Gabriela Mistral, ícone chileno da literatura ganha novas gerações


Poeta, que foi criticada por Borges, viveu no Brasil e fundou biblioteca

Por Sérgio Augusto
Atualização:

“Gabriela Mistral desbanca Pablo Neruda na preferência da juventude chilena”, anunciou com destaque o New York Times do último sábado de janeiro. Ilustrando a reportagem, a reprodução do mural que o artista plástico Fab Ciraolo criou para promover uma nova imagem da mais afamada poeta do Chile: uma rebelde, engajada e feminista Gabriela Mistral.

De jeans e coturno, com a camiseta de uma banda punk chilena e um lenço verde no pescoço igual ao das ativistas pró-aborto andinas, só os cabelos grisalhos lembram a senhora de austeros tailleurs escuros a que nos habituamos ver. Na mão direita, um livro aberto; na esquerda, uma versão anarquista da bandeira do Chile, empunhada com aplomb revolucionário.

Várias gerações já a conheceram famosa por seu Nobel de Literatura, em 1945, o primeiro de um país da América Latina. Muitas de suas proezas como professora, escritora, educadora, pedagoga, criadora de bibliotecas públicas e diplomata difundiram-se amplamente por aqui antes mesmo de ela assumir o posto de consulesa do Chile, no Rio de Janeiro, no começo da 2.ª Guerra Mundial.

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Nos cinco anos (1940-45) em que no Brasil viveu, Mistral tornou-se amiga de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima e outros

Nos cinco anos (1940-45) em que no Brasil viveu, Mistral tornou-se amiga de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Vinicius de Moraes e, mais intimamente, de Cecília Meireles, como ela poeta e comprometida com uma visão avançada da educação infantil.

Agastada com o calor carioca, mudou-se temporariamente para Petrópolis, na Serra Fluminense, cuja biblioteca municipal, por ela assiduamente frequentada, acabaria batizada com o seu nome. Ainda morava entre nós ao ganhar o Nobel. Para que ela chegasse a tempo de receber o galardão em Estocolmo, o presidente Getúlio Vargas obrigou um navio a caminho da Europa a dar meia-volta e retornar ao porto do Rio para recolher a ilustre passageira.

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Nascida e batizada Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, seu nom de plume literário resultou da junção de duas admirações juvenis, o poeta italiano Gabriele D’Annunzio e o poeta francês Fréderic Mistral. Nada, portanto, a ver com o homônimo vento frio, seco e forte do Mediterrâneo. Tenho quase certeza de que ela foi a primeira poeta de quem ouvi falar na vida, tamanha a fama que ainda desfrutava na década de 1950, quando todas as poetas, grandes e miúdas, ainda eram chamadas, numa boa, de poetisas.

Grafite no muro do GAM em Santiago do Chile reproduz imagem da poeta Gabriela Mistral, primeira latina a ganhar um Nobel  Foto: Fab Ciraolo

Morta em 1957, em Nova York, aos 68 anos, seus versos eram simples, diretos, na contramão do modernismo espanhol, e marcados por uma arraigada vocação humanista e profundos sentimentos religiosos. Celebrava a bondade, o senso de justiça e “a imensa alegria de servir ao próximo”, sobretudo às crianças, sua principal preocupação: “Somos culpados de muitos erros e falhas, mas nosso pior crime é abandonar as crianças, desprezando a fonte da vida”.

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Mistral nunca frequentou o altar da maioria dos intelectuais que em diferentes épocas formaram e deformaram meu gosto. “Apenas uma superstição chilena”, desdenhou Jorge Luis Borges, que não foi o único medalhão a qualificá-la como “poeta medíocre”.

Falava muito em alma e Deus pro meu gosto, e, com justificável insistência, na morte, onipresente em sua vida. Seu primeiro noivo se suicidou e um filho adotivo fez o mesmo, anos depois. Não é complicado entender por que Mistral se tornou uma referência para as novas gerações e os artistas que se identificam com os atuais rumos da política chilena – e, no mural de Fab Ciraolo, virou um avatar de Marianne, a simbólica padroeira da Revolução Francesa.

