Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Marina Lima: “Tenho saído para ver gente, para dançar; estou nesta fase...”


Recém-solteira e com uma série de shows engatilhados para o ano, a artista fala dos cuidados com saúde desde que mudou para São Paulo, a nova liberdade e o único remorso da carreira

Por João Ker
Atualização:

Marina Lima está solteira desde janeiro, quando o casamento de dez anos com a advogada Lídice Xavier chegou ao fim. A nova liberdade, além de ter proporcionado a descoberta “de um mundo novo”, tem ajudado a artista, de 67 anos, a manter a mente inquieta.

Enquanto toca os ensaios para a turnê Nas ondas da Marina, a cantora faz sessões de brainstorming com Denise Stoklos e Marcello Dantas para um projeto teatral. Ela também aguarda o lançamento em áudio e vídeo da temporada de shows intimistas no Blue Note e decide com Fernanda Abreu a setlist dos shows que farão juntas nos festivais Coala e MADA.

Ao repórter João Ker, Marina conta ainda o único arrependimento da carreira, teoriza sobre o impacto da inteligência artificial e esclarece se ficou “algo mal resolvido” na relação com Gal Costa, morta no ano passado e com quem já disse ter mantido um affair na adolescência. Leia abaixo.

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Como foi chegar na setlist de “Nas ondas da Marina”? O que tem de especial nessa turnê e nesse show?

O nome “Nas ondas da Marina” combina, porque além de Marina, eu adoro o mar. Vamos nas minhas ondas por esses anos afora, as diferentes ondas que surfei. Desde “Fullgás” a “Charme do Mundo” até “Mesmo que Seja Eu”... Os lugares por onde andei e ando esse tempo todo, que me mantêm curiosa e viva com a minha música. Tem algumas surpresas audiovisuais, porque o mundo é assim hoje. Eu, na verdade, entendo muito de ouvido, tudo o que tem a ver com canto e com música. Mas eu me cerco de gente competente para fazer vídeos, interpretar aquilo visualmente, meio algo que herdei da MTV.

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Então não é uma turnê só de grandes sucessos?

Não tem como não ter (os sucessos). As canções que duram anos e anos são atemporais, porque foram trilhas da vida de muita gente e permanecem. A maioria dessas eu ainda gosto muito e o público quer (ouvi-las). Agora, tem muitas coisas que eu incorporo, que acho importante ter por causa da minha personalidade. Não sou uma pessoa muito óbvia. É legal quando alguém cava um pouco a minha história. Acho mais interessante.

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Você está há 13 anos em São Paulo. O que mudou na sua relação com a cidade, o que ela te traz e como te inspira, e como isso tem reverberado criativamente para você?

Queria falar algo que nunca falei. Sendo do Rio, sempre me perguntam muito sobre São Paulo. A gente quer aproveitar o espaço para passar o que importa. Então, assim, sobre São Paulo: a primeira coisa que o ser humano precisa pra sobreviver é o ar. O ar de São Paulo é poluído. Dito isto, é uma cidade genial. Não tem mar, mas tem um mar de gente, cultura, coisas muito atraentes. Agora, a gente tem que cuidar da saúde. Eu pra ficar aqui há 13 anos faço inalação todo dia, uso spray nasal, durmo com umidificador… Tive que me cercar de cuidados para poder viver com saúde aqui. No Rio, o clima naturalmente já te limpa com maresia e mar, mas não é à toa que lá está há anos mal administrado. Quando você escolhe mal as pessoas, isso reflete na população e na mentalidade. É uma cidade muito menor, cheia de milícias. Tem pessoas que amo, mas não aguento ficar lá porque tem muitas coisas que não concordo. Acho que são cidades complementares, na verdade.

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O debate sobre inteligência artificial na arte tem dividido alguns artistas e fãs nos últimos meses, com lados que são contra e a favor do uso dessa tecnologia para ressuscitar alguém ou criar uma música que não existe. O que você acha disso tudo? E se importaria se alguém te ressuscitasse no futuro?

É uma pergunta quase moral, né? Não sei o que envolve tudo isso. Eu não costumo dar opinião tão cedo sobre coisas que não estou entendendo ainda muito bem. Às vezes penso que já sou uma inteligência artificial, porque nasci e fui programada conforme meu pai e minha mãe achavam que devia ser... Claro que não gosto da ideia de existir uma técnica ou forma de tirar totalmente o domínio dos artistas sobre suas obras, que todos nós perdemos o valor diante daquilo. Mas eu não sou uma pessoa que tem muito medo de tecnologia. Realmente, não sei o que vai acontecer comigo depois que eu morrer, o que vão fazer. Não tenho ideia, não cheguei nesse lugar ainda.

