Rodrigo Yudi Honda costuma retratar em suas pinturas paisagens e situações não muito corriqueiras em telas. Diferentemente dos clássicos cachos de uvas, pêssegos e bacias de prata, suas naturezas mortas podem trazer caixas de ovos, um cachorro-quente ao lado de tubos de maionese e ketchup e uma garrafa de sidra Cereser junto a copos de plástico. Quando se dedica a paisagens, investe em fachadas pichadas, paradas de ônibus e bares de sinuca. As escolhas de Rodrigo, que costumam mostrar a periferia, conquistaram um séquito de fãs fiel. Hoje, o arquiteto formado pela USP consegue viver da arte vendendo seus trabalhos por meio das redes sociais e de seu site.
“O que eu faço é simples: retratar as coisas que eu vejo por aí. Mas não é retratar a banalidade pura e simplesmente: é tentar encontrar a beleza nessas coisas comuns. O que me instiga é a beleza não-óbvia, que está na despensa da cozinha ou na viela do subúrbio. Nas nossas cidades grandes, tão malcuidadas, é um desafio enxergar beleza em algo, a princípio, tão feio. Espero que meu trabalho inspire as pessoas a tentar desvendar essa beleza escondida em suas rotinas, pois enxergar apenas a feiura superficial das coisas é desesperador”, explica ele, que vive em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Rodrigo costuma vender suas telas pelo sistema de leilão online. Para ele, comercializar seu trabalho sem intermediários o deixa livre do intrincado sistema de networking do mundo da arte. “As redes sociais são um mercado alternativo para os artistas que não querem depender de galerias e do chamado “sistema da arte” – editais, marchands, curadores, lobistas… Nesse esquema, muitos artistas passam a vida correndo atrás de “bons contatos”, só dialogando com quem pode lhes trazer dinheiro, fama e prestígio... Não é à toa que grande parte da arte contemporânea não dialoga mais com as pessoas comuns: Nessa engrenagem, gente comum não traz vantagem nenhuma e por isso fica de fora, como mero expectador que, passivamente, precisa aceitar tudo que esse sistema lhe empurra como “arte””, afirma.
A ideia a respeito da relação dos artistas com galerias também se estende para os temas que Rodrigo costuma escolher, e, segundo ele, o público se sente atraído pelo seu trabalho justamente pela identificação com o que ele pinta. “São temas da vida comum, objetos e situações que quase todo mundo já presenciou. Isso faz com que elas se sintam representadas”.
Recentemente, o artista de 35 anos revelou que tem uma doença chamada retinose pigmentar. Degenerativa e sem cura, a enfermidade já levou 50% de sua visão e, segundo ele, é possível que o leve à cegueira total. “Como artista, é complicado falar disso abertamente porque, por um lado, não quero que as pessoas acompanhem meu trabalho por pena ou por curiosidade mórbida. Por outro, essa doença é um fato da minha vida que não tenho como ocultar. Não me preocupo muito com isso porque sei que a gente consegue se virar em qualquer situação. Estando vivo, sempre será possível fazer arte. Fazer arte depende mais da nossa cabeça que dos nossos olhos”.