Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Aos 78, Irene Ravache volta com a peça Alma Despejada e cita Belchior: ‘O Novo Sempre Vem’


Atriz fala sobre mudanças, dores e carreira

Por Paula Bonelli
Atualização:

Após gravar três filmes, Clube das Mulheres de Negócios, Passagrana e Os Enforcados, Irene Ravache está de volta ao teatro, encenando a história de uma senhora que não conseguiu se despedir e, depois de morta, continua a retornar à casa em que viveu. A peça Alma Despejada está em cartaz no Teatro Renaissance até o final de julho. A temporada anterior foi interrompida na pandemia de covid-19.

Aos 78 anos, Irene Ravache é firme ao falar sobre assédio sexual e delicada ao refletir sobre o fazer teatral e a aceleração nos tempos atuais. No passado se remoía ao viajar para gravar e ter que ficar longe da família. “A mulher não precisa de muito para se sentir culpada”, disse à repórter Paula Bonelli por videoconferência. Confira a entrevista:

A peça faz reflexões sobre vida e morte?

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Sim, a Teresa morreu, mas vai muito à casa. A alma dela foi despejada porque a casa foi vendida para um arquiteto e um engenheiro que vão mudá-la completamente. Eles acham cafona algumas coisas que têm no imóvel, e ela não entende o porquê. Ela adorava aquele cenário de uma vida.

Irene Ravache está no monólogo Alma Despejada no Renaissance. Foto: João Caldas Filho

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Você se identifica ao apego da sua personagem Teresa à casa na peça?

Muito. Há pouco tempo tive que me desfazer de coisas de uma casa que era minha desde 85, e como foi muito rapidamente, não tive a cerimônia do adeus. Entendo bem a alma despejada da Teresa porque ela não se preparou. Ela foi saída pela vida, pelo destino.

Como é ter seu filho cuidando da sua luz no palco?

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Isso foi um negócio tão bom para gente. O Hiran começou a vida profissional como iluminador, aí depois um monte de coisa aconteceu e ele seguiu outra profissão. Ele é psicólogo, mas ama teatro. E a luz dele é linda, tanto que foi candidato ao Prêmio Bibi Ferreira de melhor iluminação.

Quando revê sua vida, acha que conseguiu conduzir bem família e trabalho?

Teve uma época que achei que estava tudo errado, que deveria ter deixado o trabalho de lado e ter ficado mais em casa. Quando os momentos estão mais apertados na família, a mulher não precisa de muito para se sentir culpada. Hoje, mais velha, vejo que muita coisa que imaginava que tinha acontecido porque estava em excursão, teria acontecido se eu tivesse perto também. Mas, aquela dose de culpa me acompanhou durante muito tempo.

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Nas novelas que fez, quais valeram a pena?

Ah, gostei muito de ter feito Beto Rockfeller, no início da carreira. A dona Lola, de Éramos Seis. Pega Pega foi uma novela divertidíssima. Sassaricando eu gostei muito. E essas últimas duas novelas da Elisabeth Jhin. Muito, gostei muito.

Você gravou um longa-metragem em que as mulheres estão na posição de poder e os homens são submissos. Como foi essa experiência?

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A diretora Anna Muylaert sabia exatamente o que queria. Éramos um clube das mulheres de negócios, então, as atrizes têm papéis num estereótipo masculino. Foi uma troca ótima.

Vai ter um dia em que não vai haver mais diferenças salariais e de poder entre homens e mulheres?

Acho que vai demorar ainda. Você sabe que eu pego as minhas entrevistas, desde a década de 80 falo sobre isso, sobre diferença salarial.

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As salas de cinema ainda atrairão grandes públicos?

Espero que sim, porque há uma diferença enorme em assistir num telão, têm alguns filmes que eu não posso imaginar numa telinha reduzida.

Fazer filmes e séries para o streaming deve ser o sonho da nova geração de atores?

O sonho da nova geração de atores deve ser ter um local para trabalho, seja no streaming, no teatro, até no rádio. O mercado de trabalho é reduzido. O número de atores cresce a cada dia.

O mundo do audiovisual muda rápido? E você?

Uma vez eu ouvi uma pessoa falar assim: Ritmo, ritmo, rápido. As pausas estão cada vez mais relegadas a um segundo plano. Os jovens falam rápido demais, digitam rápido demais. Mas o novo sempre vem, como diria Belchior.

Funcionários da Globo vestiram verde e protestaram em apoio à engenheira Esmeralda que foi atacada no horário de trabalho. Você já sofreu assédio?

Sofri, sim, mas não sou referência porque eu era muito agressiva. Então uma coisa que eu descobri bem rápido, é que quem fazia assédio era medroso, covarde. E eu partia pra cima, falava: Qual é o seu problema? Vou ligar pra sua mulher. Você é muito sem vergonha. E deixava a porta aberta para quem passasse, ouvisse.

