Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

“Já ouvi coisas como: ‘onde já se viu um Papai Noel Preto?!’”, diz Muller Ismael de Souza


Papai Noel do Shopping Campo Limpo fala sobre preconceito de alguns pais

Por Gilberto Amendola
Atualização:

Muller Ismael de Souza, 63 anos, é um dos poucos papai noéis negros em SP. Nesta conversa com a coluna, o Noel do Shopping Campo Limpo fala de como começou na profissão, o preconceito de alguns pais e os momentos de emoção. “Já ouvi um casal comentando: ‘onde já se viu um Papai Noel Preto?!”’ Leia a entrevista:

Como foi sua primeira vez como Noel?

continua após a publicidade

Na primeira vez, nos anos 80, eu fui contratado para uma festa de Natal de uma família. A pessoa tinha a roupa de Noel e me chamou para a entrega de presente do filho. Eu era bem forte na época. A casa da família ficava em um sobrado, em Pirituba. Me troquei, não tinha barba, usei uma barba falsa. Estava na parte de cima da residência – e desci as escadas com o presente do menino. A criança me viu e começou a chorar. Eu percebi que ele estava acostumado a ver um Papai Noel sempre branco na TV, nas revistas. O pai ficou chateado, mas, aos poucos, a criança me abraçou e ficou tudo bem.

Por que virou Papai Noel de shopping?

Eu tenho uma filha de sete anos. Ela fala: ‘ele é meu Papai Noel’. Comecei a trabalhar de Papai Noel por conta dela. Muita gente falava para minha filha que Papai Noel não existia. Eu prometi para ela que seria o Papai Noel dela. Quando minha filha me viu pela primeira vez com outras crianças, ela chorou porque ficou com ciúme. Hoje, eu explico que sou o Papai Noel especial dela, mas também de todas as crianças.

continua após a publicidade

Já sofreu racismo como Papai Noel?

No shopping, de dia, tem um Papai Noel branco. No fim de tarde e à noite o Papai Noel sou eu. Já ouvi casais comentando: ‘onde já se viu um Papai Noel preto?!’ Do lado das crianças, não é preconceito, mas, tem algumas que não querem tirar foto ou se aproximar porque estão acostumadas só com o Papai Noel branco. Existem, claro, exemplos opostos, e muitas crianças negras que se identificam e ficam felizes de ver um Noel parecido com elas. Tem crianças que me abraçam, que dizem me amar e me falam dos presentes que já ganharam. Tem dias que meu coração fica cheio de alegria e os olhos cheios de lágrimas.

Miller Ismael de Souza Foto: Agência IDS
continua após a publicidade

Já precisou sair do personagem para reagir aos comentários preconceituosos?

Chateado já fiquei algumas vezes, mas eu nunca saí do personagem. Já passei por muitas coisas, já ouvi muita coisa. Infelizmente, a gente se acostuma.

Consegue destacar um momento de emoção como Noel?

continua após a publicidade

Eu estava no shopping Itaquera quando chega uma mãe dizendo que o filho dela queria me ver. A criança não tinha as pernas e os braços. E respirava por um tubo. Eu tinha que estar sorrindo, mas aquela criança me olhando me emocionou muito. Imaginei o que aquela mãe passava, o amor daquela mãe... Foi uma coisa que apertou meu coração. Me segurei para não chorar.

Já pediram algum presente muito inusitado?

Perguntei para uma menina o que ela queria ganhar. De repente, ela me disse que queria ficar mais com a família. Queria ter mais amor com a família. Os meus olhos se encheram de lágrimas. Outro dia, um menino pediu que o pai dele desse mais amor, que estivesse mais presente. Isso é muito comovente.

continua após a publicidade

O Papai Noel fora do padrão europeu tem mais espaço hoje?

O pessoal não sabe que esse campo está aberto. Não sabe como chegar em uma agência de trabalho. Teve um primo aposentado que eu indiquei para o trabalho – e que atualmente já atua cobrindo folga de outros noéis. Tem muitos que ficam receosos. É preciso preparação para conversar com as crianças e com os pais. Quando me perguntam, eu digo que comecei a pegar gosto pelo trabalho e que o melhor mês do ano é dezembro. É a melhor energia do ano. E, claro, esse é o melhor mês do ano.