Em turnê com o show "Nas ondas da Marina", Marina Lima também tem apresentações marcadas em festivais pelo Brasil até o fim de 2023 Foto: Candé Salles
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Você tem feito várias colaborações e apresentações com produtores e festas da cena eletrônica de São Paulo, como Mamba Negra, Selvagem e BADSISTA. Pensa em investir mais nisso?

Eu gosto de música eletrônica. Gosto de dançar, adoro, desde “Fullgás”, que a bateria é eletrônica. Adoro a sonoridade eletrônica, mas no início foi uma luta, nos anos 1980 e 1990. Era um saco! Eu ia dar entrevista pra defender a Björk. Falei isso pra ela quando a entrevistei aqui. “Aqui no Brasil todo mundo é contra o eletrônico”. E ela disse: “Coitada de você ter que se defender com instrumento acústico”. Gosto da cena de São Paulo, porque quanto mais industrial uma cidade, mais ela tem cena eletrônica. E essa é a maior da América Latina, tem tudo de novidades tecnológicas.

E você curte balada de eletrônica? Costuma frequentar um techno?

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Já fui mais. Hoje em dia, não tanto. Na época da Erika Palomino, da Aloka, e no Rio de Janeiro antes da música eletrônica tinha música pra dançar. E eu era louca por Barry White. Ele foi o cara que mais me fez dançar na vida.

Então ainda sai pra dançar?

Tenho saído mais agora. Mas não saía há muito tempo. Mas estou achando de novo que o mundo faz charme. Tenho saído para ver gente, dançar… Estou nessa fase.

Você tem algum arrependimento ao longo dessas quase cinco décadas de carreira?

O único que eu me lembro foi ter aceito fazer o Saia Justa (em 2004). O convite veio através da Fernanda Young, que era minha comadre. Mas eu não percebi na época que era para substituir a Rita Lee, que é insubstituível. Não há outra igual. Se alguém ia buscar uma Rita Lee e encontrava eu, dava de cara com quase o oposto. Eu sou fechada, tímida e só falava o essencial. Por eu não ter a tabelinha com a Fernanda, que ela tinha com a Rita, acabamos não dando certo. Durante um tempo, isso até me afastou da Fernanda, que era uma grandíssima amiga. Se eu tivesse entendido isso na época, não teria aceito o convite.

Quando a Gal Costa morreu, você fez uma publicação de homenagem à importância e influência que ela teve na sua vida profissional como artista. Do lado pessoal, ficou algo mal resolvido entre vocês?

Não ficou nada mal resolvido. Nada. É porque realmente, o mais importante, o brilho e a luz que a Gal deixou em mim e em todo mundo é ligado ao trabalho dela. Na história pessoal, todo mundo é complicado. De perto, ninguém é normal. Não é isso que interessa sobre a Gal, é a influência que ela teve. Eu, como uma garota de 12 anos, quando conheci o trabalho dela foi muito importante por descobrir que no Brasil havia um lugar para mim como guitarrista e compositora. Eu me via nela. Pessoalmente, não há nada. Imagina, faz quase 50 anos. O tempo resolve tudo.

Marina Lima está solteira desde janeiro, quando o casamento de dez anos com a advogada Lídice Xavier chegou ao fim. A nova liberdade, além de ter proporcionado a descoberta “de um mundo novo”, tem ajudado a artista, de 67 anos, a manter a mente inquieta.

Enquanto toca os ensaios para a turnê Nas ondas da Marina, a cantora faz sessões de brainstorming com Denise Stoklos e Marcello Dantas para um projeto teatral. Ela também aguarda o lançamento em áudio e vídeo da temporada de shows intimistas no Blue Note e decide com Fernanda Abreu a setlist dos shows que farão juntas nos festivais Coala e MADA.

Ao repórter João Ker, Marina conta ainda o único arrependimento da carreira, teoriza sobre o impacto da inteligência artificial e esclarece se ficou “algo mal resolvido” na relação com Gal Costa, morta no ano passado e com quem já disse ter mantido um affair na adolescência. Leia abaixo.

Como foi chegar na setlist de “Nas ondas da Marina”? O que tem de especial nessa turnê e nesse show?

O nome “Nas ondas da Marina” combina, porque além de Marina, eu adoro o mar. Vamos nas minhas ondas por esses anos afora, as diferentes ondas que surfei. Desde “Fullgás” a “Charme do Mundo” até “Mesmo que Seja Eu”... Os lugares por onde andei e ando esse tempo todo, que me mantêm curiosa e viva com a minha música. Tem algumas surpresas audiovisuais, porque o mundo é assim hoje. Eu, na verdade, entendo muito de ouvido, tudo o que tem a ver com canto e com música. Mas eu me cerco de gente competente para fazer vídeos, interpretar aquilo visualmente, meio algo que herdei da MTV.

