O livro de F. Scott Fitzgerald é um espetáculo. Tanto pela história (já adaptada três vezes para o cinema, em 1926, 1949 e 1974) quanto pelo estilo, alusivo, sutil, profundo. De modo que era uma temeridade tal livro ser vertido para cinema pelo australiano Baz Luhrmann (de Romeu + Julieta e Moulin Rouge). E em 3D, ainda por cima! Críticos disseram que era como Roland Emmerich adaptando Proust. Bem, é quase isso. Luhrmann, de fato, é um cineasta do glacê, mais que a substância. Das plumas e paetês, mais que da profundidade. No entanto, em O Grande Gatsby, Luhrmann recebe como um sopro de inspiração da obra de Fitzgerald e, ao conter um pouco seus excessos, realiza uma adaptação que, se não é grande, pelo menos é digna. E, cá entre nós, o aparato de luxo ostentado por Gatsby, de certo modo cabe bem na plumosa estética preferencial de Luhrmann. O narrador é Nick Carraway (Toby Maguire), que se deixa levar pelo fascínio do seu vizinho Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) e suas festas faraônicas. A amada de Gatsby é Daisy (Carrey Mulligan), casada com o aristocrata Tom Buchanan (Joel Edgerton). O mapa em que essa história se desenvolve é relativamente restrito - de Long Island, onde se situam as mansões, a Manhattan. No meio do caminho, aquilo que Fitzgerald chamou de "vale de cinzas", um lugar sujo e insalubre, onde mineiros mourejam para ganhar precariamente a vida. A pobreza, em suma, em meio à opulência aristocrática e a sofisticação urbana. Quem vai de carro de uma ponta a outra, passa obrigatoriamente por um outdoor gigantesco, uma face humana com dois olhos imensos, herança de algum oftalmologista desejoso de anunciar seus serviços. Mas esses são os olhos da consciência, mais que tudo, e Luhrmann explora sua presença de maneira reiterada. Sim, porque se Gatsby dá festas não para exibir sua fortuna, mas para impressionar Daisy, não escapará a um dilema moral devastador no final da história. Enquanto essa hora da verdade não chega, tudo, de certo modo, passa pelo olhar do narrador. Nick relata a história a partir do hospital, onde tenta curar-se do alcoolismo crônico. "Como se bebia naqueles tempos...", conta. E sim, está falando pela boca de Scott Fitzgerald, um dos ícones dos anos loucos, da era do jazz, ou de como se quiser definir aqueles anos 1920, prévios ao crack da Bolsa, nos quais tudo parecia possível e fortunas obscuras faziam-se do dia para a noite. A vida era uma farra. E farras cobram seu preço. Fitzgerald sabia disso, Zelda, sua mulher, sabia, vários outros escritores conheceram esse preço a pagar. Essa vida suntuosa (e profundamente neurótica), como se não houvesse amanhã, ganha uma roupagem interessante em Baz Luhrmann. Ajudado pela sensação onírica causada pelo 3D, ele embarca nesse sonho do pobre menino rico Gatsby, com seu corrosivo vazio interior, cercado de esnobes igualmente ocos, embora inevitavelmente cheios de si. Um Gatsby ideal talvez pedisse a direção de um Luchino Visconti, que, rico e marxista, sabia distinguir a atitude aristocrática da mera ostentação. De certa forma, essa confusão de termos entra na linguagem do filme, em especial em momentos que Luhrmann não consegue refrear sua tendência ao exibicionismo. O sopro de Fitzgerald mantém o filme em pé, apesar de tudo. CRÍTICAJJJJ ÓTIMOJJJJJBOM SOPRO DO ORIGINAL DE FITZGERALD MANTÉM FILME DE PÉ, APESAR DOS EXCESSOS
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