Fenômeno dos 'booktubers' difunde clássicos literários para público jovem


Canais do YouTube especializados em resenhas de livros formam nova geração de leitores

Por Felipe Cherubin
Isabella Lubrano, umas das booktubers de maior sucesso na internet, conta que os clássicos literários rendem mais audiência do que os best-sellerscomerciais Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Os “booktubers”, pessoas que falam de livros e temas literários no YouTube, são um fenômeno que vem mudando a forma como enxergamos o mercado editorial. Esses canais ajudam leitores a digerir os clássicos, estudar para os vestibulares e aprender métodos de leitura e escrita. Alguns booktubers têm se destacado e, claro, estão chamando atenção de editoras e livrarias, que começaram a investir em parcerias. Afinal, os seguidores são possíveis consumidores e alguns canais já ultrapassam o número de 200 mil assinantes, caso do Tiny Little Things, da professora Tatiana Feltrin, o PAM, da escritora Pâmela Gonçalves e o Perdido Nos livros de Eduardo Cilto.

Com cerca de três anos de existência, o canal Ler Antes de Morrer, da jornalista Isabella Lubrano, que este ano atingiu a marca de 100 mil inscritos, se destaca por pautar seu conteúdo nos grandes clássicos da literatura. Em 2014, Isabella, então produtora na TV Gazeta, pediu demissão e, com o crescimento do canal, pôde fazer dele sua profissão. Com um público predominantemente adulto, a booktuber revela ao Aliás que seu diferencial é “investir em resenhas roteirizadas, com apuração de dados e muita contextualização histórica”.

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Otimista, Isabella afirma que é “inegável que os booktubers desenvolveram uma linguagem mais atraente ao público leitor”, mas que não pensa que isso esteja enfraquecendo o jornalismo tradicional e sim “colaborando para formar novas gerações de leitores”, e que cada vez mais “jornais, revistas e editoras vão descobrir novas maneiras de aproveitar os booktubers para fortalecer o mercado consumidor de livros”.

Mell Ferraz, booktuber que esmiuçou 'Ulisses', de James Joyce, em uma série de 16 vídeos em seu canal Foto: Rosely Ferraz

Outro canal focado nos clássicos é o Literature-se, da estudante Mell Ferraz, que completa 7 anos de existência. Mell, que por conta do canal ingressou na faculdade de literatura para trabalhar na área, conta que “jamais imaginaria o alcance que o Literature-se tem hoje”. Além dos clássicos, a booktuber dá preferência a títulos “menos conhecidos, e também a autores iniciantes”. Um destaque do Literature-se, digno de nota, é uma série especial em que a booktuber analisa, em 16 episódios, o tão “temido” Ulisses, de James Joyce, de forma acessível e prazerosa.

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Já Pâmela Gonçalves, do PAM, viu ao longo do tempo seu público mudar de adolescentes para universitários e que hoje “além dos comentários sobre livros, começou a fazer vídeos com dicas de escrita”. Autora de Boa Noite (Editora Galera Record, 240 páginas, R$ 32,90), Pâmela lança neste semestre seu segundo livro solo. Ela também participa, juntamente com outros booktubers, da coletânea O Amor nos Tempos de #Likes, que reúne três adaptações contemporâneas dos clássicos Orgulho e Preconceito, Dom Casmurro e Romeu e Julieta, também pela Galera Record.

Além dos booktubers, redes sociais especializadas em livros popularizam-se, modificando o comportamento do público leitor e, consequentemente, do mercado livreiro. Este é o caso da Goodreads, uma rede social específica para leitores, em que o usuário pode criar e compartilhar um catálogo com os livros que já leu, aqueles que pretende ler e os que estão sendo lidos. Além disso, todos os membros da plataforma podem resenhar e avaliar livros. Este recurso tem um peso enorme, pois, à sua maneira, determina a qualidade e popularidade de um título, ou seja, pauta sua possível aquisição entre os membros da rede.