Então não é uma turnê só de grandes sucessos?

Não tem como não ter (os sucessos). As canções que duram anos e anos são atemporais, porque foram trilhas da vida de muita gente e permanecem. A maioria dessas eu ainda gosto muito e o público quer (ouvi-las). Agora, tem muitas coisas que eu incorporo, que acho importante ter por causa da minha personalidade. Não sou uma pessoa muito óbvia. É legal quando alguém cava um pouco a minha história. Acho mais interessante.

Você está há 13 anos em São Paulo. O que mudou na sua relação com a cidade, o que ela te traz e como te inspira, e como isso tem reverberado criativamente para você?

Queria falar algo que nunca falei. Sendo do Rio, sempre me perguntam muito sobre São Paulo. A gente quer aproveitar o espaço para passar o que importa. Então, assim, sobre São Paulo: a primeira coisa que o ser humano precisa pra sobreviver é o ar. O ar de São Paulo é poluído. Dito isto, é uma cidade genial. Não tem mar, mas tem um mar de gente, cultura, coisas muito atraentes. Agora, a gente tem que cuidar da saúde. Eu pra ficar aqui há 13 anos faço inalação todo dia, uso spray nasal, durmo com umidificador… Tive que me cercar de cuidados para poder viver com saúde aqui. No Rio, o clima naturalmente já te limpa com maresia e mar, mas não é à toa que lá está há anos mal administrado. Quando você escolhe mal as pessoas, isso reflete na população e na mentalidade. É uma cidade muito menor, cheia de milícias. Tem pessoas que amo, mas não aguento ficar lá porque tem muitas coisas que não concordo. Acho que são cidades complementares, na verdade.

O debate sobre inteligência artificial na arte tem dividido alguns artistas e fãs nos últimos meses, com lados que são contra e a favor do uso dessa tecnologia para ressuscitar alguém ou criar uma música que não existe. O que você acha disso tudo? E se importaria se alguém te ressuscitasse no futuro?

É uma pergunta quase moral, né? Não sei o que envolve tudo isso. Eu não costumo dar opinião tão cedo sobre coisas que não estou entendendo ainda muito bem. Às vezes penso que já sou uma inteligência artificial, porque nasci e fui programada conforme meu pai e minha mãe achavam que devia ser... Claro que não gosto da ideia de existir uma técnica ou forma de tirar totalmente o domínio dos artistas sobre suas obras, que todos nós perdemos o valor diante daquilo. Mas eu não sou uma pessoa que tem muito medo de tecnologia. Realmente, não sei o que vai acontecer comigo depois que eu morrer, o que vão fazer. Não tenho ideia, não cheguei nesse lugar ainda.

Em turnê com o show "Nas ondas da Marina", Marina Lima também tem apresentações marcadas em festivais pelo Brasil até o fim de 2023 Foto: Candé Salles

Você tem feito várias colaborações e apresentações com produtores e festas da cena eletrônica de São Paulo, como Mamba Negra, Selvagem e BADSISTA. Pensa em investir mais nisso?

Eu gosto de música eletrônica. Gosto de dançar, adoro, desde “Fullgás”, que a bateria é eletrônica. Adoro a sonoridade eletrônica, mas no início foi uma luta, nos anos 1980 e 1990. Era um saco! Eu ia dar entrevista pra defender a Björk. Falei isso pra ela quando a entrevistei aqui. “Aqui no Brasil todo mundo é contra o eletrônico”. E ela disse: “Coitada de você ter que se defender com instrumento acústico”. Gosto da cena de São Paulo, porque quanto mais industrial uma cidade, mais ela tem cena eletrônica. E essa é a maior da América Latina, tem tudo de novidades tecnológicas.

E você curte balada de eletrônica? Costuma frequentar um techno?

Já fui mais. Hoje em dia, não tanto. Na época da Erika Palomino, da Aloka, e no Rio de Janeiro antes da música eletrônica tinha música pra dançar. E eu era louca por Barry White. Ele foi o cara que mais me fez dançar na vida.

Então ainda sai pra dançar?

Tenho saído mais agora. Mas não saía há muito tempo. Mas estou achando de novo que o mundo faz charme. Tenho saído para ver gente, dançar… Estou nessa fase.

Você tem algum arrependimento ao longo dessas quase cinco décadas de carreira?