Gabriel Boric, o novo e jovem presidente do Chile, reverenciou-a várias vezes, nos dois últimos anos, e já sugeriu que uma estátua dela ocupasse o espaço deixado pelo monumento em homenagem ao general Baquedano, rifado de uma praça de Santiago, pouco tempo atrás. Tremendo salto qualitativo: um sanguinário exterminador de indígenas mapuches por uma poeta que amava crianças e criava bibliotecas. l

“Gabriela Mistral desbanca Pablo Neruda na preferência da juventude chilena”, anunciou com destaque o New York Times do último sábado de janeiro. Ilustrando a reportagem, a reprodução do mural que o artista plástico Fab Ciraolo criou para promover uma nova imagem da mais afamada poeta do Chile: uma rebelde, engajada e feminista Gabriela Mistral.

De jeans e coturno, com a camiseta de uma banda punk chilena e um lenço verde no pescoço igual ao das ativistas pró-aborto andinas, só os cabelos grisalhos lembram a senhora de austeros tailleurs escuros a que nos habituamos ver. Na mão direita, um livro aberto; na esquerda, uma versão anarquista da bandeira do Chile, empunhada com aplomb revolucionário.

Várias gerações já a conheceram famosa por seu Nobel de Literatura, em 1945, o primeiro de um país da América Latina. Muitas de suas proezas como professora, escritora, educadora, pedagoga, criadora de bibliotecas públicas e diplomata difundiram-se amplamente por aqui antes mesmo de ela assumir o posto de consulesa do Chile, no Rio de Janeiro, no começo da 2.ª Guerra Mundial.

Nos cinco anos (1940-45) em que no Brasil viveu, Mistral tornou-se amiga de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima e outros

Nos cinco anos (1940-45) em que no Brasil viveu, Mistral tornou-se amiga de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Vinicius de Moraes e, mais intimamente, de Cecília Meireles, como ela poeta e comprometida com uma visão avançada da educação infantil.

Agastada com o calor carioca, mudou-se temporariamente para Petrópolis, na Serra Fluminense, cuja biblioteca municipal, por ela assiduamente frequentada, acabaria batizada com o seu nome. Ainda morava entre nós ao ganhar o Nobel. Para que ela chegasse a tempo de receber o galardão em Estocolmo, o presidente Getúlio Vargas obrigou um navio a caminho da Europa a dar meia-volta e retornar ao porto do Rio para recolher a ilustre passageira.

Nascida e batizada Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, seu nom de plume literário resultou da junção de duas admirações juvenis, o poeta italiano Gabriele D’Annunzio e o poeta francês Fréderic Mistral. Nada, portanto, a ver com o homônimo vento frio, seco e forte do Mediterrâneo. Tenho quase certeza de que ela foi a primeira poeta de quem ouvi falar na vida, tamanha a fama que ainda desfrutava na década de 1950, quando todas as poetas, grandes e miúdas, ainda eram chamadas, numa boa, de poetisas.

Grafite no muro do GAM em Santiago do Chile reproduz imagem da poeta Gabriela Mistral, primeira latina a ganhar um Nobel  Foto: Fab Ciraolo

Morta em 1957, em Nova York, aos 68 anos, seus versos eram simples, diretos, na contramão do modernismo espanhol, e marcados por uma arraigada vocação humanista e profundos sentimentos religiosos. Celebrava a bondade, o senso de justiça e “a imensa alegria de servir ao próximo”, sobretudo às crianças, sua principal preocupação: “Somos culpados de muitos erros e falhas, mas nosso pior crime é abandonar as crianças, desprezando a fonte da vida”.

Mistral nunca frequentou o altar da maioria dos intelectuais que em diferentes épocas formaram e deformaram meu gosto. “Apenas uma superstição chilena”, desdenhou Jorge Luis Borges, que não foi o único medalhão a qualificá-la como “poeta medíocre”.

Falava muito em alma e Deus pro meu gosto, e, com justificável insistência, na morte, onipresente em sua vida. Seu primeiro noivo se suicidou e um filho adotivo fez o mesmo, anos depois. Não é complicado entender por que Mistral se tornou uma referência para as novas gerações e os artistas que se identificam com os atuais rumos da política chilena – e, no mural de Fab Ciraolo, virou um avatar de Marianne, a simbólica padroeira da Revolução Francesa.