O sucesso da Goodreads, lançada em 2007 por Otis Chandler e sua esposa Elisabeth Khuri Chandler, foi tanto, que, em 2013, foi adquirida pela gigante Amazon. A aquisição gerou certa polêmica, pois a Amazon estaria, supostamente, monopolizando o mercado de vendas por meio das informações obtidas no Goodreads. No entanto, essa discussão não ganhou unanimidade, já que boa parte dos usuários tende a ver a aquisição com bons olhos, ou, como declarou ao New York Times o escritor fenômeno Hugh Howey, autor da série bestseller Silo, “trata-se da união entre o melhor lugar para a discussão de livros com o melhor lugar para comprá-los”.

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Howey, que começou sua carreira de forma independente, atribui seu sucesso à liberdade das ferramentas de autopublicação e, sobretudo, às milhares de avaliações positivas de seus leitores Amazon e a alta cotação conquistada na Goodreads. Sua série Silo, que está sendo publicada no país pela editora Intrínseca, será adaptada para as telas de cinema, e o mestre do terror Stephen King já se declarou fã da obra.

No Brasil, uma rede social similar chamada Skoob (Curiosamente, “books” ao contrário), fundada em 2009 por Lindenberg Moreira e Viviane Lordello, já é a maior rede do País neste segmento e uma das maiores do mundo com mais de 4,5 milhões de usuários. Viviane Lordello, falando ao Aliás, acredita que “uma rede social de livros incentiva o hábito de leitura e ajuda a formar mais leitores, o que é essencial para o futuro do país, auxiliando decisivamente na melhoria do nível cultural da população”.

De olho no futuro, as editoras e livrarias brasileiras estão se associando à Skoob e a receptividade de suas ações promocionais cresce exponencialmente, assim como o número de skoobers, como são chamados os membros da rede. Os skoobers podem criar comunidades, fazer trocas de livros e participar do recém-lançado Clube Skoob, um clube do livro em que os assinantes recebem todo mês uma caixa temática, a "Caixa do Skoob", com itens surpresas, que vão de livros até produtos de edição limitada. Viviane revela que “lançado em maio, a primeira edição, limitada a cem caixas, se esgotou em menos de duas horas”.

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Os booktubers e as redes sociais especializadas em livros são exemplos de uma revolução tecnológica que está modificando as regras do mercado editorial, que, para não cair no obsoleto, já começou a assimilar essa nova realidade notadamente irreversível. 

*Felipe Cherubin é jornalista, escritor, filósofo e autor do livro 'O Homem de Duas Cidades' (Amazon)

Isabella Lubrano, umas das booktubers de maior sucesso na internet, conta que os clássicos literários rendem mais audiência do que os best-sellerscomerciais Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Os “booktubers”, pessoas que falam de livros e temas literários no YouTube, são um fenômeno que vem mudando a forma como enxergamos o mercado editorial. Esses canais ajudam leitores a digerir os clássicos, estudar para os vestibulares e aprender métodos de leitura e escrita. Alguns booktubers têm se destacado e, claro, estão chamando atenção de editoras e livrarias, que começaram a investir em parcerias. Afinal, os seguidores são possíveis consumidores e alguns canais já ultrapassam o número de 200 mil assinantes, caso do Tiny Little Things, da professora Tatiana Feltrin, o PAM, da escritora Pâmela Gonçalves e o Perdido Nos livros de Eduardo Cilto.

Com cerca de três anos de existência, o canal Ler Antes de Morrer, da jornalista Isabella Lubrano, que este ano atingiu a marca de 100 mil inscritos, se destaca por pautar seu conteúdo nos grandes clássicos da literatura. Em 2014, Isabella, então produtora na TV Gazeta, pediu demissão e, com o crescimento do canal, pôde fazer dele sua profissão. Com um público predominantemente adulto, a booktuber revela ao Aliás que seu diferencial é “investir em resenhas roteirizadas, com apuração de dados e muita contextualização histórica”.

Otimista, Isabella afirma que é “inegável que os booktubers desenvolveram uma linguagem mais atraente ao público leitor”, mas que não pensa que isso esteja enfraquecendo o jornalismo tradicional e sim “colaborando para formar novas gerações de leitores”, e que cada vez mais “jornais, revistas e editoras vão descobrir novas maneiras de aproveitar os booktubers para fortalecer o mercado consumidor de livros”.