O único que eu me lembro foi ter aceito fazer o Saia Justa (em 2004). O convite veio através da Fernanda Young, que era minha comadre. Mas eu não percebi na época que era para substituir a Rita Lee, que é insubstituível. Não há outra igual. Se alguém ia buscar uma Rita Lee e encontrava eu, dava de cara com quase o oposto. Eu sou fechada, tímida e só falava o essencial. Por eu não ter a tabelinha com a Fernanda, que ela tinha com a Rita, acabamos não dando certo. Durante um tempo, isso até me afastou da Fernanda, que era uma grandíssima amiga. Se eu tivesse entendido isso na época, não teria aceito o convite.

Quando a Gal Costa morreu, você fez uma publicação de homenagem à importância e influência que ela teve na sua vida profissional como artista. Do lado pessoal, ficou algo mal resolvido entre vocês?

Não ficou nada mal resolvido. Nada. É porque realmente, o mais importante, o brilho e a luz que a Gal deixou em mim e em todo mundo é ligado ao trabalho dela. Na história pessoal, todo mundo é complicado. De perto, ninguém é normal. Não é isso que interessa sobre a Gal, é a influência que ela teve. Eu, como uma garota de 12 anos, quando conheci o trabalho dela foi muito importante por descobrir que no Brasil havia um lugar para mim como guitarrista e compositora. Eu me via nela. Pessoalmente, não há nada. Imagina, faz quase 50 anos. O tempo resolve tudo.

Marina Lima está solteira desde janeiro, quando o casamento de dez anos com a advogada Lídice Xavier chegou ao fim. A nova liberdade, além de ter proporcionado a descoberta “de um mundo novo”, tem ajudado a artista, de 67 anos, a manter a mente inquieta.

Enquanto toca os ensaios para a turnê Nas ondas da Marina, a cantora faz sessões de brainstorming com Denise Stoklos e Marcello Dantas para um projeto teatral. Ela também aguarda o lançamento em áudio e vídeo da temporada de shows intimistas no Blue Note e decide com Fernanda Abreu a setlist dos shows que farão juntas nos festivais Coala e MADA.

Ao repórter João Ker, Marina conta ainda o único arrependimento da carreira, teoriza sobre o impacto da inteligência artificial e esclarece se ficou “algo mal resolvido” na relação com Gal Costa, morta no ano passado e com quem já disse ter mantido um affair na adolescência. Leia abaixo.

Como foi chegar na setlist de “Nas ondas da Marina”? O que tem de especial nessa turnê e nesse show?

O nome “Nas ondas da Marina” combina, porque além de Marina, eu adoro o mar. Vamos nas minhas ondas por esses anos afora, as diferentes ondas que surfei. Desde “Fullgás” a “Charme do Mundo” até “Mesmo que Seja Eu”... Os lugares por onde andei e ando esse tempo todo, que me mantêm curiosa e viva com a minha música. Tem algumas surpresas audiovisuais, porque o mundo é assim hoje. Eu, na verdade, entendo muito de ouvido, tudo o que tem a ver com canto e com música. Mas eu me cerco de gente competente para fazer vídeos, interpretar aquilo visualmente, meio algo que herdei da MTV.

Então não é uma turnê só de grandes sucessos?

Não tem como não ter (os sucessos). As canções que duram anos e anos são atemporais, porque foram trilhas da vida de muita gente e permanecem. A maioria dessas eu ainda gosto muito e o público quer (ouvi-las). Agora, tem muitas coisas que eu incorporo, que acho importante ter por causa da minha personalidade. Não sou uma pessoa muito óbvia. É legal quando alguém cava um pouco a minha história. Acho mais interessante.

Você está há 13 anos em São Paulo. O que mudou na sua relação com a cidade, o que ela te traz e como te inspira, e como isso tem reverberado criativamente para você?

Queria falar algo que nunca falei. Sendo do Rio, sempre me perguntam muito sobre São Paulo. A gente quer aproveitar o espaço para passar o que importa. Então, assim, sobre São Paulo: a primeira coisa que o ser humano precisa pra sobreviver é o ar. O ar de São Paulo é poluído. Dito isto, é uma cidade genial. Não tem mar, mas tem um mar de gente, cultura, coisas muito atraentes. Agora, a gente tem que cuidar da saúde. Eu pra ficar aqui há 13 anos faço inalação todo dia, uso spray nasal, durmo com umidificador… Tive que me cercar de cuidados para poder viver com saúde aqui. No Rio, o clima naturalmente já te limpa com maresia e mar, mas não é à toa que lá está há anos mal administrado. Quando você escolhe mal as pessoas, isso reflete na população e na mentalidade. É uma cidade muito menor, cheia de milícias. Tem pessoas que amo, mas não aguento ficar lá porque tem muitas coisas que não concordo. Acho que são cidades complementares, na verdade.

O debate sobre inteligência artificial na arte tem dividido alguns artistas e fãs nos últimos meses, com lados que são contra e a favor do uso dessa tecnologia para ressuscitar alguém ou criar uma música que não existe. O que você acha disso tudo? E se importaria se alguém te ressuscitasse no futuro?

