é que devemos oferecer uma, não é provar o quanto somos semelhantes, mas sim celebrar como nossas diferenças nos mantêm honestas e alimentam o movimento. Toda líder, do passado e do presente, tem suas falhas, mas ainda pode realizar grandes coisas. Griffith encontrou as palavras para nós e faz um trabalho exemplar ao mostrar como as mulheres sempre descobriram maneiras de serem poderosas, independentemente dos obstáculos. A lição é sempre a mesma: quanto mais cedo reconhecermos esse poder umas nas outras, mais cedo a próxima onda de progresso chegará às nossas praias. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Formidable: American Women and the Fight for Equality: 1920 – 2020)

Elisabeth Griffith

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Connie Schultz é colunista do USA Today e autora, mais recentemente, do romance “The Daughters of Erietown”.

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