Não sou tão fã de Sex and the City, mas gosto de assistir para (tentar) compreender como as mulheres pensam. Detalhe irônico: os textos são escritos por homens. Darren Star escrevia a série, Michael Patrick King escreveu o filme. Surpresa? Não para mim. Tudo bem, os roteiristas são gays. Mas apesar dos exageros estilísticos e do consumismo caricato, acho que as quatro personagens se comportam exatamente... como homens.
Carrie, por exemplo, é o líder, o capitão do time de futebol. Samantha é a cafajeste, aquela que não pode ver na frente um representante do sexo oposto - às vezes até do mesmo sexo - que já sai dando em cima. Miranda é o mal-humorado da turma, o cara mais chato do mundo. E Charlotte é o certinho, o idealista que acredita em tudo que lhe dizem. E que ainda está em busca eterna pelo amor perfeito, veja só que ingenuidade.
Ontem vi o filme em DVD emprestado por uma amiga (não, não era cópia pirata, antes que você pergunte). Sex and the City, o Filme tem o maior caso de perdão da história do cinema. Você voltaria com um namorado que te abandonou no altar? Só em Hollywood mesmo. Ou em Nova York.
O filme é praticamente igual à série da TV, mas com um timing diferente. Parece que você está vendo três episódios emendados um no outro, sem comerciais. Mas tenho que reconhecer que o trabalho dos roteiristas é muito bom, com alguns diálogos antológicos. "Caras maus costumam fazer coisas ruins. Caras bons também" é um desses pensamentos que nos obrigam a refletir sobre a condição humana. Outro comentário sobre a diferença de comportamento nas diversas idades - e aí não serve apenas para as mulheres - também é um direto no estômago: "Os 20 anos são para se divertir, os 30 são para aprender lições. E os 40 são para pagar drinques para os amigos". Sei lá, acho que tem alguma coisa estranhamente verdadeira nessa frase aparentemente incompreensível.
Costumam me perguntar qual é a minha Sex and the City favorita. Samantha e Miranda estão fora de cogitação; uma é muito vulgar, a outra é irritantemente cerebral. Embora eu tenha mais coisas em comum com Carrie (afinal, guardadas as devidas proporções, também escrevo uma coluna sobre relacionamento, como ela), prefiro a Charlotte.
Ela pode ser ingênua, até meio bobinha, mas pelo menos acredita no amor. E para quem mora em uma metrópole gigantesca e impessoal, como nós e elas, acreditar no amor é quase como acreditar em um deus: a gente tem que ter fé, mesmo sem ter nenhuma prova de que ele existe.