Gabriel Boric, o novo e jovem presidente do Chile, reverenciou-a várias vezes, nos dois últimos anos, e já sugeriu que uma estátua dela ocupasse o espaço deixado pelo monumento em homenagem ao general Baquedano, rifado de uma praça de Santiago, pouco tempo atrás. Tremendo salto qualitativo: um sanguinário exterminador de indígenas mapuches por uma poeta que amava crianças e criava bibliotecas. l

“Gabriela Mistral desbanca Pablo Neruda na preferência da juventude chilena”, anunciou com destaque o New York Times do último sábado de janeiro. Ilustrando a reportagem, a reprodução do mural que o artista plástico Fab Ciraolo criou para promover uma nova imagem da mais afamada poeta do Chile: uma rebelde, engajada e feminista Gabriela Mistral.

De jeans e coturno, com a camiseta de uma banda punk chilena e um lenço verde no pescoço igual ao das ativistas pró-aborto andinas, só os cabelos grisalhos lembram a senhora de austeros tailleurs escuros a que nos habituamos ver. Na mão direita, um livro aberto; na esquerda, uma versão anarquista da bandeira do Chile, empunhada com aplomb revolucionário.

Várias gerações já a conheceram famosa por seu Nobel de Literatura, em 1945, o primeiro de um país da América Latina. Muitas de suas proezas como professora, escritora, educadora, pedagoga, criadora de bibliotecas públicas e diplomata difundiram-se amplamente por aqui antes mesmo de ela assumir o posto de consulesa do Chile, no Rio de Janeiro, no começo da 2.ª Guerra Mundial.

Nos cinco anos (1940-45) em que no Brasil viveu, Mistral tornou-se amiga de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima e outros

Nos cinco anos (1940-45) em que no Brasil viveu, Mistral tornou-se amiga de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Vinicius de Moraes e, mais intimamente, de Cecília Meireles, como ela poeta e comprometida com uma visão avançada da educação infantil.

Agastada com o calor carioca, mudou-se temporariamente para Petrópolis, na Serra Fluminense, cuja biblioteca municipal, por ela assiduamente frequentada, acabaria batizada com o seu nome. Ainda morava entre nós ao ganhar o Nobel. Para que ela chegasse a tempo de receber o galardão em Estocolmo, o presidente Getúlio Vargas obrigou um navio a caminho da Europa a dar meia-volta e retornar ao porto do Rio para recolher a ilustre passageira.

Nascida e batizada Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, seu nom de plume literário resultou da junção de duas admirações juvenis, o poeta italiano Gabriele D’Annunzio e o poeta francês Fréderic Mistral. Nada, portanto, a ver com o homônimo vento frio, seco e forte do Mediterrâneo. Tenho quase certeza de que ela foi a primeira poeta de quem ouvi falar na vida, tamanha a fama que ainda desfrutava na década de 1950, quando todas as poetas, grandes e miúdas, ainda eram chamadas, numa boa, de poetisas.

Grafite no muro do GAM em Santiago do Chile reproduz imagem da poeta Gabriela Mistral, primeira latina a ganhar um Nobel  Foto: Fab Ciraolo

Morta em 1957, em Nova York, aos 68 anos, seus versos eram simples, diretos, na contramão do modernismo espanhol, e marcados por uma arraigada vocação humanista e profundos sentimentos religiosos. Celebrava a bondade, o senso de justiça e “a imensa alegria de servir ao próximo”, sobretudo às crianças, sua principal preocupação: “Somos culpados de muitos erros e falhas, mas nosso pior crime é abandonar as crianças, desprezando a fonte da vida”.

Mistral nunca frequentou o altar da maioria dos intelectuais que em diferentes épocas formaram e deformaram meu gosto. “Apenas uma superstição chilena”, desdenhou Jorge Luis Borges, que não foi o único medalhão a qualificá-la como “poeta medíocre”.

Falava muito em alma e Deus pro meu gosto, e, com justificável insistência, na morte, onipresente em sua vida. Seu primeiro noivo se suicidou e um filho adotivo fez o mesmo, anos depois. Não é complicado entender por que Mistral se tornou uma referência para as novas gerações e os artistas que se identificam com os atuais rumos da política chilena – e, no mural de Fab Ciraolo, virou um avatar de Marianne, a simbólica padroeira da Revolução Francesa.

Gabriel Boric, o novo e jovem presidente do Chile, reverenciou-a várias vezes, nos dois últimos anos, e já sugeriu que uma estátua dela ocupasse o espaço deixado pelo monumento em homenagem ao general Baquedano, rifado de uma praça de Santiago, pouco tempo atrás. Tremendo salto qualitativo: um sanguinário exterminador de indígenas mapuches por uma poeta que amava crianças e criava bibliotecas. l

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