Qual desejo para 2025?

continua após a publicidade

Desejo que todos os brasileiros tenham mais esperança, independente de cor e credo. Com mais amor a gente vence qualquer coisa.

Muller Ismael de Souza, 63 anos, é um dos poucos papai noéis negros em SP. Nesta conversa com a coluna, o Noel do Shopping Campo Limpo fala de como começou na profissão, o preconceito de alguns pais e os momentos de emoção. “Já ouvi um casal comentando: ‘onde já se viu um Papai Noel Preto?!”’ Leia a entrevista:

Como foi sua primeira vez como Noel?

Na primeira vez, nos anos 80, eu fui contratado para uma festa de Natal de uma família. A pessoa tinha a roupa de Noel e me chamou para a entrega de presente do filho. Eu era bem forte na época. A casa da família ficava em um sobrado, em Pirituba. Me troquei, não tinha barba, usei uma barba falsa. Estava na parte de cima da residência – e desci as escadas com o presente do menino. A criança me viu e começou a chorar. Eu percebi que ele estava acostumado a ver um Papai Noel sempre branco na TV, nas revistas. O pai ficou chateado, mas, aos poucos, a criança me abraçou e ficou tudo bem.

Por que virou Papai Noel de shopping?

Eu tenho uma filha de sete anos. Ela fala: ‘ele é meu Papai Noel’. Comecei a trabalhar de Papai Noel por conta dela. Muita gente falava para minha filha que Papai Noel não existia. Eu prometi para ela que seria o Papai Noel dela. Quando minha filha me viu pela primeira vez com outras crianças, ela chorou porque ficou com ciúme. Hoje, eu explico que sou o Papai Noel especial dela, mas também de todas as crianças.

Já sofreu racismo como Papai Noel?

No shopping, de dia, tem um Papai Noel branco. No fim de tarde e à noite o Papai Noel sou eu. Já ouvi casais comentando: ‘onde já se viu um Papai Noel preto?!’ Do lado das crianças, não é preconceito, mas, tem algumas que não querem tirar foto ou se aproximar porque estão acostumadas só com o Papai Noel branco. Existem, claro, exemplos opostos, e muitas crianças negras que se identificam e ficam felizes de ver um Noel parecido com elas. Tem crianças que me abraçam, que dizem me amar e me falam dos presentes que já ganharam. Tem dias que meu coração fica cheio de alegria e os olhos cheios de lágrimas.

Miller Ismael de Souza Foto: Agência IDS

Já precisou sair do personagem para reagir aos comentários preconceituosos?

Chateado já fiquei algumas vezes, mas eu nunca saí do personagem. Já passei por muitas coisas, já ouvi muita coisa. Infelizmente, a gente se acostuma.

Consegue destacar um momento de emoção como Noel?

Eu estava no shopping Itaquera quando chega uma mãe dizendo que o filho dela queria me ver. A criança não tinha as pernas e os braços. E respirava por um tubo. Eu tinha que estar sorrindo, mas aquela criança me olhando me emocionou muito. Imaginei o que aquela mãe passava, o amor daquela mãe... Foi uma coisa que apertou meu coração. Me segurei para não chorar.

Já pediram algum presente muito inusitado?

Perguntei para uma menina o que ela queria ganhar. De repente, ela me disse que queria ficar mais com a família. Queria ter mais amor com a família. Os meus olhos se encheram de lágrimas. Outro dia, um menino pediu que o pai dele desse mais amor, que estivesse mais presente. Isso é muito comovente.

O Papai Noel fora do padrão europeu tem mais espaço hoje?

O pessoal não sabe que esse campo está aberto. Não sabe como chegar em uma agência de trabalho. Teve um primo aposentado que eu indiquei para o trabalho – e que atualmente já atua cobrindo folga de outros noéis. Tem muitos que ficam receosos. É preciso preparação para conversar com as crianças e com os pais. Quando me perguntam, eu digo que comecei a pegar gosto pelo trabalho e que o melhor mês do ano é dezembro. É a melhor energia do ano. E, claro, esse é o melhor mês do ano.

Qual desejo para 2025?