Mell Ferraz, booktuber que esmiuçou 'Ulisses', de James Joyce, em uma série de 16 vídeos em seu canal Foto: Rosely Ferraz

Outro canal focado nos clássicos é o Literature-se, da estudante Mell Ferraz, que completa 7 anos de existência. Mell, que por conta do canal ingressou na faculdade de literatura para trabalhar na área, conta que “jamais imaginaria o alcance que o Literature-se tem hoje”. Além dos clássicos, a booktuber dá preferência a títulos “menos conhecidos, e também a autores iniciantes”. Um destaque do Literature-se, digno de nota, é uma série especial em que a booktuber analisa, em 16 episódios, o tão “temido” Ulisses, de James Joyce, de forma acessível e prazerosa.

Já Pâmela Gonçalves, do PAM, viu ao longo do tempo seu público mudar de adolescentes para universitários e que hoje “além dos comentários sobre livros, começou a fazer vídeos com dicas de escrita”. Autora de Boa Noite (Editora Galera Record, 240 páginas, R$ 32,90), Pâmela lança neste semestre seu segundo livro solo. Ela também participa, juntamente com outros booktubers, da coletânea O Amor nos Tempos de #Likes, que reúne três adaptações contemporâneas dos clássicos Orgulho e Preconceito, Dom Casmurro e Romeu e Julieta, também pela Galera Record.

Além dos booktubers, redes sociais especializadas em livros popularizam-se, modificando o comportamento do público leitor e, consequentemente, do mercado livreiro. Este é o caso da Goodreads, uma rede social específica para leitores, em que o usuário pode criar e compartilhar um catálogo com os livros que já leu, aqueles que pretende ler e os que estão sendo lidos. Além disso, todos os membros da plataforma podem resenhar e avaliar livros. Este recurso tem um peso enorme, pois, à sua maneira, determina a qualidade e popularidade de um título, ou seja, pauta sua possível aquisição entre os membros da rede.

O sucesso da Goodreads, lançada em 2007 por Otis Chandler e sua esposa Elisabeth Khuri Chandler, foi tanto, que, em 2013, foi adquirida pela gigante Amazon. A aquisição gerou certa polêmica, pois a Amazon estaria, supostamente, monopolizando o mercado de vendas por meio das informações obtidas no Goodreads. No entanto, essa discussão não ganhou unanimidade, já que boa parte dos usuários tende a ver a aquisição com bons olhos, ou, como declarou ao New York Times o escritor fenômeno Hugh Howey, autor da série bestseller Silo, “trata-se da união entre o melhor lugar para a discussão de livros com o melhor lugar para comprá-los”.

Howey, que começou sua carreira de forma independente, atribui seu sucesso à liberdade das ferramentas de autopublicação e, sobretudo, às milhares de avaliações positivas de seus leitores Amazon e a alta cotação conquistada na Goodreads. Sua série Silo, que está sendo publicada no país pela editora Intrínseca, será adaptada para as telas de cinema, e o mestre do terror Stephen King já se declarou fã da obra.

No Brasil, uma rede social similar chamada Skoob (Curiosamente, “books” ao contrário), fundada em 2009 por Lindenberg Moreira e Viviane Lordello, já é a maior rede do País neste segmento e uma das maiores do mundo com mais de 4,5 milhões de usuários. Viviane Lordello, falando ao Aliás, acredita que “uma rede social de livros incentiva o hábito de leitura e ajuda a formar mais leitores, o que é essencial para o futuro do país, auxiliando decisivamente na melhoria do nível cultural da população”.

De olho no futuro, as editoras e livrarias brasileiras estão se associando à Skoob e a receptividade de suas ações promocionais cresce exponencialmente, assim como o número de skoobers, como são chamados os membros da rede. Os skoobers podem criar comunidades, fazer trocas de livros e participar do recém-lançado Clube Skoob, um clube do livro em que os assinantes recebem todo mês uma caixa temática, a "Caixa do Skoob", com itens surpresas, que vão de livros até produtos de edição limitada. Viviane revela que “lançado em maio, a primeira edição, limitada a cem caixas, se esgotou em menos de duas horas”.

Os booktubers e as redes sociais especializadas em livros são exemplos de uma revolução tecnológica que está modificando as regras do mercado editorial, que, para não cair no obsoleto, já começou a assimilar essa nova realidade notadamente irreversível. 

