O historiador, professor e escritor Leandro Karnal lança o livro “Preconceito: uma história”, pela editora Companhia das Letras, feito em parceria com Luiz Estevam. É uma análise sobre a origem desse sentimento tão arraigado na sociedade. Em conversa sobre o tema com a coluna, Karnal explica que o preconceito não é facilmente superado, pois possui diversas funções e facilidades.
É um pré-conceito, ou seja, não necessita de provas, o que facilita a atividade mental para o preconceituoso. Além disso, ele generaliza e forma uma identidade hierárquica, em que o indivíduo se coloca em posição superior aos que ataca. Também possui uma função expiatória, atribuindo a culpa de todos os males a um outro negativo e inferior. “O preconceito não termina porque é uma droga eficaz, viciante e tranquilizadora”, afirma Karnal.
Ao falar sobre as raízes do preconceito, Karnal menciona diversos fatores: “Incapacidade de crítica a si mesmo, ignorância, dificuldade com leitura, busca de aceitação em grupos de ódio, desequilíbrios psíquicos, dores pessoais deslocadas para outros campos, problemas profissionais e afetivos. Todos sofremos de algum tipo de preconceito. A questão é perceber e saber que o problema é meu”.
Indagado se existe uma localidade menos preconceituosa que outra, o historiador disse que a resposta é complexa: “A questão religiosa é menos importante na Suécia do que nos Estados Unidos. Isso fará com que preconceitos religiosos sejam diferentes nos dois lugares. Em países mais estáveis economicamente e politicamente, o preconceito tende a ter menos força como regra geral, já que graves crises aguçam discursos e práticas preconceituosas, pois aumentam a necessidade de encontrar culpados”.
Ao se deparar com um interlocutor que emite uma fala preconceituosa, Karnal recomenda “sempre uma questão complexa. Se responder com raiva, estará lidando também com algo em si próprio que ecoa esse sentimento. A meta é responder com tranquilidade, mostrando o erro da opinião preconceituosa”.
A superação do preconceito de forma absoluta nas sociedades é algo difícil, avalia Karnal, mas campanhas e e ações para enfrentar o problema são fundamentais: “Não imagino que sejamos capazes de construir uma sociedade sem preconceitos, mas podemos evitar o inferno. Devemos banir legislações preconceituosas, educar com princípios de tolerância, proibir discursos de ódio e valorizar a diversidade”.