Clarice Cardoso
De repente, não mais que de repente, o fim chegou. Depois de anos de investimento emocional, de debates acirrados, de neurônios queimados tentando decifrar as entranhas da série, Breaking Bad acabou e nós ficamos aqui, agarrados às nossas caixas de DVD e às reprises na Record como quem vê fotos antigas de amigos que há muito se foram.
O culpado por esse vazio em nossas vidas é Vince Gilligan, o homem que transformou Walter White em Heisenberg e criou um dos fenômenos televisivos mais importantes dos últimos anos -- Breaking Bad entrou para o Guiness como o título televisivo mais bem avaliado de todos os tempos, com 99 pontos de um total de cem no MetaCritic.
Para as viúvas de Heisenberg, Vince já tem uma nova produção engatilhada. É Battle Creek, série policial em 13 episódios protagonizada por Dean Winters (Law & Order: SVU,Brooklyn Nine-Nine). A questão que promete mover a trama é o cinismo, que guiará o trabalho do detetive Russ Agnew e de um agente do FBI que tentam limpar as ruas da cidade que dá nome à produção com pouquíssimos recursos.
Gilligan teve a ideia em 2002 e, a menos a princípio, quer ser o showrunner, caso sua agenda permita. David Shore (ninguém menos que o criador de House), está disposto a trabalhar nos roteiros da produção. São dois nomes que podem tornar interessante uma sinopse que já lemos centenas de vezes no cinema e na TV. Ao menos isso.
Shore estaria resistindo a reescrever um roteiro feito há mais de dez anos, mas o canal norte-americano CBS já se comprometeu com pelo menos 13 episódios. Eles tiveram a chance de fazer o programa na época e não quiseram. Sorte a nossa, porque foi o que liberou Gilligan para se dedicar a Breaking Bad.
O elenco de Battle Creek já tem seus primeiros nomes: Janet McTeer, indicada a dois Oscars (por Livre Para Amar e Albert Nobbs), será a comandante do departamento de polícia, e Vince espera que a atriz entregue alguém durona e doce ao mesmo tempo. Uma chefe paciente e educada que está atenta às necessidades sociais. Kal Penn (House) será o detetive Fontanelle, que é resistente à chegada do cara do FBI. Teremos ainda Edward Fordham Jr. e Aubrey Dollar na tela.
Vale lembrar que Gilligan já está comprometido em fazer um spin-off de Breaking Bad para a TV inspirado no personagem de Bob Odenkirk. Ele prometeu que Better Call Saul terá clima parecido com o da série mãe, e o ator Aaron Paul já se ofereceu para reviver Jesse Pinkman na produção (como informou em seu blog o Gabriel Perline).Bryan Cranston já demonstrou algum interesse, mas Dean Norris garantiu que ficará de fora. "Não vou revisitar algo que já foi feito".
Better Call Saul vai estrear no Netflix na América Latina e na Europa apenas alguns dias depois de ser exibida nos Estados Unidos. (Escrevi sobre ela para o Caderno 2 tempos atrás. Leia aqui.)
Com os boatos crescentes de que Gilligan quer dar um salto para o cinema, resta a nós pensar se ele realmente dará conta de fazer tudo isso com a qualidade que entregou em Breaking Bad. Muito da alma da série vinha de seu envolvimento quase obsessivo com cada parte do processo criativo (sobre o que eu também escrevi para o Caderno 2 neste texto). Para citar um exemplo temerário: JJ Abrams nunca mais fez algo realmente relevante para a TV depois de Lost.