Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Maria Homem: ‘A ideia de que a mãe deve buscar a felicidade dos filhos é mito’


Com o Dia das Mães se aproximando, a psicanalista discute maternidade de forma franca, diz que ser generoso com a prole é positivo, mas que “amor de mãe” é como qualquer outro

Por Paula Bonelli
Atualização:

Para Maria Homem, a maternidade é padecer não no paraíso, mas em terra firme, com a queda de expectativas romanceadas ao se mergulhar no dia a dia dos cuidados de uma criança. Nesta conversa com a repórter Paula Bonelli, por conta da proximidade do Dia das Mães, celebrado em 12 de maio, a psicanalista, psicóloga, escritora e professora da FAAP reflete sobre as encruzilhadas que as mães enfrentam nos tempos atuais.

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Discute temas como os desafios de conviver com o adolescente; o motivo pelo qual as mães podem estar deixando suas energias serem drenadas pelas redes sociais e até mesmo como passar pelo processo de inseminação artificial sem enlouquecer. Uma coisa é certa para ela: “Buscar a felicidade dos filhos é um mito”.

Maria Homem Foto: Maressa Andrioli

Ser mãe implica conviver com a diferença entre a expectativa e a realidade de criar filhos?

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Não há saída. Sempre haverá a idealização, as altas expectativas, e depois a realidade dura, normal, falha.

O que é amor de mãe?

É um amor como qualquer outro. Existe uma tecnologia psicossocial para organizar vários bilhões de seres falantes. Há muita inteligência simbólica para fazer a mulherada querer ter filho, segurar essa onda de padecer no paraíso, amar e cuidar. E assim, se cria a expressão “amor de mãe”.

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Para ser mãe é preciso deixar de ser filha?

Não, mas é preciso aprender a ser a mãe de um filho, mudar e criar uma nova posição. Não se deixa de ser filha, inconscientemente, não dá para fazer isso, mas é importante fazer a báscula entre essas duas posições.

As mães devem buscar a felicidade dos filhos?

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A ideia de que mães devem buscar a felicidade dos filhos é um mito. Cada um deve buscar sua própria felicidade. Você não pode levar a felicidade para um outro ser. Só o filho sabe onde ele exerce a sua máxima potência. É algo singular. Você pode ajudar, trocar, ser generosa no que você conhece desse filho, sim. Qualquer outra coisa diferente disso é ilusão.

No caso de filhos pequenos, encontrar tempo para brincar é o caminho para enfrentar os momentos de braveza deles?

Em parte sim, mas, sobretudo, encontrar tempo para estar com a criança, conversar e escutar essa braveza como uma linguagem que não está achando palavras. Então, ajudar esse pequeno a colocar palavras, nomear aquilo que é puro afeto e descarga.

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E no caso dos adolescentes, o que você aprende tanto como mãe quanto no consultório?

Estou aprendendo ainda, nossa, estou começando essa jornada. Não é fácil. É um desafio. O filho é sempre um espelho não narcísico dos pais. Eles revelam o que a gente é. Meu filho é muito engraçado me imitando. Ele é muito divertido ou muito preciso nas marcas que ele vai apontar. Então, eu diria que é uma oportunidade, difícil, mas pode ser interessante, eu pessoalmente gosto.

Na clínica, como surgem as questões das mulheres em processo de inseminação artificial?

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Dois grandes sofrimentos aparecem na maternidade. Vou resumir assim: o desejo de ser mãe e não poder. E o oposto, ser mãe sem querer por razões variadas: não estar decidida, não agora, não com esse parceiro…

Como passar por isso sem enlouquecer?

Para não enlouquecer, eu diria que tem que estar preparado para uma encruzilhada, que é lidar com a possibilidade de demorar para acontecer a gravidez, de ser difícil e a coragem de renovar essa esperança. Ao mesmo tempo, olha que paradoxal, trabalhar o luto do projeto porque talvez não aconteça.

Já pensou no impacto para as mães de um eventual banimento do TikTok?

Talvez, a pudéssemos ampliar essa pergunta para qualquer rede social. Elas servem como amparo, permitindo que você converse com outras mães e compartilhes experiências, angústias, como a antiga roda de mulheres na vila, na comunidade para aguentar as dores do parto, da amamentação. Então, é uma sororidade, uma rede de sisters, né?

Por outro lado, é fácil perder tempo nessas plataformas?