É uma pergunta quase moral, né? Não sei o que envolve tudo isso. Eu não costumo dar opinião tão cedo sobre coisas que não estou entendendo ainda muito bem. Às vezes penso que já sou uma inteligência artificial, porque nasci e fui programada conforme meu pai e minha mãe achavam que devia ser... Claro que não gosto da ideia de existir uma técnica ou forma de tirar totalmente o domínio dos artistas sobre suas obras, que todos nós perdemos o valor diante daquilo. Mas eu não sou uma pessoa que tem muito medo de tecnologia. Realmente, não sei o que vai acontecer comigo depois que eu morrer, o que vão fazer. Não tenho ideia, não cheguei nesse lugar ainda.

Em turnê com o show "Nas ondas da Marina", Marina Lima também tem apresentações marcadas em festivais pelo Brasil até o fim de 2023 Foto: Candé Salles

Você tem feito várias colaborações e apresentações com produtores e festas da cena eletrônica de São Paulo, como Mamba Negra, Selvagem e BADSISTA. Pensa em investir mais nisso?

Eu gosto de música eletrônica. Gosto de dançar, adoro, desde “Fullgás”, que a bateria é eletrônica. Adoro a sonoridade eletrônica, mas no início foi uma luta, nos anos 1980 e 1990. Era um saco! Eu ia dar entrevista pra defender a Björk. Falei isso pra ela quando a entrevistei aqui. “Aqui no Brasil todo mundo é contra o eletrônico”. E ela disse: “Coitada de você ter que se defender com instrumento acústico”. Gosto da cena de São Paulo, porque quanto mais industrial uma cidade, mais ela tem cena eletrônica. E essa é a maior da América Latina, tem tudo de novidades tecnológicas.

E você curte balada de eletrônica? Costuma frequentar um techno?

Já fui mais. Hoje em dia, não tanto. Na época da Erika Palomino, da Aloka, e no Rio de Janeiro antes da música eletrônica tinha música pra dançar. E eu era louca por Barry White. Ele foi o cara que mais me fez dançar na vida.

Então ainda sai pra dançar?

Tenho saído mais agora. Mas não saía há muito tempo. Mas estou achando de novo que o mundo faz charme. Tenho saído para ver gente, dançar… Estou nessa fase.

Você tem algum arrependimento ao longo dessas quase cinco décadas de carreira?

O único que eu me lembro foi ter aceito fazer o Saia Justa (em 2004). O convite veio através da Fernanda Young, que era minha comadre. Mas eu não percebi na época que era para substituir a Rita Lee, que é insubstituível. Não há outra igual. Se alguém ia buscar uma Rita Lee e encontrava eu, dava de cara com quase o oposto. Eu sou fechada, tímida e só falava o essencial. Por eu não ter a tabelinha com a Fernanda, que ela tinha com a Rita, acabamos não dando certo. Durante um tempo, isso até me afastou da Fernanda, que era uma grandíssima amiga. Se eu tivesse entendido isso na época, não teria aceito o convite.

Quando a Gal Costa morreu, você fez uma publicação de homenagem à importância e influência que ela teve na sua vida profissional como artista. Do lado pessoal, ficou algo mal resolvido entre vocês?

Não ficou nada mal resolvido. Nada. É porque realmente, o mais importante, o brilho e a luz que a Gal deixou em mim e em todo mundo é ligado ao trabalho dela. Na história pessoal, todo mundo é complicado. De perto, ninguém é normal. Não é isso que interessa sobre a Gal, é a influência que ela teve. Eu, como uma garota de 12 anos, quando conheci o trabalho dela foi muito importante por descobrir que no Brasil havia um lugar para mim como guitarrista e compositora. Eu me via nela. Pessoalmente, não há nada. Imagina, faz quase 50 anos. O tempo resolve tudo.

Marina Lima está solteira desde janeiro, quando o casamento de dez anos com a advogada Lídice Xavier chegou ao fim. A nova liberdade, além de ter proporcionado a descoberta “de um mundo novo”, tem ajudado a artista, de 67 anos, a manter a mente inquieta.

Enquanto toca os ensaios para a turnê Nas ondas da Marina, a cantora faz sessões de brainstorming com Denise Stoklos e Marcello Dantas para um projeto teatral. Ela também aguarda o lançamento em áudio e vídeo da temporada de shows intimistas no Blue Note e decide com Fernanda Abreu a setlist dos shows que farão juntas nos festivais Coala e MADA.

Ao repórter João Ker, Marina conta ainda o único arrependimento da carreira, teoriza sobre o impacto da inteligência artificial e esclarece se ficou “algo mal resolvido” na relação com Gal Costa, morta no ano passado e com quem já disse ter mantido um affair na adolescência. Leia abaixo.

