A história de Silvio Santos começa a ser contada com uma exposição no MIS a partir da próxima quarta, 7, cinco dias antes de seu aniversário de 86 anos. Surge como fruto de um improvável pedido de Porta da Esperança, um encontro furtivo de Namoro na TV, uma aposta na sorte de Roletrando. Silvio surpreendeu a equipe do museu, capitaneada pelo diretor André Sturm e a cocuradora Gabrielle Araújo. Arredio a homenagens, aceitou a proposta pedindo apenas para não se envolver. Depois, diante das dúvidas dos pesquisadores com datas e dados históricos, aceitou recebê-los em seu camarim.
Silvio e a saga da TV no Brasil têm linhas do tempo que correm paralelas e se cruzam o tempo todo. O trabalho inicial, então, foi localizar essas histórias em imagens de arquivo, áudios, matérias de jornais e revistas da época. “Foi difícil, porque a preocupação em preservar a memória televisiva é algo que só começou no final dos anos 90”, diz Gabrielle. O garimpo, no entanto, aparou pérolas como raras imagens de programas como Clube dos 15 (TV Tupi); Ela Disse, Ele Disse (TVS); e Boa Noite Cinderela (Globo). Há entre as fotos algumas de Silvio com menos de três anos de idade e áudios como o que mostra sua voz trabalhando para a Rádio Nacional, nos anos 70.
Outra face de Silvio, jogada nos porões da memória, mostra o único produto realizado nos tempos em que ele tentou se tornar um homem do cinema. Produzido pelos Estúdios Silvio Santos, em 1976, com produção de Luciano Callegari, o longa Ninguém Segura Essas Mulheres, com Toni Ramos, Dennis Carvalho, Vera Gimenez e Anselmo Duarte, foi um fracasso tão indefensável que nem a câmera de 35 mm de Silvio, importada dos Estados Unidos, salvaria. Apesar de ter no papel outros dois filmes, Silvio se despedia do sonho.
As câmeras, por si, traçam uma linha do tempo mesmo para quem não conhece tecnologia. Silvio cedeu peças históricas que guarda no SBT. Aparelhos de TV também cumprem essa função. Estarão lá o primeiro modelo lançado no Brasil, a primeira televisão a cores do País e a primeira câmera de TV, usada para inaugurar a Tupi.
“As histórias vão surpreender”, diz o diretor executivo e curador, André Sturm. Ele conta que, no final dos anos 60, Silvio contabilizava 43 programas no ar em canais variados. “Ele fazia naquele tempo o que as pessoas fazem hoje, já era um produtor independente.”
Silvio Santos inventou os domingos na televisão. “Antes dele, domingos eram dias mortos. Ele resolveu comprar um horário e criar isso.” O diretor diz que até poderia ter feito a exposição sem consultar o homenageado, mas que, sem sua ajuda, seria difícil conseguir vídeos, imagens e objetos pessoais. “A exposição de Silvio foi o mundo ideal. Ele a permitiu e não interferiu em nada. Foi exatamente o contrário da mostra de Tim Burton, que teve de contar com a aprovação de sua equipe em cada centímetro.”
Imersão nos cenários. Os frequentadores poderão se aproximar da experiência de participar de quatro quadros famosos do Programa Silvio Santos: Roletrando, Qual é a Música, Show do Milhão e Domingo no Parque. As réplicas foram feitas com fidelidade, para que a memória afetiva de três gerações fossem ativadas. Haverá também uma réplica do automóvel Jeep com o qual Silvio percorria quilômetros para realizar seu quadro A Caravana do Peru que Fala, uma estratégia do apresentador, criada no final dos anos 50, para divulgar e vender carnês de seu Baú da Felicidade. Silvio era o próprio peru, um apelido colocado por Ronald Golias, um dos comediantes que seguia na caravana junto com outros humoristas e cantores.
Outra ideia da curadoria deve render comoção. Depois de fazer anúncios em jornais, os profissionais localizaram alguns casais que se conheceram graças a quadros de relacionamento de Silvio, como o Casamento na TV e o Namoro na TV. O casal mais antigo, João e Joselina, se encontrou em um episódio de Casamento na TV, de 1968, da TV Paulista (hoje, Globo). Eles se casaram um ano depois, e tiveram toda a festa paga e televisionada por Silvio. Alguns dias depois, o apresentador recebeu em outro programa João, Joselina e mais quatro casais que haviam passado pelo quadro. “Quem aparecer com um filho daqui nove meses ganha um prêmio”, prometeu o apresentador. E lá estavam, nove meses depois, o casal com sua filha recém nascida. Os depoimentos da família e as fotos do casamento estarão na mostra.
“Gosto muito da parte dos depoimentos”, diz Gabrielle. Eles foram tomados de funcionários que trabalham com Silvio há muitos anos e de artistas e apresentadores que foram lançados por ele, como Eliana, Nelson Rubens, Gugu Liberato e Roque. É o atestado de que os homens não se tornam grandes por acaso.