Sim, as redes sociais podem drenar a sua atenção, são feitas para te deixar nelas. As próprias mães podem estar mais tempo interessadas no celular porque é mais simples, mais distante. Passar o tempo navegando tem uma fluidez em que você fica na posição de expectador, como um voyeur. E na relação com o filho é posição diferente. O filho te implica. O sintoma dele tem a ver com o seu.

Para Maria Homem, a maternidade é padecer não no paraíso, mas em terra firme, com a queda de expectativas romanceadas ao se mergulhar no dia a dia dos cuidados de uma criança. Nesta conversa com a repórter Paula Bonelli, por conta da proximidade do Dia das Mães, celebrado em 12 de maio, a psicanalista, psicóloga, escritora e professora da FAAP reflete sobre as encruzilhadas que as mães enfrentam nos tempos atuais.

Discute temas como os desafios de conviver com o adolescente; o motivo pelo qual as mães podem estar deixando suas energias serem drenadas pelas redes sociais e até mesmo como passar pelo processo de inseminação artificial sem enlouquecer. Uma coisa é certa para ela: “Buscar a felicidade dos filhos é um mito”.

Maria Homem Foto: Maressa Andrioli

Ser mãe implica conviver com a diferença entre a expectativa e a realidade de criar filhos?

Não há saída. Sempre haverá a idealização, as altas expectativas, e depois a realidade dura, normal, falha.

O que é amor de mãe?

É um amor como qualquer outro. Existe uma tecnologia psicossocial para organizar vários bilhões de seres falantes. Há muita inteligência simbólica para fazer a mulherada querer ter filho, segurar essa onda de padecer no paraíso, amar e cuidar. E assim, se cria a expressão “amor de mãe”.

Para ser mãe é preciso deixar de ser filha?

Não, mas é preciso aprender a ser a mãe de um filho, mudar e criar uma nova posição. Não se deixa de ser filha, inconscientemente, não dá para fazer isso, mas é importante fazer a báscula entre essas duas posições.

As mães devem buscar a felicidade dos filhos?

A ideia de que mães devem buscar a felicidade dos filhos é um mito. Cada um deve buscar sua própria felicidade. Você não pode levar a felicidade para um outro ser. Só o filho sabe onde ele exerce a sua máxima potência. É algo singular. Você pode ajudar, trocar, ser generosa no que você conhece desse filho, sim. Qualquer outra coisa diferente disso é ilusão.

No caso de filhos pequenos, encontrar tempo para brincar é o caminho para enfrentar os momentos de braveza deles?

Em parte sim, mas, sobretudo, encontrar tempo para estar com a criança, conversar e escutar essa braveza como uma linguagem que não está achando palavras. Então, ajudar esse pequeno a colocar palavras, nomear aquilo que é puro afeto e descarga.

E no caso dos adolescentes, o que você aprende tanto como mãe quanto no consultório?

Estou aprendendo ainda, nossa, estou começando essa jornada. Não é fácil. É um desafio. O filho é sempre um espelho não narcísico dos pais. Eles revelam o que a gente é. Meu filho é muito engraçado me imitando. Ele é muito divertido ou muito preciso nas marcas que ele vai apontar. Então, eu diria que é uma oportunidade, difícil, mas pode ser interessante, eu pessoalmente gosto.

Na clínica, como surgem as questões das mulheres em processo de inseminação artificial?

Dois grandes sofrimentos aparecem na maternidade. Vou resumir assim: o desejo de ser mãe e não poder. E o oposto, ser mãe sem querer por razões variadas: não estar decidida, não agora, não com esse parceiro…

Como passar por isso sem enlouquecer?

Para não enlouquecer, eu diria que tem que estar preparado para uma encruzilhada, que é lidar com a possibilidade de demorar para acontecer a gravidez, de ser difícil e a coragem de renovar essa esperança. Ao mesmo tempo, olha que paradoxal, trabalhar o luto do projeto porque talvez não aconteça.

Já pensou no impacto para as mães de um eventual banimento do TikTok?

Talvez, a pudéssemos ampliar essa pergunta para qualquer rede social. Elas servem como amparo, permitindo que você converse com outras mães e compartilhes experiências, angústias, como a antiga roda de mulheres na vila, na comunidade para aguentar as dores do parto, da amamentação. Então, é uma sororidade, uma rede de sisters, né?

Por outro lado, é fácil perder tempo nessas plataformas?

Sim, as redes sociais podem drenar a sua atenção, são feitas para te deixar nelas. As próprias mães podem estar mais tempo interessadas no celular porque é mais simples, mais distante. Passar o tempo navegando tem uma fluidez em que você fica na posição de expectador, como um voyeur. E na relação com o filho é posição diferente. O filho te implica. O sintoma dele tem a ver com o seu.