Como foi chegar na setlist de “Nas ondas da Marina”? O que tem de especial nessa turnê e nesse show?

O nome “Nas ondas da Marina” combina, porque além de Marina, eu adoro o mar. Vamos nas minhas ondas por esses anos afora, as diferentes ondas que surfei. Desde “Fullgás” a “Charme do Mundo” até “Mesmo que Seja Eu”... Os lugares por onde andei e ando esse tempo todo, que me mantêm curiosa e viva com a minha música. Tem algumas surpresas audiovisuais, porque o mundo é assim hoje. Eu, na verdade, entendo muito de ouvido, tudo o que tem a ver com canto e com música. Mas eu me cerco de gente competente para fazer vídeos, interpretar aquilo visualmente, meio algo que herdei da MTV.

Então não é uma turnê só de grandes sucessos?

Não tem como não ter (os sucessos). As canções que duram anos e anos são atemporais, porque foram trilhas da vida de muita gente e permanecem. A maioria dessas eu ainda gosto muito e o público quer (ouvi-las). Agora, tem muitas coisas que eu incorporo, que acho importante ter por causa da minha personalidade. Não sou uma pessoa muito óbvia. É legal quando alguém cava um pouco a minha história. Acho mais interessante.

Você está há 13 anos em São Paulo. O que mudou na sua relação com a cidade, o que ela te traz e como te inspira, e como isso tem reverberado criativamente para você?

Queria falar algo que nunca falei. Sendo do Rio, sempre me perguntam muito sobre São Paulo. A gente quer aproveitar o espaço para passar o que importa. Então, assim, sobre São Paulo: a primeira coisa que o ser humano precisa pra sobreviver é o ar. O ar de São Paulo é poluído. Dito isto, é uma cidade genial. Não tem mar, mas tem um mar de gente, cultura, coisas muito atraentes. Agora, a gente tem que cuidar da saúde. Eu pra ficar aqui há 13 anos faço inalação todo dia, uso spray nasal, durmo com umidificador… Tive que me cercar de cuidados para poder viver com saúde aqui. No Rio, o clima naturalmente já te limpa com maresia e mar, mas não é à toa que lá está há anos mal administrado. Quando você escolhe mal as pessoas, isso reflete na população e na mentalidade. É uma cidade muito menor, cheia de milícias. Tem pessoas que amo, mas não aguento ficar lá porque tem muitas coisas que não concordo. Acho que são cidades complementares, na verdade.

O debate sobre inteligência artificial na arte tem dividido alguns artistas e fãs nos últimos meses, com lados que são contra e a favor do uso dessa tecnologia para ressuscitar alguém ou criar uma música que não existe. O que você acha disso tudo? E se importaria se alguém te ressuscitasse no futuro?

É uma pergunta quase moral, né? Não sei o que envolve tudo isso. Eu não costumo dar opinião tão cedo sobre coisas que não estou entendendo ainda muito bem. Às vezes penso que já sou uma inteligência artificial, porque nasci e fui programada conforme meu pai e minha mãe achavam que devia ser... Claro que não gosto da ideia de existir uma técnica ou forma de tirar totalmente o domínio dos artistas sobre suas obras, que todos nós perdemos o valor diante daquilo. Mas eu não sou uma pessoa que tem muito medo de tecnologia. Realmente, não sei o que vai acontecer comigo depois que eu morrer, o que vão fazer. Não tenho ideia, não cheguei nesse lugar ainda.

Em turnê com o show "Nas ondas da Marina", Marina Lima também tem apresentações marcadas em festivais pelo Brasil até o fim de 2023 Foto: Candé Salles

Você tem feito várias colaborações e apresentações com produtores e festas da cena eletrônica de São Paulo, como Mamba Negra, Selvagem e BADSISTA. Pensa em investir mais nisso?

Eu gosto de música eletrônica. Gosto de dançar, adoro, desde “Fullgás”, que a bateria é eletrônica. Adoro a sonoridade eletrônica, mas no início foi uma luta, nos anos 1980 e 1990. Era um saco! Eu ia dar entrevista pra defender a Björk. Falei isso pra ela quando a entrevistei aqui. “Aqui no Brasil todo mundo é contra o eletrônico”. E ela disse: “Coitada de você ter que se defender com instrumento acústico”. Gosto da cena de São Paulo, porque quanto mais industrial uma cidade, mais ela tem cena eletrônica. E essa é a maior da América Latina, tem tudo de novidades tecnológicas.

E você curte balada de eletrônica? Costuma frequentar um techno?