Veja um trecho da entrevista:

Após gravar três filmes, Clube das Mulheres de Negócios, Passagrana e Os Enforcados, Irene Ravache está de volta ao teatro, encenando a história de uma senhora que não conseguiu se despedir e, depois de morta, continua a retornar à casa em que viveu. A peça Alma Despejada está em cartaz no Teatro Renaissance até o final de julho. A temporada anterior foi interrompida na pandemia de covid-19.

Aos 78 anos, Irene Ravache é firme ao falar sobre assédio sexual e delicada ao refletir sobre o fazer teatral e a aceleração nos tempos atuais. No passado se remoía ao viajar para gravar e ter que ficar longe da família. “A mulher não precisa de muito para se sentir culpada”, disse à repórter Paula Bonelli por videoconferência. Confira a entrevista:

A peça faz reflexões sobre vida e morte?

Sim, a Teresa morreu, mas vai muito à casa. A alma dela foi despejada porque a casa foi vendida para um arquiteto e um engenheiro que vão mudá-la completamente. Eles acham cafona algumas coisas que têm no imóvel, e ela não entende o porquê. Ela adorava aquele cenário de uma vida.

Irene Ravache está no monólogo Alma Despejada no Renaissance. Foto: João Caldas Filho

Você se identifica ao apego da sua personagem Teresa à casa na peça?

Muito. Há pouco tempo tive que me desfazer de coisas de uma casa que era minha desde 85, e como foi muito rapidamente, não tive a cerimônia do adeus. Entendo bem a alma despejada da Teresa porque ela não se preparou. Ela foi saída pela vida, pelo destino.

Como é ter seu filho cuidando da sua luz no palco?

Isso foi um negócio tão bom para gente. O Hiran começou a vida profissional como iluminador, aí depois um monte de coisa aconteceu e ele seguiu outra profissão. Ele é psicólogo, mas ama teatro. E a luz dele é linda, tanto que foi candidato ao Prêmio Bibi Ferreira de melhor iluminação.

Quando revê sua vida, acha que conseguiu conduzir bem família e trabalho?

Teve uma época que achei que estava tudo errado, que deveria ter deixado o trabalho de lado e ter ficado mais em casa. Quando os momentos estão mais apertados na família, a mulher não precisa de muito para se sentir culpada. Hoje, mais velha, vejo que muita coisa que imaginava que tinha acontecido porque estava em excursão, teria acontecido se eu tivesse perto também. Mas, aquela dose de culpa me acompanhou durante muito tempo.

Nas novelas que fez, quais valeram a pena?

Ah, gostei muito de ter feito Beto Rockfeller, no início da carreira. A dona Lola, de Éramos Seis. Pega Pega foi uma novela divertidíssima. Sassaricando eu gostei muito. E essas últimas duas novelas da Elisabeth Jhin. Muito, gostei muito.

Você gravou um longa-metragem em que as mulheres estão na posição de poder e os homens são submissos. Como foi essa experiência?

A diretora Anna Muylaert sabia exatamente o que queria. Éramos um clube das mulheres de negócios, então, as atrizes têm papéis num estereótipo masculino. Foi uma troca ótima.

Vai ter um dia em que não vai haver mais diferenças salariais e de poder entre homens e mulheres?

Acho que vai demorar ainda. Você sabe que eu pego as minhas entrevistas, desde a década de 80 falo sobre isso, sobre diferença salarial.

As salas de cinema ainda atrairão grandes públicos?

Espero que sim, porque há uma diferença enorme em assistir num telão, têm alguns filmes que eu não posso imaginar numa telinha reduzida.

Fazer filmes e séries para o streaming deve ser o sonho da nova geração de atores?

O sonho da nova geração de atores deve ser ter um local para trabalho, seja no streaming, no teatro, até no rádio. O mercado de trabalho é reduzido. O número de atores cresce a cada dia.

O mundo do audiovisual muda rápido? E você?

Uma vez eu ouvi uma pessoa falar assim: Ritmo, ritmo, rápido. As pausas estão cada vez mais relegadas a um segundo plano. Os jovens falam rápido demais, digitam rápido demais. Mas o novo sempre vem, como diria Belchior.

Funcionários da Globo vestiram verde e protestaram em apoio à engenheira Esmeralda que foi atacada no horário de trabalho. Você já sofreu assédio?

Sofri, sim, mas não sou referência porque eu era muito agressiva. Então uma coisa que eu descobri bem rápido, é que quem fazia assédio era medroso, covarde. E eu partia pra cima, falava: Qual é o seu problema? Vou ligar pra sua mulher. Você é muito sem vergonha. E deixava a porta aberta para quem passasse, ouvisse.