Desejo que todos os brasileiros tenham mais esperança, independente de cor e credo. Com mais amor a gente vence qualquer coisa.

Muller Ismael de Souza, 63 anos, é um dos poucos papai noéis negros em SP. Nesta conversa com a coluna, o Noel do Shopping Campo Limpo fala de como começou na profissão, o preconceito de alguns pais e os momentos de emoção. “Já ouvi um casal comentando: ‘onde já se viu um Papai Noel Preto?!”’ Leia a entrevista:

Como foi sua primeira vez como Noel?

Na primeira vez, nos anos 80, eu fui contratado para uma festa de Natal de uma família. A pessoa tinha a roupa de Noel e me chamou para a entrega de presente do filho. Eu era bem forte na época. A casa da família ficava em um sobrado, em Pirituba. Me troquei, não tinha barba, usei uma barba falsa. Estava na parte de cima da residência – e desci as escadas com o presente do menino. A criança me viu e começou a chorar. Eu percebi que ele estava acostumado a ver um Papai Noel sempre branco na TV, nas revistas. O pai ficou chateado, mas, aos poucos, a criança me abraçou e ficou tudo bem.

Por que virou Papai Noel de shopping?

Eu tenho uma filha de sete anos. Ela fala: ‘ele é meu Papai Noel’. Comecei a trabalhar de Papai Noel por conta dela. Muita gente falava para minha filha que Papai Noel não existia. Eu prometi para ela que seria o Papai Noel dela. Quando minha filha me viu pela primeira vez com outras crianças, ela chorou porque ficou com ciúme. Hoje, eu explico que sou o Papai Noel especial dela, mas também de todas as crianças.

Já sofreu racismo como Papai Noel?

No shopping, de dia, tem um Papai Noel branco. No fim de tarde e à noite o Papai Noel sou eu. Já ouvi casais comentando: ‘onde já se viu um Papai Noel preto?!’ Do lado das crianças, não é preconceito, mas, tem algumas que não querem tirar foto ou se aproximar porque estão acostumadas só com o Papai Noel branco. Existem, claro, exemplos opostos, e muitas crianças negras que se identificam e ficam felizes de ver um Noel parecido com elas. Tem crianças que me abraçam, que dizem me amar e me falam dos presentes que já ganharam. Tem dias que meu coração fica cheio de alegria e os olhos cheios de lágrimas.

Miller Ismael de Souza Foto: Agência IDS

Já precisou sair do personagem para reagir aos comentários preconceituosos?

Chateado já fiquei algumas vezes, mas eu nunca saí do personagem. Já passei por muitas coisas, já ouvi muita coisa. Infelizmente, a gente se acostuma.

Consegue destacar um momento de emoção como Noel?

Eu estava no shopping Itaquera quando chega uma mãe dizendo que o filho dela queria me ver. A criança não tinha as pernas e os braços. E respirava por um tubo. Eu tinha que estar sorrindo, mas aquela criança me olhando me emocionou muito. Imaginei o que aquela mãe passava, o amor daquela mãe... Foi uma coisa que apertou meu coração. Me segurei para não chorar.

Já pediram algum presente muito inusitado?

Perguntei para uma menina o que ela queria ganhar. De repente, ela me disse que queria ficar mais com a família. Queria ter mais amor com a família. Os meus olhos se encheram de lágrimas. Outro dia, um menino pediu que o pai dele desse mais amor, que estivesse mais presente. Isso é muito comovente.

O Papai Noel fora do padrão europeu tem mais espaço hoje?

O pessoal não sabe que esse campo está aberto. Não sabe como chegar em uma agência de trabalho. Teve um primo aposentado que eu indiquei para o trabalho – e que atualmente já atua cobrindo folga de outros noéis. Tem muitos que ficam receosos. É preciso preparação para conversar com as crianças e com os pais. Quando me perguntam, eu digo que comecei a pegar gosto pelo trabalho e que o melhor mês do ano é dezembro. É a melhor energia do ano. E, claro, esse é o melhor mês do ano.

Qual desejo para 2025?

Desejo que todos os brasileiros tenham mais esperança, independente de cor e credo. Com mais amor a gente vence qualquer coisa.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.