Sem cargo público, o ex-governador de São Paulo João Doria diz que sua qualidade de vida melhorou e que “não tem nenhum desejo” de retornar ao ringue eleitoral. Agora, dedica-se à família, aos cachorros e a sua recém-criada consultoria. No próximo mês, pretende lançar uma biografia (que esta sendo finalizada pelo jornalista Thales Guaracy). Na conversa com a coluna, ele se diz “moderadamente otimista com o governo Lula” e garante manter boas relações com o agora vice-presidente Geraldo Alckmin. Faça como Doria, tome oito cafezinhos e leia trechos da entrevista a seguir:
Como está a rotina longe da vida pública?
A rotina mudou. Antes trabalhava todos sábados, domingos e feriados, sem exceção. Em média, eram 14 horas por dia. Eu dormia 4 horas por noite. Agora, tenho uma rotina normal, durmo 6 horas por noite (que é quase o dobro do que dormia) e consigo sair pra jantar, rever amigos, estar mais próximo da família, estar com meus cachorros – tenho dez, quase um canil. Fora da política, minha qualidade de vida melhorou, mas sem mágoas ou arrependimentos.
Pensa em retomar a carreira política?
Não. Eu sou muito decidido em todas as minhas atitudes. Quando fui para política, me desliguei completamente da vida privada. Agora, fiz o mesmo ao mudar para a esfera privada. Apertei o botão, deletei a vida política, e vou me dedicar inteiramente a vida privada. Esse é o lugar onde pretendo continuar permanentemente. Não tenho nenhum desejo de retornar à vida pública.
Nem dentro de um partido político?
Me desfiliei do PSDB. Não tenho e não terei filiação partidária. Às vezes, nas ruas, algumas pessoas dizem que na próxima eleição vou votar em mim. Eu respondo: ‘não, não, escolha outro candidato. Eu não estarei na próxima eleição’.
E na mídia, como apresentador de TV, por exemplo.
Eu fiz televisão por 25 anos e rádio por 9 anos (e também atuei na mídia impressa). Experiências maravilhosas. Mas são etapas já ultrapassadas. Não tenho intenção de voltar à mídia eletrônica. Busco qualidade de vida – e isso inclui administração de tempo e uma dedicação que, como já disse, agora posso oferecer à família, amigos e cachorros. Quem me vê diz que rejuvenesci, diz que estou mais jovem...
A política castiga...
(Risos) Castiga. As fotografias, os retratos dos tempos de política reproduzem com clareza essa realidade.
Então, na iniciativa privada, qual é a sua atividade?
Eu montei uma consultoria, a D. Advisors. Ela foi formatada para atender dez clientes. Atualmente, estou atendendo sete clientes e um deles é o Lide. Assumi uma posição de vice chairman, ao lado do Henrique Meirelles e do ex-chanceler Celso Lafer – quem nos preside é o Luiz Fernando Furlan. Já o presidente executivo é o meu filho, João Doria Neto.
Quais os projetos do Lide para 2023?
O Lide esta presente em 14 países, vai chegar até o final de 2023 a 18. Vamos realizar grandes eventos internacionais – em Lisboa, Londres e Milão, Washington, NY.
Qual é a sua expectativa em relação ao governo Lula?
A expectativa provocada pelo governo Lula traz uma vantagem para o Brasil porque apresenta um novo cenário político, econômico, institucional e ambiental. Ter um governo que anunciou um compromisso de proteção ambiental, respeito aos programas de descarbonização e não invasão de terras indígenas já traz um ganho de imagem e impacto perante os investidores. Dependendo da política econômica conduzida pelo ministro Fernando Haddad, novos investimentos do exterior, em setores como infraestrutura, tecnologia, educação, serviço e comércio digital, podem chegar ao País.
Você parece otimista...
Eu torço para que dê certo. Tenho uma visão moderadamente otimista e um sentimento de torcida para que dê certo.
Ainda mantém relações com o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin?
Tenho, inclusive, falado com ele. Tenho respeito pelo ex-governador. Nossas relações seguem normais e respeitosas. Eu torço pelo sucesso dele.
Qual é a marca que Bolsonaro deixa na política?
Bolsonaro deixou a marca do pior governo que o Brasil já teve. Mas passou... O País e o governo precisam olhar pra frente. O governo não pode ficar olhando para o retrovisor, tem que mirar o horizonte e trabalhar pelo Brasil.