Para Maria Homem, a maternidade é padecer não no paraíso, mas em terra firme, com a queda de expectativas romanceadas ao se mergulhar no dia a dia dos cuidados de uma criança. Nesta conversa com a repórter Paula Bonelli, por conta da proximidade do Dia das Mães, celebrado em 12 de maio, a psicanalista, psicóloga, escritora e professora da FAAP reflete sobre as encruzilhadas que as mães enfrentam nos tempos atuais.

Discute temas como os desafios de conviver com o adolescente; o motivo pelo qual as mães podem estar deixando suas energias serem drenadas pelas redes sociais e até mesmo como passar pelo processo de inseminação artificial sem enlouquecer. Uma coisa é certa para ela: “Buscar a felicidade dos filhos é um mito”.

Maria Homem Foto: Maressa Andrioli

Ser mãe implica conviver com a diferença entre a expectativa e a realidade de criar filhos?

Não há saída. Sempre haverá a idealização, as altas expectativas, e depois a realidade dura, normal, falha.

O que é amor de mãe?

É um amor como qualquer outro. Existe uma tecnologia psicossocial para organizar vários bilhões de seres falantes. Há muita inteligência simbólica para fazer a mulherada querer ter filho, segurar essa onda de padecer no paraíso, amar e cuidar. E assim, se cria a expressão “amor de mãe”.

Para ser mãe é preciso deixar de ser filha?

Não, mas é preciso aprender a ser a mãe de um filho, mudar e criar uma nova posição. Não se deixa de ser filha, inconscientemente, não dá para fazer isso, mas é importante fazer a báscula entre essas duas posições.

As mães devem buscar a felicidade dos filhos?

A ideia de que mães devem buscar a felicidade dos filhos é um mito. Cada um deve buscar sua própria felicidade. Você não pode levar a felicidade para um outro ser. Só o filho sabe onde ele exerce a sua máxima potência. É algo singular. Você pode ajudar, trocar, ser generosa no que você conhece desse filho, sim. Qualquer outra coisa diferente disso é ilusão.

No caso de filhos pequenos, encontrar tempo para brincar é o caminho para enfrentar os momentos de braveza deles?

Em parte sim, mas, sobretudo, encontrar tempo para estar com a criança, conversar e escutar essa braveza como uma linguagem que não está achando palavras. Então, ajudar esse pequeno a colocar palavras, nomear aquilo que é puro afeto e descarga.

E no caso dos adolescentes, o que você aprende tanto como mãe quanto no consultório?

Estou aprendendo ainda, nossa, estou começando essa jornada. Não é fácil. É um desafio. O filho é sempre um espelho não narcísico dos pais. Eles revelam o que a gente é. Meu filho é muito engraçado me imitando. Ele é muito divertido ou muito preciso nas marcas que ele vai apontar. Então, eu diria que é uma oportunidade, difícil, mas pode ser interessante, eu pessoalmente gosto.

Na clínica, como surgem as questões das mulheres em processo de inseminação artificial?

Dois grandes sofrimentos aparecem na maternidade. Vou resumir assim: o desejo de ser mãe e não poder. E o oposto, ser mãe sem querer por razões variadas: não estar decidida, não agora, não com esse parceiro…

Como passar por isso sem enlouquecer?

Para não enlouquecer, eu diria que tem que estar preparado para uma encruzilhada, que é lidar com a possibilidade de demorar para acontecer a gravidez, de ser difícil e a coragem de renovar essa esperança. Ao mesmo tempo, olha que paradoxal, trabalhar o luto do projeto porque talvez não aconteça.

Já pensou no impacto para as mães de um eventual banimento do TikTok?

Talvez, a pudéssemos ampliar essa pergunta para qualquer rede social. Elas servem como amparo, permitindo que você converse com outras mães e compartilhes experiências, angústias, como a antiga roda de mulheres na vila, na comunidade para aguentar as dores do parto, da amamentação. Então, é uma sororidade, uma rede de sisters, né?

Por outro lado, é fácil perder tempo nessas plataformas?

Sim, as redes sociais podem drenar a sua atenção, são feitas para te deixar nelas. As próprias mães podem estar mais tempo interessadas no celular porque é mais simples, mais distante. Passar o tempo navegando tem uma fluidez em que você fica na posição de expectador, como um voyeur. E na relação com o filho é posição diferente. O filho te implica. O sintoma dele tem a ver com o seu.

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