*Felipe Cherubin é jornalista, escritor, filósofo e autor do livro 'O Homem de Duas Cidades' (Amazon)

Isabella Lubrano, umas das booktubers de maior sucesso na internet, conta que os clássicos literários rendem mais audiência do que os best-sellerscomerciais Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Os “booktubers”, pessoas que falam de livros e temas literários no YouTube, são um fenômeno que vem mudando a forma como enxergamos o mercado editorial. Esses canais ajudam leitores a digerir os clássicos, estudar para os vestibulares e aprender métodos de leitura e escrita. Alguns booktubers têm se destacado e, claro, estão chamando atenção de editoras e livrarias, que começaram a investir em parcerias. Afinal, os seguidores são possíveis consumidores e alguns canais já ultrapassam o número de 200 mil assinantes, caso do Tiny Little Things, da professora Tatiana Feltrin, o PAM, da escritora Pâmela Gonçalves e o Perdido Nos livros de Eduardo Cilto.

Com cerca de três anos de existência, o canal Ler Antes de Morrer, da jornalista Isabella Lubrano, que este ano atingiu a marca de 100 mil inscritos, se destaca por pautar seu conteúdo nos grandes clássicos da literatura. Em 2014, Isabella, então produtora na TV Gazeta, pediu demissão e, com o crescimento do canal, pôde fazer dele sua profissão. Com um público predominantemente adulto, a booktuber revela ao Aliás que seu diferencial é “investir em resenhas roteirizadas, com apuração de dados e muita contextualização histórica”.

Otimista, Isabella afirma que é “inegável que os booktubers desenvolveram uma linguagem mais atraente ao público leitor”, mas que não pensa que isso esteja enfraquecendo o jornalismo tradicional e sim “colaborando para formar novas gerações de leitores”, e que cada vez mais “jornais, revistas e editoras vão descobrir novas maneiras de aproveitar os booktubers para fortalecer o mercado consumidor de livros”.

Mell Ferraz, booktuber que esmiuçou 'Ulisses', de James Joyce, em uma série de 16 vídeos em seu canal Foto: Rosely Ferraz

Outro canal focado nos clássicos é o Literature-se, da estudante Mell Ferraz, que completa 7 anos de existência. Mell, que por conta do canal ingressou na faculdade de literatura para trabalhar na área, conta que “jamais imaginaria o alcance que o Literature-se tem hoje”. Além dos clássicos, a booktuber dá preferência a títulos “menos conhecidos, e também a autores iniciantes”. Um destaque do Literature-se, digno de nota, é uma série especial em que a booktuber analisa, em 16 episódios, o tão “temido” Ulisses, de James Joyce, de forma acessível e prazerosa.

Já Pâmela Gonçalves, do PAM, viu ao longo do tempo seu público mudar de adolescentes para universitários e que hoje “além dos comentários sobre livros, começou a fazer vídeos com dicas de escrita”. Autora de Boa Noite (Editora Galera Record, 240 páginas, R$ 32,90), Pâmela lança neste semestre seu segundo livro solo. Ela também participa, juntamente com outros booktubers, da coletânea O Amor nos Tempos de #Likes, que reúne três adaptações contemporâneas dos clássicos Orgulho e Preconceito, Dom Casmurro e Romeu e Julieta, também pela Galera Record.

Além dos booktubers, redes sociais especializadas em livros popularizam-se, modificando o comportamento do público leitor e, consequentemente, do mercado livreiro. Este é o caso da Goodreads, uma rede social específica para leitores, em que o usuário pode criar e compartilhar um catálogo com os livros que já leu, aqueles que pretende ler e os que estão sendo lidos. Além disso, todos os membros da plataforma podem resenhar e avaliar livros. Este recurso tem um peso enorme, pois, à sua maneira, determina a qualidade e popularidade de um título, ou seja, pauta sua possível aquisição entre os membros da rede.