Já fui mais. Hoje em dia, não tanto. Na época da Erika Palomino, da Aloka, e no Rio de Janeiro antes da música eletrônica tinha música pra dançar. E eu era louca por Barry White. Ele foi o cara que mais me fez dançar na vida.

Então ainda sai pra dançar?

Tenho saído mais agora. Mas não saía há muito tempo. Mas estou achando de novo que o mundo faz charme. Tenho saído para ver gente, dançar… Estou nessa fase.

Você tem algum arrependimento ao longo dessas quase cinco décadas de carreira?

O único que eu me lembro foi ter aceito fazer o Saia Justa (em 2004). O convite veio através da Fernanda Young, que era minha comadre. Mas eu não percebi na época que era para substituir a Rita Lee, que é insubstituível. Não há outra igual. Se alguém ia buscar uma Rita Lee e encontrava eu, dava de cara com quase o oposto. Eu sou fechada, tímida e só falava o essencial. Por eu não ter a tabelinha com a Fernanda, que ela tinha com a Rita, acabamos não dando certo. Durante um tempo, isso até me afastou da Fernanda, que era uma grandíssima amiga. Se eu tivesse entendido isso na época, não teria aceito o convite.

Quando a Gal Costa morreu, você fez uma publicação de homenagem à importância e influência que ela teve na sua vida profissional como artista. Do lado pessoal, ficou algo mal resolvido entre vocês?

Não ficou nada mal resolvido. Nada. É porque realmente, o mais importante, o brilho e a luz que a Gal deixou em mim e em todo mundo é ligado ao trabalho dela. Na história pessoal, todo mundo é complicado. De perto, ninguém é normal. Não é isso que interessa sobre a Gal, é a influência que ela teve. Eu, como uma garota de 12 anos, quando conheci o trabalho dela foi muito importante por descobrir que no Brasil havia um lugar para mim como guitarrista e compositora. Eu me via nela. Pessoalmente, não há nada. Imagina, faz quase 50 anos. O tempo resolve tudo.

Marina Lima está solteira desde janeiro, quando o casamento de dez anos com a advogada Lídice Xavier chegou ao fim. A nova liberdade, além de ter proporcionado a descoberta “de um mundo novo”, tem ajudado a artista, de 67 anos, a manter a mente inquieta.

Enquanto toca os ensaios para a turnê Nas ondas da Marina, a cantora faz sessões de brainstorming com Denise Stoklos e Marcello Dantas para um projeto teatral. Ela também aguarda o lançamento em áudio e vídeo da temporada de shows intimistas no Blue Note e decide com Fernanda Abreu a setlist dos shows que farão juntas nos festivais Coala e MADA.

Ao repórter João Ker, Marina conta ainda o único arrependimento da carreira, teoriza sobre o impacto da inteligência artificial e esclarece se ficou “algo mal resolvido” na relação com Gal Costa, morta no ano passado e com quem já disse ter mantido um affair na adolescência. Leia abaixo.

Como foi chegar na setlist de “Nas ondas da Marina”? O que tem de especial nessa turnê e nesse show?

O nome “Nas ondas da Marina” combina, porque além de Marina, eu adoro o mar. Vamos nas minhas ondas por esses anos afora, as diferentes ondas que surfei. Desde “Fullgás” a “Charme do Mundo” até “Mesmo que Seja Eu”... Os lugares por onde andei e ando esse tempo todo, que me mantêm curiosa e viva com a minha música. Tem algumas surpresas audiovisuais, porque o mundo é assim hoje. Eu, na verdade, entendo muito de ouvido, tudo o que tem a ver com canto e com música. Mas eu me cerco de gente competente para fazer vídeos, interpretar aquilo visualmente, meio algo que herdei da MTV.

Então não é uma turnê só de grandes sucessos?

Não tem como não ter (os sucessos). As canções que duram anos e anos são atemporais, porque foram trilhas da vida de muita gente e permanecem. A maioria dessas eu ainda gosto muito e o público quer (ouvi-las). Agora, tem muitas coisas que eu incorporo, que acho importante ter por causa da minha personalidade. Não sou uma pessoa muito óbvia. É legal quando alguém cava um pouco a minha história. Acho mais interessante.

Você está há 13 anos em São Paulo. O que mudou na sua relação com a cidade, o que ela te traz e como te inspira, e como isso tem reverberado criativamente para você?