Veja um trecho da entrevista:

Após gravar três filmes, Clube das Mulheres de Negócios, Passagrana e Os Enforcados, Irene Ravache está de volta ao teatro, encenando a história de uma senhora que não conseguiu se despedir e, depois de morta, continua a retornar à casa em que viveu. A peça Alma Despejada está em cartaz no Teatro Renaissance até o final de julho. A temporada anterior foi interrompida na pandemia de covid-19.

Aos 78 anos, Irene Ravache é firme ao falar sobre assédio sexual e delicada ao refletir sobre o fazer teatral e a aceleração nos tempos atuais. No passado se remoía ao viajar para gravar e ter que ficar longe da família. “A mulher não precisa de muito para se sentir culpada”, disse à repórter Paula Bonelli por videoconferência. Confira a entrevista:

A peça faz reflexões sobre vida e morte?

Sim, a Teresa morreu, mas vai muito à casa. A alma dela foi despejada porque a casa foi vendida para um arquiteto e um engenheiro que vão mudá-la completamente. Eles acham cafona algumas coisas que têm no imóvel, e ela não entende o porquê. Ela adorava aquele cenário de uma vida.

Irene Ravache está no monólogo Alma Despejada no Renaissance. Foto: João Caldas Filho

Você se identifica ao apego da sua personagem Teresa à casa na peça?

Muito. Há pouco tempo tive que me desfazer de coisas de uma casa que era minha desde 85, e como foi muito rapidamente, não tive a cerimônia do adeus. Entendo bem a alma despejada da Teresa porque ela não se preparou. Ela foi saída pela vida, pelo destino.

Como é ter seu filho cuidando da sua luz no palco?

Isso foi um negócio tão bom para gente. O Hiran começou a vida profissional como iluminador, aí depois um monte de coisa aconteceu e ele seguiu outra profissão. Ele é psicólogo, mas ama teatro. E a luz dele é linda, tanto que foi candidato ao Prêmio Bibi Ferreira de melhor iluminação.

Quando revê sua vida, acha que conseguiu conduzir bem família e trabalho?

Teve uma época que achei que estava tudo errado, que deveria ter deixado o trabalho de lado e ter ficado mais em casa. Quando os momentos estão mais apertados na família, a mulher não precisa de muito para se sentir culpada. Hoje, mais velha, vejo que muita coisa que imaginava que tinha acontecido porque estava em excursão, teria acontecido se eu tivesse perto também. Mas, aquela dose de culpa me acompanhou durante muito tempo.

Nas novelas que fez, quais valeram a pena?

Ah, gostei muito de ter feito Beto Rockfeller, no início da carreira. A dona Lola, de Éramos Seis. Pega Pega foi uma novela divertidíssima. Sassaricando eu gostei muito. E essas últimas duas novelas da Elisabeth Jhin. Muito, gostei muito.

Você gravou um longa-metragem em que as mulheres estão na posição de poder e os homens são submissos. Como foi essa experiência?

A diretora Anna Muylaert sabia exatamente o que queria. Éramos um clube das mulheres de negócios, então, as atrizes têm papéis num estereótipo masculino. Foi uma troca ótima.

Vai ter um dia em que não vai haver mais diferenças salariais e de poder entre homens e mulheres?

Acho que vai demorar ainda. Você sabe que eu pego as minhas entrevistas, desde a década de 80 falo sobre isso, sobre diferença salarial.

As salas de cinema ainda atrairão grandes públicos?

Espero que sim, porque há uma diferença enorme em assistir num telão, têm alguns filmes que eu não posso imaginar numa telinha reduzida.

Fazer filmes e séries para o streaming deve ser o sonho da nova geração de atores?

O sonho da nova geração de atores deve ser ter um local para trabalho, seja no streaming, no teatro, até no rádio. O mercado de trabalho é reduzido. O número de atores cresce a cada dia.

O mundo do audiovisual muda rápido? E você?

Uma vez eu ouvi uma pessoa falar assim: Ritmo, ritmo, rápido. As pausas estão cada vez mais relegadas a um segundo plano. Os jovens falam rápido demais, digitam rápido demais. Mas o novo sempre vem, como diria Belchior.

Funcionários da Globo vestiram verde e protestaram em apoio à engenheira Esmeralda que foi atacada no horário de trabalho. Você já sofreu assédio?

Sofri, sim, mas não sou referência porque eu era muito agressiva. Então uma coisa que eu descobri bem rápido, é que quem fazia assédio era medroso, covarde. E eu partia pra cima, falava: Qual é o seu problema? Vou ligar pra sua mulher. Você é muito sem vergonha. E deixava a porta aberta para quem passasse, ouvisse.

Veja um trecho da entrevista:

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