O sucesso da Goodreads, lançada em 2007 por Otis Chandler e sua esposa Elisabeth Khuri Chandler, foi tanto, que, em 2013, foi adquirida pela gigante Amazon. A aquisição gerou certa polêmica, pois a Amazon estaria, supostamente, monopolizando o mercado de vendas por meio das informações obtidas no Goodreads. No entanto, essa discussão não ganhou unanimidade, já que boa parte dos usuários tende a ver a aquisição com bons olhos, ou, como declarou ao New York Times o escritor fenômeno Hugh Howey, autor da série bestseller Silo, “trata-se da união entre o melhor lugar para a discussão de livros com o melhor lugar para comprá-los”.

Howey, que começou sua carreira de forma independente, atribui seu sucesso à liberdade das ferramentas de autopublicação e, sobretudo, às milhares de avaliações positivas de seus leitores Amazon e a alta cotação conquistada na Goodreads. Sua série Silo, que está sendo publicada no país pela editora Intrínseca, será adaptada para as telas de cinema, e o mestre do terror Stephen King já se declarou fã da obra.

No Brasil, uma rede social similar chamada Skoob (Curiosamente, “books” ao contrário), fundada em 2009 por Lindenberg Moreira e Viviane Lordello, já é a maior rede do País neste segmento e uma das maiores do mundo com mais de 4,5 milhões de usuários. Viviane Lordello, falando ao Aliás, acredita que “uma rede social de livros incentiva o hábito de leitura e ajuda a formar mais leitores, o que é essencial para o futuro do país, auxiliando decisivamente na melhoria do nível cultural da população”.

De olho no futuro, as editoras e livrarias brasileiras estão se associando à Skoob e a receptividade de suas ações promocionais cresce exponencialmente, assim como o número de skoobers, como são chamados os membros da rede. Os skoobers podem criar comunidades, fazer trocas de livros e participar do recém-lançado Clube Skoob, um clube do livro em que os assinantes recebem todo mês uma caixa temática, a "Caixa do Skoob", com itens surpresas, que vão de livros até produtos de edição limitada. Viviane revela que “lançado em maio, a primeira edição, limitada a cem caixas, se esgotou em menos de duas horas”.

Os booktubers e as redes sociais especializadas em livros são exemplos de uma revolução tecnológica que está modificando as regras do mercado editorial, que, para não cair no obsoleto, já começou a assimilar essa nova realidade notadamente irreversível. 

*Felipe Cherubin é jornalista, escritor, filósofo e autor do livro 'O Homem de Duas Cidades' (Amazon)

Isabella Lubrano, umas das booktubers de maior sucesso na internet, conta que os clássicos literários rendem mais audiência do que os best-sellerscomerciais Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Os “booktubers”, pessoas que falam de livros e temas literários no YouTube, são um fenômeno que vem mudando a forma como enxergamos o mercado editorial. Esses canais ajudam leitores a digerir os clássicos, estudar para os vestibulares e aprender métodos de leitura e escrita. Alguns booktubers têm se destacado e, claro, estão chamando atenção de editoras e livrarias, que começaram a investir em parcerias. Afinal, os seguidores são possíveis consumidores e alguns canais já ultrapassam o número de 200 mil assinantes, caso do Tiny Little Things, da professora Tatiana Feltrin, o PAM, da escritora Pâmela Gonçalves e o Perdido Nos livros de Eduardo Cilto.

Com cerca de três anos de existência, o canal Ler Antes de Morrer, da jornalista Isabella Lubrano, que este ano atingiu a marca de 100 mil inscritos, se destaca por pautar seu conteúdo nos grandes clássicos da literatura. Em 2014, Isabella, então produtora na TV Gazeta, pediu demissão e, com o crescimento do canal, pôde fazer dele sua profissão. Com um público predominantemente adulto, a booktuber revela ao Aliás que seu diferencial é “investir em resenhas roteirizadas, com apuração de dados e muita contextualização histórica”.

Otimista, Isabella afirma que é “inegável que os booktubers desenvolveram uma linguagem mais atraente ao público leitor”, mas que não pensa que isso esteja enfraquecendo o jornalismo tradicional e sim “colaborando para formar novas gerações de leitores”, e que cada vez mais “jornais, revistas e editoras vão descobrir novas maneiras de aproveitar os booktubers para fortalecer o mercado consumidor de livros”.