Queria falar algo que nunca falei. Sendo do Rio, sempre me perguntam muito sobre São Paulo. A gente quer aproveitar o espaço para passar o que importa. Então, assim, sobre São Paulo: a primeira coisa que o ser humano precisa pra sobreviver é o ar. O ar de São Paulo é poluído. Dito isto, é uma cidade genial. Não tem mar, mas tem um mar de gente, cultura, coisas muito atraentes. Agora, a gente tem que cuidar da saúde. Eu pra ficar aqui há 13 anos faço inalação todo dia, uso spray nasal, durmo com umidificador… Tive que me cercar de cuidados para poder viver com saúde aqui. No Rio, o clima naturalmente já te limpa com maresia e mar, mas não é à toa que lá está há anos mal administrado. Quando você escolhe mal as pessoas, isso reflete na população e na mentalidade. É uma cidade muito menor, cheia de milícias. Tem pessoas que amo, mas não aguento ficar lá porque tem muitas coisas que não concordo. Acho que são cidades complementares, na verdade.

O debate sobre inteligência artificial na arte tem dividido alguns artistas e fãs nos últimos meses, com lados que são contra e a favor do uso dessa tecnologia para ressuscitar alguém ou criar uma música que não existe. O que você acha disso tudo? E se importaria se alguém te ressuscitasse no futuro?

É uma pergunta quase moral, né? Não sei o que envolve tudo isso. Eu não costumo dar opinião tão cedo sobre coisas que não estou entendendo ainda muito bem. Às vezes penso que já sou uma inteligência artificial, porque nasci e fui programada conforme meu pai e minha mãe achavam que devia ser... Claro que não gosto da ideia de existir uma técnica ou forma de tirar totalmente o domínio dos artistas sobre suas obras, que todos nós perdemos o valor diante daquilo. Mas eu não sou uma pessoa que tem muito medo de tecnologia. Realmente, não sei o que vai acontecer comigo depois que eu morrer, o que vão fazer. Não tenho ideia, não cheguei nesse lugar ainda.

Em turnê com o show "Nas ondas da Marina", Marina Lima também tem apresentações marcadas em festivais pelo Brasil até o fim de 2023 Foto: Candé Salles

Você tem feito várias colaborações e apresentações com produtores e festas da cena eletrônica de São Paulo, como Mamba Negra, Selvagem e BADSISTA. Pensa em investir mais nisso?

Eu gosto de música eletrônica. Gosto de dançar, adoro, desde “Fullgás”, que a bateria é eletrônica. Adoro a sonoridade eletrônica, mas no início foi uma luta, nos anos 1980 e 1990. Era um saco! Eu ia dar entrevista pra defender a Björk. Falei isso pra ela quando a entrevistei aqui. “Aqui no Brasil todo mundo é contra o eletrônico”. E ela disse: “Coitada de você ter que se defender com instrumento acústico”. Gosto da cena de São Paulo, porque quanto mais industrial uma cidade, mais ela tem cena eletrônica. E essa é a maior da América Latina, tem tudo de novidades tecnológicas.

E você curte balada de eletrônica? Costuma frequentar um techno?

Já fui mais. Hoje em dia, não tanto. Na época da Erika Palomino, da Aloka, e no Rio de Janeiro antes da música eletrônica tinha música pra dançar. E eu era louca por Barry White. Ele foi o cara que mais me fez dançar na vida.

Então ainda sai pra dançar?

Tenho saído mais agora. Mas não saía há muito tempo. Mas estou achando de novo que o mundo faz charme. Tenho saído para ver gente, dançar… Estou nessa fase.

Você tem algum arrependimento ao longo dessas quase cinco décadas de carreira?

O único que eu me lembro foi ter aceito fazer o Saia Justa (em 2004). O convite veio através da Fernanda Young, que era minha comadre. Mas eu não percebi na época que era para substituir a Rita Lee, que é insubstituível. Não há outra igual. Se alguém ia buscar uma Rita Lee e encontrava eu, dava de cara com quase o oposto. Eu sou fechada, tímida e só falava o essencial. Por eu não ter a tabelinha com a Fernanda, que ela tinha com a Rita, acabamos não dando certo. Durante um tempo, isso até me afastou da Fernanda, que era uma grandíssima amiga. Se eu tivesse entendido isso na época, não teria aceito o convite.

Quando a Gal Costa morreu, você fez uma publicação de homenagem à importância e influência que ela teve na sua vida profissional como artista. Do lado pessoal, ficou algo mal resolvido entre vocês?

Não ficou nada mal resolvido. Nada. É porque realmente, o mais importante, o brilho e a luz que a Gal deixou em mim e em todo mundo é ligado ao trabalho dela. Na história pessoal, todo mundo é complicado. De perto, ninguém é normal. Não é isso que interessa sobre a Gal, é a influência que ela teve. Eu, como uma garota de 12 anos, quando conheci o trabalho dela foi muito importante por descobrir que no Brasil havia um lugar para mim como guitarrista e compositora. Eu me via nela. Pessoalmente, não há nada. Imagina, faz quase 50 anos. O tempo resolve tudo.

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