Mell Ferraz, booktuber que esmiuçou 'Ulisses', de James Joyce, em uma série de 16 vídeos em seu canal Foto: Rosely Ferraz

Outro canal focado nos clássicos é o Literature-se, da estudante Mell Ferraz, que completa 7 anos de existência. Mell, que por conta do canal ingressou na faculdade de literatura para trabalhar na área, conta que “jamais imaginaria o alcance que o Literature-se tem hoje”. Além dos clássicos, a booktuber dá preferência a títulos “menos conhecidos, e também a autores iniciantes”. Um destaque do Literature-se, digno de nota, é uma série especial em que a booktuber analisa, em 16 episódios, o tão “temido” Ulisses, de James Joyce, de forma acessível e prazerosa.

Já Pâmela Gonçalves, do PAM, viu ao longo do tempo seu público mudar de adolescentes para universitários e que hoje “além dos comentários sobre livros, começou a fazer vídeos com dicas de escrita”. Autora de Boa Noite (Editora Galera Record, 240 páginas, R$ 32,90), Pâmela lança neste semestre seu segundo livro solo. Ela também participa, juntamente com outros booktubers, da coletânea O Amor nos Tempos de #Likes, que reúne três adaptações contemporâneas dos clássicos Orgulho e Preconceito, Dom Casmurro e Romeu e Julieta, também pela Galera Record.

Além dos booktubers, redes sociais especializadas em livros popularizam-se, modificando o comportamento do público leitor e, consequentemente, do mercado livreiro. Este é o caso da Goodreads, uma rede social específica para leitores, em que o usuário pode criar e compartilhar um catálogo com os livros que já leu, aqueles que pretende ler e os que estão sendo lidos. Além disso, todos os membros da plataforma podem resenhar e avaliar livros. Este recurso tem um peso enorme, pois, à sua maneira, determina a qualidade e popularidade de um título, ou seja, pauta sua possível aquisição entre os membros da rede.

O sucesso da Goodreads, lançada em 2007 por Otis Chandler e sua esposa Elisabeth Khuri Chandler, foi tanto, que, em 2013, foi adquirida pela gigante Amazon. A aquisição gerou certa polêmica, pois a Amazon estaria, supostamente, monopolizando o mercado de vendas por meio das informações obtidas no Goodreads. No entanto, essa discussão não ganhou unanimidade, já que boa parte dos usuários tende a ver a aquisição com bons olhos, ou, como declarou ao New York Times o escritor fenômeno Hugh Howey, autor da série bestseller Silo, “trata-se da união entre o melhor lugar para a discussão de livros com o melhor lugar para comprá-los”.

Howey, que começou sua carreira de forma independente, atribui seu sucesso à liberdade das ferramentas de autopublicação e, sobretudo, às milhares de avaliações positivas de seus leitores Amazon e a alta cotação conquistada na Goodreads. Sua série Silo, que está sendo publicada no país pela editora Intrínseca, será adaptada para as telas de cinema, e o mestre do terror Stephen King já se declarou fã da obra.

No Brasil, uma rede social similar chamada Skoob (Curiosamente, “books” ao contrário), fundada em 2009 por Lindenberg Moreira e Viviane Lordello, já é a maior rede do País neste segmento e uma das maiores do mundo com mais de 4,5 milhões de usuários. Viviane Lordello, falando ao Aliás, acredita que “uma rede social de livros incentiva o hábito de leitura e ajuda a formar mais leitores, o que é essencial para o futuro do país, auxiliando decisivamente na melhoria do nível cultural da população”.

De olho no futuro, as editoras e livrarias brasileiras estão se associando à Skoob e a receptividade de suas ações promocionais cresce exponencialmente, assim como o número de skoobers, como são chamados os membros da rede. Os skoobers podem criar comunidades, fazer trocas de livros e participar do recém-lançado Clube Skoob, um clube do livro em que os assinantes recebem todo mês uma caixa temática, a "Caixa do Skoob", com itens surpresas, que vão de livros até produtos de edição limitada. Viviane revela que “lançado em maio, a primeira edição, limitada a cem caixas, se esgotou em menos de duas horas”.

Os booktubers e as redes sociais especializadas em livros são exemplos de uma revolução tecnológica que está modificando as regras do mercado editorial, que, para não cair no obsoleto, já começou a assimilar essa nova realidade notadamente irreversível. 

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